Estava tão frustrado por termos de nos mudar, papai, como bom militar que era, estava sempre a serviço do país e mamãe e eu tínhamos de acompanhá-lo, não que minha opinião contasse muito tendo apenas doze anos de idade. Seu trabalho agora era ir para uma cidadezinha do interior, que ainda estava em desenvolvimento, para implantar por lá o treinamento do exército. Papai jamais negaria um pedido como esse, afinal, ele estava fazendo o que mais gostava em toda a vida.

Talvez por isso ele tenha sido tão ausente, talvez por isso eu não tenha tido irmãos... Desculpe papai, mas talvez, só talvez, se você tivesse sido um pai melhor, talvez, eu teria sido um filho melhor.

Lembro bem que eu estava mal humorado quando chegamos lá, havia sido criado em uma cidade grande e tudo ali me parecia bem ultrapassado, e eu não fazia questão nenhuma de esconder o quão desgostoso estava. Tédio. Tédio. Tédio.
Os dias pareciam passar cada vez mais devagar e eu podia jurar que meu pai estava de gozação comigo, era período de férias e eu não conseguia simplesmente me enturmar com os outros garotos.
Foi um verão quente e eu passei sozinho. Eu nunca gostara de verão mesmo...
Mas o verão logo acabou e as aulas começariam, outra coisa que não me agradava, aquele colégio, um lugar pequeno demais com poucos alunos – eu supunha que era devido ao custo, mas alguns não iam por pura preguiça mesmo.
Em minha sala não havia mais que vinte pessoas, sendo bem dividido entre garotos e garotas, mas eu não me dediquei a encará-los.
Eu podia vê-la mais a frente, distante, o caderno decorado entre os braços sendo posto contra o peito enquanto seu cabelo balançava conforme o vento batia.
Foi a primeira vez que a vi, e a primeira coisa que despertou minha atenção e me fez querer continuar por ali, mesmo que por pouco tempo.
Poderia considerar que eu era apenas um garoto, mas sabe, as pessoas simplesmente sentem coisas assim, não era minha culpa que ela havia decidido aparecer cedo, e também, naquela época sua beleza chamava minha atenção, mas não havia algo mais intenso, mais profundo porque eu sequer sabia que sentimentos assim poderiam existir – só de livros que havia lido quando queria me esconder de papai, é, a biblioteca havia sido uma boa companheira -, de qualquer maneira, eu ainda era uma criança com uma vida para ser descoberta.
E eu não podia negar que estava ansioso para que essas descobertas se esclarecessem logo.