Depois de semanas brigando com o loiro, agora estamos bem. Mas um bem, que não dá pra ter certeza. É difícil de entender, pois eu não sei bem o que aconteceu, foi algo tão de repente... é tudo muito confuso. Não que eu esteja reclamando, mas quando uma pessoa que você odiava ainda semana passada, agora dorme com você, no sentido inocente, e ainda mais de conchinha... não é algo normal.

Acordei com o despertador tocando ás 07:30, logo desliguei pra não acordar o loiro. Eu tinha uma entrevista de emprego, mais um. Eu precisava de um trabalho o quanto antes, não tenho nenhuma preferencia, apenas um que me pague o suficiente pra eu conseguir um lugar pra ficar, sem que demore quase uma década. E para isso, acordar cedo é um começo.

Virei a cabeça o suficiente cuidadosamente, para não acordar o loiro que dormia feito um anjo descabelado. Continuávamos abraçados, seu braço me prendia contra o seu corpo, enquanto sua respiração batia em meu cabelo. Acorda-lo seria muita maldade da minha parte, então tirei seu braço lentamente, e me afastei levantando. Ele se mexeu um pouco, e no mesmo segundo parei com medo de acorda-lo. Ele mudou de posição ficando de barriga para baixo. Sorri.

Peguei algumas roupas e fui direto ao banheiro. Tomei um banho, e sai prontamente, encontrando um loiro descabelado ainda dormindo. Peguei tudo que precisava, fazendo o mínimo de barulho possível. Fui até a cama, e lhe dei um beijo em sua cabeça me despedindo.

No caminho da entrevista passei um texto em minha cabeça, das possíveis perguntas, e de como ás responderei. O mesmo nervosismo que me atinge quando tenho uma entrevista, novamente estava presente. E isso me atrapalhava, não consigo responder as respostas corretamente, e prefiro ir embora antes mesmo de terminar as entrevistas.

Dentro da sala de espera, havia além de mim, cinco pessoas a espera da chamada. Todos mais velhos. Aquilo me atingiu, mais velhos, mais experientes. E isso tudo por uma vaga de recepcionista de um prédio. Respirei fundo e me sentei em uma poltrona mais afastada dos outros.

Depois de horas, finalmente fui chamada. Uma mulher bem sorridente me guiou até uma porta que tinha uma placa escrita “Gerente”. Ao entrar, deparei com um cara de trinta e poucos anos, já grisalho. Ele estava em um telefona, conversava calmamente dando ordens, olhei para trás, a mulher ao qual havia me trazido, tinha ido embora.

Por um breve momento achei que eu conseguiria finalmente um emprego, mas me enganei profundamente quando, o gerente, Sr.Marcos, que descobri ser seu nome, me avisou que eu não poderia ter aquela vaga. Eu só tinha o curso de Administração no meu currículo, e mesmo assim ele não estava completo. Apenas agradeci o seu tempo, e me despedi dando um aceno com a cabeça.

No caminho para casa, criou um nó em minha garganta, e não pude segurar até chegar em casa. Dentro do taxi, desabei em chorar, chorar desesperadamente. O motorista ficou aflito com a minha atitude repentina, e perguntou se eu queria parar para toma uma água, apenas neguei e pedi que continuasse o caminho.

Já estava melhor, quando cheguei no pé da porta do meu quarto. Lembrei que o loiro ainda estava dormindo em minha cama quando eu sai, e com cuidado, com medo de ele ainda está dormindo, abri a porta. Mas ele não estava dormido, pelo contrario. Ele estava sentado no pé da cama.

—Bom dia. –Desejei entrando.

—Bom dia. –Ele sorriu. Botei minhas coisas em cima de uma mesa ao lado da porta e me virei, escorando na mesma e olhando para ele. –Me deixou sozinho aqui.

—Eu lhe deixei dormindo. –Avisei. Sorri com sua cara de abandonado que ele mostrou. –Você queria que eu lhe acordasse?

—Na verdade não, dormi muito bem. Apenas quis fazer drama. –Sorri. Ele se levantou e andou até onde eu estava. Passou sua mão em meu rosto alisando, fazendo um caminho até o meu pescoço, deixando sua mão em minha nuca. Me puxou e depositou um beijo demorado em minha testa. Não me contive e o abracei. Quando nos separamos, o fitei. Ele sorria, retribui. –Como foi a entrevista?

—Como sabia que eu tinha uma entrevista? –Perguntei surpresa, pois não me lembrava se eu tinha contado.

—Seria a única resposta pela qual você saiu e me deixou sozinho em sua cama. –Sorri. Ele me levou até a cama se sentado na mesma. –E então como foi? –Não disse nada apenas o abracei, e pelo que percebi, ele entendeu. –Não fica assim... –Falou me abraçando mais forte. –Eu acho que você deveria parar um pouco de procurar, eu sei que você necessita de um emprego, mas por enquanto, você deveria esperar. Vai que num aparece uma oportunidade melhor!? Não é o que dizem?! Quando menos se espera, algo melhor acontece!

Sorri envergonhada me afastando. Ele tem me ajudado muito, e ainda não o lhe agradeci. Ele pegou minha mão e apenas com o olhar, me avisou que ele estaria ao meu lado. Lhe lancei um sorriso e ele retribuiu.

—Que tal... almoçarmos fora? Eu pago –Propôs sorrindo esperando um sim em resposta. Concordei em um aceno de cabeça e ele, com animação me levantou e me empurrou pra dentro do banheiro. –Se arrume que daqui a meia hora eu tô te esperando lá em baixo.

Ao ouvir a porta do quarto ser fechada, me despi e tomei um banho quente e demorado. Muita coisa tinha acontecido. E pouca coisa tinha sido resolvida, na verdade nada foi resolvido. Eu não tenho lugar pra morar; não tenho emprego; tô sem dinheiro; sozinha... e agora, estou confusa. Confusa se eu tenho algum relacionamento, ou não. Tenho problemas.

Ouvi meu celular tocando no momento em que desliguei o chuveiro. Me envolvi em uma toalha, a sai do banheiro ainda toda molhada, deixando o chão, por onde eu passava todo molhado.

Ligação On:

—Alô, quem é? –Atendi tentando prender a toalha pra que não caísse.

—Ally! Sou eu Anna. –A ouvi responder com animação. –Como você está?

—Estou muito bem. E você? Como está a viajem? –Pergunto indo até o armário para escolher uma roupa. –Não tenho noticias suas a muito tempo!

—Digo o mesmo. A viajem está ótima, e por causa dela eu estou melhor ainda! –Senti sua voz mudar de entonação. Algo tinha acontecido.

—O que ta acontecendo de tão bom assim? Que eu saiba, pelo que você me disse, você viajou com os seus pais e os amigos deles junto com os filhos deles também!

—Os filhos deles, quer dizer... um dos filhos deles, é que ta fazendo a diferença nessa viajem. –Percebi que ela sorriu. –Mas eu não posso contar tudo por telefone, preciso contar tudo pessoalmente!

—Então trate logo de voltar!

—E então... como estão as coisas ai? Você e Austin ainda estão se matando? –Sorri

—Na verdade estamos muito bem um com outro. Alias, estou me aprontando pra sair com ele. Vamos almoçar fora.

—Isso tem cara de rolo! –Sorriu, e eu já preparada pra ouvir certos comentários indesejados.

—Não é nada disso. Pare com isso, e me dê uma opinião de qual roupa usarei! –Depois de indiretas, e risos com sentidos duplos, Anna finalmente me ajudou a escolher uma roupa pra ir almoçar, em um lugar que tive que ter uma ideia pra onde iriamos. Resolvemos que eu iria com uma calça vermelha, um top preto, e um sapato fechado preto de 13cm. Meus cabelos ficará soltos e usarei uma maquiagem leve.

Quando desliguei, me preparei para descer. Pela demora que tive conversando com a Anna, Austin já estaria me esperando por muito tempo. Tive a certeza quando por fim desci as escadas, e o encontrei sentado no sofá da sala de TV. Quando eu me aproximei, ele virou seu rosto e me viu.

—Está muito bonita! –Declarou ao levantar sorrindo.

—Você também. –Comentei agradecendo. Austin usava uma calça jeans clara, com uma camisa V preta, e um All Star tradicional. –Você não me disse aonde iremos!

—Eu sei, é surpresa. –Disse sorrindo. –Vamos, tenho certeza que gostará! –Ele me acompanhou até o seu carro, e abriu a porta com um belo sorriso me dando passagem para entrar.

Enquanto íamos, torcia para que esse dia não ser um desastre!