Nas suas lembranças escrita por dayane
Me contaram que uma história de amor precisa de um ponto triste, pois ele vai prender o leitor e causará a sensação de que algo bom acontecerá no final. Aqui está minha história, cheia de pontos tristes:
Carlos era bonito. Tinha o dom da alta autoestima e viva pronto para aproximar-se de quem bem desejasse e iniciar uma conversa. Tudo o que ele precisava, para encantar, era um fio solto, um assunto atraente.
O fio que nos aproximou, por incrível que parecesse, fora somente o meu gosto pelos livros. Eu devorava livros como se não houvesse nada mais a ser feito. Talvez este fosse o meu dom. O dom de ler um livro gigante em poucos dias.
- Você tem que escutar esta música!
O fone foi colocado em meu ouvido antes que eu pudesse responder. Aquele era Carlos. Imprudente e confiante.
A música era americana e eu nada entendi. Talvez se fosse em espanhol eu me dedicasse mais à letra, mas por ser em inglês, deixei que apenas os sons e suas tonalidades me guiassem pelos sentidos. Carlos aguardava paciente, escutando junto comigo e, vez ou outra, cantarolando as partes que já havia decorado.
- Incrível, não acha? - A excitação era presente em sua voz. Ele realmente queria dividir seus gostos comigo.
Eu torci meus lábios.
- Não entendi nada.
- Mas sentiu. - Ele me conhecia. - E o que achou?
- Boa.
- Boa? - Ele não pareceu gostar.
- Somente boa.
Carlos me olhou. Estava sério e eu sentia que o perderia a qualquer momento.
- Ainda vou encontrar algo que você ame.
Enquanto ele partia, deixando-me sem resposta verbal, eu pensava em como ele faria para descobrir que a única coisa que eu era capaz de amar, estava preso ao mundo onde eu não poderia viver.
Carlos era o detentor do amor que eu possuía. Eu o queria comigo, queria sentir seu cheiro e saber que era meu, escutar sua voz a soltar frases românticas para mim. E, quem eu queria enganar?, também queria sentir que seu corpo desejava o meu.
Carlos era meu calcanhar de Aquiles. Eu nunca revelaria a ele o que sentia e mesmo que ele descobrisse, eu negaria até que pudesse me arrepender. Carlos era minha maior fraqueza, pois eu sabia que me sabotaria e viveria com a certeza de que poderia nascer um nós.
Ainda em frente aos meus olhos, o vi correr para os amigos e iniciar uma conversa divertida. Eram boas pessoas, eu sabia, mas somente uma ou outra teria capacidade e vontade de cruzar aquele universo tão tranquilo, para entrar no meu.
Estávamos em um evento. Eu tinha ido por insistência de Carlos, mas não queria estar em meio a tantas pessoas que eu desconhecia. Não que eu não quisesse fazer novas amizades, mas eu nunca teria a capacidade de fazer mais de um novo amigo por ano. Talvez dois, se tivesse sorte de sermos compatíveis.
- Vem, Paula! - Gritou Carlos.
Ele devia ter sentido minha falta. Eu sorri e acenei para ele.
- Vou ao banheiro – Retruquei. E voltei para minha casa.
Uma vez eu li que os homens buscam mulheres divertidas, com sorrisos pintados em seus rostos e a autoestima elevada. Mas, eu acredito que, na verdade, as pessoas buscam alguém que possa afastar as tristezas de suas vidas. Viver com alguém triste e saber que fazemos aquela pessoa feliz é gratificante, mas ao mesmo tempo, sabemos que ela nunca poderá ser um apoio,
E sempre buscamos um apoio.
Enquanto as ruas passavam em frente a janela do onibus, percebi que eu nunca poderia ser o conforto e apoio de Carlos. Eramos incompatíveis.
Fechei meus olhos e encostei a cabeça no vidro do ônibus. Se eu fosse mais inteligente, desistiria e me afastaria dele. O deixaria sofrer com a distancia e, caso fosse necessário, acharia um modo de ser insuportável para ele.
Mas não.
Nunca confessaria à alguém que o amo. Não poderia fazer aquilo com minha autoestima deplorável. Teria que achar uma forma de vencer o obstáculo que eu era e, somente depois, buscar o que tanto desejo.
No bolso de minha saia, o celular vibrou. Uma mensagem de Carlos apareceu no visor e não soube como reagir.
“Sair sem se despedir, não sei se devo te desculpar?”
Tudo parecia ter dado errado. A fraca esperança que surgiu em meu peito fora esvaziada como se a ponta de uma bexiga cheia fosse solta - Eu podia sentir todas as minhas energias positivas planando sem rumo e se afastando de mim.
- Oh Deus – Rezei em silencio. - Por que cometo essas merdas?
Eu esperava que ali fosse, apenas, o primeiro capítulo da minha história de amor.
Não sou a única que comete autossabotagem. Na verdade, acho que faço parte de um grupo vasto, talvez interminável, de pessoas que se sabotam.
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