Amanheci e claramente pude ver que não estava em meu quarto. Eu estava na sala de testes em que Dhuly ia comigo quando era pequena.

A sala era gigante, toda branca. Não tinha nada. Nem uma janela, nem computadores, bancos, televisão, nem sequer uma porta. Só um pequeno ponto preto no chão, um pouco distante de mim.

Resolvi caminhar até lá para descobrir o que era.

Chegando mais perto aquele pequeno ponto foi ganhando forma.

Era uma arma.

Peguei. Segurei com força e verifiquei que haviam apenas duas balas. Eu sabia exatamente o que fazer.

Seguindo reto pelo caminho de onde eu estava indo, avistei uma porta. Calmamente fui até ela. Uma porta vermelha sem maçaneta escrita "empurre'. Quando cheguei nela, fiz o que a placa dizia. Empurrei e entrei.

Apareci dentro do elevador. O andar marcado era a sala principal da nossa casa. Fiquei completamente parado até que o elevador chegasse.

Ele se abriu e eu sai. Olhei para o chão e vi Tutu correndo atrás de uma pequena bolinha. Inclinei minha cabeça para o lado e pensei. Olhei para a arma. Olhei para o Tutu. Pensei "não". Olhei para o chão. Olhei para Tutu. Caminhei até ele. Ele olhou para mim. Levantei meu pé direito. Pisei com toda a força em cima dele. Seu sangue se espalhou pelo piso. Continuei minha jornada.

Fui ao quarto de Dhuly, ainda caminhando lentamente, totalmente ereto e sem demonstrar emoção. Segurando firme a arma ao meu lado, e com os tênis sujos de sangue.

Lá estava ela. Dormindo como uma criança inocente. Inclinei a cabeça para o lado e pensei. Olhei para o tênis. Olhei para Dhuly. Pensei, "não". Olhei para o chão. Olhei para Dhuly. Caminhei até ela. Posicionei a arma diretamente em seu peito e apertei o gatilho.

– PAPAI, NÃO!

Já era tarde. Dhuly estava morta. Sua cama ficou coberta de sangue. Seu sangue preto começou a escorrer de sua boca, queimando tudo o que havia ali, inclusive ela mesma.

Ainda restava uma bala.

Inclinei a cabeça para o lado e pensei. Olhei para Dhuly. Me virei e olhei Tutu. Olhei para Dhuly de novo. Levantei a arma. Posicionei na minha cabeça ainda inclinada.

Apertei o gatilho.