Os primeiros dias não foram os mais fáceis, ainda mais por ser meu pai quem comandava aquele batalhão, não sei porque, mas ele cismava que eu teria de ser o melhor ali... Quando todos os garotos já estavam há anos treinando e eu era um novato, ele queria que eu me saísse melhor que os outros – como se fosse realmente possível.
E quando eu não conseguia, ele se enfurecia ainda mais.
Era como voltar a ter dez anos quando seus pais começam a tentar ensinar coisas mais difíceis e você não consegue ir em frente, mas a diferença é que quando se tem dez anos, seus pais têm paciência... Agora, paciência é a última virtude que meu pai possui, se é que a possui.
- De novo Emmett – ele gritava mandando fazer flexões.
Nós estávamos em mais ou menos vinte homens, todos da mesma faixa etária, depois dos vinte anos, só que eles pareciam muito mais condicionados do que eu.
Sem falar que nenhum deles possuía um bebê em casa que acorda toda madrugada para mamar. Não que eu fosse começar a reclamar agora, mas quando se chega exausto desse jeito em casa tudo que eu quero é curtir minha mulher e meu filho, e quando Victor começa a ter cólicas ou fazer por pura manha, não ajuda muito.
Mas eu não trocaria esses momentos por nada.
Até porque era o que me consolava, todo dia meu pai tentando me fazer de gato e sapato, faz assim, faz aquilo... Pelo menos eu sabia que em casa havia duas pessoas especiais me esperando. Então depois da primeira semana eu chegava de manhã cedo rezando para que o dia passasse logo e eu pudesse ir embora de uma vez.
- Vamos Emmett – meu pai quase gritava em meu ouvido. – Mais rápido.
Nunca era bom o suficiente. Mais rápido. Mais forte.
Se não fosse por saber que ele faria a mesma coisa com meu filho caso eu desistisse, ah, senão eu já estaria longe daqui faz tempo.
Sem falar em quantas vezes tive de morder minha própria língua para não lhe dar uma resposta mal criada, porque eu sei – já presenciei – que resposta mal criada não é bem aceita aqui, e tudo que eu menos preciso é de mais um ponto para meu pai continuar forçando a barra.
Os primeiros dias foram terríveis, de verdade, mas depois de um tempo meu corpo já estava todo amortecido mesmo, uma flexão a mais ou a menos não faria diferença. Foi quando eu parei de reclamar um pouco.
- Pro chão – ele berrava.
Depois dos primeiros dias nesse lugar, nunca tive tanta certeza que, de fato, meu pai nasceu para dar ordens, e com seu ar arrogante não precisava falar duas vezes – contando com o fato que já estavam todos bem adestrados também. O lado bom é que ele berra tanto aqui que quando chega em casa não tem mais forças para berrar com a minha mãe. Pelo menos isso.
Ah, e quanto a Rosalie, nos primeiros dias eu acho que ela teve mesmo foi pena de mim – não que ela saiba, ou entenda, exatamente porque eu estou fazendo isso, mas eu chegava em casa tão cansado que ela não tinha mais coragem de jogar na minha cara que fui eu quem busquei por isso.
O único que ela se chateava era que, quando o final de semana chegava eu estava tão exausto que não queria fazer nada, enquanto ela passava a semana dentro de casa e, pelo menos nos finais de semana queria sair. Ainda mais agora que Victor estava maiorzinho e não precisava mais de todas aquelas roupas para mantê-lo bem aquecido e também quanto maior ele ia ficando, mais calmo ele se mostrava. O que nós agradecíamos sempre...
Precisou um mês inteiro para que eu não sentisse mais dores musculares e nem reclamasse, então agora as coisas poderiam melhorar um pouco.