Uma Nova Chance escrita por Elvish Song


Capítulo 2
Carta de Arya


Notas iniciais do capítulo

Doze anos depois de sua partida, Eragon recebe uma carta de Arya. Aqui começa a história, de verdade.



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Doze anos depois...

Eragon lia, incrédulo, a carta enviada a ele por Arya:

Caro Eragon:

Espero que esta carta o encontre com saúde e disposição, pois as notícias que contém são as melhores.

Lamento haver passado tantas semanas sem lhe escrever, mas acompanhei o Portador dos Ovos de Dragão em sua viagem pelo norte. Os Cavaleiros treinados por você vêm desempenhando excelente papel na Alagaësia, e Nasuada, sob os conselhos de Orik, Ângela, Elva e meus, tem-se mostrado excelente rainha para os humanos. Sua inflexibilidade inicial em relação aos utilizadores de magia desfez-se quase completamente, principalmente após a intervenção destes haver debelado uma guerra entre os clãs de Surda, sem sequer uma baixa em qualquer lado.

Os dois últimos ovos enviados já eclodiram. Levaram menos de seis meses para encontrar seus escolhidos: Ariane, a filha mais nova de seu primo, Roran, e Hrothgar, o primogênito de Orik. Quanto ao ovo de Saphira que você enviou onze anos atrás... Ele finalmente eclodiu, e de dentro nasceram dragões gêmeos, da cor do mar, para crianças também gêmeas: meus filhos, Islanzadí e Brom.

Sei que Cavaleiros devem pôr o dever acima de tudo, e que você não pretendia mais retornar à Alagaësia, mas considerando que os quatros novos aprendizes são filhos de pessoas ligadas a você, peço encarecidamente que venha buscá-los pessoalmente, pois são ainda muito jovens.

Ah, sim! Fírnen manda seus cumprimentos a Saphira Bjartskular, e pergunta por seus filhotes que não escolheram Cavaleiros. Pobre dragão... Sente tanto a falta de Saphira... Espero que revê-la tenha um efeito positivo sobre seus sentimentos.

Sinto saudades suas, meu amigo; com exceção de Ângela e Fírnen, não tenho ninguém com quem conversar. Acho que a paz deixou-me relaxar demais, pois com frequência começo a lembrar com nostalgia de nossas aventuras; especialmente quando, tendo tempo para tanto, as conto às crianças. Você é o herói de Brom. Acho que ele mataria qualquer um que não admirasse Eragon-matador-de-Espectros.

De lembranças minhas a Blödgharm e aos outros; espero que sua viagem seja tranquila e agradável. Anseio muito por revê-lo.

Atra esterní öno thëlduin

Arya Dröttning

Eragon fechou o pergaminho quase com raiva, estupefato: Arya tinha filhos! Por que, em todos aqueles anos, ela nunca lhe dissera?

Sinto cheiro de ciúmes – Riu-se Saphira.

– Eu não estou com ciúmes! – Protestou o Cavaleiro – Apenas queria que ela houvesse me contado!

E por que ela deveria dar satisfações de sua vida a você? Ela não sabe nada sobre a vida que você leva! – A voz de Glaedr soou retumbante pelo aposento de pedras.

– E há algo para saber sobre minha vida, Ebrithil? – Perguntou o humano – Tudo o que faço é treinar os jovens cavaleiros e, por vezes, explorar os mares a oeste.

O guerreiro repassou mentalmente um trecho da carta: “não tenho com quem conversar”. Cáustico, ele comentou com Saphira:

– Quem quer que ele seja, com certeza prefere fazer “outras coisas” a conversar.

“Eragon! – Repreendeu a dragoa – Não seja maldoso! Ela está sozinha há anos! Achou que Arya iria esperar eternamente pelo seu retorno? Você mesmo disse que não pretendia voltar!

– Ela simplesmente se esqueceu de mim, Saphira! Desde que viemos para cá, nunca li em suas cartas uma única palavra doce, ou uma declaração de saudades. Agora, ela diz que sente minha falta porque quer me convencer a ir! Arya está me manipulando, como sempre fez!

Se houvesse esquecido, ou não sentisse sua falta – interrompeu Glaedr – Não lhe escreveria toda semana, ou a cada quinze dias. Conheço Arya desde que ela nasceu, e sei exatamente como age. É mais importante descobrir o que ela não disse com palavras, do que aquilo que está escrito. Veja as entrelinhas, Eragon. Ela não pediu que vá a Alagaësia simplesmente para buscar as crianças. Isso qualquer um poderia fazer. Ela quer revê-lo. Quer falar com você, e deve ser algo realmente importante, ou não teria feito esse pedido.

Ainda zangado demais por Arya ter omitido aquela parte de sua vida, o guerreiro franziu o cenho e respondeu:

– Não creio que haja algo importante a ser dito, depois de tantos anos. Eu vou ao continente, mas por causa de minha sobrinha, e do filho de Orik. Arya escolheu seu caminho, e essa opção inclui deixar-me fora de sua vida.

Tem certeza de que é por causa de Ariane e Hrothgar que está voltando, Eragon-finiarel? – Perguntou Glaedr.

– é meu único motivo.

Repita isso para si mesmo até se convencer. Você é um péssimo mentiroso. – Declarou Saphira, lançando-se ao ar.

– Aonde está indo?! – Gritou o cavaleiro para a dragoa.

Preparar a viagem, oras. Ao contrário de você, eu não tenho medo de declarar que estou ansiosa por rever Fírnen. Ele agora deve ser maior do que eu! Vou caçar, e partimos amanhã, antes da aurora. Melhor avisar aos elfos.

Claro, com certeza! – Esbravejou o humano – Quem é o cavaleiro aqui?!

Você é o Cavaleiro, mas só eu tenho bom-senso. – Retrucou Saphira, voando para longe.

Sem outra escolha, o guerreiro saiu do prédio em que ficavam os ninhos de dragão e desceu para a vila que havia construído com os jovens aprendizes. Levou consigo o Eldunarí de Glaedr, mas o velho dragão não parecia disposto a falar, e Eragon sabia que tentar convencê-lo seria apenas perda de tempo. Tinha apenas algumas horas para organizar as coisas para sua ausência, e tempo era algo que não podia perder.

*

A viagem, para Eragon, pareceu durar uma eternidade. Os pensamentos rodopiavam em sua cabeça, e não era possível esconder os sentimentos conturbados que o assaltavam. Ao lado dele e de Saphira, voavam os dois filhotes desta, agora dragões selvagens adultos; o macho, de nome Farner, era azul como a mãe; a fêmea, Nardil, tinha o mesmo tom azul-violáceo das nuvens de tempestade. Ambos haviam feito questão de acompanhar a mãe e seu Cavaleiro – seria a primeira vez que deixavam Vröengard.

Por várias vezes os dois voadores mais jovens mergulharam no mar calmo para se refrescar e pescar; com onze anos de idade, já eram maiores do que qualquer Niddwal, e criatura alguma teria coragem de atacar um casal de dragões adultos. Isso não ajudava a tranquilizar Eragon, que jamais se esquecera do ataque realizado por uma fera marítima contra ele e Saphira em sua primeira viagem à ilha que agora chamavam de lar; embora soubesse que não havia perigo real, temia pelos filhos de sua companheira.

Enquanto voavam, Saphira chamou-lhe a atenção:

Quando encontrar Arya, ouça o que ela tem a dizer. Deve ser importante.

– Duvido, Saphira. Ela nunca mencionou problemas na Alagaësia, tampouco meus antigos aprendizes o fizeram, e qualquer assunto pessoal seria irrelevante após tantos anos. Arya quer algo de mim, mas não sou mais o menino que se deixava manipular e corria a cada chamado dela.

Pelo menos vá buscar os gêmeos.

– Eu não deixaria de fazê-lo. Já que trarei Hrothgar e Ariane, não deixarei os filhos de Arya para trás. Eles nada têm a ver com as tramas da mãe. Inclusive, creio que será mais saudável, para eles, passar a viver num ambiente não afetado pelas intrigas e manipulações. Por mais forte e digna que seja Arya, eu não gostaria de ver um filho meu, se tivesse, agindo e pensando como ela.

Palavras horríveis as suas, Eragon! – Interrompeu Glaedr – Sabe que Arya tem um coração muito bondoso, e seus modos retraídos e frios são o resultado dos tormentos e abusos que ela viveu, e não me refiro apenas ao cativeiro! Pare com isso! Você ama Arya, e só externa tais pensamentos porque, enciumado, quer convencer a si mesmo de que ela já não lhe é importante.

Exatamente, pequenino. – Completou Saphira – Essa Arya que seu ciúme construiu não se parece em nada com a verdadeira mulher que conhecemos, aquela que nos salvou a vida muitas vezes, que jamais demonstrou medo, por mais intenso que este fosse, que sempre fez o que achava certo, mesmo quando isso a massacrava. Que se entregou a você por amor, mesmo sabendo que jamais o veria outra vez. Acha que isso foi manipulação? Ou que ela o manipulava quando percorreu toda a extensão do Império para encontrá-lo, quando você me obrigou a deixá-lo perto de Helgrind?

O humano reconheceu a verdade nas palavras dos dragões, e percebeu o quanto seu ciúme inexplicável o fizera dirigir pensamentos mordazes contra a elfa que ele sempre amara, e que tantas vezes se havia arriscado para protegê-lo e ir ao seu encontro. Mesmo assim, ele nada falou sobre o que pensava, pois o ressentimento era grande demais para simplesmente desaparecer.


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Notas finais do capítulo

Eragon está tendo um ataque de ciúmes. O que vocês acham disso? Opiniões?