Levou três dias para que eu pudesse me erguer sem gemer de dor, e nesses três dias Rosalie continuou na cama, sempre teimando de que logo melhoraria, e com sua mãe fazendo visitas constantes para cuidá-la, fazer essas sopas e coisas saudáveis.

            Para mim estava na cara que Rosalie estava grávida, depois de duas gestações, mesmo que a primeira não tenha chegado ao fim, eu sabia como minha mulher ficava nesse período. Mas, não sei, tenho para mim que Rosalie só estava com medo de voltar a se iludir, só que, na minha opinião, estava muito claro.

            - Chega – eu disse depois de chegar em casa do treinamento e ter tomado banho, vendo como Rosalie continuava deitada, com o rosto pálido, enquanto minha mãe cozinhava alguma coisa saudável no andar debaixo, e Victor dormia depois de ter brincado com Anne, que havia vindo passar o dia aqui, já que não tinha aula, porque estava preocupada com a irmã.

            Rose ergueu o rosto, e Anne também, e eu fiquei olhando-as por um instante, vendo como as duas se pareciam. Um sorriso insistia em surgir em meus lábios sempre que eu as via assim juntas, e, dessa vez tinha unido ao fato de eu acreditar que Rose estava grávida, e se ela estava mesmo, e fosse uma menina, eu a imaginava assim, tão parecida com a minha Rose.

            Mas tive de me forçar a permanecer sério, não suportava vê-la passando mal e fingindo que não era nada, ou se negando a acreditar na causa mais plausível para isso.

            - Anne querida – ela veio para a ponta da cama e eu a coloquei no chão. – Não quer ver o que minha mãe está fazendo lá embaixo?

            Disse isso sabendo que havia uma fornada de cookies prestes a sair, e Anne adorava aqueles biscoitos.

            - Cookies? – ela perguntou com aquele par de grandes olhos piscando para mim, e eu sorri, mas dei de ombros.

            - Vai lá ver – e ela desceu correndo. – Agora somos só nós dois – eu disse fechando a porta. – E eu quero que você me diga, de uma vez por todas, o que está acontecendo.

            Ela me olhou com os olhos bem abertos, quase como Anne havia me olhado segundos atrás, com a diferença de que Anne possuía sua inocência infantil, enquanto Rose possuía o medo de estar se iludindo.

            Deitei-me na cama, só para trazê-la para meus braços, sentindo como ela se aconchegava ali buscando conforto, e abracei seu corpo, para que Rosalie soubesse que sempre poderia encontrar conforto ali comigo. Eu só queria deixá-la segura.

            - Vai me dizer o que se passa nessa cabecinha? – perguntei sussurrando perto de seu ouvido, enquanto meus dedos acariciavam suas mechas claras.

            - Eu só queria ter certeza antes de te falar qualquer coisa – ela deu de ombros, mas sua voz estava chorosa.

            - E quando você vai ter certeza? – minha mão desceu, num ato que na gestação de Victor era tão costumeiro para mim, para acariciar seu ventre ainda liso, e beijei sua cabeça. – Ahm? Quando você vai saber se está esperando outro filho meu?

            Ela sorriu erguendo o rosto para me encarar, e sua mão pousou sobre a minha, querida, eu não acredito que você não havia percebido que eu já havia me dado conta disso.

            - Eu lhe disse que lhe daria outro filho – ela riu e seus dedos se entrelaçaram aos meus.

            - Eu já tenho uma consulta marcada, mas não era pra você saber até eu ter certeza – ela largou a minha mão e começou a dedilhar sobre meu peito. – Eu queria lhe fazer uma surpresa.

            - Bom – eu dei de ombros – não é a primeira vez que você fica grávida, e eu ainda me lembro de como você enjoava e ficava sonolenta na gravidez do Victor – meus dedos subiram para dedilhar seus seios inchados e doloridos, e não havia nenhuma malícia nisso. – E essas preciosidades deveriam ter diminuído já que Victor tem mamado bem menos.

            Seus olhos brilhavam quando Rose se ergueu um pouco para beijar meus lábios, e eu sorri abraçando-a novamente.

            - Você achou mesmo que eu não ia perceber as diferenças no seu corpo?

            - Pode falar que eu também estou inchada – ela fez uma careta. – E isso não foi um sintoma na gravidez do Victor!

            - Você está linda – eu sussurrei, porque para mim isso sempre seria verdade, e, aos meus olhos, Rosalie sempre estaria bela.

            - Não tente me agradar – ela riu acertando um tapa em meio peito, e eu ri segurando a sua mão.

            - Como se, alguma vez você pudesse mesmo parecer feia para mim.

            Ela fez uma careta e eu beijei seus lábios.

            - Você deveria saber que isso é impossível, querida.

            Ficamos menos de dois minutos em silêncio, que foi o tempo necessário para os medos de Rosalie voltarem a aflorar.

            - E se eu não estiver grávida? – ela perguntou erguendo o rosto para que seus olhos ficassem diretamente ligados aos meus.

            Havia medo em seu olhar.

            Agora eu posso lhe dizer o que, naquele momento, eu estava ignorando. Eu também tinha medo querida, medo de que não fosse um filho quem estava causando todas essas mudanças, mas nunca me ative a possibilidade de não ser. Para mim estava claro que você estava grávida, e era a isso que eu me estava atando.

            - Você realmente pensa que pode não estar grávida? – porque, para mim, não havia outro diagnóstico a todos os sintomas dela.

            - Bom – ela deu de ombros – eu tenho todos os sintomas, e até minha mãe comentou que eu posso estar grávida, e que eu estou mais cheinha, mas, e se não for?

            - Vai ser – eu disse e ela sorriu.