Ignored escrita por The Corsarian


Capítulo 16
Vamos Brincar de Matar


Notas iniciais do capítulo

Título psicopata e meio nada a ver, mas deixa isso pra lá.
Agora, meu povo, sabe aquele momento em que a porra fica séria? Esse momento é agora.
MUHAHAHA
Mas como eu sou má, só vamos ver sangue no próximo capítulo ;*
Espero que gostem!!
Enjoy ;)



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De manhã, finalmente, saímos daquele maldito esconderijo. O clima finalmente estava gostoso, com sol e um vento fresco, um dia supostamente perfeito.

Mas eu sabia que os malditos Idealizadores dos Jogos tinham feito aquilo propositalmente, um dia perfeito, ensolarado, maravilhoso e feliz, ou seja, um dia perfeito para assassinatos.

Arrumamos nossas coisas e começamos a caminhar. Meus cabelos já tinham ficado tanto tempo sem chuva, que finalmente estavam enrolados novamente, mas Mallon não pôde ver isso, pois escondi-os debaixo do capuz. Para falar a verdade, eu me escondi sob o capuz, e tentei ao máximo não demonstrar que odiava Mallon com todas as minhas forças.

O efeito da pomada fora realmente milagroso, pois eu já não sentia mais nenhuma dor, e andava normalmente, não sentia nada no ombro ou em qualquer outro machucado antigo meu.

Portanto eu andava sem dificuldades e minha raiva ajudava nisso. Não fazia muito sentido eu e Mallon sairmos andando por aí sem rumo e sem porque, já que o maldito estava me traindo, estava traindo o próprio Distrito. Lancei um olhar frio para ele, que caminhava calmamente ao meu lado.

Eu sempre admirei isso na maioria das pessoas e em mim, o fato de mentirmos tão bem. Qualquer pessoa no mundo já teve que mentir alguma vez, e mesmo que alguém não seja bom em mentir, alguma vez você mente bem, muito bem, a ponto de enganar todos ao seu redor.

Agora eu via com meus próprios olhos um exemplo de perfeito de mentiroso, um cara que sempre mente, que sempre se safa. Um bom jogador no jogo do mundo, assim como eu, um cara que mente muito bem, que possui um olhar gélido que nunca revela nada. De repente me assustei com um fato: eu e Mallon éramos iguais.

Se eu tivesse que parar para pensar bem, não éramos em nenhum ponto diferentes um do outro. Vivemos mentindo, somos frios e gélidos com todos -exceto com alguém em especial- , nos voluntariamos para os Jogos por vontade própria, e agora eu via que nesse momento eu não estava sendo diferente de Mallon: fingindo não saber de nada, pronta para matá-lo a qualquer momento.

Foi quando percebi o porque de eu me sentir atraída por ele. Ele era simplesmente igual a mim, talvez não em todos os sentidos, mas de todos os modos, éramos tão parecidos que chegava a assustar, e eu só percebi isso agora. Lancei-lhe um olhar, e percebi que Mallon olhava-me também. Pensei nos momentos em que tentei decifrar sua expressão impenetrável. E se ele também tivesse feito isso?

Desviei o olhar. De qualquer modo ele ainda ia morrer, nada nunca esteve tão decidido assim antes. Ao menos para mim. Mas eu não queria matá-lo rapidamente, como antes. No momento eu queria fazê-lo sofrer, eu queria vê-lo implorar para eu matá-lo logo, eu queria vê-lo implorar por piedade.

Aquilo soou um pouco maligno, mas logo esqueci isso, ele merecia. E eu sabia disso, talvez sempre soube.

Encarei o chão, tentando não me apressar. Amanhã, no mais tardar.

Hoje. Seria hoje que Mallon avançaria em mim e tentaria me matar. E eu estaria pronta para quando isso acontecesse. Seja qual seja seu plano para me matar, eu o venceria e então Mallon iria cair na própria armadilha.

Balancei a cabeça. Quando foi que me transformei em uma pessoa maligna?

Talvez aquilo estivesse escondido dentro de mim, e só os Jogos conseguiram despertá-lo. Olhei para Mallon, só conseguindo ver um cadáver em seu lugar. Aquilo de algum modo me deixou satisfeita. Agora era difícil acreditar que alguns dias atrás eu estava supostamente perdidamente apaixonada por ele.

Andamos até chegarmos perto de um lago. Nos sentamos ali e bebemos bastante água, e enchemos nossas garrafas. Logo depois tiramos nossas botas e enfiamos nossos pés nus na água fresca. Aquilo era maravilhoso, perfeito, reconfortante. Fazia-me lembrar de casa, e de como era reconfortante estar perto da água.

Lembrei-me de quando eu e Dicent ainda éramos só duas criancinhas que brincavam perto do lago.

"Porque está com essa cara triste?" Certo dia Dicent me perguntou.

"Não estou triste. Só pensando..."

"Pensando em que?" Dicent tinha perguntado todo curioso, sentando-se do meu lado, pronto para escutar uma longa história triste. Lembro-me de ter aberto um enorme sorriso.

"Talvez meus pais não gostem de mim como os seus gostam de você. Você diz que ele morreriam por você, mas hoje meu pai disse que eu não era tão importante quanto eu pensava, que ele nunca se arriscaria por mim... Ele não me ama não é?"

E foi então que me lembrei do que Dicent me disse naquele momento. Ele só tinha dez anos, mas me disse algo importante, algo que me guiou ali, naquele momento.

"Uma vez minha mãe me disse que as pessoas dizem coisas quando estão irritadas. Ela me falou que o que os outros dizem, que as pessoas quando estão bravas falam coisas sem sentido, é mentira. Ela me avisou que quando as pessoas estão chateadas e irritadas elas dizem verdades que são ruins, mas que talvez não incomoda as pessoas, ou qualquer outro. Não vou dizer que seu pai gosta de você. Ele não gosta. Mas ele não se importa, e mesmo não gostando de você, ele ainda, bom, gosta de você."

"Não acho que entendi..." Eu respondi confusa naquele dia, sem realmente entender.

"Eu não gosto da sua trança, nem do seu vestido. Mas gosto de você, porque essas coisas não importam. Minha mãe disse isso. Na verdade, ela diz para escutar quando alguém está irritado, pois escutar as coisas ruins que ele diz pode te ajudar a melhorar, e nunca deixar essa pessoa irritada novamente."

Pessoas irritadas são mais sinceras.

Foi isso que eu entendi aquele dia. Entendi que devemos escutar quem está zangado, pois elas sempre estão certas. Elas nunca mentem. Nem mesmo para si mesmas.

E naquele momento eu olhei para Mallon, sabendo que estava irritada, sabendo que eu estive apaixonada por ele, por um curto período, mas isso não mudava o fato de que eu o odiava. Essa era a verdade, a verdade mais pura e sincera.

Começou a chover, alisando meus cabelos novamente, limpando meu rosto do ódio, me fazendo ficar imediatamente melhor. Ficamos ali, com os pés no lago, em silêncio, até a chuva cessar. Depois que isso aconteceu, voltamos a andar , mais ou menos sem rumo.

Finalmente paramos em um daqueles lugares no labirinto onde havia árvores. Havia um tronco grosso de árvore caído no chão. Sentei-me ali no chão, as costas encostadas no tronco. Mallon me encarou, o olhar revelando algumas de suas intenções comigo, a intenção de me matar, por exemplo, estava bem evidente agora. Abri um sorriso frio.

Então eu entendi, que aquele era o momento, o momento em que Mallon tentaria me matar, o momento em que eu iria enganá-lo, e então eu o mataria.

Mallon puxou sua espada ensanguentada da bainha e apontou-a para mim. Inclinei a cabeça para trás, evitando a ponta da espada, ainda com um sorriso no rosto.

– Veremos por quanto tempo esse seu sorriso vai durar - Disse Mallon calmamente, como se estivesse falando do clima.

– Você não verá mais nada depois de hoje.

– Veremos.

Ele ameaçou encostar a ponta da espada em minha garganta. O meu sorriso ainda estava presente em meu rosto.

Vamos ver quanto tempo esse joguinho iria durar.


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Notas finais do capítulo

Vamos ver quanto tempo esse joguinho vai durar??
Só no próximo capítulo :3
Haha
Quem gostou levanta a mão o//