Depois de duas semanas com Bernardo grudado a mim, acostumei-me totalmente a ele. A atenção que recebi por causa dele era um pouco inconveniente, sabia que assim que ficasse sozinha, algum estranho viria conversar comigo, então não fazia nenhuma questão de ficar longe de Bernardo. Eu até gostava da ideia de ser conhecida pela escola toda, mas dava trabalho, sabia que não podia mais pegar a primeira roupa do guarda roupa ou ir com a cara que eu levantei. Eu era uma pessoa sociável, mas sabia o quanto dava trabalho ser popular, e isso é distração dispensável.

–Donzela precisamos conversar

–claro, o que houve?

–me siga

Fomos ao nosso jardim, o chamava assim por que só nós íamos e em quase todos os recreios já podiam colocar uma plaquinha afirmando que era nossa propriedade.

–então o que queria dizer?

– como deve saber, minha família é bem tradicional, o motivo de eu estar no cursinho pelo segundo ano não é por eu não ter passado no vestibular, eu passaria no segundo grau do ensino médio. O motivo de eu estar aqui é conhecer garotas

–o que? Como assim?

–Preciso achar uma noiva para mim, já estava desistindo de achar alguém com o perfil que meus pais queriam nesse lugar, mas então encontrei você

–como eu posso ser o perfil que seus pais querem? Há tantas garotas bem melhores que eu por ai

–durante todo o tempo antes e depois de falar com você estive te estudando, você também se preocupa com sua imagem, é educada com todos que vem falar com você, mesmo que esteja sem animo para conversas, depois que percebeu que todos reparariam em você, começou a se arrumar melhor, sem falar claro que você é linda

–mas por que então você não foi para a faculdade? Poderia ter procurar sua noiva lá- eu estava sem graça

–pois eu vou para a faculdade para aprender a cuidar dos negócios do meu pai, se meu casamento com uma garota que sabe cuidar de negócios não der certo, ela tentará ficar com o máximo que conseguir de mim em um divórcio.

–Certo, então me deixe ver se entendi: você se aproximou de mim por que achou que eu era a noiva ideal?

–você é a noiva ideal, então, aceita a ideia de se casar comigo?

–Meu deus! Isso é muito irreal, casar é algo para a vida toda, como em menos de um mês você...

–Eu sei que é uma decisão difícil, afinal se você disser sim todos os seus planos traçados terão que mudar, mas você não sabe o quanto é difícil achar alguém com uma cabeça igual a sua, nem mesmo na alta sociedade, você não sabe em quantos eventos já fui à procura de uma noiva, demorei muito para te achar, espero que você pense bem nessa proposta, talvez não estejamos apaixonados agora, mas tenho certeza que ao longo dos anos vamos conseguir criar uma forte relação. Prometo lhe dar uma vida confortável, com alguns luxos, não pediria que abandonasse a ideia de prestar medicina, mas daria a chance de você fazer o que quer de verdade.

Estava perplexa com as revelações, se ele tivesse me pedido em namoro, com certeza aceitaria, mas em casamento? Mesmo tendo uma mentalidade antiquada para esse século achava difícil me casar tão nova como eu era! Minha ideia de casamento era pelos 30 anos no mínimo, e era uma decisão que eu tomaria só com alguns bons anos de namoro!

–desculpe, mas não tenho uma resposta agora, isso é quase loucura! Eu mal completei 18 anos!

–fique tranquila, caso você aceite não precisa casar já, apenas vamos ficar juntos, será apenas uma promessa que você terá comigo

–não precisaremos casar já?

–não, pense no assunto, mas saiba que vou fazer de tudo para que no final sua resposta seja sim!

Ele pegou em minha mão e a levou aos lábios.

Passei a noite toda pensando na proposta, eu estava gostando mesmo de Bernardo, e parecia bem simples rolar algo sério entre nós, era fácil nos ver no futuro juntos, mas eu poderia ter uma vida bem agitada se recusasse, queria viajar, ver o mundo, namorar vários tipos diferentes de caras para quando eu achar o certo ter certeza que ele é o ideal para convivermos juntos até o fim. Meu coração, que pertencia a uma era passada dizia sim, mas a razão que pertence a esse século clamava por um não.