Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 15
Capítulo 14: Aquele que diz se arrepender


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores! Como estão?

Queria deixar um recado a Sially: um "muito obrigada" não basta para expressar o meu agradecimento e felicidade pelas lindas palavras que você me deixou. Eu fiquei absurdamente feliz quando vi a sua recomendação! Nem fazia ideia de que você lia essa história para falar a verdade hahaha. E fiquei ainda mais chocada ao ver tudo o que achou, e como gostou *-* Tive que sair pulando de alegria! Este capítulo é dedicado a você, pois é o mínimo que posso fazer para tentar demonstrar o agradecimento que senti ♥

É por causa dessa moça aí em cima que estou postando, já que ela me pediu de uma forma tão sutil e nada ameaçadora hahahaha. Muito obrigada mesmo a quem comentou no último capítulo, aos que favoritaram e, de forma geral, a quem dedica uns minutinhos para ler o que eu escrevo ♥ Vocês são demais!



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Levantando os olhos, encarou a fachada de concreto do prédio à sua frente, e hesitou. Ajeitou a gola do terno, apenas para ter o que fazer, e sentiu um nó se formar em sua garganta. Com um último suspiro de coragem, Jason adentrou o edifício.

Não olhou ninguém nos olhos, assim como não os cumprimentou. Apenas queria acabar logo com aquilo e voltar a New Haven. Não fosse a insistência de Joan, a governanta, nem mesmo estaria ali. Queria a maior distância possível de seus familiares e conhecidos de infância, de qualquer um que poderia reconhecê-lo. Mas, mais do que isso, queria se esquecer da morte do avô.

Infelizmente, não seria possível naquele dia, e não até que o testamento que Lionel James Kent deixara fosse lido e seus advogados dividissem os bens. Jason entrou no elevador e subiu até o andar que fora indicado, evitando prestar atenção aos números acima das cabeças de todos.

Mais do que nunca, estava cansado daquilo. Sua cabeça doía só de começar a pensar no que Thomas Orson havia lhe dito em Chicago. Tinha a nítida impressão de que não parava de dar voltas em círculos em busca de respostas que claramente não estavam ali. Precisava montar um quebra-cabeça, mas as peças não haviam sido dadas.

Nem mesmo Rebeca estava contente com o que ouviram. Ela ficara calada durante a viagem de volta, o que definitivamente não era de seu perfil. No entanto, como também não estava com humor para conversas, Jason não se intrometeu.

Deixando de lado os devaneios, ele deu duas batidas na primeira porta do quinto andar quando chegou. Logo ouviu um “Entre” grave e a empurrou.

A mesa que ocupava praticamente toda a extensão da sala era de vidro, dando um ar ainda mais claro ao cômodo iluminado por luzes brancas. Na ponta da extremidade oposta, estava um homem sério, barbudo e de meia-idade, que provavelmente era o advogado. De seu lado direito, estava um casal de mãos dadas, e do outro um rapaz e uma mulher.

Por um momento, Jason custou a se decidir onde sentar. Um calafrio de raiva o percorreu ao pensar em ficar ao lado de seus pais, que o encaravam com insistência, mas ele fez questão de ignorá-los veementemente. Por fim, ocupou a cadeira ao lado de sua tia, que não dava impressão de reconhecê-lo.

— Bem, já que todos estão presentes, podemos dar início à leitura do testamento — o homem na ponta da mesa começou, puxando uma folha de sua pasta. — Lionel James Kent faleceu no último domingo devido a um ataque cardíaco enquanto dormia. Seu testamento foi encontrado pela governanta da casa e entregue ao governo.

O advogado pigarreou para finalmente ler as primeiras linhas. Jason prendeu a respiração, e viu seus pais fazerem o mesmo.

— “A Elliot e Sarah, deixo meus livros para que aprendam a ser pessoas melhores...” — o homem pareceu constrangido com a frase, mas prosseguiu. — “Em vida, tentei ensinar a meu filho que a felicidade não se resume ao trabalho, bem como dinheiro não compra de volta as horas que você passou tentando consegui-lo. Mas pelo visto fracassei nessa missão, assim como ele fracassou com o próprio filho. Espero que possa mudar, algum dia. Acredito nunca ser tarde demais.”

Fez uma pausa. Elliot tinha o maxilar cerrado com as acusações, mas seus olhos diziam que aquelas palavras o haviam afetado. Sarah apertou sua mão, os olhos marejados.

Jason permaneceu impassível.

— “À família de Charlotte, deixo minha caminhonete. Acho que seu filho fará bom uso dela, mais do que eu fazia” — o advogado retomou a leitura. — “Finalmente, deixo minha casa e os apartamentos com tudo que há dentro deles e minha herança para meu neto, Jason Kent. Estou certo de que ele é o mais indicado a tomar conta do que é meu.”

Houve um momento de comoção. Seus pais, Elliot e Sarah, e a tia olharam para ele em descrença, sem acreditar que toda a fortuna de Lionel havia sido dada de bandeja em suas mãos. Provavelmente achavam aquilo uma injustiça, considerando que eram os filhos do senhor.

O próprio Jason não sabia como reagir. É claro que estava agradecido, mas não tinha ideia do que fazer com o dinheiro; não precisava de tudo aquilo e também nunca pedira sequer uma parte. Apenas o apartamento em New Haven fora necessário de uma hora para outra, mas ele planejava devolver o favor assim que arranjasse um trabalho decente.

Foi então que lhe ocorreu que Lionel não confiava naquelas pessoas que deveriam ser o resto de sua família para guardar tanto dinheiro. Jason conhecia bem os parentes, ainda que tivesse visto a maioria pela última vez quando ainda era bem pequeno. Contudo, ainda podia se lembrar das discussões sobre dívidas, acordos, investimentos...

— Senhores, por favor, mantenham o decoro — pediu o advogado, chamando a atenção dos adultos que ameaçavam iniciar uma discussão. — Ainda não terminei.

— Isso é um absurdo! — exclamou a tia de Jason, Charlotte, que ficara apenas com a caminhonete. Devia ficar feliz por isso, é menos do que merece, pensou Jason com desdém enquanto olhava para a cara cheia de Botox dela. — Eu sou a filha mais velha, tenho o direito sobre todos os bens!

— Senhora, respeite a vontade de seu pai. Será feito como diz o testamento, a lei se encarregará disso.

Ela bufou e recostou-se na cadeira.

Sem mais interrupções, o advogado terminou a leitura, que não possuía mais nada muito importante. Lionel havia decidido que os empregados receberiam o último salário e então estavam livres para trabalhar em outro lugar se quisessem – se não, poderiam continuar na mansão, mantendo as coisas em ordem até que Jason resolvesse tomá-la para si.

Ao final da reunião, todos se levantaram. O advogado agradeceu a presença deles, e Jason estava quase correndo para a saída para ir embora quando ele o chamou para entregar os papeis de posse da mansão.

— A casa e a herança do senhor Kent serão passadas para o seu nome durante a semana. Assim que tudo estiver nos conformes, eu ligarei avisando.

— Certo, obrigado — Jason agradeceu e se precipitou para o elevador, sem dar ouvidos à voz de Charlotte fazendo provocações propositalmente altas a seu respeito para o marido quinze anos mais novo.

Viu seus pais indo atrás dele, mas apertou o botão para que as portas do elevador se fechassem e ficou sozinho. Massageou as têmporas. Nos breves segundos que levou para chegar ao térreo, encarou aquela papelada, pensando que agora detinha uma fortuna enorme.

Quando as portas tornaram a abrir, ele se dirigiu até a saída do prédio, mas de alguma forma seus pais o alcançaram e gritaram:

— Jason, espere! Espere! Por favor, nós só queremos conversar — pediu sua mãe, aproximando-se.

Ele se virou.

— Eu já disse que não tenho nada para falar com vocês.

— Mas nós temos — ela insistiu, quase suplicando. — Só nos ouça por um momento. Precisamos esclarecer o que houve no passado.

— Esclarecer? — ele repetiu, pasmo. — Não há nada para ser esclarecido. Vocês me largaram em um hospício, nunca me deram a chance de me justificar, só porque estavam cegos pelos próprios umbigos.

— Você tem que entender que estávamos assustados! — disse Elliot abanando as mãos para criar efeito. — Cometemos um erro com você, mas estamos arrependidos...

— Aquilo não foi um erro, foi uma escolha! — Jason berrou, liberando todo o ressentimento que guardara pelos últimos anos. — Eu era uma criança! Vocês nem tentaram descobrir o que estava errado, apenas me abandonaram. Se tivessem mesmo se arrependido, teriam me tirado de lá, mas não tiraram. Esperaram até agora para vir falar comigo de novo.

— Filho, nós não... — Sarah tentou, com os olhos cheios de lágrimas. Suas mãos se esticaram para tentar pegar as dele, mas o jovem se afastou.

— Eu não sou mais filho de vocês — declarou, com uma expressão fechada e magoada. — Vocês me disseram isso no dia em que me internaram.

— Não foi de verdade — Elliot falou, e Jason olhou para ele, tendo a confirmação de que os sentimentos do pai não haviam mudado. Não havia sequer um pingo de remorso em suas feições. Talvez acreditasse na mãe, mas nele, nunca. — Queremos você de volta em casa.

— E por que agora? — Jason resolveu perguntar, sarcástico. — Porque eu recebi a herança de Lionel? Porque ele precisou esfregar na sua cara que você estava errado? — Balançou a cabeça e começou a andar para longe deles. — Não. Eu tenho minha vida agora e não quero nada com vocês dois. Nunca mais quero vê-los novamente.

Eles abriram a boca para contestar, mas o filho já estava indo embora. No entanto, assim que girou nos calcanhares para partir, Jason deu de cara com uma garotinha linda, de longos cabelos e olhos castanhos o encarando com curiosidade e um pouco de receio. Ele não pôde evitar reparar no quanto eram parecidos, embora ela aparentasse ter nove anos de idade.

— Você é o Jason? — ela perguntou em uma voz doce, e em seguida olhou para Sarah. — Mamãe, é ele o meu irmão?

A mente de Jason parou.

Ele não conseguiu acreditar no que ouvia. Irmão?, a palavra ecoou, e ele ficou tonto.

A garotinha estendeu a mão para ele após a confirmação da mãe.

— Eu sou a Margareth. — Sorriu, mostrando que era banguela dos dentes da frente. — É um prazer te conhecer.

Ele não soube o que fazer além de apertar a mão dela com delicadeza, tentando esboçar um sorriso sincero.

— Oi, Margareth. É bom te conhecer também.

— Você vem morar com a gente? — a garota perguntou, animada. — Eu sempre quis ter um irmão. Papai e mamãe disseram que você não podia antes, mas pode agora.

O sorriso de Jason morreu. Achou que era um golpe baixo demais usar sua... irmã como um modo de se aproximar. Aquilo parecia de mais até para seus pais fazerem.

— Margareth, filha, venha — chamou sua mãe. — O Jason não vem conosco hoje.

— Por que não? — ela perguntou, triste. — Você disse que ele viria. Quero conhecer ele melhor!

Enquanto Sarah mentia para explicar a situação, seu pai foi até ele mais uma vez.

— Eu tenho uma irmã? — Jason indagou, sem tirar os olhos da menina. Tudo que Elliot fez foi assentir. Parece que o gene de não se envolver com os outros corria pelo sangue da família.

Transtornado e com as emoções confusas, Jason lhes deu as costas sem dizer mais nada e foi embora. Quando chegou ao carro, jogou os documentos da mansão no banco do passageiro e bateu a porta, cansado. Desfez o nó ridículo que tinha dado na gravata, sentindo que sufocaria se continuasse com ela, apesar de a sensação ser mais interna do que externa.

Não deixou de pensar que haviam sido rápidos ao ter outro filho enquanto ligava o carro para pegar a estrada. Estava claro que seus pais quiseram substituí-lo. Deu uma risada amarga, achando graça de si mesmo com aquela lamentação toda. Afinal, quem é que gostaria de apresentar uma aberração como filho?

Mesmo com tudo isso, Jason não negava que gostaria de conhecer a irmã. Assim como ela confessara, também sempre sonhou em ter um irmão. Ele pensava que seria como um amigo que morava na mesma casa. Estava curioso para saber o que Margareth gostava de fazer, onde ela estudava, como eram seus amigos... De repente, se sentiu mal por sair sem se despedir. Ela não tinha absolutamente nada a ver com o que seus pais haviam feito, e merecia um tratamento melhor.

O caminho de volta a New Haven foi tedioso como sempre, e ainda mais sem a presença de Rebeca. As três horas demoraram uma eternidade para passar. Jason odiava quando isso acontecia, pois sempre se perdia em pensamentos, que o levavam de volta aos tempos de hospício, ao dia do acidente e aos acontecimentos recentes.

Baixou o vidro do carro para dar lugar ao vento e aumentou o rádio até o último volume, na esperança de abafar qualquer divagação. Não precisava disso agora – de família, de testamento, de números laranjas. Só precisava retornar para casa.


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Acendeu as luzes da sala quando adentrou o apartamento. As coisas estavam silenciosas como deveriam estar. A claridade dos postes da rua entrava pela janela, cujas cortinas Jason deixava abertas.

Depositou os documentos em cima da mesa junto da carteira e as chaves. No momento em que tocou no celular, ele acendeu anunciando uma chamada de Rebeca. Atendeu, ansioso por ouvir a voz dela.

— Alô, Beck?

— Oi! — ela respondeu, entusiasmada. — Está tudo bem?

— Está, sim — disse, apenas para não se demorar muito no assunto.

— Tudo bem com a viagem? Você parece cansado — ela observou. — Como foi a leitura do testamento?

— Um inferno, como nós dois imaginávamos. Mas meu avô realmente me surpreendeu — ele foi contando, sentando-se no sofá para relaxar. Suas pernas estavam dormentes após o tempo dirigindo.

Rebeca quis saber cada detalhe, portanto iniciou a narrativa desastrosa do testamento. Ela não pareceu surpresa com a reação de seus parentes. Jason ainda não falara do encontro com os pais quando ela perguntou o que ele pretendia fazer com os empregados.

— Sinceramente, não sei — ele confessou. — Joan é uma antiga amiga, mas não posso obrigá-la a ficar trabalhando na mansão se não quiser. Vou falar com ela em breve, assim que o advogado entrar em contato.

— É o melhor a se fazer — Rebeca concordou. — E o que você... — Sua voz vacilou de repente, e Jason a ouviu ofegar do outro lado da linha. — Ah, meu Deus.

Um péssimo pressentimento tomou conta dele, e se ajeitou no sofá em um pulo, pronto para sair correndo até o apartamento dela se fosse preciso.

— O quê? O que aconteceu? Você está bem?

— Ligue a televisão no noticiário agora. Canal 5.

Sua voz estava tão séria que não ousou discutir ou perguntar algo mais. Com o coração na mão, Jason agarrou o controle e ligou a TV no canal indicado para ver qual seria o problema. Em frente a uma rua simples e familiar, uma repórter de cabelos curtos dizia:

Nenhum dos vizinhos sabe ao certo o que houve, e o crime hediondo não teve testemunhas. Pessoas que transitavam perto do horário do acidente alegaram ter visto uma coluna de fumaça se elevar ao final da tarde, mas nada além disso. A polícia e os detetives encarregados do caso ainda não possuem pistas, e o mistério não para por aí.

Foi quando Jason leu a legenda: Homem é encontrado morto dentro de casa na grande Chicago.

Thomas Orson não tinha inimigos conhecidos, e amigos mais próximos disseram que nunca se envolvera com drogas. A casa estava trancada pelo lado de dentro, sem sinais de ter sido arrombada ou ter entrada forçada. Nenhuma digital foi encontrada. O que mais choca os moradores e a cidade, no entanto, é a parede da frente da casa.

Enquanto a mulher continuava seu discurso, a reportagem mostrou uma foto da cena, e Jason sentiu todo o ar ser expulso de seus pulmões. Parou de prestar atenção à repórter.

Com grandes letras garrafais, duas letras haviam sido escritas com sangue.

— J. K. — leu Rebeca, chocada. — Jason Kent.


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Notas finais do capítulo

Acho que eu deveria ter nomeado o capítulo de "Casos de Família", né não?

Ok, falando sério... O que acharam do capítulo? *o* Contem-me o que esperam a partir de agora, eu amo respondê-los sempre! Teorias, expectativas, impressões, desabafos, tudo isso é bem-vindo, assim como críticas e sugestões!

Com Thomas morto, estamos cada vez mais perto de descobrir algumas coisas, assim como estamos também um passo mais longe de desvendar outras e ainda mais próximos de mais mistérios. As coisas vão esquentar!

Obrigada a todos que leram e que me acompanham, vocês são muito especiais! Um beijo a todos e até o próximo capítulo ^-^