Uma Nova Chance escrita por Elvish Song


Capítulo 8
Em Perigo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521567/chapter/8

Cruzar os céus da Alagaësia na companhia de Murtagh lembrou a Eragon da única viagem feita na companhia do meio-irmão, após a morte de Brom; naquele tempo, Thorn e Fírnen ainda não haviam nascido, Arya se encontrava inconsciente, e eles eram meros fugitivos que tentavam alcançar os Varden. A situação presente não podia ser mais diferente: Agora, estavam em cinco, contando com Roran e Ângela, e cada um deles cavalgava as costas de um dragão – os filhos de Saphira e Fírnen se haviam oferecido para transportar a herbolária e o Martelo-Forte. Três Cavaleiros, dois guerreiros treinados, cinco dragões plenamente desenvolvidos. E todos voavam rumo a Farthen-Dûr em socorro ao povo de Orik.

Todos haviam ficado absolutamente surpresos com a presença do Cavaleiro Vermelho em Carvahall; Murtagh se autoexilara desde o fim da guerra contra o império de Galbatorix, e ninguém mais ouvira falar dele. Até agora. Ao contrário de seu Cavaleiro, Thorn tinha por hábito vasculhar as terras do Norte, à procura de notícias sobre o mundo em que vivam. E quando chegara ao seu conhecimento que Eragon retornara à Alagaësia, o dragão pressionara o humano a ir ao encontro do meio-irmão; o lugar mais óbvio a se procurar seria a casa de Martelo-Forte. Fora quando Arya os encontrara.

Não fiquem tão apreensivos – Disse Thorn ao grupo – Finalmente temos reunidos os três primeiros Cavaleiros de Dragão. Somados à força de Ângela e Martelo-Forte, mais dois dragões selvagens... Somos um verdadeiro exército.

– Esperemos que haja algo pelo qual combater, quando chegarmos. – Comentou Arya, sombria – Tomara que Orik tenha conseguido manter as defesas em Farthen-Dûr.

Eragon permaneceu em silêncio: as palavras de Arya soavam pessimistas, mas bastante reais, o que só aumentava o medo de Eragon. Orik era seu irmão de clã, e Hrothgar era um futuro Cavaleiro. Ele era responsável por ambos, e se eles morressem, o Shur’tugal jamais se perdoaria.

Seu rosto desanuviou, entretanto, ao ouvir a voz de Saphira em seus pensamentos:

Calma, pequenino. Orik não é o rei dos anões por mero acaso: ele é forte, e sabe defender os seus. Chegaremos a tempo.

Como pode ter tanta certeza? – Perguntou ele de volta.

Apenas tenho.

À medida que subiam mais e mais, as montanhas à sua frente pareciam enormes muralhas que mergulhavam seu topo por entre as nuvens. Aquela visão nunca deixava de ser assustadora, especialmente por saberem que poderia haver algumas centenas de Urgals ocultos na névoa, e que a qualquer instante uma chuva de setas poderia se abater sobre os dragões.

– Cuidado! – Gritou Ângela, pressentindo o que iria acontecer. De fato, poucos segundos depois de seu alerta, duas setas passaram a centímetros de Thorn, que fechou as asas e deixou-se girar no ar, aproveitando o impulso para subir mais.

Fírnen, Saphira, Farner, Nardil! – Gritou o dragão vermelho – Mais alto! Estão muito perto! Temos de subir!

Os dragões mais velhos agitaram as poderosas asas em uma subida vertiginosa; os dois mais jovens, entretanto, sabendo carregar pessoas desacostumadas ao voo, hesitaram em se lançar para mais longe do solo. E tal hesitação, por mais breve que tenha sido, provou-se um enorme erro: três novas setas cruzaram o ar, e antes que qualquer coisa pudesse ser feita, Nardil emitiu um urro agudo de dor, e suas asas se fecharam quando um espasmo percorreu seu corpo, enquanto uma longa flecha se projetava do peito musculoso. Com enorme esforço, ela conseguiu estabilizar o voo, e o que seria uma queda fatal tornou-se um planar cada vez mais baixo, finalizado em um pouso violento que fez a dragoa rolar por sobre si mesma, enquanto tentava proteger Ângela do impacto.

Mesmo conhecendo o risco, os outros dragões e Cavaleiros se lançaram em direção às companheiras. Como medida de segurança, pousaram em meio à região de mata ais densa, o que arrancou escamas dos répteis e esfolou mãos e rostos de seus cavaleiros: um pouco adiante, Nardil lutava para se reerguer, a asa esquerda presa sob uma bétula que tombara com o impacto. Ângela, felizmente, parecia não ter nenhum ferimento além dos esfolados e hematomas que começavam a surgir por sob a pele; os cabelos estavam cheios de galhos e folhas, e havia um corte que sangrava bastante na bochecha esquerda, mas parecia razoavelmente bem, e tentava descer de cima do tronco que prendia a dragoa, onde acabara após a colisão com a árvore em questão.

Quebrando troncos e arrancando árvores pelas raízes, Saphira, Thorn e Fírnen abriram caminho até a jovem fêmea ferida. Thorn abocanhou o tronco e, retesando todos os seus músculos, arrancou-o de cima de Nardil. Livre, ela conseguiu se erguer sobre as quatro patas, mas sua asa estava dobrada num ângulo estranho, e contraída pelos espasmos provocados pela flecha. Enquanto Eragon e Arya se apressavam em examinar a dragoa, Roran e Murtagh se afastaram para vigiar o entorno. Mais adiante, Solembum retomara sua forma de menino e escalara uma árvore alta para observar e farejar.

– Nada bom. – Declarou Arya, após avaliar o estrago. Voltando-se para a herbolária, perguntou com preocupação – Tem alguma ideia do que podemos fazer? Eu nunca tive de curar um dragão, antes.

– Primeiro, temos de tirar essa flecha. – Declarou a mulher mais velha – peguem minha bolsa... Deve estar em algum lugar por aí. Dentro dela estão as coisas de que vamos precisar.

– Waíse Hëil me parece adequado para a situação... – Comentou Eragon, ainda segurando a asa partida da filha de sua companheira.

– Se não pusermos o osso no lugar, ele se consolidará no formato em que está, e Nardil nunca mais voará.

Aquelas palavras fizeram os dragões emitirem um silvo de medo: deixar de voar? A terra não era lugar para os dragões! Saphira estendeu a asa sobre sua filhote, acariciando-a com o focinho.

Não vamos permitir que isso aconteça, querida. – Falou a dragoa azul.

Pousando as mãos sobre o osso quebrado da asa escamada, Arya aguardou que Ângela se sentasse ao seu lado, e falou:

– Nardil, é melhor morder alguma coisa. Isso vai doer. – E para Fírnen e Thorn – Segurem a cauda e a outra asa dela, para que não nos acerte. Eragon, vigie. Estamos em lugar muito perigoso, e temos de sair daqui o mais depressa possível.

A dragoa ferida agarrou uma árvore com suas poderosas mandíbulas, enquanto os dois machos seguravam-lhe com as patas a asa sã e a cauda. Fechando os olhos, as duas mulheres seguraram com firmeza o osso, e um puxão firme o recolocou em alinho com o restante da asa. A força com que a dragoa mordeu o tronco em sua boca partiu a árvore em duas, mas nem mesmo um rosnado escapou de sua garganta. Imediatamente, as mulheres se dedicaram à retirada da seta que, felizmente, tinha a ponta polida e sem farpas: a única coisa aguda o bastante para perfurar couro de dragão a tal distância. O buraco deixado não era grande, e Arya o curou com facilidade.

Com urgência, a elfa e a herbolária sobrepuseram as mãos à fratura, recitando palavras em élfico em ritmo tão frenético que nem mesmo Eragon podia compreender o que diziam; mas a pressa era compreensível: a asa da dragoa precisava apresentar condições de sustentá-la no voo, e depressa, pois o pouso forçado certamente atraíra seus atacantes para o local em que se encontravam.

A falha deixada no membro partido começou a se corrigir: em velocidade assombrosa, preenchia-se novamente, assumindo o aspecto de estrutura sã. Entretanto, via-se pela expressão de Arya e Ângela que a cura não se fazia rápido o bastante. Não bastava que o osso crescesse: precisava se consolidar completamente, para que Nardil pudesse voar, o que, pelos sons ferozes que começavam a ser ouvidos na mata em redor, não aconteceria antes de precisarem lutar pela vida.

Desembainhando a espada, Eragon e Murtagh se postaram entre a origem dos sons de galhos quebrando e a dragoa ferida, cuidada pelas duas mulheres. Roran se juntou a eles, o martelo nas mãos. O barulho se tornava cada vez mais alto e próximo; entreolhando-se, os meio-irmãos acenaram com a cabeça, cúmplices.

– Parece até que o tempo não passou, não é, irmão? – Perguntou Murtagh, olhar fixo no ponto onde surgiriam seus oponentes.

– Nada como voltar à adolescência! – Concordou o Cavaleiro, logo antes que a última fila de árvores fosse destroçada por algo enorme.

Diante dos olhos dos Cavaleiros, um grupo de dez ou doze ursos Beorya – mas não Beorya normais: eram os maiores que já haviam visto, com duas vezes o tamanho de um cavalo! – arrebentou os troncos da alameda à sua frente. Eram cavalgados não por Urgals, mas por Kulls, que brandiam enormes porretes da altura de um homem adulto. Eragon praguejou ao ver aquilo. Correndo em direção às feras, cravou a espada no solo e, segurando-a com ambas as mãos, bradou:

– Brisingr!

O solo à sua frente irrompeu em chamas, criando uma barreira de labaredas quentíssimas. Assustados, os animais recuaram ao sentir seus pelos começarem a queimar, ignorando totalmente os gritos e golpes que recebiam dos Kulls. A barreira de fogo se estendeu para os lados, cercando o grupo atacante. O meio-elfo recuou, ouvindo a voz de Roran:

– Bom trabalho, Eragon, mas isso não vai segurá-los para sempre.

– Então, é melhor você ter outra idéia, porque teremos de enfrentá-los, quando romperem a barreira de fogo. – Saphira e Thorn avançaram até se postar ao lado dos três guerreiros. Urso algum poderia sobreviver ao ataque de um dragão, mas estes poderiam ser seriamente feridos pelos Kull.

De trás dos humanos, a voz de Arya soou com urgência e autoridade:

– Afastem-se! – o trio mal teve tempo de obedecer, antes de ver algo envolto em luz verde passar ao seu lado com a velocidade de uma seta.

Uma forte explosão se seguiu, atingindo em cheio o grupo aprisionado no círculo de fogo: três ursos e seus cavaleiros morreram calcinados. Os outros – feridos, mas vivos – bateram em retirada. Do outro lado da clareira, uma ofegante Arya guardava seu arco e ordenava:

– Depressa! Nardil está bem o bastante para voar! Temos de sair daqui agora, antes que cheguem os reforços pelos quais estão chamando! – Num salto, a mulher estava sobre seu dragão. Sem perder tempo, os homens saltaram sobre os dragões – Ângela já cavalgava Farner – que se lançaram no ar com vigorosas batidas de asa. Mais setas choveram sobre o grupo, sendo bloqueadas com magia por Eragon, Arya e Murtagh.

Foi apenas após ganhar muita altitude que os ataques, enfim, cessaram. Os dragões estabilizaram o voo, procurando por um luar seguro para pousar. Não parecia haver nenhum, a não ser as íngremes escarpas rochosas próximas aos picos das Beörn. Maldição! Erguendo sua voz acima do vento cortante, Ângela gritou:

– Vamos pousar! As nuvens estão baixando, e vão tirar nossa visibilidade!

– Só há rochas por lá, Ângela! – respondeu Roran – Vamos ficar presos!

– Não! – corrigiu Arya – eu conheço a trilha para descer! Os dragões terão que esperar até que seja seguro voar, mas nós poderemos entrar nas montanhas, e seguir a pé até Farthen Dûr!

Ante uma concordância geral, as cinco enormes criaturas desceram sobre as pedras lisas e íngremes, suas garras abrindo talhos na rocha nua para se segurar. Arya foi a primeira a descer – cuidando para encontrar apoio seguro – e dirigiu-se a Fírnen:

– Saiam daqui. Vão para os contrafortes ao sul, do outro lado da cordilheira. Encontrarei você lá.

Com uma anuência, Fírnen obedeceu, e logo foi seguido por Saphira, Thorn e os dois dragões selvagens, todos sem seus cavaleiros. Juntos, ganharam ainda mais altitude, dirigindo-se rumo ao sul.

A situação para a elfa e os quatro humanos era delicada: havia uma trilha pela qual poderiam descer, mas era estreita e irregular. Um passo em falso, e teriam longos minutos para se arrepender, antes de se arrebentar contra o chão muito abaixo. Cautelosamente, a mulher morena tomou a dianteira. Preocupado, Martelo-Forte comentou:

– Isso é loucura!

– Acha que não sei disso? Sigam-me, mas fiquem atentos: não vão querer escorregar daqui de cima. – Com a ajuda das mãos, a rainha iniciou a descida e, sem escolha, os demais a seguiram. Belo modo de começar um dia!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, deu até um medinho escrevendo essa cena (fiquei imaginando o abismo lá embaixo, e lembrei que altura me dá friozinho na barriga!).
Quem aí seria doido de pedra, e desceria pela trilha da Arya?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Nova Chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.