Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 26
Capítulo 25: Canção de ninar do incendiário


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Como estão? Espero que bem!
Muito obrigada aos que comentaram o capítulo passado, vocês são incríveis e fizeram uma pessoa feliz *u* Obrigada também a quem favoritou e a todos que leram o/
Então, sobre o capítulo: eu gostei muito dele, porque queria escrevê-lo há tempos e finalmente o momento chegou haha. Espero que gostem dele também e comentem comigo suas opiniões depois!
Sem mais delongas, desejo uma boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521704/chapter/26

— Vou sair para caminhar — disse Rebeca, terminando de prender os cabelos em um rabo de cavalo. — Você vem comigo?

Jason ergueu os olhos do computador emprestado, desviando a atenção de uma das raras pesquisas que estivera fazendo. Rebeca estava animada, como sempre, vestida em roupas de ginástica e pronta para sair. Jason sabia que ela amava liberdade, por isso não conseguia ficar muito tempo em um lugar só.

— Hoje, não — ele respondeu. — Vou ficar para pesquisar mais algumas coisas.

— Vamos à casa do Carter mais tarde? — ela perguntou, aproximando-se para ver o que Jason procurava.

— Sim, ele disse que boxe vai ser a próxima aula. — Ele riu. — Como está seu pulso?

— Melhorando. — Rebeca flexionou a mão direita, ainda enfaixada, para testar os movimentos. Já haviam se passado três dias desde que chegaram a cidade, e não parecia que iriam embora tão cedo. — Só não fique muito obcecado com essa busca, tá bom? — Ela aconselhou. — Não vai te fazer bem. Você também merece um descanso.

— Só quero garantir que você fique segura — Jason respondeu. Estava procurando há horas por algo que pudesse servir para selar os monstros de volta em seus respectivos mundos, desde que Gabriel mencionara o assunto.

— Vou ficar, relaxe. — Rebeca sorriu. — Temos os colares, lembra? Você deveria começar a se preocupar consigo mesmo também, não só comigo.

Jason deu de ombros.

— Gabriel não fez mais contato?

— Você quer dizer a nossa versão do Nicolas Cage em Cidade dos Anjos? Não, ele não deu mais notícias. — Rebeca brincou com uns papéis sobre a mesa do quarto do hotel, resmungando algo que soou como “É típico dele fazer isso”. Então, voltou a olhar para Jason. — Bom, eu vou sair agora para voltar cedo.

Ela tascou um beijo nos lábios dele.

— Você está bem?

— Estou — ele mentiu. — Cuide-se. Me ligue se vir qualquer coisa estranha.

— Combinado, mãe. Até mais tarde. — Ela o beijou novamente, pegou o celular e, em seguida, saiu.

O quarto pareceu estranhamente vazio depois que ela se foi. Jason ficou encarando a porta por um longo momento, com a garganta travada. Há muito tempo não se sentia daquela forma – como se fosse explodir a qualquer segundo, ou ter uma crise de arritmia, ou sentar-se em um canto e não conseguir fazer nada até que aquilo passasse.

Jason tinha ansiedade desde a época do hospital psiquiátrico. As crises se tornaram menos frequentes durante os dois anos que passara fora de lá antes de se mudar para New Haven, uma clara melhora, e ele achara, esperançosamente, que o distúrbio havia acabado. Contudo, todas as preocupações desde a morte de seu avô, ou mesmo antes, com a morte da bibliotecária em Yale, começaram a sufocá-lo mais uma vez.

Não sabia o que estava fazendo. Não sabia sequer se podia fazer tudo o que esperavam que ele fizesse: proteger Rebeca e ajudar a trazer a Fênix de volta. Estava aterrorizado com a perspectiva de falhar, de cometer um erro, escorregar apenas uma vez e fazer tudo ir por água abaixo.

Ele se levantou, tremendo, e buscou nas malas pelos remédios que sempre levava junto caso tivesse alguma crise fora de casa. Quando os encontrou, engoliu dois a seco de uma vez só, tão nervoso que estava.

— Está tudo bem — disse a si mesmo. — Eu não sou louco. Vai passar. Não sou louco...

Jason estava prestes a se afastar da mala quando outro objeto lhe chamou a atenção: seu caderno de desenhos. Pegou-o nas mãos e sentou-se na cama para abrir. Percebeu que ainda tremia, e havia gotículas de suor em seu pescoço. Antigamente, a única coisa que podia acalmá-lo, além dos remédios, era desenhar. Pensando nisso, folheou as páginas.

Quase todas, preenchidas com retratos de Rebeca. Poderia dizer que conhecia o rosto dela mais do que conhecia o seu próprio. Sabia exatamente como cada feição dela havia mudado com o passar dos anos. Começara a desenhá-la para ter certeza de que era a mesma pessoa em todos os sonhos, mas logo o ato se tornou um modo de escape da realidade. Uma esperança, por assim dizer; uma salvação. Se ela podia ser real, ele costumava pensar, na época, então valia a pena sair do hospital psiquiátrico.

Havia uma exceção, porém. Um único desenho que não era seu rosto. Era uma fonte no jardim do hospital. Isso foi o suficiente para levá-lo de volta anos atrás.

Jason, talvez com dezesseis ou dezessete anos, estava sentado em um dos bancos espalhados pelo jardim interno, que servia como área de lazer para os pacientes, quando tinham permissão para ir até ali. Observava a fonte no centro, uma estrutura simples de pedra cinza que jorrava água para cima e atraía alguns passarinhos.

“Você desenha muito bem”, disse uma voz atrás dele.

Jason não se virara para ver quem era; ficou concentrado no desenho que fazia. Não gostava de olhar para as pessoas. Não conseguia olhá-las sem prestar atenção aos números, e isso só o fazia sentir-se pior, especialmente ali.

“Obrigado”, dissera.

A pessoa se sentou ao seu lado sem ser convidada, e Jason lançou um olhar rápido para ela. Era um garoto, pouco mais novo do que ele, de cabelos ruivos e olhos castanhos, com o rosto cheio de sardas. Não sorria, mas sua expressão era tranquila, quase conformada. Jason achava que já o tinha visto, mas não se lembrava de onde.

“Você desenha muito?”, o garoto perguntou.

“Sempre que preciso de paz”.

“Eu te vejo desenhando quase o dia inteiro”. Ele olhou para frente, sem mirar nada em especial. “Acho que todo mundo aqui precisa de paz o tempo todo. Ou, no mínimo, precisamos de algo para nos manter sãos. Foi isso que você arranjou para não enlouquecer?”

Ele apontou para o caderno. Jason finalmente parou o que estava fazendo. Tomou coragem para o olhar para o garoto e assentiu.

“O que você arranjou?”

Os olhos dele ficaram tristes, como se a pergunta o tivesse feito cair em um enorme buraco do qual não conseguia sair.

“Não arranjei”.

De repente, Jason se lembrou de onde o conhecia.

“Você estava na sessão de terapia em grupo, outro dia”.

“Estava. Sou o Sean, é um prazer.”

“Jason”, ele se apresentou.

Ficaram um tempo calados. Jason não pôde evitar olhar para os números do garoto. Estavam altos, mas instáveis – como se ele não soubesse se viveria ou morreria. Foi nesse momento que começou a se importar com Sean.

“É irônico como a coisa que nos enlouquece é também a única que mantém nossa sanidade, não é?”, Jason murmurou.

Sean baixou o olhar.

“Você acha que, algum dia, isso vai acabar?”

“Eu não sei. Espero que sim”.

“O doutor disse uma coisa na sessão outro dia...” Sean tornou a olhar para Jason. “Disse que todos temos um fardo para carregar, alguns maiores do que outros. Às vezes, não podemos nos livrar dele, porque ele é parte de quem somos, mas o que importa é decidir o que fazer com isso”.

A amizade dos dois só cresceu após essa conversa. Foi apenas interrompida quando Jason foi embora do hospital, e Sean ficara para trás.

Jason retornou à realidade do quarto de hotel. Não precisou pensar muito antes de fechar o caderno, pegar o celular e ligar para o antigo amigo. A última vez que o vira fora no acidente em uma das estradas que levavam a New Haven. Queria saber se ele estava bem. Afinal, Sean era uma das únicas lembranças boas que tinha da adolescência.


0000****0000****0000

Rebeca fechou, sem ler, a nova mensagem de Halee que acabava de chegar. Não queria correr o risco de usar o celular, caso alguém estivesse rastreando o sinal. Todo cuidado era pouco, agora. Mesmo morrendo de vontade de falar com Halee, ela pensaria muito antes de fazer isso.

Guardou o aparelho no bolso novamente e continuou seu caminho de volta para o hotel em que estavam hospedados. A cidade não era grande, e tinha poucos habitantes. A estrada perto da casa de Carter já levava à cidade vizinha. Já era final de tarde quando Rebeca virou a rua do hotel.

— E aí, Beca!

Rebeca quase berrou com o susto e deu um pulo para trás. Seu coração foi parar na boca, e os olhos estavam tão arregalados que achou que fossem saltar da face.

— O que... Como... V-você...

Começou a balbuciar, sem formar uma frase coerente. Como ele estava ali? Como a encontrara após tanto tempo? Não podia ser possível. Estava alucinando, era isso.

— Eu sei, eu sei — o homem disse, sorrindo de forma displicente e se desencostando da parede onde estava para chegar mais perto. Rebeca se afastou. — Você está chocada em me ver. Não esperava falar comigo nunca mais e agora o passado voltou para assombrá-la...

— O que você está fazendo aqui? — Rebeca o cortou, retomando o controle sobre si mesma. Parou de recuar e firmou os pés no chão, embora suas mãos continuassem trêmulas. — Como me encontrou?

— Ah, uma coisa de cada vez. Eu tenho muito a falar com você, hoje. Precisamos pôr o assunto em dia! Já faz sete anos desde a última vez que nos falamos. E que vez...

Ele parou de falar para se lembrar do ocorrido. Rebeca o analisou. Não havia mudado muito. Era um homem mais velho, mas com cara – e jeito – de moleque. Tinha cabelos curtos, castanhos e encaracolados. Os olhos eram da cor do âmbar, e cheios de energia. Ele usava calças de náilon pretas, tênis de corrida e uma camisa regata. A pele era tão branca que chegava a ser chamativa, e ele era da altura de Rebeca, com poucos músculos.

No entanto, o que sempre chamara mais atenção sobre ele era o sorriso. Sempre largo, mostrando todos os dentes e, definitivamente, carregava o ar de uma criança prestes a aprontar.

— O que você quer, Aniol? — perguntou Rebeca, sem paciência.

Ele fez um som de “errado”, como se ela estivesse em um programa de perguntas e respostas e tivesse errado a alternativa.

— Vamos começar por aí, minha pequena poulí¹ — disse. — Meu nome não é Aniol. E eu já disse o que quero: conversar com você.

— Não temos nada para conversar.

— Pelo contrário, temos muito para conversar. Qual é, vai me dizer que não está com saudades, Beca? — Aniol a olhou de forma maliciosa.

— Não, não estou — Rebeca afirmou, cruzando os braços. Bufou. — Só diga logo o que tem para dizer e depois vá embora. Eu não tenho tempo.

Ele ergueu os braços em trégua.

— Combinado. Não quero me demorar muito aqui, de qualquer forma. Minha presença é forte, você entende. Pode atrair outras pessoas que não são tão charmosas quanto eu para perto.

Rebeca não acreditou no que ouviu.

— Ah, não, essa, não — falou, revirando os olhos. — Por favor, você não pode estar envolvido nisso tudo também. É só o que eu te peço, Deus! — exclamou, olhando para o céu.

— Você costumava ser menos dramática — Aniol observou.

Rebeca não respondeu. Aniol era o chefe e organizador das corridas de carros das quais ela participava quando tinha dezessete anos, para juntar dinheiro e ajudar a família. Os dois possuíam uma relação de amor e ódio. Ele gostava de importuná-la, mas sempre fizera o possível para colaborar com as apostas quando ficava sabendo que ela precisava. Rebeca pensava ter se livrado dele há muito tempo. Mais uma vez, parecia que o destino gostava de deixar claro que nada estava desconectado.

Rebeca suspirou, fechando os olhos para se acalmar. Quando os abriu, disse:

— Tá legal, quem é você, de verdade?

Aniol sorriu, empolgado.

— Um deus — respondeu, realmente feliz em dar a informação.

Ela riu.

— Eu sabia que você era egocêntrico, mas falar que é um deus... Isso é de mais até pra você.

Ele revirou os olhos, exatamente como ela fizera há pouco.

— Não, passarinho. Eu sou literalmente um deus.

O queixo de Rebeca caiu. Ela não sabia se ria de novo ou se gritava de desespero.

— O quê?

— O que você ouviu. Já chega dessa fase de negação, Beca, foi você mesma que disse que não tinha tempo para mim. — Ele fez um bico, fingindo mágoa.

— Aniol, você não pode simplesmente...

— É, primeiro vamos acertar isso — Aniol a interrompeu. — Já disse que meu nome não é esse.

Rebeca o encarou, aborrecida.

— E qual é, então? Qual deus você é?

— Ora, mas isso faz parte da brincadeira! Você tem que adivinhar, Beca! — Ele começou a circundá-la, ainda falando. — Eu fico até surpreso que você não tenha percebido antes. Aniol, em grego, significa “mensageiro de deus”.

O sorriso dele se alargou enquanto Rebeca empalidecia. Mensageiro de deus... As corridas, as apostas, as trapaças... Ela sabia quem ele era. Ele era mais do que conhecido: era famoso.

— Você... é Hermes — concluiu em um sussurro.

— Bingo! — Ele comemorou, dando um soco no ar. — Não é a toa que eu gosto tanto de você. Sempre boa em fazer deduções. Sim, eu sou Hermes. Deus grego dos mensageiros, dos ladrões, dos viajantes, das estradas e muitas outras coisas maravilhosas. — Ele fez uma falsa reverência, piscando em seguida com uma expressão travessa. — Agora, tudo parece fazer mais sentido, hein?

— Não! — Rebeca disse, chocada. Sacudiu a cabeça. — Quero dizer, sim, mas não! O que é que você tem a ver comigo?

— Eu tenho tudo a ver com você! — Hermes falou, ofendido. — Eu sou o seu patrono.

— O meu o quê?!

— O seu patrono, passarinho. Os quatro receptáculos para a Fênix têm um deus grego como patrono — explicou, meio entediado, como se o assunto fosse chato para se falar àquela hora do dia. — Vocês são, por assim dizer, regidos por um deus. O receptáculo e o patrono partilham características e habilidades, e nós, os deuses encarregados disso, podemos ajudar. E eu sou o seu, Beca. Se bem que você tem um pouco de todos nós em você... Fique feliz! Por que não está sorrindo?

Rebeca franziu o cenho.

— Honestamente, eu esperaria Atena.

Hermes bufou.

— Argh, todos preferem minha irmã — disse com um gesto desinteressado das mãos. — Mas você não gostaria tanto assim dela, acredite em mim. Séria demais para você. Parece que está sempre concentrada em encontrar um modo de te derrubar na batalha. Nada divertida.

— Ah, por favor — disse Rebeca. — Nós dois não somos nada parecidos.

Hermes a encarou com uma sobrancelha levantada, descrente.

— A-hã. E por que você acha que tem a mania de dar apelidos aos outros?

— Eu não apelido ninguém — ela se defendeu.

— Sem contar a sua mão leve e a incrível tendência à rebeldia — ele prosseguiu, ignorando a resposta.

— Eu nunca roubei nada — Rebeca protestou, séria.

— Não, mas aquelas corridas de carros não eram legais, eram, Niké? — Hermes perguntou, usando o nome pelo qual era conhecida no meio das corridas, e que ele mesmo havia lhe dado. — Cartões de crédito falsos, identidades falsas, invasão e arrombamento a prédios abandonados para bebedeira com os amigos de corrida... Isso não significa nada para você, significa?

Rebeca sentiu os olhos arderem. Odiava recordar a pessoa que fora há sete anos. Fizera tudo aquilo por necessidade.

— Isso está no passado. Acabou.

Em um momento raro, Hermes adquiriu uma expressão diferente, quase pesarosa.

— Sinto em dizer que não vai ser por muito tempo.

— Como assim?

— Não posso dar detalhes. — Ele voltou com a animação do começo. — De qualquer maneira, outra coisa que me impressiona é você não ter percebido a ligação com o pseudônimo que eu te dei. Niké. — Aguardou uma reação, mas não recebeu nenhuma. — Não? Nada? Nem a deusa grega da vitória?

— Fala sério, você acha que eu ia perceber isso? — Rebeca reclamou. — Eu achei que era algo a ver com a marca de tênis.

— Entonação, Beca!

— Você tem sotaque!

Eles bufaram ao mesmo tempo. Rebeca abriu um pequeno sorriso. Talvez fossem mesmo parecidos, no fim das contas.

— Você era extraordinária, para dizer o mínimo — Hermes falou. — Queria que você fosse minha filha, não aqueles outros corredores de meia-tigela. Ou que, pelo menos, você tivesse sido encarregada de pegar a relíquia grega. É um caduceu, o meu símbolo! Eu me sentiria honrado.

Pela centésima vez naquele encontro, Rebeca sentiu como se levasse um tapa.

— Os outros competidores das corridas... Eles eram semideuses? — perguntou, perplexa.

— E você ganhou de todos eles! — Hermes exultou, jogando os braços para o alto. — Incrível, realmente incrível! — Ele se aproximou e capturou uma mecha dos cabelos dela com delicadeza. — Você está ainda mais linda do que o normal. Eu ainda tenho uma queda por você, sabia? Eu adorava a nossa relação.

— Não sinto tanto em lhe dizer isso, mas estou com outra pessoa agora — disse Rebeca com um sorrisinho. Pensar que já havia tido um caso com um deus era a coisa mais bizarra de toda a sua vida.

Hermes suspirou.

— Uma pena, realmente.

Ele continuou com o olhar perdido, divagando, e sobrou para ela a tarefa de falar.

— Antes de você ir, pode só me garantir que ninguém mais do meu passado vai aparecer se revelando como algo sobrenatural?

Ele sorriu.

— Pode ficar tranquila, eu fui o último. Agora, só rostos novos para você.

— O que quer dizer?

— Bem, assim como cada receptáculo tem um anjo cristão como guardião e um deus grego como patrono... Vocês também têm um deus como inimigo. Um egípcio, para ser mais exato. Mas ninguém sabe exatamente como os chineses vão tomar parte nessa história.

— Ah, era só o que faltava — Rebeca resmungou. — Um deus como inimigo.

— É irônico pensar que Gabriel, seu anjo, é o mensageiro de Deus, enquanto eu sou o mensageiro dos deuses — Hermes divagou. — Isso me faz pensar quem será o seu antagonista.

— Mas ele não pode me encontrar — disse Rebeca. — Eu uso o colar de Serena.

Eu te encontrei — salientou Hermes.

— Rastreando o cadastro do cartão de crédito do Jason? — ela adivinhou. — Eu duvido que outro ser pense nisso, ou já teríamos sido encontrados. Você é o deus da trapaça, dos viajantes e das estradas. É claro que saberia onde estamos.

Hermes ergueu as sobrancelhas.

— Estou impressionado, Becky!

— Não me chame assim — disse Rebeca imediatamente. Ninguém a chamava por esse apelido a não ser Tristan.

Hermes percebeu o que havia feito.

— Ah, sim. Eu soube do acidente. Sinto muito pelo seu irmão, Rebeca. Realmente sinto.

Ela engoliu em seco.

— Foi mesmo só isso? Só um acidente? Ninguém interferiu para que ele morresse naquela noite?

O deus balançou a cabeça.

— Há coisas que simplesmente acontecem. Estão fora de nosso alcance, como o acidente estava. — Ele a fitou de forma intensa. — Não se culpe por isso.

— Eu não me culpo.

— Que bom. — Havia um indício de desconfiança no olhar de Hermes, mas ele logo o abandonou. — Sua mãe recebeu o dinheiro do seu salário, como você vinha enviando desde que chegou a New Haven. Eu a ocultei de qualquer ameaça. Ela está segura, você não precisa se preocupar.

— Obrigada — disse Rebeca, genuinamente aliviada. Não parava de pensar na mãe desde que abandonada a cidade universitária.

— Uma última coisa antes que eu vá — disse Hermes. — Diga ao seu anjo que aquela lei que impedia que criaturas de diferentes crenças dividissem um lugar ao mesmo tempo está sendo quebrada. Os deuses estão ocupados em manter o que resta da ordem em seu local de origem, mas as feras se movem com facilidade. Parece que nem todos acreditam em deuses, mas todos temem algo... seja um monstro físico ou interior. E pode ficar pior, se essa era a pergunta. Dois dos anjos estão aliciando humanos para a causa deles. Imagine como a situação não pode mudar com um pouco de tecnologia. — Ele deu de ombros. — Enfim, chegou a minha hora. Mande lembranças ao Jason por mim. Ele é um bom rapaz. Vocês têm minha aprovação.

— Eu não preciso da sua aprovação para fazer alguma coisa.

— Eu sei que não. — Hermes sorriu largamente. — Boa sorte, Beca. Estou torcendo por você. A maioria está. Parece que todas as apostas estão em você... de novo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E parece que temos novos personagens e uma nova interação! Eu realmente gostei de apresentar o Hermes para vocês, mas quero saber o que vocês acharam o/ Contem-me suas opiniões sobre o capítulo pelos comentários! O que esperam que aconteça agora? O que acharam do flashback com Sean? Espero que tenham gostado *-*

Obrigada por ler e até o próximo!

¹Poulí significa "pássaro", em grego
*O título do capítulo é da música Arsonist's Lullabye, do Hozier, porque ela combina bastante em vários sentidos. Para quem quiser conferir a letra, aqui está: http://letras.mus.br/hozier/arsonists-lullaby/traducao.html



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contagem Regressiva" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.