Rosas, sangue e casamento. escrita por Giovana Machado


Capítulo 4
Capítulo 4 - Rosas, sangue e casamento.




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Por baixo de todas as anáguas, fitas e tecidos, Sonya começava a se arrepender por estar tão vestida, ali o clima era mais denso, mais abafado e seu vestido era tudo, menos arejado e confortável para um dia de verão. E o pior era pensar que nenhuma das roupas que trouxera seria adequada para aquela região, exceto seu leque de penas, que fornecia algum frescor.

– A cidade é maravilhosa, terão permissão para algumas visitas de tempos em tempos, para comprar vestidos e outros objetos que venham a precisar. - Flora fornecia um guia turístico completo dos arredores, onde poderiam provar o melhor pão, as melhores carnes e incontáveis jóias e adereços. - Esta estrada levará diretamente ao castelo, há um rio subterrâneo por baixo de suas muralhas, sabiam? É muito extenso e corre por inúmeros túneis até os limites da cidade.

O entusiasmo dela era cômico e o desânimo das irmãs mais ainda, por isso fora impossível evitar algumas risadas e troca de olhares entre Sonya e Micaela, que balançavam a cabeça sempre que a senhora falava com elas.

– Oh, cuidado meninas, pode sacolejar um pouco. - ela segurava-se nas cortinas da carruagem, sorrindo. - Essa parte do caminho é entre pedregulhos, então torna-se complicada.

– Nossa bagagem! - Lucy levara a mão enluvada à boca dramaticamente. - Estão seguras?

– Sim, completamente, senhorita, todas foram muito bem amarradas. - Flora gesticulara com a mão para tentar tranquilizá-la, mas fora ignorada por Luciana. - Se me permitem dizer, o modo como se vestem é único e são tão diferentes em seus estilos!

As meninas se entreolharam, sim, sabiam que tinham gostos diferentes, mas não que a proporção seria tão grande assim, afinal todas as roupas da família, sem exceção, eram feitas pela costureira particular e ela fazia questão e ouví-las atentamente sobre seus gostos e transformar metros e metros de tecido nas mais perfeitas obras de arte.

– Obrigado, madame. - sorrira Sonya, gentil. - Mas infelizmente acho que nossos vestidos não condizem com o clima atual, estamos acostumadas à gelo e neve, por isso não creio que ficaremos muito confortáveis.

– Isso não é problema, criança, o castelo fica no ponto mais alto, então a temperatura cairá quando chegarmos, suas roupas estarão perfeitamente adequadas. - rira ela. - Só precisarão de vestidos mais leves para as idas até a cidade, pedirei permissão a senhora Dashwood para comprar algo para vocês.

– Desculpe, quem?

– A senhora Dashwood é a diretora de Madley e as receberá na entrada da escola. - uma expressão cautelosa apossara-se do rosto dela. - Ela pode ser difícil de lidar, numa primeira impressão, mas vão gostar dela.

Depois disso, o silêncio apossara-se do interior da carruagem, tudo o que podiam escutar eram as rodas amassando as pedras e os cascos dos cavalos, a mais velha das irmãs concentrara-se em observar como a cidade ficava minúscula a medida que se aproximavam mais do topo.

– As criadas não disseram que havia um jardim pela escola? - virara-se para a senhora, as sobrancelhas arqueadas. - Tudo o que vejo são montanhas e solo arenoso.

– Sim, temos jardins, mas estão situados na parte interna do castelo, apenas uma pequena área é ao ar livre, mas tudo floresce muito bem aqui devido ao rio, que corre por toda a estrutura de pedra.

– Oh. - Sonya voltara a contemplar os cavalos, quando pequena adorava cavalos, até o garanhão do pai se assustar com uma cobra e derrubá-la da sela, a menina ficara tão assustada que nunca mais montara em um. - É maravilhoso!

Sua boca abrira-se totalmente ao ver o castelo, agora muito mais próximo, as suas muralhas eram esculpidas em rocha pura e tinham tantos detalhes, pilares, torres de vigia e tudo o mais.

A carruagem parara em frente ao enorme portão de grades negras, o cocheiro falara alguma coisa com um dos guardas de vigia, mas nada que pudessem compreender com clareza, em seguida os cavalos avançaram, adentrando o pátio externo.

O ar tornara-se mais pesado, dificultando a respiração das jovens, mas nem isso tirara o sorriso de seus lábios ao analisar toda a fachada da escola, também construída em pedra, com grandes arcos e portas pesadas de carvalho. Uma mulher alta e muito bem vestida estava parada a alguns metros e recebera as novas alunas com os lábios apertados num quase sorriso.

– Sejam muito bem vindas, meninas. - a voz dela era rouca e parecia ser perfeita para repreensões. - Agora, quem é Sonya Nikolaiov? - dissera ela, analisando cada uma.

– Sou eu, senhora. - Sonya curvara-se respeitosamente e foi correspondida pela mulher, pela primeira vez a olhava nos olhos e lá via severidade, o cabelo castanho estava quase todo grisalho e penteado para cima, armado e com cachos descendo pelos ombros. O vestido era igualmente pomposo, preto, reto, sem corpete e de mangas muito longas, com apenas um cinto de pedraria.

– Recebi uma carta de seu pai, comunicando quais deveriam ser as observações a serem feitas enquanto estivessem aqui e devo dizer que as achei adequadas, ele se preocupa com a educação e o futuro de vocês, o que é de extrema importância. - enquanto falava, Dashwood caminhava pelos corredores, onde era possível notar a presença de algumas moças, provavelmente estudantes, conversando ou lendo um livro. - Os dormitórios localizam-se na parte superior, à direita e as salas de aula e áreas comuns na parte inferior, também à direita. Temos acesso aos jardins e estábulos do castelo, assim como ao próprio, então, quando houver uma celebração, saberão aonde ir.

– Senhora, quando será o próximo baile? - Carmen perguntara, muito curiosa.

– Uma boa pergunta, senhorita, teremos um baile de boas vindas daqui a alguns dias, nosso período letivo começou há apenas uma semana, então poderemos inserí-las nas atividades sociais logo. - e com "atividades sociais", Dashwood queria dizer avaliação para possíveis propostas de casamento. - A mais nova não dormirá sozinha, eu suponho. Qual de vocês irá supervisioná-la?

– Eu, senhora. - Sonya colocara uma mão no ombro de Micaela e recebera um sorriso da pequena.

– Ótimo, também vai precisar acompanhá-la para ir as aulas, temos poucas alunas da idade dela, então a turma será bem pequena e ela pode se perder em meio aos corredores.

– Isso não será problema. - a jovem seguia um pouco atrás com a irmã, reparando em cada detalhe do corredor, vez ou outra avistava alguns rapazes vagando sozinhos ou acompanhados de alguma dama e, apesar dos conselhos de sua madrasta, não pudera deixar de pensar se uma proposta de casamento lhe seria feita e se fosse, o que faria? A vida reservada que levava na mansão resumia-se em cuidar de suas irmãs, até pouco tempo pelo menos, como Luciana e Carmen já estavam crescidas, Micaela recebia sua total atenção; ler todos os livros de sua biblioteca particular e alguns que pertenciam à coleção especial de seu pai, escrever, bordar e ter suas aulas de música. Nunca havia tido um contato maior com alguém do sexo oposto e se tivesse, não fazia a menor ideia de como se portar perante seu interlocutor.

– Os pertences de vocês já foram enviados aos seus quartos, Floretta vai acompanhá-las. - a diretora sinalizara para que a governanta aparecesse e depois se retirara com um meneio de cabeça.

– Se me permitem, qual é a espectativa das senhoritas quanto ao casamento? - Flora mantinha aquele sorriso de ansiedade no rosto, o que fez Sonya pensar que aquela não era uma postura muito educada da parte dela.

– O mais cedo possível! - Lucy trocara olheres com Carmen, o que significava que as duas pensavam o mesmo. - Podemos ser novas, mas sabemos como nos portar diante de um cavalheiro e me surpreenderia se um rapaz não me convidasse para uma dança nos primeiros minutos do baile.

Ao terminar a última frase, Luciana olhara sujestivamente a irmã mais velha, arrebitando o nariz, como numa provocação por ser mais experiente, apesar da diferença de idade.

Sonya apenas a ignorara, respondendo a pergunta de Flora.

– Não desejo me casar, senhora. Pelo menos não agora. - sorrira, gentil. - Quero constituir uma família no momento oportuno, nada mais.

– Faz bem, senhorita. - ao contrário do que pensava, Flora retribuíra o sorriso.

As cinco caminhavam pelos inúmeros corredores, estavam muito cansadas e suspiros de frustração escaparam de seus lábios quando viram a enorme escadaria em pedra polida no centro de um dos salões.

– Este é o caminho que as levará até seus aposentos. - Flora apontara para a escada. - E por ali terão acesso ao castelo, mas as visitas serão registradas e acompanhadas por uma professora ou supervisora. - gesticulara para um corredor adjacente que levava à um dos pátios, quase que oculto pelas sombras das árvores.

Sonya sentira algo ao ver aquele caminho, uma pequena pontada de excitação com a ideia de atravessá-lo e investigar cada canto do castelo, saber como era o seu brasão, como seriam as cores de sua bandeira, a sala do trono e a biblioteca, minha nossa, agradeceria aos céus se encontrasse uma biblioteca em meio à tudo aquilo

– Senhorita? - fora tirada de seus devaneios pela voz de Flora. - Suas irmãs já seguiram para seus respectivos quartos. A senhorita sente-se bem? Ainda fadigada?

– Não, eu estou bem. Obrigada. - sorrira, tomando a mão de Micaela na sua. - É este?

– O próprio. - Flora girara as maçanetas das portas duplas, revelando uma aconhegante sala de estar, sofás e cadeiras acolchoadas estavam dispostos pelo cômodo, assim como aparadores, mesinhas e havia também um piano junto à parede. - Aqui temos uma sala informal, poderão receber visitas, estudar e entre outras coisas. - a governanta abrira as pesadas cortinas costuradas à mãos com fios dourados, tudo combinando perfeitamente bem com a cor creme e branco do resto do cômodo. - A pequena ficará aqui.

Se viam agora num ambiente diferente, se a sala apresentava um estilo elegante e limpo, o quarto de Micaela transbordava renda e cores pasteis, como rosa e violeta. Uma cama muito maior do que seu delicado corpo estava encostada numa das paredes, a madeira escura evidentemente contrastava com as cortinas leves do docel, lençóis, fronhas e com as pregas que cobriam os pés da cama.

– É maravilhoso! - Micaela soltara a mão da irmã e correra para o castelo de madeira montado ao lado da cama, os detalhes eram tão delicados e bem feitos quanto os das bonecas com rosto porcelana que estavam arrumadas ao redor dele. - Podemos brincar?

– Mais tarde, minha princesinha. - Sonya estendera a mão, ajudando-a a se levantar. - Perdoe-me, senhora, mas minha irmã e eu realmente precisamos descansar.

– Claro. - Flora, encantada com o jeito de Sonya com a mais nova, fizera uma pequena messura antes de caminhar até a saída. - Espero que tenham uma boa noite de sono, senhoritas.

– Obrigada e obrigada por ter nos mostrado o caminho. - Sonya sorrira uma vez mais, antes de fechar a porta lentamente. - O que acha de um banho?

– Depois brincaremos com as bonecas? - perguntara a garotinha, esperançosa.

– Claro. - a jovem acariciara o rosto de Micaela, ajudando-a a desabotoar o vestido em seguida.


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