A manhã em SantaRossa começou fria, mas o frio não atrapalharia meus planos.

Decidida fui até o museu encontrar Enzo que me recebeu feliz por me ver bem.

–Você não veio sozinha não é? - ele questionou preocupado.

–Não, o motorista do casarão veio comigo.

–E então, ao que posso ser útil? - ele questionou suave.

–Quero saber se esse diário é verdadeiro. - disse lhe entregando o livro.

–Não me diga que é o que eu acho que é.

–É.

–Águida, isso é ...- ele sussurrou maravilhado. - Esse diário é o tesouro da cidade.

–Um tesouro que quase me matou Enzo. Todos acham que sou como a “continuação” da Águida de 1738, mas não sou. Eu sou outra pessoa e não vou permitir que me manipulem. Nem você e nem ninguém dessa cidade. - disse furiosa.

–Jamais tentei te manipular Águida, nosso avô disse que você morreu para protegê-la dessa crendice toda. Miguel passou anos fora só para fugir disso tudo. Nunca entendi por que vovô anunciou sua morte e quando ele morreu a trouxe para cá.

–Grande bisavô. Quando meus pais morreram eu fiquei sozinha. Onde ele estava quando precisei dele?!- gritei furiosa enquanto pegava o diário de suas mãos e me encaminhava para a saída.

–Águida, espere. - Enzo pediu abrindo uma gaveta antes de vir até mim com um papel dobrado.

–O que é isso?

–Vovô deixou isso para você, talvez ela explique algo. - ele disse sem jeito enquanto me dava o papel.

Receosa peguei o papel e sai dali.

Sei que era arriscado para mim, mas decide andar um pouco para esfriar a cabeça e tomar coragem para ler a carta.

Não podia deixar que me usassem como usaram a outra. Podíamos ter o mesmo nome mais éramos diferentes.

Frustrada e furiosa me sentei em um dos bancos da praça que ficava de frente para a fonte dos desejos de SantaRossa.

Respirei fundo antes de abrir a carta que estava endereçada a mim.

“Querida Águida,

Sei que agora você deve estar uma linda mulher.

Uma linda mulher confusa por não saber em quem confiar e a culpa disso tudo é nossa, minha e de seus pais por tentar protege-la de um passado cheio de dor dos nossos ancestrais.

Seu pai sempre soube que tinha o gene portador para trazer a “copia” de nossa ancestral, mas ele jamais quis ter filhos e isso mudou assim que ele conheceu sua mãe. Mas assim que você nasceu e recebeu o nome da família a vimos crescer a cada dia se tornando mais parecida com sua ancestral, assim como o filho de Daniele Valentini.

Desesperado para evitar o pior, disse aos seus pais para tirarem você daqui por que algo me dizia que você estava fadada a repetir os erros de minha ancestral.

E não suportaria ver minha amada bisneta tão pequena agora, morrer por um amor que só trouxe desgraça para todos.

Não confie em ninguém Águida, se proteja ao máximo e evite a todo custo se aproximar de Miguel Valentini porque tal aproximação trará sua morte como trouxe a sua ancestral.

Estarei torcendo por você para que seja feliz e viva muito mais que Rosalinda pode viver.

Do homem que fez de tudo para protege-la de uma sina cruel, do bisavô que ama sua neta mais que tudo no mundo.

R. D.”

Eu estava em choque.

O que ele queria dizer com aquela carta?

–Achei que você havia me prometido que não andaria por ai sozinha. - ouvi Miguel dizer atrás de mim e o pare de respirar. As palavras ainda recentes de meu avô rondavam a minha mente.

–Águida, o que houve? - Miguel questionou enquanto eu ainda olhava para a carta.

–Houve que não posso confiar em ninguém aqui. - disse sem vê-lo.

–Isso não é verdade, pode confiar em mim.

Respirei fundo antes de me levantar e virara para vê-lo.

–Será mesmo?

–Eu jamais magoaria você. - ele jurou sério.

A carta do meu avô rondava em minha cabeça me fazendo ficar zonza e confusa.

Não confie em ninguém Águida…

Evite a todo custo se aproximar de Miguel Valentini....

Tal aproximação trará sua morte....

–Não tenho certeza disso. Nós dois nos odiamos desde que nos vimos, agradeço a você por ter me ajudado quando precisei, mas continuo não confiando em você. - disse sem vê-lo.

Iria afastá-lo de mim a todo custo.

–Mas no Maurizio você confia. - Miguel disse com ciúme e virei para vê-lo.

–Isso é ridículo! Você não tem motivo algum para sentir ciúmes de mim. - disse furiosa. - E pare de me olhar desse jeito, estamos parecendo um casal, o que é ridículo.

–Se fossemos um casal eu não precisaria sentir ciúmes de você. Por que depois de me conhecer, você nunca mais iria querer outro. - ele disse sério e ri.

–Que coisa mais machista. - disse indignada.

–Não é machista, Maurizio é um crápula e você sabe disso, afinal seu último encontro não foi dos melhores. - ele disse furioso.

–Você é um invejoso e egoísta, nem sei por que fui pedir ajuda para você. Pode se sentir desobrigado a me ajudar, posso me virar sozinha. - disse com raiva enquanto o deixava sozinho.

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–Eu o odeio tanto Karen. - disse com raiva assim que cheguei em casa e contei tudo a ela.

–Isso está me cheirando a desejo e amor reprimido.

–O único cheiro que sinto é de morte e vingança. E além do mais Karen você leu a carta o meu bisavô Miguel significa minha morte.

–Isso é crendice.

–Vai dizer isso para a outra.

–Águida deixa de ser cabeça dura, esquece isso. Seus pais e seu avô fizeram o que fizeram por que foram criados nessa crendice toda, já você não foi. - ela disse seria enquanto me andar de um lado para o outro no quarto.

–E se isso for verdade?

–E se não for verdade?

–Tudo que sei é que a última mulher que tinha meu nome se envolveu com um homem que tinha o nome dele e acabou morta e não quero isso pra mim.

–Há amiga, não desiste não, sei que Miguel gosta de você.

–Já chega Karen, vou seguir o conselho do meu avô e me manter longe de Miguel Valentini.