Na primeira semana no colégio novo eu me mantinha distante, de todos, rezando, quase, interiormente que a nossa estadia naquele lugar fosse temporária, mas o fim de setembro foi chegando e nada de mudanças.
Lembro bem de uma tarde, quando cheguei em casa mamãe me esperava na porta, ela me abraçou forte e pegou minha mochila, o cheiro de comida caseira despertava o apetite de qualquer pessoa enquanto em me sentava a mesa, ela se sentou ao meu lado, e eu pude perceber que não havia mais um prato posto à mesa, e eu sabia o que isso significava, papai estava fora.
- Vamos almoçar nós dois sim? – ela disse levantando-se com os pratos em mãos, pouco depois ela retornava a mesa com os pratos servidos, e eu sorri agradecendo, e comecei a comer.
Eu tinha só doze anos, eu sei disso, mas mesmo com pouca idade eu podia perceber quando mudanças aconteciam, e interiormente eu me sentia culpado, eu havia pedido por mudanças, mas as que ocorreram não era bem o que havia sido planejado. Podia ver nos olhos mais opacos de mamãe que briga viria pela frente, sempre fora assim... A obrigação de mamãe era cuidar da casa, fazer com que eu tivesse uma boa educação e cuidar de papai, nos alimentar, nos cuidar quando ficássemos doentes, e disso não poderíamos reclamar em minuto algum porque ela jamais falhara como mãe.
Mas quanto a papai, sinto não poder dizer o mesmo.
Uma vez, pouco antes de nos mudarmos eu lembro de tê-la ouvido falando com minha tia, quando todos morávamos na mesma cidade, mamãe queria me dar irmãos e eu estava louco para tê-los.
- Eu queria tanto um bebê, sei que Emmett também deseja um irmãozinho... Mas não, ele tem de sempre ficar contra – eu sabia que ela se referia a meu pai. – Um bebê talvez pudesse nos ajudar, as coisas não são mais a mesma coisa e, eu sinto falta do início de nossa família, de tê-lo ao meu lado.
Minha mãe chorava falando com minha tia e eu soube que havia algo de errado entre ela e papai, e, desculpe se foi errado, mas o único a quem eu culpava por isso era a ele.
Pude ouvi-la chorar outras vezes, e a única certeza que eu tinha era de que, quando me casasse, eu não repetiria os erros de meu pai.