Ignored escrita por The Corsarian


Capítulo 23
Minhas Últimas Palavras


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente!!
Bem, esse é o último capítulo. Demorou mas chegou. Enfim, espero que tenham gostado da Fanfic :3
Enjoy ;)



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Acordei e soube exatamente o que havia acontecido. Tudo estava gravado em minha memória, mesmo os meus sonhos de quando eu estava apagada. Abri os olhos para encarar o teto alvo com uma lâmpada bonita que iluminava o recinto. Eu podia sentir algo preso em meu braço e saber que eu estava nua embaixo da camisola do hospital. Uma coberta fina cobria meu corpo até os ombros, e meus pés estavam envolvidos por meias quentes e confortáveis.

Eu me sentia normal. Nenhuma alteração, como dor de cabeça ou tontura, e pude me sentar na cama normalmente. Passei as mãos por meus cabelos, sentindo-os curtos e sentindo saudades dos longos cachos que eu tinha. Olhei para minhas mãos, e as vi num tom corado e saudável, o que me dizia que eu não tinha ficado muito tempo no hospital.

Senti fome e tentei chamar alguma enfermeira, mas minha língua estava mole na boca, e eu não conseguia dizer nada. Então apenas fiquei parada, esperando alguém aparecer.

Uns 20 minutos depois uma enfermeira no quarto. Quando ela me viu sentada ela sorriu e andou até mim.

— Está se sentindo bem, Senhorita Banks? — Indagou ela suavemente. Tentei falar, mas novamente senti minha língua mole então apenas assenti novamente.

Ela sorriu gentilmente para mim, e se aproximou, ajustando algo em meu soro, ajeitando a coberta sobre meu corpo, checando o meu pulso e a minha temperatura. Então ela sorriu mais uma vez para mim.

— Está com fome, Senhorita Banks?

Novamente, assenti.

— Tudo bem. Aguarde aqui e irei lhe trazer algo para comer. — Ela ia sair, mas logo se lembrou de algo e se virou. — E a Senhorita tem uma visita. Posso deixá-lo entrar?

Pensando que seria Dicent, novamente afirmei com a cabeça, sentindo-me frustrada por não poder proferir nem ao menos uma palavra. A enfermeira concordou e saiu apressada.

Alguns minutos depois, Dicent entra em meu quarto, com uma bandeja de sopa nas mãos. Gemi de desgosto ao notar que aquela era a minha comida. Meu estômago gritava por algo mais consistente como pão ou frutas, mas pelo jeito eu teria que me alimentar somente de caldo mesmo.

Dicent sentou-se silenciosamente na cadeira ao meu lado, e logo equilibrou a bandeja sobre minhas coxas. Levantei a mão para pegar a colher, mas logo percebi que esta tremia demais. Todo o caldo cairia se eu pegasse a colher. Olhei para Dicent com o olhar suplicante e ele logo se prontificou a pegar a sopa da bandeja, tirar uma colher generosa de caldo dali, assoprá-la e colocá-la em minha boca.

Agradeci com a cabeça por isso.

— Não é nada — Ele respondeu simplesmente, pegando outra colher.

Tentei falar novamente, mas minha língua ainda estava amolecida, e os sons que saíram de minha boca não chegavam nem perto de palavras. Eu queria tanto perguntar quanto tempo eu estava apagada. Suspirei e olhei para Dicent, que estendia outra colher para mim.

Coloquei o caldo na boca, e engoli com dificuldade, a língua mole dificultando o processo.

— Está apagada há três dias. Todos na Capital estão loucos por mais informações. Seu irmão e aquela sua mentora aparecem aqui direto — Ele disse enquanto esfriava a colher para mim. Arregalei os olhos, mas Dicent continuou como se estivesse falando do tempo. — Sua mãe é que está te tratando. Ela é uma ótima médica. Disse que você não tem nada grave, e que foi algo como stress e falta de nutrição que causou seu desmaio. Seu pai e sua irmã nem apareceram por aqui.

Resmunguei algo ininteligível e abocanhei mais uma colher de caldo, querendo que todos se explodissem. Pensei que ao menos meu pai teria a decência de se importar, mas pelo visto, não. Dicent olhou para mim, e pela primeira vez percebi as olheiras embaixo de seus olhos, soube na hora que ele tinha dormido no hospital durante os três dias em que estive apagada. Sorri por isso.

Dicent continuou me encarando, enquanto terminava de me dar a sopa. Meu estômago estremeceu aliviado por receber comida, e logo que terminei minha refeição senti sede.

Tentei falar de novo, mas nada além de grunhidos escaparam de mim. Suspirei irritada.

— Quer água? — Indagou Dicent com gentileza.

Fiz que sim com a cabeça.

Ele saiu do quarto e segundos depois voltou com um copo de água. Ele colocou-o em minhas mãos, mas de novo, estas tremeram tanto a ponto de derrubar a água de seu recipiente. Então ele fez o favor de segurar o copo e virá-lo em meus lábios com cuidado. Novamente engoli com dificuldade, a língua mole.

Depois que terminei de beber, Dicent pousou o copo sobre o criado-mudo. Novamente ele se sentou em sua cadeira, e me fitou.

Novamente tentei falar. O que quer que fazia minha língua amolecer, estava perdendo seu efeito, consegui gaguejar algumas palavras, com a voz fraca e rouca.

— O... Q-que...Capital...Quer?

Ele me olhou com atenção por alguns segundos, como se estivesse surpreso por eu falar. Encarei-o de volta. Dicent suspirou.

— Nada em particular. Só ficaram sabendo que você apagou, e logo se jogaram em cima de você como um enxame, tentando sugar qualquer informação de qualquer pessoa. Tanto que até estão supondo a sua morte.

Eu consegui rir fraco.

— Não...Morro...T-tão...Fác-cil — Gaguejei, fazendo Dicent sorrir.

Sorri de volta.

Eu estava pronta para gaguejar novas palavras, quando a porta do quarto foi aberta, e por ela entrou minha mãe.

Pode parecer estranho, mas eu nunca vi minha mãe em traje casual. Apenas no bom e velho traje de trabalho. Roupas brancas, um jaleco branco por cima, os cabelos loiros presos, um óculos equilibrado em seu nariz severamente reto, com olhos cor de mel brilhando inteligentes atrás dele.

Ela carregava uma prancheta, e andou até meu lado na cama, avaliando-me com os olhos cuidadosos. Lançou um breve olhar para Dicent, que entendeu o recado e saiu do quarto.

Minha mãe não disse nada. Apenas checou meu pulso, minha temperatura, checou o soro que entrava em minha veia, analisou meu corpo e apalpou em lugares inconvenientes. E em nenhum momento proferiu uma palavra sequer. Seus lábios rosados permaneceram fechados.

Cansei-me daquilo, então limpei a garganta e falei:

— Oque...Eu t-tenho?

Minha mãe me olhou com cautela. Lançou um olhar breve para a prancheta, e novamente checou meu pulso, sem me responder. Eu estava prestes a falar de novo, quando ela pousou a prancheta e me encarou, baixando os óculos.

— É o que estou tentando descobrir — Ela jogou então uma pasta para mim. Minhas mãos se nivelaram o suficiente para eu abri-la. Olhei para os papéis ali, e todos pareciam ser exames. O que isso significa? O que você está vendo são os exames que eu pedi para você enquanto estava inconsciente. Todos foram inconclusivos. Você estava perfeitamente normal, sem alterações, você não tem nada. Porém apagou, assim, de repente. Por três dias... — Minha mãe suspirou, e olhou para os exames. Então remexeu as folhas até chegar em uma folha grossa e amarela. Ela colocou-a sobre todas as outras. — Mas...Fizemos alguns exames com relação a sua atividade cerebral, e houve uma grande atividade cerebral. Sonhos. Muitos deles. Em excesso. Tantos que provavelmente não se lembra da metade deles.

Ela fez uma pausa, esfregando a testa, como se isso fosse uma coisa complicada de se lidar. Eu não entendia. Eu sabia que era provável eu ter mais sonhos dos quais eu me lembro, mas não sabia que isso era uma coisa estranha.

Encarei-a, deixando bem claro que eu não entendi.

Ela suspirou, e novamente esfregou a testa.

— Era como se você estivesse dormindo. Simplesmente dormindo por três dias. Mas também houve outra coisa nesses exames de atividade cerebral. Dor física. Mas sei que você não bateu a cabeça, e também que acabou de chegar. Os médicos da Capital não podem ter feito isso, são muito habilidosos no que fazem. Eu não entendo.

Ela me encarou, como se estivesse fazendo uma pergunta. Dei de ombros. Eu não entendia nada de medicina, nem adiantava me perguntar.

Minha mãe suspirou e novamente esfregou a testa. Então balançou a cabeça, juntou os exames e saiu. Alguns minutos Aank entra no quarto, um sorriso aliviado.

— Você nos assustou garota.

Sorri de volta, e retribuí o abraço que meu irmão me deu. Forcei as palavras a saírem de minha boca:

— Eu sou a melhor nessa coisa de assustar.

….

Alguns dias depois eu saí do hospital, e deu que eu havia desmaiado de exaustão. Apenas isso. Comecei a morar em minha nova casa com Dicent, e dois anos se passaram sem que houvesse outro incidente como aquele.

Como eu e Dicent sempre fomos muito ligados, e começamos a morar juntos, foi inevitável que nos apaixonássemos, e foi questão de meses para nos casarmos. O que foi um alívio para mim. Dicent era a única luz em minha vida, em meio ao inferno que eram minhas visitas constantes à Capital, e a minha merda de profissão como mentora.

Ele insistia em querer ter filhos, mas eu estava em uma espécie de trauma. Nunca que eu poria alguém no mundo com o risco de ele passar o mesmo que eu passei um dia. E eu mantive minha palavra até o último segundo possível. Mas acidentes acontecem, e em um destes, nasceu Nihar, o adorável garoto de olhos verdes e cabelos castanhos.

Eu fiquei feliz com seu nascimento, e ele se tornou outra fonte de luz para mim.

Depois dos Jogos eu e Andrea viramos melhores amigas, assim como fiquei amiga de Finnik Odair também. Soube das atrocidades que a Capital fazia com eles, e mais várias outras coisas. Eu vivi um bom e feliz tempo, até as rebeliões começarem.

Já de cara eu soube do Distrito 13, e mandei Dicent e Nihar para lá. É claro que Dicent não aceitou, mas por nosso filho ele foi. Eu queria poder ver o rosto deles mais uma única vez.

Eu, Andrea e Aank começamos uma rebelião. Quebramos todas as regras possíveis, e destruímos vários esquemas do Distrito 4 com a Capital. Eu gosto de imaginar que fui útil.

Em um de nossos atos rebeldes, a Capital nos capturou, e fomo usados como exemplos. Colocados no meio da praça, de joelhos, as mãos amarradas atrás de nossos corpos, armas apontadas para nossa cabeça, toda a população do Distrito a nossa frente.

Eu, minha mentora e meu irmão estávamos de cabeça erguida, orgulhosos de nossos atos. Ou a menos eu tentava transparecer isso.

Mas minha cabeça estava longe do orgulho, estava longe do contentamento. Eu queria ver Nahar crescer. Eu queria ver meu país livre. Eu queria ver Katnnis Everdeen, a garota que nos deu esperança. Eu queria testemunhar a liberdade. Queria ver Dicent envelhecer, queria ver eu mesma envelhecer.

Eu estava olhando para o céu, me lembrando do dia em que minha desgraça começou. O céu estava daquele mesmo modo, e eu estava assim, distante do mesmo modo. Abri um sorriso débil ao imaginar que aquele lugar era o começo e o fim da minha desgraça.

Pensei em mim depois da execução. Provavelmente eu seria jogada em qualquer lugar, ignorada, sem ninguém para chorar por mim. Pensei em Dicent, que me esperava no 13. Pensei em Nahar, que nem ao menos irá se lembrar de mim no futuro. E pensei em como, ironicamente, eu estava naquela desgraça por que não queria ser ignorada, e ali estava eu, na forma mais deplorável da ignoração.

Encarei então as pessoas na praça e pensei se elas se lembrariam de mim. Talvez sim. Talvez não.

Escutei o pronunciamento do prefeito, que dizia que nós três estávamos sendo acusados de traição e toda essa baboseira. Olhei para Aank, e Andrea, que tinham os rostos duros e impassíveis.

Sorri, e pensei em meu último ato de rebelião. Eu não seria esquecida. Não podia ser esquecida.

Abri os lábios antes do prefeito terminar seu discurso, e cantei a velha Canção do Vale. A canção da garotinha Rue. Uma canção que era o auge da rebelião. Todos olharam para mim. Eu senti então a arma encostar em minha cabeça. Sorri, os lábios retorcidos para cima.

Ouvi o clique da arma, e fechei os olhos, sabendo que nunca mais iria abri-los de novo, e que seria escuro para sempre. Mas eu ouvi claramente minhas últimas palavras:

— Direi oi para o Presidente Snow no inferno.


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Notas finais do capítulo

E aiii, pessoal??
Gostaram?
Bom, espero que sim, pois eu amei escrever pra vocês, mesmo que eu tenho demorado um pouquinho com as postagens haha ;P
E eu espero que tenham gostado da história. Não foi um final lá muito feliz, mas eu não consegui imaginar um final feliz para essa história. Sei lá, eu queria drama uahuhaus
Agradeço por todos que acompanharam minha história até o fim, e quero dizer que mesmo eu não respondendo os comentários, eu leio todos e amo cada um deles. Amo cada leitor que tenho, e amo escrever.
Recentemente eu li de uma leitora que a septuagésima edição foi a edição dos Jogos em que a Annie Creta venceu. Desculpem-me, eu não sabia, e mudar os dados para outra edição seria muito difícil para mim. Eu sei que alguns dados estão errados e tudo mais, e me desculpem, eu fiz o melhor que pude, sério.
Enfim, sei que não sou uma das melhores escritoras do mundo, mas eu gostei do resultado da minha história. Espero que vocês também tenham hehe
That's all folks!
Nos vemos em outras fanfics por aí o/
Com amor,
Lady Clarie