Solavancos, solavancos pareciam ser tudo que aquela estreita faixa de terra que compunham a estrada em meio as enormes florestas do norte da Inglaterra parecia ter, o sol estava praticamente oculto pelas densas nuvens resultando em um dia nublado, algo quase rotineiro, as árvores ao lado de fora pareciam acompanhar nossos passos, tendo suas folhas chacoalhadas pelo vento, a carruagem real era cercada por vários soldados, usando trajes formais e capas luxuosas, a frente de todos eles estava Dmitrei, em um enorme corcel, bastante irritado por ter sido forcado a passar todo esse tempo sob o desconfortável dorso do animal, aquele pensamente fez com que uma pontada de alegria me atingisse, e um sorriso maldoso brotasse em meus lábios. Eu batia meus dedos sob o vestido em busca de algo que me distraísse durante todo aquele percurso.

A viagem era bastante desconfortável e até mesmo solitária, os pensamentos lutavam em minha mente, tinha medo do que iria enfrentar tinha medo daquele que Dmitrei escolhera para ser meu noivo, tinha medo do que Dmitrei faria com o meu povo assim que eu fosse uma peca fora em seu tabuleiro, tinha medo do que aconteceria a minha querida Siobhan, que me criara com todo o carinho que só uma mãe poderia fornecer medo, essa palavra ecoou em minha mente fazendo meu coração se apertar.

–O que eu faço agora...? – murmurei para mim mesma enquanto levava minha mão ao peito e tentava conter minhas lágrimas, Dmitrei jamais me veria chorar, eu não lhe daria esse prazer.

Nosso percurso continuava lento e bastante cansativo, eu parecia estar sendo levada para a forca, parecia que seria torturada por todas as armas criadas com esse propósito, eu parecia estar sendo conduzida para a morte e me perguntava se esse não era realmente o propósito dessa viagem, pois com esse casamento forcado todos os meus sonhos pareciam estar se desfazendo aos poucos, perdendo seu brilho. Olhei para o lado de fora, me perguntava se não poderia haver uma maneira, algo que impedisse a nossa jornada, algum bandido que quisesse sequestrar a princesa... Até que algo me ocorreu.

–Parem a carruagem... – eu pedi decidida e logo pude a sentir reduzir a sua velocidade e os cavaleiros assumirem seus postos, um homem gorducho desceu desajeitado e abriu a porta para mim, estendendo a sua mão para que eu usasse de apoio.

Dmitrei se aproximou em seu cavalo, parando a minha frente e me lançando um olhar nada agradável, quase como se previsse que eu pretendia fazer algo bastante inconsequente.

–Algo errado minha querida> - ele perguntou falsamente.

–Sim... – falei irritada e petulante, tal tom que sempre era direcionado apenas para o meu querido tutor. – É uma longa viagem, preciso esticar minhas pernas e tenho quase certeza que os animais necessitam de um pouco de água, assim como os meus cavaleiros precisam de um descanso.

Ele me olhava pensativo, como se relutasse em aceitar que eu apenas buscava ser gentil, não com tudo que estava acontecendo.

–Ouviram a princesa. – ele disse somente, dando ordens para que seus homens pudessem em fim descansar. – E o que farás nesse pouco tempo meu bem?

–Irei caminhar, sim? – perguntei lançando a ele um simples olhar que indicava que eu só buscava ser gentil não atender a suas ordens.

–Pela floresta? – ele me perguntou confuso enquanto alisava sua barbicha.

Eu assenti apenas e lhe dei as costas, porém pude sentir suas mãos em meu ombro, impedindo-me de continuar.

–Então leve um de meus guardas com a senhorita... Sabes como essas florestas podem ser perigosas, bandidos, assassinos, imaginem o que eles não fariam com a princesa.

–Seria bobagem acreditar em tanta sorte... – falei em um sussurro.

–O que disse? – ele me perguntou, mas uma parte de mim acreditava que ele queria que algo assim acontecesse.

–Que não será necessário. – eu disse. – seus homens estão exaustos, não precisam me acompanhar.

–Eu insisto... – ele disse fazendo sinal para um de seus cavaleiros, que logo pegou a espada e já estava pronto para se postar a meu lado quando eu o impedi.

–Não... – falei, fazendo com que o guarda parasse quase que imediatamente. – eu irei com ele. – apontei o homem gorducho e baixinho que guiava minha carruagem, o cocheiro, ele em meio a todos os fortes soldados, olhou-me assustado, implorando silenciosamente que eu não o escolhesse.

–Ele? – Dmitrei falou com certo desprezo. – ele não saberá defende-la, insisto que Graham a acompanhe...

–Insistes em vão, sei muito bem cuidar de mim, e sei também que ele não deixará que nada aconteça a mim.

O cocheiro levantou meio que a contragosto e começou ame seguir enquanto eu caminhava a beira da estrada, cada vez mais me aproximando da mata, ele tirou seu punhal da bainha de seu cinto e ficou atento a todo e qualquer movimento entra as árvores, enquanto caminhava eu me desfiz de meus sapatos, deixando-os pelo caminho, algo que ele nem ao menos notara, não tomado por todo aquele medo. Então comecei aos poucos a desabotoar meu vestido, o abrindo lentamente e fazendo o homem lançar seu olhar para mim. O tirei deixando que ele caísse pelo meu corpo, ficando apenas com meu espartilho e um vestido branco que Siobhan insistira para que eu colocasse por baixo.

–Alteza...? – ele falava com sua voz entrecortada. – Mas o que?

–Espero que não se incomode... – falei virando em direção a ele, que me olhava com a boca aberta, segui em sua direção e enquanto caminhava peguei uma pedra e a escondi entre minhas mãos. – Mas... – toquei seu rosto e então o atingi com a pedra, fazendo com que ele caísse inconsciente a meus pés, enquanto eu pegava seu punhal. –Mas eu não conseguiria correr com todas aquelas roupas...

Falei enquanto corria sem rumo pela mata, sentindo que os galhos das árvores causavam cortes em minha pele. Ninguém iria me pegar novamente, eu me recusava a ser prisioneira mais uma vez.