Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 16
Capítulo 15: Instabilidade


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a todos os que comentaram o último capítulo, a quem favoritou e, de forma geral, a quem usou um tempinho para ler Contagem Regressiva!

Peço desculpas pela demora, mesmo. Eu queria ter postado antes, mas a correria da escola teve um adicional de que eu fiquei com dengue, e com isso o tempo e a disposição foram embora de uma vez só :c

Nesse capítulo, eu escolhi trabalhar um pouco mais algumas relações entre os personagens, portanto ele está mais calmo e parado. Ainda assim, espero que gostem e desejo uma boa leitura a todos!



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— Jason? — chamou Rebeca em uma voz preocupada. — Jason! Você está aí? — perguntou de forma mais insistente.

Mas ele não conseguia responder. Estava paralisado, olhando para o noticiário que continuava falando sobre a morte trágica e repentina de Thomas Orson. A imagem da parede principal da casa há muito já havia mudado. A imagem mostrando suas iniciais escritas com sangue.

Não havia por que negar: era ao seu nome que elas se referiam. Recebera o aviso de que deveria sair de perto daquela casa quando estava lá, e logo depois viu uma coluna de fogo se elevar no mesmo lugar. Jason não acreditava mais em coincidências, mas tinha esperado que Thomas estivesse bem.

— Estou aqui — forçou-se a dizer quando Rebeca tornou a chamá-lo, preocupada. Não conseguiu fazer com que a voz não tremesse, embora tentasse sufocar a sensação de pânico. — Beck, o que isso significa? — perguntou sem se conter.

— Eu não sei, Jason — ela disse de uma forma perdida, e ele imaginou que era a primeira vez que dizia aquelas palavras.

— Como pude deixar isso acontecer? — pensou alto, passando a mão nos cabelos. — Thomas... ele morreu por minha causa...

— Não! Jason, não diga isso! Você não poderia ter impedido, não sabia de nada que ia acontecer.

— Como não? Aquela voz me avisou, eu deveria ter entendido que algo de ruim ia acontecer. É a segunda vez — baixou a voz, porque doía falar em voz alta. — É a segunda vez que alguém morre por minha causa. Por causa dessa coisa que eu tenho.

— Você não pode controlar. Não é culpa sua.

— E se for? — ele perguntou. — E se eu pudesse dar um jeito se já tivesse descoberto o que significa? A culpa é minha, sim. É óbvio que Thomas não podia ter se encontrado comigo e eu insisti.

Eles ficaram em silêncio por longos segundos. Jason desligou a televisão e fechou os olhos. Desejou não tê-lo feito, pois sua mente foi invadida pelas imagens dos últimos sonhos que tivera, o que só o deixou mais nervoso.

— Eu não tenho ideia do que fazer, Beck — sussurrou após um tempo. Embora não tivesse falado nada, sabia que Rebeca ainda estava ao telefone.

— Nós vamos descobrir — ela garantiu, mas era possível sentir que nem ela acreditava tanto nisso.

— Por favor, tome cuidado. Eu... eu não...

Ele não terminou, mas ela entendeu o recado.

— Não se preocupe comigo. Você é quem deve tomar cuidado. Essas letras foram claramente uma ameaça e... — Rebeca se interrompeu, e Jason a imaginou hesitando. — Eu ligo quando souber de alguma coisa.

E ela desligou, deixando-o imerso no mais completo silêncio.


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Com a aproximação do fim do último semestre e a reabertura do prédio de Arquitetura, as aulas estavam a todo vapor. Jason sabia que deveria estar enlouquecidamente estudando para as provas finais, assim como Halee estava fazendo bem a sua frente, mas não conseguia se concentrar em absolutamente nada. Cada palavra e cada número no caderno o faziam se distrair, lembrando-o do último mistério que o cercava. Ele se pegava desligando do mundo para imaginar o que estava realmente acontecendo em sua vida, e qual seria o próximo desastre.

— Ei! Terra chamando Jason — disse Halee, estalando os dedos perto de seu rosto, mas ele continuou vidrado. Ela cutucou sua cabeça com os nós das mãos. — Oi, tem alguém aí?

— O quê? — Jason acordou, assustado, afastando-se. — O que disse?

Ela revirou os olhos.

— Nada, esqueça, era sobre a matéria. Você está muito distraído, aconteceu alguma coisa?

— Não, só estou cansado — respondeu, coçando a cabeça.

— Então é bom se recuperar logo — Halee afirmou. — Quero todos inteiros para a formatura, eu não estou organizando tudo nos mínimos detalhes para os outros chegarem com essa cara de morte.

— Obrigado pela consideração — ele tentou rir, mas o som saiu seco. — Falando nisso, quando é a formatura?

— Daqui a quinze dias. Fazemos as provas finais, os resultados saem e no sábado temos a grande festa — Halee sorriu.

Jason olhou para sua cabeça de relance, checando os números, um hábito que havia adquirido desde que se tornaram amigos. Sempre verificava os números das pessoas com que se importava — fora assim com Lionel e agora com Rebeca. Os brilhantes riscos laranjas estavam estáveis e altos, assim como os de Philip. De alguma forma, aquilo o tranquilizava.

Despediu-se dos dois depois de compreender que não conseguiria estudar e foi embora de Yale. Seguiu para o hospital da cidade, onde sabia que Rebeca estivera pelos últimos dias, acompanhando Nilza. Sequer fora à Universidade hoje; o estado da mulher com que dividia o apartamento era grave, e ela havia tido uma recaída.

Quando chegou, foi até o andar em que estava internada e encontrou a namorada falando com uma enfermeira. Sua expressão estava carregada, e ela mexia nas próprias mãos, um sinal claro de que estava nervosa. Jason viu a enfermeira se afastar e se aproximou.

— Oi — cumprimentou, beijando a bochecha de Rebeca. Ela se virou, surpresa.

— O que está fazendo aqui?

— Vim fazer companhia. Como ela está?

Sua expressão tornou a se fechar.

— Mal, Jason. Muito mal. — Rebeca se sentou num dos bancos de espera, cansada. — Nenhum médico sabe o que ela tem, mas parece que está em coma. Os sinais vitais estão estabilizados, Nilza só não acorda. Isso é muito estranho. Ela nunca teve nada parecido antes.

— Você... quer que eu a veja? — ofereceu. Não tinha nenhuma solução em mãos, mas talvez servisse de algum consolo. A tentativa valeu a pena quando os incríveis olhos verdes de Rebeca se voltaram para ele, brilhando.

— Você faria isso?

— É claro que sim.

Então ela o levou até o quarto no fim do corredor. Uma parte da parede era de vidro, o que permitiu a Jason que enxergasse lá dentro a senhora desacordada deitada na cama, com diversos aparelhos eletrônicos ligados aos braços e ao peito. Respirava por uma cânula também, e a tela ao lado marcava os batimentos cardíacos.

Logo acima de sua testa, os números brilhavam, mas mudavam a cada segundo, impossibilitando sua leitura. Em um momento, estavam tão baixos que restavam apenas os minutos, no outro, voltavam a ficar altos, anunciando anos.

Jason balançou a cabeça, confuso.

— Desculpe, eu não sei. Eles ficam mudando... Não consigo saber quanto tempo falta.

Rebeca assentiu levemente.

— Não há mais o que fazer — confessou. — Os exames são muito caros e Serena e eu não temos dinheiro para pagar. Nilza não tem mais família, então é isso.

Jason entendeu o que ela queria dizer. Uma hora ou outra, se a senhora não acordasse em breve ou mostrasse algum progresso, os aparelhos que a mantinham viva seriam desligados. Uma ideia lhe ocorreu.

— Eu pago.

— O quê?!

— Os exames, eu pago tudo — explicou com simplicidade.

— Não, de jeito nenhum — Rebeca negou. — Não vou fazer você gastar seu dinheiro com isso. Eu vou dar um jeito, relaxe.

— Eu estou te dando o jeito, Beck — Jason insistiu. — Não vai ser nada, eu posso e vou pagar.

— Isso é caro, Jason. Não vou pedir que gaste seu dinheiro com algo que não te diz respeito. Esquece isso.

— Você não está pedindo, eu estou oferecendo. Além do mais, eu tenho mais dinheiro do que vou usar na vida inteira com a herança que meu avô me deixou.

— Não posso deixar que faça isso.

— Por que não?

— Porque... não! — Rebeca exclamou, afastando-se do quarto. — Você não me deve isso. Não tem nenhuma dívida comigo só porque estou te ajudando com toda essa história.

— Eu não estou pagando uma dívida, quero ajudar. — Ele a tocou no braço, fazendo-a se virar. — E se diz respeito a você, diz respeito a mim. Nilza merece. Por favor, aceite.

Viu que ela começava a ceder. Por mais que fosse contra aceitar seu dinheiro, Jason sabia o quanto ela se importava com a senhora e faria o que fosse preciso para que ficasse bem. Rebeca concordou, ainda que de má vontade, e foi falar com a enfermeira sobre os exames que poderiam começar a ser feitos. Quando tudo ficou resolvido, retornou com um olhar sério.

— Eu preciso te contar uma coisa — falou sem pestanejar. — Vem comigo para o meu apartamento?

Jason fez que sim, e eles foram embora do hospital. Queria perguntar sobre o que se tratava o assunto, mas estava receoso. Rebeca não costumava ficar tão calada; precisava ser algo muito importante. Imaginou se seria algo a ver com a morte de Thomas. Só o mero pensamento daquilo fazia seu estômago se embrulhar.

Serena estava pintando um de seus artesanatos quando Rebeca abriu a porta. Ela se levantou imediatamente, preocupada.

— Beca, aconteceu alguma coisa? Vocês estão bem?

Jason estranhou a pergunta, mas Rebeca respondeu:

— Está tudo bem, sim. Está tudo ótimo, na verdade! Vamos conseguir fazer os exames de Nilza. Eles vão começar hoje mesmo. O Jason vai pagar até arranjarmos o dinheiro — frisou bem a condição, sem deixar escapar nada.

Constrangido, Jason recebeu o sorriso enorme que Serena deu, para logo em seguida ser abraçado com toda a força.

— Não tem ideia do quanto isso significa para nós — ela disse, emocionada. — Obrigada, Jason.

— Não há por que agradecer. Eu fico feliz por ajudar, sério.

Serena deu uns tapinhas nas bochechas dele como uma mãe faria e o largou.

— Vou fazer uma janta especial para nós. Lasanha congelada e batatas fritas é o bastante para todo mundo?

Rebeca riu.

— Será um banquete, Se — agradeceu. Pegou Jason pela mão e o levou até seu quarto, que só possuía uma cama, um guarda-roupa pequeno e uma escrivaninha embaixo da janela. Fechou a porta atrás de si. — Isso é mesmo muito importante para nós, Jason. Eu não sei como agradecer.

— Não precisa me agradecer, eu não quero nada em troca — ele replicou, e calou qualquer coisa que ela fosse dizer com um beijo. Rebeca enlaçou seu pescoço com carinho, aprofundando o gesto por alguns minutos antes de interrompê-lo.

— Preciso mostrar uma coisa — murmurou, rente a seus lábios. — Sente-se.

Ele ocupou a beirada da cama enquanto ela buscava o notebook e o ligava. Depois o deixou de lado para encará-lo diretamente.

— Eu sei que você percebeu que eu estava fazendo mais pesquisas do que o normal. Não vou negar que estava mantendo algo escondido. — Não desviou o olhar em nenhum momento. — Sinto muito por isso. Mas eu queria ter certeza antes de falar com você.

— Sobre o quê? — Jason perguntou, cauteloso.

— Sobre a morte do seu avô — Rebeca respondeu, e ele ficou mais atento. — Quando nós fomos ao funeral e vimos o caixão, eu reparei que tinha algo de diferente. Disseram que ele morreu de ataque cardíaco, mas as unhas dele estavam roxas, e isso não é normal. Pelo menos não naquela intensidade. Então eu comecei a fazer umas pesquisas.

Ela fez uma pausa.

— E o que descobriu? — ele indagou em um sussurro.

— Jason, eu não... — Rebeca respirou fundo. — Eu não acho que Lionel sofreu um infarto. Eu acho que foi envenenado.

Jason ficou em silêncio, em choque. Não queria acreditar que aquilo fosse verdade. Mais um assassinato, não. Já era ruim o suficiente que seu avô tivesse morrido de uma hora para outra, mas cogitar que fora assassinado... Era demais para ele. Embora talvez explicasse por que fora tão súbito, não diminuía a dor.

— Envenenado... — pensou em voz alta. — Você tem certeza disso?

— Tudo aponta para veneno — Rebeca confirmou, pesarosa. — Desculpe, eu não queria acreditar que fosse verdade, mas achei que você devia saber.

— Não, eu... Você fez bem — Jason se atrapalhou cada vez mais com as palavras. — Quem faria isso? Digo... Por que ele? Por que agora? O que ele fez?

Sabia que estava falando sozinho. Ninguém tinha uma resposta para aquelas perguntas, nem para nenhuma outra. Rebeca também não podia lhe responder quem havia matado Thomas Orson, ou por que ele sonhava todo mês com uma garota que morria ou então qual maldição aqueles números carregavam.

Tudo de que tinha certeza era que alguém matara Lionel e ele não podia resolver mais esse mistério. Por enquanto, não podia fazer nada.

— Ei — Rebeca o chamou em uma voz suave. — Nós vamos descobrir tudo isso — falou como se lesse seus pensamentos.

— Eu quero acreditar que sim. Quero muito.

— Então acredite — ela disse, fazendo cafuné nos cabelos dele. — Passe a noite aqui hoje. Não quero que fique sozinho.

— Eu é que deveria estar preocupado com você — soltou antes de pensar no que era aquela frase.

Rebeca deu um meio sorriso.

— Você já se preocupa demais com alguém que não teve as iniciais do nome escritas com sangue em uma parede.

Ele encostou a testa na dela.

— Você tem um jeito estranho de me fazer sentir melhor.

E era verdade. Jason sentia que ela poderia falar qualquer coisa e seu coração ficaria calmo novamente.

— Ah, mas o que importa é que você está melhor.

Eles se abraçaram, sem consciência de que, do lado de fora do prédio, alguém os observava de longe; alguém que previa que aquela provavelmente era a noite mais pacífica que teriam em um longo tempo, porque as coisas estavam prestes a mudar.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Como eu disse, esse capítulo foi um pouco mais tranquilo do que os anteriores, apesar de conter uma revelação importante. E já garanto que o próximo será... intenso hehehe. Só para constar que esse veneno usado no Lionel foi inventado por mim, então não é nada oficial ;)

Contem-me o que esperam daqui para frente, o que pensam sobre o capítulo de hoje! Eu vou amar ler as opiniões de todos *o* Muito obrigada a todos que passaram aqui para ler, vocês são imensuravelmente especiais para mim :3

Só gostaria de avisar que esse ano será muito corrido por causa da escola, então eu não vou conseguir postar tão frequentemente. Mesmo assim, jamais abandonarei essa fic, podem ter certeza! Beijos e até o próximo o/



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