Licantropia: A Reserva escrita por Paulo Carvalho


Capítulo 8
Capitulo 7: Disputada.


Notas iniciais do capítulo

Olá. Aproveitando esses raros momentos livres da minha escola, estou postando mais um capítulo. Meio fraquinho, mas vai melhorar, prometo!



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Os sonhos de Samantha foram povoados com os sorrisos sádicos de Oscar, Fred e Peter. Eles riam e se transformavam em bestas com olhos vermelhos e dentes afiados que cortavam sua pele em inúmeros lugares. Quando acordou, Sam percebeu que se ferira com as próprias unhas, mas a dor era ínfima comparada às outras.

Seu corpo ainda latejava; seus cortes ainda ardiam e sua cabeça ainda doía, mas em um grau menor do que anterior. Seus olhos não doíam tanto e ela conseguia enxergar sem dificuldades. Estou me curando rápido, ela pensou. Mais alguns dias e terei forças para escapar.

Eles a tinham levado para outro lugar, Sam notou. Ela não estava mais no abatedouro junto com as outras carcaças animais. O quarto que a cercava era simples, mas ainda assim era mais quente, menos úmido e fedia muito menos. Havia um colchão, sobre o qual ela estava deitada; um sofá de aparência velha; uma janela pequena no alto da parede à esquerda por onde a luz do sol passava e uma mesa baixa e simples sobre a qual repousava uma bandeja cheia de comida.

O estômago de Sam se contraiu e ela se aproximou dos sanduíches sem pensar duas vezes, ignorando as dores na perna e na boca. Ela nem sequer reparou na entrada de Raniah. Apenas quando a última gota de água desceu por sua garganta, ela percebeu o enorme Filho da Noite encostada na soleira da porta. Como antes, ela se afastou e se encolheu no canto mais afastado. Pare de ser fraca!

–--Não precisa ficar com medo. ---ele respondeu como se estivesse falando com um animal machucado. ---Eu não irei lhe fazer mal e Soren não está aqui. Apenas eu. Posso ficar?

Sam não respondeu, apenas acenou. Ela sentia seu coração acelerado pela presença do homem, mas ainda assim precisava saber exatamente quais eram suas chances de escapar. A chance de Raniah realmente querer ajuda-la era mínima, mas ainda havia uma possibilidade.

–--Então...está com sede? Fome? Quer mais alguma coisa? ---ele ergueu uma sobrancelha.

Samantha apenas apontou para a garrafa de água e minutos depois Raniah retornou com uma garrafa cheia. Ele tentou se aproximar, mas Sam se encolheu fazendo-o rolar a garrafa até ela. Raniah tentou fazê-la falar por horas, mas só conseguia acenou frágeis e murmúrios incompreensíveis.

–--Escute. ---ele começou, com as mãos nos bolsos. ---Eu só queria pedir desculpas por tudo o que aconteceu. Não é argumento, é claro, mas são as regras do clã. O que encontramos, é nosso e apenas nosso. Eu sou o líder deles... se transgredisse as minhas próprias leis, seria encarado como traidor. São tempos de guerra, todos estão preocupados e ameaçados. Só quero que saiba que eu sinto muito e não deixarei ninguém tocar em você de novo, tudo bem? Ficarei do lado de fora, de guarda. Quando precisar de qualquer coisa...é só me chamar.

Raniah lançou-lhe um sorriso e virou as costas. Samantha não sabia por que fez aquilo; ela não se sentia pronta para perdoar ninguém, odiava todos eles, mas algo na expressão do líder a fez se sentir mal.

–--Obrigada. ---foi a única coisa que ela respondeu, mas Raniah exibiu um sorriso largo. Os olhos negros brilharam animados. Ele acenou e saiu logo em seguida.

Os dias seguintes se passaram da mesma forma. Raniah lhe trazia comida, três vezes ao dia; ela podia pedir o quanto de água quisesse. Após algum tempo, o homem passou a lhe fazer companhia, embora Sam tivesse negado. Ele ficava sentado no canto oposto ao dela, contando-lhe histórias e fazendo perguntas que Samantha se recusava a responder. Eram perguntas simples e pessoais, nem um pouco relacionadas à Reserva, mas Sam preferia manter-se calada.

–--Você come mais do que eu. ---Raniah mencionou um dia qualquer, com os braços cruzados sobre o peito.

–--Ser torturada abre o apetite. ---Sam respondeu com a boca cheia de comida fazendo o homem rir.

Samantha o havia analisado e concluído que Raniah não era um aliado. Ele aparentemente, não a odiava e nem queria tirar informações delas, mas ao mesmo tempo, não era idiota e seus olhos escuros se mantinham alertas a cada um de seus gestos e expressões. Ele esperava por sua fuga.

Ainda assim, ela gostava do homem; ele era gentil, simpático e oferecia uma distração quando o tédio alcançava os limites máximos. Com o passar do tempo, Sam aprendera a modular seu tom de voz e a não falar nada além de agradecimentos.

–--Eu sei bem disso. ---ele respondeu.

–--Do quê? Ser torturado? ---Sam perguntou antes que pudesse se conter. A curiosidade sempre fora uma de suas fraquezas. É por causa dela que estou nessa merda.

–--Sim. ---ele sorriu, feliz por conseguir arrancar palavras dela. --- Existe um grupo inimigo, um clã. ---ele respondeu. ---Os Nômades; você já deve ter ouvido falar. Todos os patrulheiros sabem dessas coisas, não é?

Sam se calou antes que falasse demais. Raniah parecia ser mais inteligente do aparentava de verdade. Talvez seja assim que ele faz seu interrogatório. Sem tortura; ele ganha a confiança das pessoas e pega as informações enquanto conta suas histórias. Não irei cair nessa.

–--Certo. ---ele respondeu decepcionado. ---Não precisa me responder. Os Nômades são o clã que vive na Cidade Cratera. A maioria de nós aqui já viveu entre eles; são itinerantes, como o próprio nome diz e já andaram boa parte do que chamavam de Estados Unidos. Eu nunca me uni à eles; pertenço a esse clã desde sua criação. Meu melhor amigo o criou e quando ele foi morto; fui eleito em seu lugar. Os Nômades não gostaram de encontrar um território ocupado e menos ainda quando não cedemos o espaço. ---ele se ajeitou e mordiscou uma maçã. ---Eu fui capturado; era jovem e idiota. O líder deles, Lucaion, me manteve refém por dois meses e fui torturado também.

–--Oito dias com ela e você já está dando informações? ---a voz de Soren fez Sam se encolher nas sombras. --- Não seja idiota, Ran.

–--O que você faz aqui, Soren? ---Raniah perguntou com um rosto sério e cheio de sombras.

–--Percebi que estava infringindo as regras ao deixa-la com você. ---ele sorriu e esfregou uma das mãos na barba. ---Decidi voltar. Está liberado e obrigado pelos serviços.

–--Não. ---ele respondeu sério, as mãos fechadas em punhos. ---Você não irá tocar nela.

–--E quem disse que eu vou tocar nela? Estou aqui para protegê-la... como você. ---Soren franziu as sobrancelhas escuras.

–--Não me faça rir. ---Ran se afastou, mas ainda se manteve entre Sam e Soren. ---Cuidar dela? Protegê-la? Como fez naquele dia?

–--Eu já disse...---o rosto de Soren se contorceu em uma careta. ---Eu não ia deixar tocarem nela; era apenas um susto.

–--Eu disse não, Soren. ---Raniah emitiu um grunhido baixo.

–--Ela pertence a mim, Ran. ---Soren semicerrou os olhos. ---Serena a deu para mim; não cabe a você decidir. Eu cuidarei dela daqui em diante e você voltará a ser o líder deste maldito clã. Agora, vá. Gregory precisa de você.

Samantha escutava e observava com atenção. O nome Gregory pareceu despertar algo em Raniah e ela soube imediatamente que o homem era importante para os dois. E para Serena também. Eu lembro quando ela mencionou esse nome. Raniah lançou olhares que alternavam de dúvida, para Sam e irritação, para Soren.

–--Muito bem. ---ele se afastou. ---Ela é sua e não posso fazer nada... mas toque em um dedo dela e eu acabo com você na próxima Lua, entendeu?

–--Seria interessante de ver. ---Soren sorriu desafiadoramente. ---Mas, sim, eu entendi. Eu cuidarei bem dela. Agora nos deixe.

Raniah fez exatamente aquilo. Lançou um último olhar solidário para Samantha e saiu porta afora. Soren a encarou por alguns minutos, seus olhos amarelo-dourados pareciam brilhar. Ele se aproximou alguns metros e Sam se encolheu ainda mais, reduzindo-se a uma pequena bola, fazendo-o parar onde estava.

–--Eu não vou machucar você. ---ele tentou sorrir,mas desistiu da ideia. ---Juro. Só quero que me diga o quanto está doendo...

As palavras dele não faziam sentido aos ouvidos de Sam. Por que ele queria saber aquilo? Estaria ele, assim como Raniah, tentando ganhar sua confiança para obter respostas? Ou seria algo ainda mais planejado e oculto? De qualquer maneira, Samantha não responderia a nenhuma pergunta daquele monstro. Eu o odeio e farei de tudo para mata-lo quando fugir daqui.

–--Não vai falar comigo? ---ele parecia irritado e levemente magoado; ou seria surpreso? ---Você estava falando com Raniah. Por que não fala comigo? Eu só estou tentando ajudar, tudo bem? Onde dói mais? Pernas, braços, cabeça? ---o silêncio inundou o espaço entre eles e por um minuto os olhos de Soren pareciam ter ficado maiores e selvagens. ---Responde. Fale alguma coisa, ao menos!

Quando Samantha não respondeu, o Filho da Noite se levantou irritado e andou de um lado para o outro, como se estivesse tentando se controlar. Ele por fim parou e franziu as sobrancelhas longas e grossas. Sua respiração pesada fazia um barulho estranho.

–--Eu só estava tentando me desculpar. Tudo bem, deixa pra lá. Estou aqui fora se precisar. ---ele resmungou e bateu a porta com força.

Se desculpar? Samantha sentia que havia um significado oculto por trás de tudo aquilo, mas precisaria de mais dias de análise para descobrir. Ela amaldiçoava Raniah mentalmente por tê-la deixado com o monstro de olhos amarelos. Quando foi que eu me deixei acreditar naquelas promessas? Idiota, burra! Não acredite em nada do que eles falam. Sozinha e encolhida no colchão, Sam começou a imaginar as maneiras pela qual sairia dali e principalmente em como se vingaria de Oscar, Fred e Peter. Soren também, não posso me esquecer dele...


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem!!



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