Lágrimas de sangue escrita por Gothica


Capítulo 29
Uma nova realidade.




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Eu nasci em uma casa toda destruída e completamente imunda. De quem eu nasci? Não faço idéia. Mas também não me interessa saber. O que interessa é que eu cresci com um cara.

Esse cara tentava cuidar de mim, por mais que odiasse crianças. Eu era somente uma garotinha de 8 anos quando minhas garras começaram a crescer. Eu sempre tive características diferentes dos outros. Sempre me senti diferente, sem saber o porquê. Fui obrigada a ir para a escola. Nunca me adaptei e nunca se adaptaram a mim.

Eu cresci. O nome que me deram foi Toly e eu era uma semi-demônio. O cara que era responsável por mim era meu pai, um demônio completo.

Ele sempre escondeu de mim o fato de ser meu pai, mas eu sempre soube. Não sei como, mas eu sabia. Ele me tratava como sua namorada, principalmente depois que eu menstruei. Seu nome era Ghirf e eu praticamente me obrigava a fazer o mal com outras pessoas para que recebesse um mero elogio. Eu me apaixonei.

Naqueles anos eu pensei que estar apaixonada fosse maravilhoso. E por muito tempo achei que fosse.

Certo dia eu comecei a sentir contrações muito fortes na barriga, e então me veio a notícia de que eu estava grávida. Eu, só uma semi-demônio, sentia dores desesperadoras durante a gravidez. Para minha sorte, o bebê se desenvolveu rápido e quando completou duas semanas, ele já queria nascer.

Lembro-me claramente daquela manhã. Ghirf havia me dado um pouco de seu sangue para amenizar minhas dores, mas depois disso, tudo mudou. Ele me deixou sozinha em nosso quarto imundo para ter o neném. A dor era insuportável, senti minhas forças irem diminuindo aos poucos. Eu gritava por ajuda e nada.

Dhuly nasceu. Era um bebê lindo, com um sorriso idêntico ao meu. Com muita dificuldade, sem saber ao certo o que fazer, tentei fazer os procedimentos necessários e por fim, botar uma roupa. Aos poucos meu coração foi desacelerando seu ritmo, com Dhuly em meus braços, até parar completamente. Ghirf apareceu no quarto, meu corpo estava morto. Ele pegou Dhuly e saiu. Deixou-me lá, do jeito que estava, caída na cama.

Minutos depois senti algo dentro de mim queimar. Lentamente o calor foi aumentando e meu coração voltando a pulsar. Pude sentir meu corpo esquentando e eu voltando a vida. As dores imediatamente desapareceram e um sentimento diferente tomou o lugar dela, mas eu ainda não sabia o que era.

Fiquei completamente impressionada de ter voltado à vida daquela maneira, pois eu não sabia que era possível. Quando fui me levantar da cama, pensamentos vieram a minha mente.

Nesses pensamentos só havia sofrimento, morte e maldade. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que tinha que sair de lá. Eu não queria que Ghirf soubesse que eu estava viva, mas queria que minha filha crescesse bem. Saí da casa de modo que ele não me visse. Lembro-me que desejei que minha filha fosse criada como uma criança normal, não da mesma maneira que eu. Depois disso eu parti.

Eu tinha 13 anos quando Dhuly nasceu, e quando me dei conta, estava com 25, morando em Paris com um grupo de amigas. Lá, em um dia comum, uma de minhas amigas estava fazendo uma pesquisa quando encontrou na internet a história de Ghirf e a Guerra Sem Coração. Ao ouvir o nome “Ghirf”, saí correndo para ver se tinha algo a ver. E tinha. Era o meu pai. O pai da minha filha. Depois disso fiz milhares de pesquisas sobre o assunto, até que cheguei a conclusão de que todos os poderes do Ghirf estavam comigo, porque foram passaram à mim na época em que bebi seu sangue. Dentre isso, havia outras verdades sobre seu passado cabuloso, muito interessantes.

Mantive aqueles segredos em total sigilo, para que não houvesse problemas, e continuei minha vida normalmente, como se eu não conhecesse Ghirf nenhum e como se eu nunca tivesse engravidado.

Anos depois, em uma manhã muito fria de Paris, enquanto eu preparava um chá, comecei a sentir fortes dores no peito. Minhas amigas se preocuparam e sem saber o que fazer, me levaram ao hospital. Antes de chegar lá, desmaiei. Durante o desmaio eu tive pequenas visões muito confusas. Eram visões de Dhuly, já adolescente, com cinco caras desconhecidos querendo matá-la das piores maneiras. Obviamente aquilo me assustou. Quando acordei, já estava num quarto de hospital. Saí de lá correndo e fui encontrá-la.

Durante essa viagem, pequenas visões foram aparecendo em minha mente. Visões de que Dhuly era só mais uma adolescente, vítima dessa maldição de ser um demônio, assim como eu. Descobri também que Ghirf tinha problemas mentais bem mais sérios do que pensei e nem ele mesmo sabia.

Ghirf era meu pai, um homem frio, assustador e terrível. Assim que seus poderes foram passados para mim, ele carregou consigo apenas o espírito de Ghirf, que inconscientemente manipulava e atordoava meu pai. Era como duas pessoas em um só corpo. Uma boa e uma má.

Assim que aquelas idéias malignas que Ghirf carregava chegaram a mim, tive que ter altos treinamentos psicológicos para não ser consumida por eles. Por sorte consegui manter tudo tranquilo, para o meu bem e para o bem da humanidade.

O passado inteiro do dono do sangue que agora estava em minhas veias, também estava comigo, então, para o Ghirf atual, ele teve uma vida de demônio normal, com família e cheia de felicidade.

Fiquei ciente de que aquele cara foi o demônio mais poderoso do universo, anos atrás, mas também tive uma visão extraordinária, que mudaria o rumo da atual vida dele.

A história estava ficando cada vez mais confusa conforme as visões iam aparecendo e eu ia unindo os fatos.

Cheguei à conclusão de que Ghirf estava completamente maluco por estar sendo manipulado por ele mesmo, e por conta disso, a vida de nossa filha estava em risco. Eu não podia deixar nada de ruim acontecer.

Levei alguns dias, mas finalmente cheguei a minha antiga casa. Vi como ela estava diferente e gigantesca. Não tive muito tempo para admirá-la.

Assim que dei um jeito de entrar, encontrei vários caras em nosso antigo quarto. Um deles estava desmaiado enquanto dois gêmeos o examinavam. Os outros apenas observavam e Ghirf estava no meio.

Escondida, prestei atenção no que estava acontecendo. Rapidamente me dei conta que aqueles eram os homens que queriam matar Dhuly por acharem que ela era uma Sem Coração. Um dos caras que também era um Demônios das Sombras, percebeu que havia algo diferente em Ghirf, e assim que ele decidiu golpeá-lo, fui mais rápida.

Apagando todos os caras em questão de milésimos de segundos e os botando para fora da casa, também golpeei Ghirf para garantir que ele não estragasse tudo. Fui à procura de Dhuly e a encontrei comendo pizza.

No momento em que a vi, meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu não podia demonstrar o que estava sentindo naquele momento. Que menina linda ela estava. Havia muitas semelhanças comigo.

Tive que inventar a história de que era uma amiga do pai dela e que havia convidado todos os dois para irem a minha casa. Ela, parecendo preocupada por uma estranha estar em sua casa, disse que não podia sair sem a permissão do pai. Depois de algum tempo de conversa, eu a convenci e a levei até a casa que eu havia alugado.

Tive que voltar até Ghirf para buscá-lo também, e ao contrário de Dhuly, o prendi em uma sala inteiramente branca para tentar lhe explicar as coisas.

Havia muito mais segredo naquela história, mas só com o tempo as verdades transpareceriam.


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