E, ali eu não sabia, mas mamãe havia me ouvido, e com os olhos aguados ela se culpava por não ter insistido com papai para que tivessem outro filho.
- Crianças – mamãe murmurou passando as mãos no rosto e sorriu fraternamente.

Eu deveria ter desconfiado.

 – Está tudo pronto...
- Ah... – eu murmurei e ela riu sabendo que eu não queria ir para cama tão cedo.
Não que fosse mesmo cedo, mas Rosalie estava ali e nós poderíamos fazer outras coisas.
- Lá em cima – ela disse sorrindo e me piscou de forma cúmplice. – Aproveite que seu pai não está em casa...
E, acredito eu, que aquela foi a primeira vez que levei Rosalie ao meu quarto.
E seus olhos se arregalaram vendo a parede coberta por um papel de parede com as cores camufladas do exército, e na parede um cap estava pendurado – tudo fruto da obsessão de meu pai –, e na estante também havia um pote com pequenas bolinhas coloridas que eu colocava em uma arminha infantil e saía atirando, não doía nada, enquanto meus carros, os que eu realmente gostava, ficavam apenas na última prateleira, como que largados ali.
Tudo para manter as aparências.
- O que seu pai é? Um fanático pelo exército? – ela perguntou de modo inocente e eu revirei os olhos.
Eu não havia dito ainda quem meu pai era, só disse que ele tinha assuntos a tratar fora da cidade, e mais ninguém parecia ter comentado algo, até porque não são assuntos que se tocam com crianças.
Mas nós estávamos crescendo.
- Ele é o comandante do exército sub 20 – eu murmurei baixo, mas ela pôde ouvir mesmo assim e arregalou os olhos.
- E você nunca me disse por quê? – ela perguntou parecendo mais irritada do que qualquer momento atrás, mas não tão irritada.
- Ah, porque não tem importância – eu dei de ombros e me joguei sobre a minha cama. – De qualquer jeito acho que você não vai querer ficar nesse quarto – ela sorriu maneando a cabeça, mas eu não soube exatamente o que Rosalie queria dizer. – Todas essas coisas de guerra...
- Eu não me importo – ela sorriu.
E só então eu reparei que mamãe havia preparado uma cama ao lado da minha, apenas um colchão suficientemente confortável, para que nós ficássemos no mesmo quarto.
- É – eu dei de ombros. – Não tem muita opção...
Ela riu jogando-se sobre a cama, ao meu lado, e eu sorri.
De repente o silêncio pareceu meio constrangedor e seus olhos se focaram nos meus, ah, eu era fascinado por seus olhos, não só por eles, por todo seu rosto, mas havia algo neles, um brilho que me fascinava mais. Ah, e seus lábios também, tão perfeitamente delineados...
Seus lábios...
Isso pairou em minha mente por um instante, e outro, e quando dei por mim há minutos eu observava seu rosto, seus lábios, seus olhos. Rosalie piscou levemente e sorriu, um sorriso fraco que fazia suas bochechas corarem e me encarou.
- O que foi? – ela perguntou conforme suas bochechas ganhavam um tom ainda mais rosado.
Mas eu não sabia o que dizer, e então, naquela noite novamente meus lábios tocaram os dela, com tanta inocência quanto da primeira vez, mas durou mais, eu podia sentir o gosto adocicado dos cookies em seus lábios, e, definitivamente, estávamos completamente corados quando nos afastamos.
- O que foi isso? – ela perguntou querendo mais do que uma simples resposta, eu sabia disso.
- Um beijo – mas eu não sabia o que mais de resposta ela podia querer.
Eu rolei pela cama até cair no colchão, já estava pronto para dormir mesmo, e não sabia mais o que dizer.
- Boa noite – eu murmurei cobrindo-me com o cobertor. – E amanhã eu vou com você conhecer sua irmãzinha...
- Irmãozinho – ela rangeu entre dentes e se deitou também, cobrindo-se com a coberta assim como eu havia feito.
Mas eu não conseguia dormir, e desconfio que ela também não...