Diário do Silêncio escrita por Vaalas


Capítulo 6
Por quê?




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“[..] Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.” — Mario Quintana.

O choque da realidade me abateu de um modo estranho. Não saberia explicar em palavras como me senti quando percebi o que havia acontecido, mas acho que minha expressão é bem resumida em sua gargalhada. Cassie riu muito, muito mesmo. Não sei se por causa do vermelho do meu rosto ou da minha falta de experiência em beijos, apenas garanto que ela encerrou aquele toque de lábios com uma risada provavelmente alta e contagiante.

Talvez não contagiante, afinal, eu não estava rindo.

— P-Porquê? — Foi só nisso que consegui pensar. Na verdade, sequer conseguia refletir sobre o papel comestível sabor amora, a ficha da situação havia mesmo caído.

“Porque eu quis, idiota” Ela sorriu.

E mais uma vez apanhei você, caderno feio, e escrevi, mas minha letra estava muito trêmula e distorcida, então não vou colar aqui.

“Isso não responde pergunta alguma! ” Escrevi, a caneta quase rasgando o papel em meio ao nervosismo “Digo, você não pode sair beijando as pessoas assim!

Ela sorriu torto quando leu, sem dúvida achando a situação divertida.

Eu não estava achando divertido. E sabe, é normal um garoto achar isso extremamente bom! Qual era o meu problema? Quando essa chance aparece para garotos, eles à abraçam. Quando essa chance aparece para garotos surdos, eles se jogam de cabeça.

“Você é você, não é uma pessoa qualquer” Ela desviou o olhar para rua, mas eu não conseguiria mesmo olhar em outra direção com o rosto tão vermelho do jeito que provavelmente estava. “Sua mãe chegou”

Ler isso nos seus lábios fez um alívio surpreendente tomar conta de mim. Ergui-me com uma rapidez que espantou a todos os meus 16 anos de sedentarismo e corri para o carro próximo à calçada. Meu estômago estava dando tantas voltas que o toque gelado da maçaneta parecia dizer “uhhhhuuuu, vamos ser livres!”.

Uma mão tocou meu ombro, os olhos castanhos esverdeados me fitaram e a circulação sanguínea do meu rosto achou uma boa ideia dilatar.

“Seu caderno” Sim, eu havia esquecido você, caderno feio, no entanto a culpa não é minha e tenho certeza que o universo inteiro sabe disso.

— O-Obrigado. — Peguei e praticamente me joguei no carro. A porta não custou a abrir, mas se houvesse, eu provavelmente me jogaria pela janela e mandaria minha mãe arrancar com toda a velocidade para longe daquele lugar.

Em poucos instantes já estava lá dentro, tirando o casaco e aproveitando o aquecedor, o rosto parecendo voltar a cor normal, enquanto tentava me concentrar em qualquer outra coisa que não fosse aquilo.

“Quem era? ” Minha mãe indagou risonha.

“Uma amiga”

“Sei”

“Estou falando sério! ”

Minha mãe é uma das poucas pessoas que consegue demonstrar toda a sua malicia por meio dos sinais, naquela vez não era diferente. Podia sentir o sarcasmo exalando a cada movimento.

“Mas é claro que está! ” Ela riu. “Por que está tão vermelho? ”

“Frio! ”

Ela não disse mais nada, e, obviamente, eu não me dei ao trabalho de sinalizar mais nada. No momento tudo o que eu tinha que fazer era recuperar a cor do meu rosto e respirar fundo. Não lembro muito bem de como eu fiz isso, digo, de como consegui me distrair do beijo — acredito que não tenha conseguido, mas naquela época gostaria de ter pensado que sim —, porém tenho quase certeza que encarei a borboleta depressiva, imaginando sua vida curta em uma tentativa de distração.

Mas claro que, em algum momento, o gosto de papel comestível sabor amora surgiu na minha mente.

[...]

“Gosto de você”

Era fim de tarde quando eu abri você novamente. O meu estado de vermelhidão aguda parecia ter passado, no entanto eu evitava pensar no beijo, já que o mesmo sempre trazia o vermelho de volta assim como suor atrai mau cheiro. E se havia algo que eu podia garantir, é que naquele momento minha cara explodiria e eu daria trabalho à minha mãe, que seria obrigada a limpar os resíduos cerebrais grudados ao papel de parede do meu quarto.

Sim, Cassie escreveu que gostava de mim. De mim. No meu caderno feio. Escreveu que gostava de mim no caderno feio.

Provavelmente escreveu isso no meu caminho até o carro e me devolveu o caderno com essa mensagem escondida em meio ao meu nervosismo. Porque, por algum motivo, Cassie não estava nervosa! Então por que eu tinha que estar!?

Eu certamente estava com algum problema.

Suspirei e fechei o caderno. Tinha que esquecer isso, certo? Digo, foi apenas uma troca de saliva, algo que na prática é menos nojento do que na teoria. É agradável até, diferente do que imaginei que seria...

Certo, preciso dormir. Preciso dormir.


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Notas finais do capítulo

Queridos leitores. Já pus a mensagem no meu perfil, mas provavelmente ninguém vai ler lá akdmaskmdkasn. Bem, eu estarei ausente nessa semana e não poderei acessar a internet. Então, aproveitando as minhas últimas horas de vida virtual, vou tentar responder os comentários pendentes e vou já programando o próximo capítulo para algum dia aí.
Bem, adeus, me amem e rezem pela minha alma.