Rosas, sangue e casamento. escrita por Giovana Machado


Capítulo 3
Capítulo 3 - Rosas, sangue e casamento.


Notas iniciais do capítulo

Bem, gente, gostaria de pedir sinceras desculpas por ficar ausente por tanto tempo, mas aqui estou eu, com um capítulo novinho em folha para vocês. Espero que gostem, beijinhos!



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Ao todo foram três dias até a cidade portuária de Cálcavo, três entediantes dias repletos de fadigas pelo sacolejar da carruagem, conversas sobre qual seria a moda atual da Europa e o que as moças usariam em seu primeiro dia em Medley.

Sonya, apesar de cansada, não poderia deixar de notar o contraste da paisagem ao pôr do sol, nunca vira nada parecido em sua vida na mansão, que era praticamente coberta de neve durante a maior parte do ano. Ali não, o gelo estava quase todo derretido, formando grandes poças de lama que tentaram Micaela a descer e brincar na terra.

– Ficou louca? Vai sujar seu vestido, irmãzinha. - Lucy ralhara com a pequena, arrebitando seu nariz. - Uma dama nunca deve se sujeitar a esse tipo de comportamento. Imagine só se Olena a visse imunda? Oh, não quero nem pensar!

Micaela encolhera-se no assento, os olhinhos molhados pelas lágrimas não derramadas.

– Sabe, querida, ouvi dizer que a escola tem uns jardins magníficos. O que acha de brincarmos entre as flores assim que chegarmos lá? - Sonya apertara a mão dela, sorrindo com ternura.

– Está bem. - murmurara Micaela, como num miado de um gatinho.

– Você não devia incentivá-la a fazer essas coisas. - dissera Carmen, concentrada em suas cartas. - Sonya, olhe! Estou para ganhar toda a coleção de fitas para cabelo de Lucy!

A mais velha apenas as ignorara, voltando a observar a estrada, com os braços apoiados na janela, o sol já havia partido e em seu lugar uma fina garoa tomava conta do horizonte, onde uma longa faixa azul acinzentado começava a se formar.

Sonya nunca havia visto o mar, apenas imaginava como seria pelos relatos dos tantos livros que lêra na biblioteca do pai e mesmo cinza e revolto pela tempestade, não deixava de ser menos curioso.

– É impressionante! - seus lábios abriram-se em um perfeito "O" ao avistar a estrutura completa, toda trabalhada em madeira e com detalhes tão perfeitos que amoleceriam até o mais duro coração. - The Passanger. Muito adequado, não?

– Muito velho, ouso dizer. - só que Lucy não possuía um coração duro e sim uma pedra no lugar dele. - Não me surpreenderia se isso afundasse com todas nós dentro.

– Ela só está brincando. - Sonya abraçara Micaela protetoramente, estreitando os olhos azuis para a outra irmã. - Pare de importuná-la, Luciana, já basta de seus comentários.

– Meu compromisso é com a verdade, apenas isso. - ela dera de ombros bem no momento em que a carruagem parava numa estreita estrada de tijolos próxima ao porto. - Vamos, minhas pernas precisam se movimentar depois de tanto tempo sentada.

O mesmo homem que as ajudara a subir, tomara cada uma pela mão, fazendo uma messura enquanto estas saíam da carruagem, os vestidos pareciam amassados e os cabelos levemente desarrumados.

Exceto Sonya, que mantinha-se perfeitamente alinhada a todo momento, não importava a ocasião, o que causava grande inveja ás outras irmãs e admiração á Micaela.

Duas cabines haviam sido reservadas no The Passanger e a maior delas havia sido destinada á mais velha, mas depois de tanto argumentar que suas roupas não caberiam no armário da outra, Sonya cedera o quarto que dividiria com Micaela para Lucy, que sorria contente ao caminhar pelo corredor com Carmen.

– Me contaria uma história? - depois de um relaxante banho quente, a pequena já estava vestida com uma confortável camisola branca de algodão e mordiscava alguns biscoitos de avelã enquanto Sonya escovava seus cabelos.

– Para você até cem histórias, minha querida. - sorrira Sonya, pegando de uma caixa uma bonita presilha de ouro. - Você está linda, minha flor. Mas diga-me, qual história prefere?

O quarto vez ou outra balançava, fazendo com que objetos caíssem da mesa de cabeceira, mas isso era normal, o mar estava muito revolto e as ondas chocavam-se contra o casco do navio com muita violência.

– Não sei. - a menina dera de ombros, aconchegando-se no abraço da irmã. - Por que você não escolhe dessa vez?

– Está bem, deixe-me ver... - Sonya levantara os olhos para o teto da cabine, fingindo pensar. Já sabia perfeitamente qual seria a história. - Por que não tiramos proveito da situação em que estamos e imaginamos o fundo do oceano?

– Ótimo! - Micaela apanhara mais alguns biscoitos da bandeja e pusera-se a ouvir a voz de Sonya atentamente, de longe de todas as suas meias irmãs, aquela era sua favorita.

Sua preciosa amiga de olhos claros sempre estivera ao seu lado desde o seu nascimento, cuidando dela como se fosse uma segunda mãe e era exatamente assim que se sentia com Sonya, como uma filha rodeada de amor.

– Era uma vez... - a jovem pegara um dos castiçais e aproximara a vela acesa bem perto. - Um sol glorioso, todos os dias ele pairava acima do céu e pequenas nuvens saíam de sua boca. Era sua obrigação fornecer luz e energia à todas as criaturas da Terra e ele o fazia com grande satisfação, lançando raios e mais raios para todas as direções.

A cena desenvolvia-se com clareza na mente da pequena, quase podia tocar aquele sol, sentir o seu calor e a maciez das nuvens, como se um pequeno teatro de cristais se desenvolvesse sobre os lençóis da cama.

– Contudo, havia um lugar que nunca recebia sua atenção, um vasto cobertor azul que cobria quase tudo em seu caminho, com escuridão e mistérios em seu interior. O sol, determinado à preencher aquilo de luz, enviou sua mais forte rajada de raios e um a um, eles foram se apagando assim que entravam em contato com a água negra. E foi assim de novo e de novo e de novo e de novo e de novo, até que o sol quase esgotara suas energias, gastara metade dos seus raios levando luz e calor às criaturas da Terra e a outra metade, o mar revolto ricocheteara para longe.

– E agora? Como conseguiria iluminar o local que estava inclinado à receber escuridão e apenas isso?, o sol se perguntava várias e várias vezes, até que decidira por dar seu golpe final, se isso falhasse, mais nada poderia fazer por aquela imensidão revolta. Recorrendo à toda a sua força interior, o sol liberara uma chama, uma única chama, mais reluzente que todas as estrelas juntas e enviara para o mar, que, ao contrário do que ele esperava, acolheu-a com ternura, deixando-se iluminar completamente.

– Aquilo fora como um sopro de vida para todo o conteúdo abaixo da linha do horizonte, peixes saíram de suas tocas, ostras abriram suas conchas, refletindo a luz das chamas nos olhos das criaturas, dando-lhes a dádiva da visão e o mar nunca mais foi o mesmo.

– Mas toda ação, implica uma reação, o sol, que antes erguia-se magnífico, teve suas forças enfraquecidas, necessitava de um descanço e como os outros, recolhera-se para dormir entre as montanhas à oeste, para então acordar, cheio de energia novamente, à leste.

– Isso foi incrível! - a garotinha batia palmas, seus cachos balançando com sua empolgação. - Mas acho que entendi porque os primeiros raios que o sol enviou não funcionaram.

– E por que não? - Sonya acariciara a bochecha de Micaela com um sorriso.

– Porque ele recorreu à raiva, tecnicamente o sol atacou o mar escuro com brutalidade, por isso não conseguiu nenhum resultado. Mas a partir do momento em que a sua chama vinha como uma amiga, o mar a recebeu com carinho, como você mesma disse.

– Isso, minha jóia. - pegou uma mecha do cabelo castanho entre os dedos, enrolando-a. - Mas agora vamos dormir, o seu sol também precisa repor as energias, se não, como vamos brincar amanhã? - rira Sonya, embalando a irmã com uma tranquila canção de ninar. - Boa noite, meu peixinho.

Alguns dias também foram gastos no navio, só que estes eram um pouco menos massantes, de manhã tomavam seu desjejum na cabine e em seguida partiam para uma caminhada pelo convés, admirando o horizonte verde azulado e contando gaivotas. À tarde o almoço era servido no salão principal e divertiam-se muito com os olhares que as irmãs trocavam com os senhores ricos e bem apessoados da mesa ao lado, para depois descansarem ou, no caso de Sonya, recostar-se numa poltrona e ler um bom livro, bordar ou idealizar um novo penteado elaborado.

Uma coisa era certa, não deixariam de ver o luxo por onde quer que passassem, as cabines e quartos eram decoradas com requinte e muito bom gosto, camas com dosséis e cortinas transparentes, armários e aparadores de madeira de carvalho, castiçais de prata e tudo mais.

Micaela divertia-se muito ali, mas o ponto alto era chegar ao final do dia apenas para poder ouvir aquelas tão conhecidas palavras "Era uma vez..." seguidas das histórias da irmã, todas sempre muito criativas e por mais tristes ou aterrorizantes que fossem, tinham um final feliz.

– Terra à vista! - surpreenderam-se com o grito de um dos marinheiros, avisando que já haviam chegado ao seu destino, tão longe de casa e de sua família. - Estamos prontos para atracar, capitão!

A cidade com certeza não era nada parecida com sua fria terra natal, dormia silenciosa em meio à vales verdejantes, montanhas tão sombrias, mas ao mesmo tempo tão misteriosas e convidativas à uma escalada, no topo de uma delas, um castelo erguia-se magnânimo, como um deus sentado em seu trono repleto de torres e bandeiras. Sonya perguntava-se o que teria escondido ali, de baixo de sua estrutura.

– Meninas, meninas! - uma senhora rechonchuda acenava freneticamente com um lenço, seu vestido cinza escuro lhe apertava o busto avantajado, fazendo seus seios quase pularem para fora e descia em cascata por suas curtas pernas. - É tão bom ver que chegaram sãs e salvas! Como foi a viagem?

– Bagunçada. - pronunciara-se Lucy. - Todo aquele movimento do navio me dava muitas náuseas, por Deus, ainda estou enjoada! - a moça levava uma toalhinha de algodão à boca, com uma expressão não muito boa.

– Bem, já vai passar, tenho certeza que depois de uma boa refeição e um banho, estarão novinhas em folha! - aquela pequena mulher exalava animação e bom humor e Sonya decidira que gostava dela. - Mas olha a minha educação, nem me apresentei! Me chamo Floretta, mas por favor, me chamem de Flora, sou a governanta de Medley. A diretora me enviou para buscá-las assim que recebeu a sua carta, mademoiselle Nikolaiov. - Flora curvara-se perante Sonya, que correspondera ao cumprimento com o mesmo entusiasmo. - Uma carruagem nos levará até a parte acoplada ao castelo, espero que não se importem por mais algumas horas sentadas.

– Certamente... - começara Lucy, mas recebera um cutucão de Sonya, o que, se fosse visto pelas damas da alta sociedade, seria considerado um ato de extrema indelicadeza.

– É claro que não nos importaremos, madame, mas se me permite perguntar, a escola Medley fica dentro do castelo? Aquele castelo? - Sonya virara a cabeça levemente para o lado norte da cidade, onde as nuvens quase cobriam a mais alta torre.

– Sim, já tem muitos anos que Medley funciona dentro dos domínios do rei, em áreas separadas, obviamente, as meninas precisam de sua privacidade, mas assim torna-se mais fácil o acesso entre a escola e o castelo para os bailes. - a senhora direcionara um pequeno sorriso na direção delas. - É magnífico! Vão ver.

Assim como Flora dissera, uma carruagem as esperava no início do porto, vários outros navios e embarcações, tão grandes como o The Passanger estavam acoradas juntas e marinheiros saltavam, gritavam e riam uns com os outros, silenciando-se quase que imediatamente assim que avistavam as belas beldades estrangeiras e seus criados ou melhor, os criados de Medley, carregando seus enormes e trabalhados baús e bagagens.

Qualquer mulher se intimidaria se fosse alvo daqueles olhares de cobiça, de desejo, mas não fora assim com Luciana e Carmen, as jovens empinavam seus narizes e seguiam eretas, abanando-se com seus leques rendados. Sonya prendia uma gargalhada entre os lábios, observando suas irmãs e segurando firmemente a mão de Micaela, que carregava sua inseparável boneca.


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Notas finais do capítulo

Continuo?...



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