— Rukia —

O clima na pequena cozinha de meu apartamento estava tenso. Eu o olhava de maneira inquisitiva.

— Por favor, deixe falar até o fim. — Pediu serio após minha repentina indagação.

Não sabia o que fazer então simplesment'e concordei com um breve aceno. Estava visível seu desconforto perante aquela conversa, mas suspirando recomeçou.

— Como eu estava dizendo. Foi por minha culpa que o seu namoro com Kaien tenha terminado daquela forma. — Confessou com pesar. — Eu me aproveite de todo ciúme e insegurança que ele tinha em relação a nossa amizade e menti. — Continuou cortando o contato visual que até então mantínhamos.

Ele já não me encarrava, mantinha os ombros tensos sem nem ao menos notar, deixando claro o quão nervoso estava. Nervosismo esse que tomava conta de meu interior, deixando-me apreensiva.

— Uns dias antes de nossa formatura, você havia esquecido seu celular em casa e com isso ficou alguns dias sem falar com ele. Afinal tudo andava uma correria devido aos preparativos para a cerimonia. — Pausou respirando profundamente tentando manter a calma. — Logo ele veio perguntar para mim sobre seu sumiço e naquilo vi uma oportunidade perfeita para acabar com aquele seu namoro. Eu posso não ter te falado antes e pode ser que você nem acredite, mas sempre te amei. — sussurrou ainda sem me olhar nos olhos. Parecia que enfim aquela coragem que havia visto ali finalmente se esgotara.

— O que você disse a ele? — Perguntei impaciente. Não estava afim de ouvir nada dobre amor vindo dele.

— E-Eu... Eu disse que você havia se declarado para mim e que iria terminar com ele na cerimonia de formatura para ficar comigo. — Confessou apressado. — Juro que pensei que ele não tinha acreditado, pois ele foi embora sem falar nada. Mas então tudo aconteceu muito rápido e você sabe já sabe o desfecho daquela noite, não é mesmo? — Finalizou suspirando tristemente.

— É claro que eu sei, afinal aquela ocasião me marcou e você sabe bem disso. — Disse magoada. — Eu achei que poderia confiar em você. Antes de tudo era para você ser o meu companheiro, mas não. Egoísta, é isso o que você é. — Declarei rancorosa.

— Eu sei, mas eu fui convarde... — Ele parecia incerto e angustiado.

— Você não teve nada haver com meu termino com o Ashido, né? — Perguntei rapidamente. Acreditando que ele não poderia ser tão baixo.

Meu coração apertou quando o vi surpreso, olhando-me com culpa em silencio.

— Responda! — Gritei perdendo a calma.

— Bem... E-Eu... Na verdade, sim. — Declarou apertando os punhos com força. — Mas ele não prestava. Só queria o dinheiro da sua família, tanto que quando eu o pressionei, ele te trocou pela Riruka, que tem uma herança maior que a sua. — Explicou apressado. — Pode não acreditar, mas dessa vez foi para o seu bem. — Sussurrou enfim.

— Mesmo assim você não tinha o direito! — Exclamei deixando-o sozinho á mesa do café.

Tudo o que eu queria no momento era ficar sozinha e bem longe dele. Não sabia o que pensar e muito menos o que fazer.

Agora que eu finalmente havia entendido e aceitado meus sentimentos em relação a ele tudo vinha abaixo.

— Eu realmente não espero que você me perdoe, mas saiba que eu te amo e vou lutar para permanecer ao seu lado mesmo que você me despreze e que me odeie, eu vou estar sempre aqui. E-Eu vou aprender a amar você da maneira que você quiser. — Declarou olhando-me parado próximo a divisória da cozinha.

— Vá embora. — Mandei usando meu tom mais frio. Aquela conversa toda estava me sufocando.

Seus lindos olhos castanhos mostraram-me toda dor e angustia que aquelas duas palavras lhe causavam, mas aquilo não me importava do mesmo modo que ele não havia pensado em meus sentimentos quando me feriu por seu egoísmo eu também não iria pensar nos dele.

Sem dizer mais nada pegou as chaves do carro, unica coisa que havia trazido com sigo na noite passada alem das roupas do corpo e seguiu até a porta.

— Você irá me perdoar, Rukia? — Perguntou de repente parado com a mão na maçaneta.

Permaneci em silencio vendo-o suspirar, saindo cabisbaixo pela porta.

Meu coração doía. Era doloroso vê-lo partir, mas não o queria por perto agora.

Sua ultima pergunta continuava ecoando pelo pequeno comodo.

"Perdão"

"O que seria esse perdão que ele almejava?"

"Será que era o simples fato de esquecer, deixar para lá?"

"Será que eu estaria pronta para esquecer?"

"Será que esse amor que havia acabado de aceitar seria maior que esse sentimento de traição que sentia dentro de mim?"

Muitas perguntas, mas nenhuma resposta.

Aquela situação está tão difícil. Estava sufocante.

Meu peito doía. Joguei-me na cama. Não tinha mais animo para nada. Queria chorar, mas até mesmo isso não conseguia.

Naquele momento, mesmo estando sozinha, não queria ser fraca. Não queria demonstrar aquele meu lado patético, o qual somente ele conhecia. Claro afinal ele me conhecia por completo, nunca havia escondido nada. Confiava plenamente nele. Confiança, essa que não significava nada para ele.

Era irônico como havia quebrado a cara pela quarta vez. E duas vezes com o mesmo homem. Realmente muito irônico, tão irônico que chegava a ser hilario. Sempre que me deixava perder o controle de meus sentimentos me dava mal.

Me celular tocava sem parar. Talvez Inoue já soubesse de tudo aquela hora, afinal Ichigo logo contaria para Ishida, que ao contrario do melhor amigo, contava tudo para a namorada.

Desliguei o aparelho ao constatar que realmente era minha amiga ruiva que ligava. Não estava a fim de falar com ninguém. Estava decidida a superar aquilo sozinha.

Eu não seria um mártir que chorava suas magoas no colo de pessoas que amava. Seria forte. E nunca mais me permitiria perder o controle. Nem por Ichigo, nem por homem nenhum.

Definitivamente o amor não seria minha razão de viver e muito menos minha derrota. Afinal essa não era a primeira vez que eu me machucava por causa desse sentimento tão traiçoeiro, a unica diferença é que nas outras vezes Ichigo estava lá para me abraçar, mesmo sendo o principal causador de tudo. Já agora não conseguia mais vê-lo ao meu lado.

Fim, aquele realmente havia sido o fim de nós dois.