Jovens – Interativa / Capítulo 18 – O que está acontecendo

*-*

POV Keira Tanaka Lee

– Ficou sabendo? – Logan jogou alguma coisa sobre a mesa, fazendo barulho demais pro meu gosto.

– Se você não terminar a frase, talvez eu não fiquei sabendo.

Ele começou a fuçar na geladeira.

– Fomos classificados no boliche – Ele suspirou – Depois que houve uma grande discussão entre os caras que organizam pela bruta entrada dos calouros, e foi também por isso que eles adiaram tanto pra marcar a segunda fase – Ele suspirou outra vez, batendo a porta da geladeira.

Eu fechei os olhos, ele conseguia fazer desaforo inconscientemente. Eu voltei minha atenção aos tomates picados a minha frente.

– E no final temos a boa e a má noticia.

Eu suspirei.

– Manda a má noticia.

– Eles marcaram na mesma semana que o baile.

– Eles não podem fazer isso – Eu me virei, gesticulando e ele recuou um passo – Não dá pra gente organizar o baile e participar ao mesmo tempo! Mesmo sendo em dias diferentes, estamos com o tempo apertado!

– Abaixa a faca – Indicou com a cabeça, e eu revirei os olhos jogando tudo dentro do pirex com as folhas lavadas de alface. – E sim, eles podem, é só a gente que está organizando tudo, não afeta a maioria, eu tentei.

– E qual a boa noticia? – Resmunguei

– Talvez a gente nem precise jogar, porque agora que Dorian saiu de vez, não temos um quinto integrante. – Se sentou, entrelaçando as mãos diante de si.

– E desde quando isso é bom?

– Não é, mas dói menos do que a outra.

Eu voltei a revirar os olhos.

– Precisamos substituí-lo.

– Por quem? Brandon adora fazer o papel de arqui-inimigo por estar no outro time, e não conte com Israel, ele gosta de estar no time que está porque ali ninguém tem coragem o suficiente pra enfrenta-lo.

– Eu não pensei neles – Eu coloquei a salada temperada a nossa frente e Logan ficou alguns minutos em silêncio.

– Não sei se eu concordo com a entrada definitiva de Raymond, imagina Lena.

– Não sei temos outra opção.

– Boa Tarde! – Genevieve sorriu ao entrar – Só vocês aqui? - Eu concordei e ela caminhou alegremente, enquanto colocava, decentemente, ao contrário de Logan, a bolsa no sofá – Pensei que Lena estaria aqui, eu não a vejo desde ontem.

Eu franzi o cenho.

– Ela não voltou pra casa ontem?

Genevieve negou e começou a vasculhar a geladeira.

Logan e eu nos entreolhamos

– Ela dormiu na casa do Ray

– O quê? – Logan inclinou a cabeça sem entender, ou talvez ele tivesse entendido e não tivesse acreditado. Genevieve se virou com uma cara assustada.

– Não no mal sentido é claro, é que nós não dormimos por causa da loucura de vocês, e depois foi o dia todo pra voltar. Quando ela foi conversar com ele estava exausta, ela pegou no sono – Genevieve fechou a geladeira e puxou dois garfos da gaveta – E ele a levou pro apartamento deles lá, acho que eles finalmente tiveram uma conversa decente. - Ela se sentou, estendeu um garfo para Logan e começou a espetar minha salada com o outro – Sobre o que estavam conversando?

Logan balançou a cabeça algumas vezes, como se tentasse sair de um transe.

– Genevieve você joga boliche? – Perguntou, e fiquei contente pelo assunto Helena e Raymond não ter se estendido.

*-*

POV Josh Dylan

Eu joguei a toalha sobre o ombro, e quando tentei abrir a porta do banheiro ela estava trancada.

– Tem alguém lá dentro? – Eu apontei para a porta enquanto olhava para Brandon, que enchia uma bacia com rosquinhas. Ele deu de ombros.

– Raymond está no quarto, Sam e Ana não estão em casa.

– A porta do banheiro está trancada – Eu estendi a mão até a maçaneta, mas ela foi aberta por dentro. Uma de cabelos molhados e apenas com uma toalha enrolada no corpo gritou antes de bater a porta com força.

Eu comecei a rir.

– O que foi isso? – Brandon perguntou

– Tem uma garota no nosso banheiro – Eu respirei fundo algumas vezes, mas eu ainda gargalhava alto – E ela acaba de tomar banho.

Brandon deu a volta na bancada pra se aproximar.

– As meninas sabem que esse é o nosso – Ele bateu de forma insistente e eu o segurei.

– É a Helena

– Mas o que ela – Ele sorriu – Raymond! – Berrou enquanto caminhava na direção do quarto.

– Você me paga Josh – Ela murmurou entre dentes do outro lado

– O seu apartamento é praticamente do outro lado do campus Miss Jackson, como pode confundir esquerda com direita?

– Eu não confundi porcaria nenhuma.

– Qual o problema de vocês? Eu não dormi direito e pretendia levantar só quando eu realmente precisasse – Ray passou a mão pelo rosto cansado e olhou com descaso na minha direção – Você não consegue abrir a porta do banheiro Josh? – Ele forçou a maçaneta e a porta foi subitamente fechada.

– Mas o que- Ele se virou confuso e eu voltei a sorrir.

– Sua companhia está lá dentro, e acho que ela não tem o que vestir.

Ele franziu o cenho e eu me afastei indo sentar nos bancos de frente a bancada da qual no outro lado levava a cozinha, Brandon sentou ao meu lado e eu cruzei os braços.

– Só pra avisar que eu quero entrar lá ainda hoje tá?

Ele me ignorou.

– Helen o que está fazendo ai dentro?

– Eu não tomo banho há dois dias – Ela esbravejou baixo – E você me trouxe aqui sem o meu consentimento.

Ele sorriu

– Você simplesmente apagou no meu ombro, eu tinha que te acordar pra saber aonde você preferia dormir?

– É claro que sim

– É claro que não – Ele jogou os braços pro alto – Seu irmão não quer nem me ver pintado de ouro, como eu ia chegar com você nem conseguindo ficar de pé.

Houve um silêncio, Brandon e eu nos entreolhamos.

– Eu preciso de alguma coisa pra vestir – Resmungou

– Nós não temos permissão pra entrar no quarto das meninas – Brandon ergueu a voz – Elas deixam o quarto trancado porque não somos pessoas confiáveis.

Eu comecei a rir

– Gente é sério – Ela parecia prestes a chorar – A bateria do meu celular acabou e eu não tenho pra quem apelar pra me trazer.

Raymond se virou na nossa direção, um sorriso divertido enquanto se apoiava na porta e cruzava os braços.

– Eu vou entrar.

Brandon começou a rir.

– Você não pode fazer isso – Brandon levantou colocando algumas coisas nos bolsos – Se Logan descobrir, ou Israel-

– Eles não vão – O sorriso dele se expandiu e eu fiquei de pé balançando a cabeça em negativo.

– Eu fiquei de encontrar com Onix porque ela quer umas opiniões sobre o que vestir no baile, eu não posso ficar pra ver vocês brincarem – Ele caminhou em direção a porta – A gente se vê – E saiu

– Eu não vou fazer parte disso, vou ver se tenho alguma coisa pra ela vestir, e tomo banho mais tarde – Eu fui em direção ao quarto, escutando algumas palavras sujas de Helena antes do barulho da porta abrindo e fechando.

*-*

POV Israel Davis Callen

Estava calor, e de certo ponto isso era bom, eu me sentara encostado ao muro de frente ao campus, ouvindo apenas o fluxo de pessoas no corredor atrás de mim e as poucas pessoas sentadas com livros e cadernos espalhadas mais a frente.

A garrafa de vodka estava devidamente discreta no pacote marrom ao meu lado, e eu descansava a cabeça sobre os tijolos sentindo o calor me atingir o rosto. A sensação era boa.

– Isso é álcool? – O meu sossego fora interrompido por uma voz feminina. Ninguém além de Helena tinha coragem pra me jogar na cara sobre meu vicio horrível, deveria ser alguma caloura metida à esperta.

– Isso são mesmos sapatos? – Perguntei, mas não me Dara ao trabalho de abrir os olhos, eu podia acompanhar os movimentos das nuvens e como elas também pareciam querer acabar com meus poucos segundos de felicidade quando resolviam entrar na frente.

Não era nuvens.

Eu abri um dos olhos.

Os cabelos loiros não estavam lisos como de costume, estavam cacheados de forma desleixada, como se ela tivesse preguiça de arruma-los. Caiam sobre os dois ombros, impedindo a pele pálida de receber a merecida luz do sol. Tinha um chapéu, com abas formando um perfeito circulo, parecia de palha, mas eu sabia que não era, tinha também uma fita azul, dando a volta e pontas caindo displicente na parte de trás, algo me dizia que teria um laço lá trás.

Estava com um vestido também azul, com prensas na saia e algo brilhoso pouco acima do umbigo, não tinha decote, mas em compensação era sem manga, deixando os braços magricelas incomodados com a luz. Apertava contra o peito dois cadernos finos, sem estampas, beges, dando todo destaque a sua figura.

Era como ver uma princesa se adaptando a modernidade

Ela estava com sandálias na grama.

– Não são apropriados para a hora do almoço principalmente em um lugar como esses eu sei – Ela pareceu se repreender por um erro que eu desconhecia – Mas eu me atrasei hoje de manhã, e a única certeza que tinha é de que faria calor.

Eu voltei a fechar os olhos.

– Não respondeu a minha pergunta.

– E que diferença isso faria?

Eu a escutei bufar, ouve um baque do meu lado e eu tive que abrir os olhos.

– O que está fazendo? – Perguntei quando ela largou os cadernos sobre o colo, segurando a garrafa com uma das mãos e levando a boca como se bebesse água. Ela fechou os olhos com força quando devolveu a garrafa ao seu lugar.

– Isso é Vodka.

– Dez pontos para a Corvinal, agora se manda – Eu coloquei a garrafa do meu outro lado por medidas de segurança.

Ela sorriu muito brevemente, encostando a cabeça ao muro e fechando os olhos, o rosto corado pelo calor.

– Não está um pouco cedo pra beber?

Eu bufei em resposta, voltando a minha posição original. Ficamos alguns minutos em silêncio, o perfume floral fazendo minha cabeça rodar

– Não quero que conte a ninguém sobre o estado em que me viu ontem – Sua voz agora era firme, e quando eu abri os olhos ela me encarava séria.

– Quero ver me segurar – Ironizei

– Quero ver a sua cara quando eu contar pra diretora que anda trazendo bebida para a faculdade.

–Oh – Eu coloquei a mão sobre o peito – Por favor, não faça isso, eu jamais conseguiria lidar com isso!

Ela revirou os olhos.

– Se isso não for o suficiente, eu posso encontrar outras maneiras de acabar com seu sossego.

– Fique a vontade – Eu voltei a me encostar sorrindo. Ela bufou outra vez. – Já pensou em apelar para a forma educada primeiro antes de sair ameaçando?

Ela ficou em silêncio.

– Você pode, por favor, não contar pra ninguém o estado em que me viu no ontem? – Sua voz soou dolorosa.

– Está me chamando de fofoqueiro?

– Pode só me responder?

Eu dei de ombros. Voltamos ao precioso silêncio.

– Você fede a álcool.

– Você fede a flores.

– Você se alto denuncia! – Esbravejou

– Odeio flores.

Ela bufou outra vez e abri os olhos quando ela se levantou.

– Que bom que entramos em um acordo. Agora eu preciso de um favor.

– Não faço favores.

– Eu estou atrasada pra uma festa nem um pouco agradável que minha mãe exige que eu vá.

– Problema seu – Eu fechei os olhos.

– Brandon disse que podia contar com você.

Eu abri os olhos, piscando alguns segundo enquanto absorvia a informação. Eu fiquei de pé, um sorriso me escapou, Brandon era um maldito cretino. Ela mantinha a pose séria.

– Brandon?

– Ele disse que seu veiculo-

– Veiculo? – Eu ergui uma sobrancelha. Eu não sabia quem Brandon pretendia ferrar com tudo aquilo, se era eu ou ela, mas eu certamente ia descobrir – É claro – Eu puxei a jaqueta jogada no chão e a garrafa – Qual o endereço?

*-*

*-*

POV Cassandra Alexa Matterazi

Eu me olhei no espelho uma última vez antes de sair do banheiro. Outras garotas entraram e eu encarei o vai e vem de pessoas, eu respirei fundo algumas vezes antes de me unir a elas. Cris e Jell foram almoçar com os pais – que vieram sem aviso prévio, para ter certeza de que nenhum dos dois tinha sido preso, ou colocado fogo em alguma coisa. Eu não sabia aonde Kaike havia se enfiado, e eu então poderia falar com o Merak sem ser interrompida.

Pelo menos era o que eu esperava. Quando eu virei o corredor do refeitório, ele já estava saindo. Nós dois paramos, nos encarando por alguns minutos até eu resolver me aproximar

– Não temos que conversar

– Nós temos? – Ergueu uma sobrancelha com pouco caso e eu suspirei.

– Eu vim pedir desculpas está bem, eu extrapolei com você no outro dia e você não tinha nada a ver com o que estava acontecendo.

– Você não precisa se desculpar, disse o que estava sentindo, deixou bem claro seu ódio por mim.

– Não é ódio Mek – Eu passei a mão no cabelo de forma nervosa – É que às vezes você consegue me tirar do sério, e as vezes você não parece conseguir enxergar o limite que é a palavra ‘não’

Ele sorriu, um sorriso que eu não via a bastante tempo.

– Eu não consigo ficar bravo com você Cass

Eu revirei os olhos.

– Porque será que isso não me surpreende.

Ele jogou um dos braços sobre meus ombros, eu suspirei, as coisas voltaram ao normal.

– Você fica incrivelmente adorável quando está se sentindo culpada Cass, eu teria adorado prolongar isso. – Eu balancei a cabeça me negativo quando começamos a caminhar – Mas eu sou bom demais pra ver você passar por tudo isso.

– Vá se ferrar Merak

Ele riu

*-*

POV Michelle Parker

O sino da loja tocou quando eu abri a porta, e antes mesmo que pudesse olhar a volta eu escutei a voz de Onix estridente.

– Finalmente você chegou! – Ela praticamente berrou enquanto me puxava pelo braço – Já que você demorou eu separei alguns pra mim, e outros pra você, pra gente ir experimentando. – Indicou duas cadeiras repletas de vestidos perto de um dos provadores.

– Meu Deus, Onix, alguns?

– Você vai gostar, tenho certeza – Apontou para um sofá meio gasto mais a frente, senta ali enquanto eu coloco o primeiro. Brandon estava entretido com alguma coisa no celular

– Olá – Eu me acomodei e ele sorriu.

– Tudo bom?

– Tudo.

Ele permaneceu com os olhos no celular, ficamos em silêncio. Eu pensei em dar iniciativa para algum assunto, mas Onix puxou a cortina se mostrando em um modelito azul claro meio exagerado em detalhes. Ela se virou na direção do espelho.

– Eu odiei – Colocou as mãos na cintura e olhou na nossa direção - E vocês?

– Eu achei – Devo ter feito uma careta – Exagerado demais

Ela ergueu uma sobrancelha na direção de Brandon, e quando este não se moveu ela arremessou um cabide nele, mira perfeita.

Ele ergueu o rosto atordoado, e a olhou de cima a baixo

– Tira isso pelo amor de Deus Onix

Ela revirou os olhos e se enfiou dentro do provador.

– Que critica construtiva

Ele riu

– Digamos que escolher vestidos não está dentre as minhas especialidades

*-*

POV Kaike Anubis Grigori

– Adivinha qual time foi classificado pra segunda fase no jogo de boliche? – Cris pulou a nossa frente de forma radiante

Jell berrou, chamando muito mais atenção do que o necessário, eles riram.

– Nossa, que animação – Merak cruzou uma das pernas surpreendido.

– Graças à perfeita lábia do Jell, nós podemos fazer a festa no ano novo. – Cris puxou uma cadeira pra se sentar e Jell fez o mesmo.

– Vocês se entenderam? – Jell apoiou os braços sobre a mesa, olhando na direção do casal ao meu lado. Cass estava tranquila apesar da proximidade de Merak e o braço a rodiando.

Merak sorriu largamente.

– Não estávamos tão ruins quanto eu pensei, ela não consegue viver sem mim.

Cass revirou os olhos.

– O que vamos almoçar? – Cris puxou um dos cardápios – Eu quero algo grande e gorduroso.

– Acabaram de almoçar – Franzi o cenho, ela me ignorou e Jell se ofereceu a responder.

– Digamos que o que nossos pais chamam de comida não mata a fome de ninguém.

– Laura marcou de sairmos hoje a noite – Eu joguei o assunto sobre a mesa ciente de que Cris não gostaria nenhum um pouco. Cris escondeu o rosto no cardápio e Cass segurou um sorriso.

– Jura? – Jell cruzou os braços se acomodando melhor, um brilho no olhar indicando que ele me apoiava – E já sabe o que vai vestir?

– Nada muito desleixado não é mesmo – Eu entrelacei as mãos – Eu não tenho certeza se ela acha que é um encontro.

As mãos de Cris se fecharam com força contra o pobre cardápio plastificado.

– Deixe algo inteiro pra que a gente também possa escolher Cris – Merak comentou de forma distraída. Ela o abaixou com rapidez, o rosto vermelho.

– Acho que eu perdi a fome – Disse entre dentes enquanto o empurrava na direção de Mek e Cass.

Uma garçonete se aproximou, Cris se manteve tensa.

– Então o que vai ser?

– Uma porção grande de batatas e – Mek empurrou o cardápio na direção de Jell e sussurrou alguma coisa para Cass, ela riu.

Eu e Jell nos entreolhamos, aquele clima amistoso entre os dois era fora do comum, ele sorriu quando voltou sua atenção a garçonete. – E dois refrigerantes.

Jell balançou a cabeça em negativo e eu logo em seguida, ela sorriu e se afastou.

– Que reviravolta não? – Jell colocou as mãos atrás da cabeça,com um sorriso perverso – Antes Kaike e Cris era o casal mais unidos a fazer maldades enquanto Cass ignorava todas as cantadas do Merak, alguém pode me dizer quanto tempo eu dormi?

*-*

POV Laura Elizabeth Miller

Ele indicou a moto, um meio sorriso no rosto. Eu parei

– Não espera realmente que eu suba nessa coisa não é? – Ergui uma sobrancelha, apontando para aquela coisa perigosa. Ele se fez de ofendido.

– Oh não – Se aproximou do modelo exagerado – Ela não disse isso, ela não quis ofender Harley. – Pareceu massagear o banco enquanto sussurrava perto dos retrovisores

– Harley? – Coloquei as mãos na cintura inconformada – Você deu um nome pra essa porcaria?

Ele voltou a se erguer, um sorriso de satisfação.

– Se ver por esse lado.

– Eu não vou subir ai.

Ele deu de ombros, tirando as redes que prendiam o capacete.

– A opção é sua - Eu me virei, eu estava malditamente atrasada, não chegaria a tempo de jeito nenhum. - Mas depois não me culpe se não te deixarem entrar – Eu podia escutar aquele infeliz sorriso.

Eu fechei o punho com força, eu detestava atrasos. Eu dei meia volta

– Que ódio! – O sorriso dele se expandiu, conforme eu me aproximava e ainda praguejava, até eu ser pega de surpresa quando ele enfiou o capacete na minha cabeça. – Você ficou louco? – Eu esbravejei, e o vidro ficou embaçado, minha voz soou abafada.

– Ficou perfeito – Se virou ligando aquela porcaria.

A minha cabeça parecia mais pesada do que o meu corpo todo com aquilo. O cheiro dele estava em toda parte. Eu ergui o vidro com dificuldade. Ele já montara.

– Senhorita – Indicou o pouco espaço que havia atrás dele. Eu suspirei, erguendo a perna para o outro lado de mau jeito. Eu sentia como se fosse cair para qualquer lado. Eu respirei fundo.

Ok, tudo bem, eu posso fazer isso. Eu coloquei as mãos nos ombros dele.

– Acho que eu consegui – Eu falei pelo barulho do motor. Ele riu. Ótimo, qual era piada agora?

– Ah não ser que você queira cair princesa – Ele tirou minhas mãos do ombro e levou para sua barriga, me obrigando a abraça-lo, me obrigando a chegar mais perto – É melhor se segurar.

– Mas que brutalidade! Essa porcaria não tem nem um cinto de segurança! Isso é tudo culpa sua, eu nunca deveria ter-

Ele fechou a ‘janelinha’ do meu capacete – que dera tanto trabalho pra eu conseguir abrir. E negou com o dedo indicador.

– Sinto muito – Apontou para o motor e depois para a própria orelha – Não dá pra te ouvir! Temos que chegar lá rápido.

Eu revirei os olhos, ele saiu com a moto na calçada, e acelerou quando chegamos à rua. Eu o apertei forte, escondendo o rosto como podia, eu sentia ser capaz de chorar. Ele riu, me deixando mais irritada. Eu senti meio peito sufocar quando ele fez uma curva, aquilo não era de Deus.

*-*

POV Genevieve Cotterill

Logan andava de um lado para o outro, de forma exageradamente preocupada.

– Que horas são? – Perguntou, talvez pela milésima vez.

– Só se passaram três minutos – Keira verificou no celular voltando a atenção ao filme na televisão. – Desde a última vez que perguntou

– Já passa das quatro da tarde então! – Ele foi e voltou mais uma vez – Só pode ter acontecido alguma coisa.

– Seus pais nunca te disseram que se continuar andando desse jeito vai fazer um buraco no chão?

– Isso não pode ser nenhum atraso – Passou a mão na nuca e esfregou o rosto. Eu suspirei, toda aquela andação estava começando a me deixar nervosa.

– Senta, talvez eles cheguem só de tardezinha.

– Já é tardezinha – Keira ironizou sorrindo e eu a empurrei com o ombro, deixando claro que não estava ajudando.

– Eu vou atrás deles

Eu fiquei de pé e segurei seus dois ombros, Keira diminuiu o som da TV.

– Relaxa – Eu tentei passar alguma calma, mas a agonia dele era quase palpável – Eu confio no Raymond, ele não faria nada imprudente e além do mais, Helena já está bem grandinha pra lidar com-

A porta da rua se abriu e uma Helena desleixada passou por ela, e não usava as roupas do dia anterior. Muito pelo contrário.

Achei que Keira desligou a TV.

– Olá! – Exclamou em uma animação contida. Ela estava com uma calça de moletom preta, do tipo larga, que eu compraria pra dormir, e uma camisa sem estampa azul marinho que deveria ser uns dois números maior do que ela, o cabelo despenteado fora inutilmente contido em um coque mal feito, segurava algumas sacolas, e ainda assim nada parecia incomoda-la – Está todo mundo vivo por aqui?

– Onde você estava? – A expressão de Logan era de completa confusão e eu o soltei, Keira e eu nos entreolhamos e ela também ficou de pé – Você some, não liga, não avisa...

–É eu sei – Ela passou a mão no rosto constrangida – É que com toda aquela diversão madrugada à dentro e a viagem longa de volta eu estava completamente exausta e-

– Pula a parte que já sei – Ele gesticulou e ela arfou.

– Eu acordei tarde hoje de manhã e perdi hora pra faculdade, então eu me arrumei lá no apartamento do Brandon mesmo – Ela abriu a mão em protesto pra que ele esperasse ela terminar de falar – Que é onde o Raymond mora, e depois disso nós saímos pra comer alguma coisa ai ele me trouxe pra cá.

– Quando você diz – Ele avançou um passo e eles ficaram cara a cara – ‘Me arrumei’ lá é a justificativa pra você estar com as roupas de algum garoto com mau gosto? Porque não bateu pra mim

– Essa roupa não é de Raymond com certeza, ele não usaria nada disso – Eu cruzei os braços com um meio sorriso. Helena fechou os olhos respirando fundo.

– Quer dizer que tem mais gente envolvida? – Logan revezou olhares entre nós duas.

Helena recuou um passo incomodada.

– Os meninos não tem permissão pra entrar no quarto das meninas lá, por isso a camisa é de Josh, e a calça é do Brandon, era temporário só até eu chegar aqui e ter o que vestir, além de - Ela ergueu a sacola – Roupas suadas depois de dois dias inteiros no corpo.

– Porque Raymond não te emprestou alguma coisa? – Keira franziu o cenho e Helena suspirou

– Ray só usa roupas sociais – Eu a interrompi – Mesmo que ele chegue a por um jeans ele nunca descarta uma camisa de linho e um paletó, ele diz que faz dele mais fabuloso.

Helena conteve um sorriso, ele deveria ter dito aquilo a ela também.

Logan fechou os olhos puxando o ar algumas vezes.

– Diz pra mim que a história acaba ai.

Ela olhou para os pés

– Foi só isso mesmo – Ela estava mentindo

– Eu vou tomar um banho gelado – Ele virou caminhando a passos rápidos e se trancando no quarto. Helena deixou os ombros caírem enquanto abria um sorriso imenso.

– Olá!

Keira cruzou os braços sorrindo e todas nos sentamos.

– A pegação de vocês foi tão boa assim?

– Nós não nos pegamos – Ela fingiu uma ofensa – Você faz com que eu pareça alguma tola que agarra qualquer um que sorrir pra mim.

Eu revirei os olhos e ela riu.

– Teve alguns imprevistos sim – Balançou a cabeça de forma pensativa – Como o fato de Josh quase ter me visto pelada, e Raymond ter invadido o banheiro.

Keira cobriu a boca com as mãos e o meu queixo caiu, deveria ter caído, porque o rosto de Helena ficou subitamente vermelho e ela tentou esconder o sorriso com uma almofada. Mas o brilho no olhar a denunciava.

– Como assim garota? – Keira não parecia muito mais convencida do que eu – Que história é essa?

Helena jogou a cabeça pra trás em uma risada gostosa, o coque dela se desfez e ela sentou-se sobre as pernas.

– Na hora foi horrível, mas vendo agora foi engraçado. Keira se levantou com rapidez pedindo que fizéssemos silêncio, ela colocou o ouvido sobre a porta do banheiro e esperamos um pouco até escutarmos o barulho do chuveiro.

Keira sentou-se no tapete a nossa frente.

– Desembucha, conta primeiro o fato dele ter invadido o banheiro e depois o Josh.

– Ele entrou com segundas intenções disso eu tinha certeza, mas como eu me mantive fiel ao ‘não’ ele me emprestou o pijama dele, ai ele ficou sentado olhando pro nada no banheiro enquanto eu conversava com Josh sobre ele estar vasculhando uma das gavetas de Brandon

– Perai – Eu ergui as mãos – Como assim, ele te emprestou o pijama? Ele foi buscar o pijama e ainda sim você não o deixou entrar?

Ela abaixou a cabeça olhando para as mãos

– Na verdade ele não levou nada – Disse em um tom praticamente inaudível – Ele tirou o que ele estava usando...

– Perai – Keira ficou de pé – Você estava só de toalha, e ainda assim, ele tirou o pijama que ele estava usando ficando só de cueca e você se trocou na frente dele?

– Não! – Ela também ficou de pé – Quer dizer, bom, ele estava me tentando! Eu me fechei no Box pra trocar de roupa! E ele ficou apoiado na pia do banheiro com aquela cara de idiota! Eu tive que correr pra passar por ele e encontrar Josh dentro de uma bagunça de roupas no quarto dele e do Brandon!

Eu cobri o rosto com as mãos

– Eu não consigo –Eu cobri o rosto com as mãos – Eu não consigo imaginar.

– Ele foi gentil – Ela voltou a se sentar – É claro que não foi da maneira mais correta, mas é de Raymond que estamos falando e ele nunca é muito previsível.

Keira parecia atordoada.

– Então como ainda assim Josh quase te viu pelada?

– Eu ia sair do banheiro na mesma hora que ele ia entrar, e eu tinha acabado de sair do banho, e estava meio que no mundo da lua pra me lembrar que aquele não era o meu banheiro, sabem como é, todos os apartamentos em 100 km são da mesma construtora, em tão tudo é parecido.

Keira se sentou no sofá com calma.

– Alguém ouviu o chuveiro desligar? – Eu olhei para as duas preocupada e houve um momento tenso quando Logan saiu, vestido, secando a cabeça.

– Eu espero que não estejam falando sobre mim, porque eu fiz o possível pra me controlar com essa história toda.

Eu suspirei em alivio, ele não ouvira nada, se ouvira, sua fachada de ignorar soara perfeita. Escutamos o barulho da campainha e eu me ofereci a atender, Helena disse que iria se arrumar. Eu abri a porta e era Israel.

– A Helena tá ai? – Franziu o cenho.

*-*

POV Helena Patterson Jackson

Eu finalmente escorrei o cabelo, coloquei algo que me servia, e foi um alivio me reconhecer no espelho. Logan, Gê e Keira saíram para comprar pizza e Israel me esperava pra alguma conversa importante na sala.

Já estava escuro quando eu sai do quarto.

– Oi – Eu disse meio cansada quando me sentei no sofá e vi que ele já estava comendo um pedaço de bolo e servira duas xícaras com leite.

Ele acenou com a cabeça.

– O que é tão importante? – Eu ergui uma sobrancelha cortando um pedaço de bolo pra mim e puxando uma das xícaras. Ele demorou um pouco pra responder

– Acho que eu vou convidar Laura pro baile.

Eu parei o caminho do bolo a boca.

– Como assim?

Ele deu de ombros com seu típico descaso.

– Foi isso mesmo que você entendeu.

Eu balancei a cabeça em negativo, largando a xícara e o bolo sobre a mesinha de centro.

– Não, eu acho que ainda não entendi

– Eu sei que eu não tinha intenção nenhuma de ir, mas, eu mudei de ideia.

– O que fez você mudar de ideia?

– Nós conversamos.

– Você e Laura?

Ele afirmou. Eu massageei as temporas, prevendo a dor de cabeça.

– O quê? Você se esqueceu de tudo que eu te contei? Da humilhação que ela me fez passar?

–Eu sei – Ele me interrompeu e eu ergui uma sobrancelha – Estou bem ciente de tudo isso, obrigado.

Bufei inconformada.

– Ainda não é o suficiente pra você? Eu tomei todas as suas dores sempre que-

– Nunca pedi pra que fizesse isso – Encarou minha expressão completamente inconformada – Nunca pedisse que tomasse minhas dores sobre qualquer coisa.

– Bom, é isso que os amigos fazem não é mesmo? – Começei a gesticular – Eu sempre estive do seu lado! Até mesmo nas vezes em que estava errado, eu fiquei do seu lado pra poder te mostrar o que era certo porque você sempre é cabeça dura demais pra essas coisas, e agora, a única vez que eu peço pra me ajudar a afastar a peça que Laura é da minha vida você vai simplesmente ficar do lado dela?

– Eu não estou do lado dela.

– Você mesmo disse que viu as milhares de mascaras que ela usa com cada um, você vê a gente falar como ela trata cada um de uma maneira!

– Eu sei, é por isso que eu quero me aproximar, sinto que nós estamos nos precipitando, que a julgamos muito de cara – Meus olhos se arregalaram – Eu quero saber qual dessas pessoas que ela se mostra ela realmente é.

– Ai meu Deus – Disse em um tom baixo – Ela está fazendo sua cabeça?

Ele fechou os punhos com força sobre a mesa

– Ninguém faz a minha cabeça Helena

– Ok – Respirei fundo ficando de pé – Essa é uma escolha sua e eu não vou interferir, mas eu não vou falar sobre Laura com você. Se quiser alguém pra falar sobre suas teorias quanto a Laura Miller é melhor procurar outro alguém – Empilhei os pratos e olhou uma ultima vez pra mim – Assim como também não me faça pagar o papel de boa amiga quando ela estiver por perto, já que você nunca pediu pra que eu procurasse compreender o seu lado não vou ser assim dessa vez, não me vejo na obrigação de trata-la com respeito só porque você decidiu que se tornariam amigos.

– Não quero que fique brava comigo

– E como espera que eu reaja? Ela é toda linda e rica, e eu te contei o modo como eu me sinto mal perto dela, e ainda assim você quer se aproximar dela!

Ele ficou de pé

– Eu não vim pra discutir, eu só contei porque eu queria te avisar antes de sair apontando o dedo na minha cara e dizendo que estou fazendo escolhas erradas outra vez, eu entendo seu julgamento Lena, mas eu não vou segui-lo dessa vez.

Meio peito subia e descia de forma rápida, eu estava errada e sabia a perda de tempo que seria tentar convencer Israel do contrario, nunca era fácil fazê-lo mudar sua perspectiva sobre alguma coisa, sempre decidido demais.

Escutamos o barulho da porta abrindo e Logan entrou de forma energética.

– Pizza quente ao seu dispor senhoritas – Abriu a porta para que Keira e Gê passassem, uma com a pizza e a outra com os refrigerantes, mas foi só ver como nós dois estávamos sérios que o sorriso de todo mundo falhou.

Eu voltei minha atenção a Israel.

– Muito bem então, se veio pra dizer só isso então já pode sair. – Eu apontei a porta aberta – E não precisa se preocupar em voltar tão cedo.

Ele suspirou de forma entediada.

– Como quiser Lena, boa noite – Ele deu meia volta e se afastou, poucos minutos depois a porta bateu.

– Está tudo bem? – Keira soou preocupada.

Eu fechei os olhos, Israel era um amigo precioso demais pra simplesmente jogar fora.

– Lena? – A voz de Logan estava perto.

Eu cobri a boca com uma das mãos, eu sentia as lagrimas presas na garganta

– Eu odeio aquela garota.

Nós escutamos o telefone tocar e Genevieve foi atender.

– Espera, o quê? – Ela tampou uma das orelhas – Brandon fala devagar – Eu e Logan nos viramos para vê-la e Gê congelou.

– O que foi?

Ela piscou algumas vezes e afastou o telefone de forma mais lenta possível, minhas mãos começaram a tremer. Ela nos encarou confusa.

– Eles inventaram uma racha de ultima hora e Christopher perdeu o controle do volante, o carro de Rúbia vinha logo atrás e não conseguiu desviar quando Christopher começou a capotar – Ela respirou fundo e eu senti meu peito apertar – Os dois carros bateram,e parece que os motores explodiram – A voz dela falhou – Atingindo uma porção de gente que estava em volta.

A minha visão ficou turva, mas ela não parou de falar.

– Brandon acabou de chegar no hospital e parece que está uma loucura, ele acha que tem muito amigo nosso por lá

Eu senti minhas pernas cederem, mas Logan pareceu ter sido mais rápido, porque quando meu rosto encontrou com a lã do sweater que ele usava eu não me sentia capaz de respirar, Logan me apertou com força, mas eu queria gritar mesmo assim.

Eu queria gritar, eu gritei, e houve uma movimentação rápida a nossa volta, Keira e Genevieve começaram a andar de um lado para o outro, mas eu não queria saber o que elas estavam fazendo, eu não conseguia pensar.