O sol aos poucos começava a tomar espaço, tingindo o céu de diferentes cores, formando praticamente uma doce aquarela, enquanto os primeiros raios começavam a tocar a verde relva, o vento corria praticamente como uma leve brisa, passando por entre as árvores, fazendo chacoalhar as verdes folhas, a temperatura amena tomava conta de todo o local, assim como o ruído proporcionado pelo calmo rio que corria tão próximo, e a fina chuva começava aos poucos a cair de maneira tranquila, algo bastante comum nas manhãs de inverno inglesa. Aos poucos as pessoas passavam a se levantar e começar a realizar suas tarefas diárias, dando logo vida ao local.

A dor agora parecia apenas uma lembrança ruim da noite passada, embora os verdadeiros acontecimentos continuassem tão vivos em minha mente, eu ainda podia sentir o medo, meu coração acelerado, praticamente pulando do corpete, minha respiração compassada, meus ouvidos latejarem, minha mente se nublar, aquele terrível homem, sua voz, seu cheiro, suas mãos me tocando, sua boca invadindo a minha com tamanha agressividade, tudo ainda parecia permanecer vivo e de maneira tão gritante que não pude impedir abrir meus olhos de maneira imediata e jogar meu corpo bruscamente para frente.

–Ei... Ei... – pude sentir braços fortes me envolverem, fazendo com que eu me debatesse.

–Não, me solte, me solte já. – eu esperneava, enquanto era contida sem qualquer esforço.

–Kate... Kate tudo bem sou eu. – ouvi sua voz doce e aveludada me invadir, olhei para suas lindas obres azuis e logo senti meu coração desacelerar.

–Você? – eu perguntei ainda atordoada, ele aos poucos afrouxou os braços ao meu redor, mas sem me soltar, seu toque era tão diferente, tão mais calmo, tão mais suave, que não conseguia passar pela minha cabeça aquele rapaz me machucando. – O que houve?

–Você foi atacada ontem à noite. – senti meus olhos queimarem diante de sua confirmação, ele imediatamente viu meu estado e limpou as poucas lágrimas que começavam a rolar por minhas vermelhas bochechas de maneira delicada. – Eu consegui chegar a tempo, mas... – ele tocou a regia do meu abdômen, fazendo com que um choque percorresse meu corpo, e a lembrança da dor da noite passada me atingisse. – Você está bem agora.

–Sim eu estou bem. – falei baixo, quase que em um sussurro, conduzindo seus braços para voltar a me abraçar de maneira tão protetora.

Eu não queria soltá-lo, estranhamente com ele eu me sentia bem mais segura, protegida, ele beijou o topo da minha cabeça, tocando levemente os hematomas deixados em meu braço.

–Eu senti tanta raiva, tanta raiva quando eu vi aquele homem. – ele falou deixando em sua fala todo o ódio dele transbordar por entre as palavras, enquanto ele me abraçava ainda mais forte.

–Eu tive tanto medo, tanto medo de que algo acontecesse. – falei soluçando em seus braços.

–Nada aconteceu, nós estamos bem.

Passamos algum tempo assim, abraçados, ouvindo nossos corações baterem juntos, agora bem mais calmos. Senti seus braços ao meu redor ficarem mais tensos, ele se virou para mim e parecia querer compartilhar algo comigo.

–Kate, eu preciso saber, você se lembra? – ele perguntou deixando-me confusa. Do que eu deveria me lembrar?

Estava prestes a questioná-lo quando ouvir barulhos ao lado de fora, logo Lower invadia minha tenda, com um enorme sorriso no rosto.

–Como se sempre Katherina? – ele me perguntou, deixando transparecer toda sua preocupação.

–Bem melhor, obrigada. – falei baixo. – A você também. – falei virando-me para o rapaz.

–Venham, os outros estão preocupados com você. – ele falou animado.

Eu tentei levantar, senti meu abdômen doer novamente, o rapaz se postou a meu lado e me auxiliou a levantar, ele sustentou todo o meu peso, enquanto eu dava passos trêmulos e cambaleantes, ele me conduziu para fora e logo pude ver todos voltarem seus olhares para nós, demonstrando toda sua preocupação e carinho, mas todo o momento fora interrompido pelo som de cavalos, que estavam cada vez mais próximos.