Nas suas lembranças escrita por dayane


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521383/chapter/1

Me contaram que uma história de amor precisa de um ponto triste, pois ele vai prender o leitor e causará a sensação de que algo bom acontecerá no final. Aqui está minha história, cheia de pontos tristes:

Carlos era bonito. Tinha o dom da alta autoestima e viva pronto para aproximar-se de quem bem desejasse e iniciar uma conversa. Tudo o que ele precisava, para encantar, era um fio solto, um assunto atraente.

O fio que nos aproximou, por incrível que parecesse, fora somente o meu gosto pelos livros. Eu devorava livros como se não houvesse nada mais a ser feito. Talvez este fosse o meu dom. O dom de ler um livro gigante em poucos dias.

- Você tem que escutar esta música!

O fone foi colocado em meu ouvido antes que eu pudesse responder. Aquele era Carlos. Imprudente e confiante.

A música era americana e eu nada entendi. Talvez se fosse em espanhol eu me dedicasse mais à letra, mas por ser em inglês, deixei que apenas os sons e suas tonalidades me guiassem pelos sentidos. Carlos aguardava paciente, escutando junto comigo e, vez ou outra, cantarolando as partes que já havia decorado.

- Incrível, não acha? - A excitação era presente em sua voz. Ele realmente queria dividir seus gostos comigo.

Eu torci meus lábios.

- Não entendi nada.

- Mas sentiu. - Ele me conhecia. - E o que achou?

- Boa.

- Boa? - Ele não pareceu gostar.

- Somente boa.

Carlos me olhou. Estava sério e eu sentia que o perderia a qualquer momento.

- Ainda vou encontrar algo que você ame.

Enquanto ele partia, deixando-me sem resposta verbal, eu pensava em como ele faria para descobrir que a única coisa que eu era capaz de amar, estava preso ao mundo onde eu não poderia viver.

Carlos era o detentor do amor que eu possuía. Eu o queria comigo, queria sentir seu cheiro e saber que era meu, escutar sua voz a soltar frases românticas para mim. E, quem eu queria enganar?, também queria sentir que seu corpo desejava o meu.

Carlos era meu calcanhar de Aquiles. Eu nunca revelaria a ele o que sentia e mesmo que ele descobrisse, eu negaria até que pudesse me arrepender. Carlos era minha maior fraqueza, pois eu sabia que me sabotaria e viveria com a certeza de que poderia nascer um nós.

Ainda em frente aos meus olhos, o vi correr para os amigos e iniciar uma conversa divertida. Eram boas pessoas, eu sabia, mas somente uma ou outra teria capacidade e vontade de cruzar aquele universo tão tranquilo, para entrar no meu.

Estávamos em um evento. Eu tinha ido por insistência de Carlos, mas não queria estar em meio a tantas pessoas que eu desconhecia. Não que eu não quisesse fazer novas amizades, mas eu nunca teria a capacidade de fazer mais de um novo amigo por ano. Talvez dois, se tivesse sorte de sermos compatíveis.

- Vem, Paula! - Gritou Carlos.

Ele devia ter sentido minha falta. Eu sorri e acenei para ele.

- Vou ao banheiro – Retruquei. E voltei para minha casa.

Uma vez eu li que os homens buscam mulheres divertidas, com sorrisos pintados em seus rostos e a autoestima elevada. Mas, eu acredito que, na verdade, as pessoas buscam alguém que possa afastar as tristezas de suas vidas. Viver com alguém triste e saber que fazemos aquela pessoa feliz é gratificante, mas ao mesmo tempo, sabemos que ela nunca poderá ser um apoio,

E sempre buscamos um apoio.

Enquanto as ruas passavam em frente a janela do onibus, percebi que eu nunca poderia ser o conforto e apoio de Carlos. Eramos incompatíveis.

Fechei meus olhos e encostei a cabeça no vidro do ônibus. Se eu fosse mais inteligente, desistiria e me afastaria dele. O deixaria sofrer com a distancia e, caso fosse necessário, acharia um modo de ser insuportável para ele.

Mas não.

Nunca confessaria à alguém que o amo. Não poderia fazer aquilo com minha autoestima deplorável. Teria que achar uma forma de vencer o obstáculo que eu era e, somente depois, buscar o que tanto desejo.

No bolso de minha saia, o celular vibrou. Uma mensagem de Carlos apareceu no visor e não soube como reagir.

“Sair sem se despedir, não sei se devo te desculpar?”

Tudo parecia ter dado errado. A fraca esperança que surgiu em meu peito fora esvaziada como se a ponta de uma bexiga cheia fosse solta - Eu podia sentir todas as minhas energias positivas planando sem rumo e se afastando de mim.

- Oh Deus – Rezei em silencio. - Por que cometo essas merdas?

Eu esperava que ali fosse, apenas, o primeiro capítulo da minha história de amor.

Não sou a única que comete autossabotagem. Na verdade, acho que faço parte de um grupo vasto, talvez interminável, de pessoas que se sabotam.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nas suas lembranças" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.