- Finalmente – eu murmurei ao me levantar da cama sem sentir dor alguma.
Rosalie riu ao meu lado e saiu do quarto, voltando instantes depois com Victor no colo – ele mantinha os olhos bem abertos enquanto agarrava uma mecha do cabelo loiro e longo de Rose.
- Já? – eu perguntei ao vê-la sentar na cama e ajeitar a camisola para que Victor pudesse mamar.
Mas ele havia acabado de mamar...
- Já faz três horas querido – Rosalie disse maneando a cabeça. – E se você continuar assim, vai se atrasar.
Droga.
Ela voltou a rir ao me ver correr para o banheiro, tinha de tomar banho, a barba eu faria uma outra hora ainda não estava grande mesmo, só aqueles pontinhos claros que espetam.
Quando voltei ao quarto, Victor continuava agarrado ao seio de Rosalie, mas agora minha roupa estava pronta em cima da cama, eu sorri e ela me piscou, é, depois de um tempo Victor passou a ficar menos manhoso cada vez que agarrava o seio para mamar, e quando Rosalie tinha de fazer algo, que fosse rápido para não incomodá-lo, não custava largar por um instante.
- Hoje acaba mais cedo – eu disse já vestido ao me aproximar da cama para beijá-la.
Toda sexta-feira acaba mais cedo.
- Eu sei – ela disse sorridente.
- Estou com saudades – eu murmurei em seu ouvido e ela sorriu ainda mais, estremecendo.
- Eu sei – ela respondeu e tocou meu rosto onde a barba começava a crescer.
Só eu sei o quanto ela me incomoda para estar sempre com o rosto lisinho. Frescura.
- Também estou com saudades – ela disse voltando a atenção para Victor, para trocá-lo de lado. – Meus pais querem que jantemos com eles essa noite.
- Tudo bem – eu disse dando de ombros, fazia tempo mesmo que nós não aparecíamos na casa dos pais de Rosalie.
Não que a gente tivesse que ir muito lá, já que a minha sogra está aqui quase todos os dias. E digo o mesmo da minha mãe.
- Agora eu tenho que ir – disse lhe dando um selinho.
- Eu sei – ela murmurou e segurou meu rosto para me dar um beijo decente.
Eu estou mesmo com saudades.
Porque no principio eu mal conseguia me erguer, quem dirá tentar algo mais com minha mulher, mas conforme os dias foram passando eu até me sentia melhor, mas na primeira noite que tentamos algo, Victor teve uma crise de cólica. Não era para ser. Mais alguns dias e lá estávamos nós de novo quando a minha sogra bate na porta, as duas da madrugada, para que fiquemos com a irmã de Rosalie, pois o pai teve um problema cardíaco e ia passar a noite no hospital.
Com o pai doente Rosalie ficou inquieta por dias, e nossa casa havia ganhado mais uma criança.
Agora que meu sogro está melhor, espero finalmente poder voltar a ter a minha esposa para mim, e eu sei que ela também.
Dei um beijo na cabecinha loira de meu filho e sai apressado de casa, começar o dia com broncas por chegar atrasado também não ia ser bom. Por isso corri o suficiente para chegar no horário.
Teve dois ou três que perderam o horário e lá veio o discurso.
- Hoje eu lhes faço o favor de deixá-los sair mais cedo, e vocês ainda têm a displicência de chegarem atrasados? – sempre começa assim.
Todos já sabíamos de cor o discurso, mas ninguém se atrevia a fazer a menor das gracinhas – por mais que a vontade fosse grande.
- Seis voltas – ele berrou no final e em meio segundo lá estávamos, todos em ordem, um atrás do outro começando a correr.
O campo nem era tão grande assim para que seis voltas fosse demais – mas certamente meu pai não precisava saber disso.
Enquanto nós corríamos, ele continuava a falar e falar, mas eu não prestei a menor atenção.
Minha atenção, como todos os outros dias, estava voltada para os ponteiros do relógio que custava a passar.
A sineta indicando o fim do dia tocou e nós mal podíamos acreditar, era sexta feira e teríamos mais dois dias de descanso em casa.
- Liberados – a frase que meu pai mais odiava.