Voltei para a casa no dia seguinte, depois de exames mais detalhados. Eles não mostraram nada de grave e a única coisa recomendada é descanso e a minha conhecida bombinha de asma.

Ginna me acompanhou no caminho de volta para a casa em seu carro e meu pai não apareceu no hospital, dando a desculpa de ter muito trabalho. Sara foi me visitar e Andrew também, mas eu não o deixei entrar no quarto.

Assim que chegamos em casa deitei em minha cama e fiquei lá, pensando. Andrew, meu irmão. Como isso é possível? Como Julian pode fingir uma morte? E o mais importante, por que ele fez isso?

São tantas duvidas. Se Julian, ou Hamilton, é realmente meu pai porque o homem com quem eu vivi todos esses anos nunca me disse nada? Por que minha mãe não me avisou?

Pensando bem eu sou bem mais parecida com Julian do que com meu “pai”, Richard. Posso jurar que meu nariz é igual o de Julian. Meus cabelos são loiros, como os de Julian. E também como os de Andrew.

Argh! Pare de se perguntar as coisas e pensar besteiras Jane! A única coisa que tem que fazer agora é relaxar, como o medico mandou. Depois você decide o que fazer. Caio no sono com isso na cabeça.

***

Caminho com passos lentos. Não quero chegar ao meu destino, não hoje. Estou sozinha, sinto isso até quando meus amigos estão a minha volta rindo.

– O que aconteceu hein? – Dora para a conversa do grupo olhando diretamente para mim. – Está estranha. Ainda está passando mal por causa da asma?

– Não. – eu exclamo. – É que eu estou com um pouco de sono. O remédio dá isso.

– Ahm... – Ash diz balançando a cabeça, assentindo. É lógico que eles não iriam ligar para a minha desanimação. Eles não sabem o que eu estou passando. – Qual a primeira aula de vocês hoje?

– Inglês. – reclama Justin com uma careta. – Vou ter que enfrentar aquela lenta da Margareth logo de manha cedo. Argh! Que droga!

– Eu tenho Matemática. Quer trocar? – Logan diz para Justin. Mesmo sendo considerado nerd Logan sempre fala que odeia Matemática. Justin nega com a cabeça.

– E você Jane? – quem me pergunta isso é Lírio, quem está apoiada no corpo de Justin, que a abraça de lado. Tenho inveja dela por alguns segundos. Uma vida perfeita, com o namorado perfeito e os amigos perfeitos.

– Convivência Social.

Droga! Eu tinha esquecido completamente que essa era a minha primeira aula! Vou ter que encarar Andrew tão cedo assim?

– Tenho que subir. – eu não escuto as respostas deles. Apenas saio correndo o mais rápido que posso pelos corredores, segurando as lagrimas o máximo que posso.

Chego na frente da sala e logo o vejo. Ele está encostado na batente da porta, lindo como sempre. Camiseta branca apertada, calça jeans preta e boné azul escuro de aba reta com os cabelos loiros bagunçados.

Seus olhos vagam o corredor inteiro, como se estivesse procurando alguém. Logo me vê e sinto aquela mesma sensação de quando descobri que o amava. O choque de adrenalina acontece. As minhas veias estão quase saltando para fora do meu corpo e meu coração não consegue se conter dentro de meu peito.

– Precisamos conversar. – falamos isso ao mesmo tempo. Ele ri um pouco e eu também, mas nada diminui o clima tenso entre nós.

– Vem comigo. – ele puxa a minha mão e entrelaça seus dedos nos meus. Caminhamos pelo lado contrario da sala de Convivência Social, mesmo o horário da aula já estando próximo. Mas eu e ele não estamos ligando para isso nesse momento.

Andy abre uma das portas do corredor e logo estamos em uma sala de aula vazia. Ele tranca a porta quando eu passo em sua frente. Vou até uma das cadeiras e me sento.

– É... – eu faço uma pausa. Não consigo segurar uma lagrima que cai solitária sobre a minha bochecha direita. – É verdade?

– Eu não sei. – Andrew admite se aproximando de mim. Ele se senta na cadeira em minha frente e me olha nos olhos. – Eu só sei de uma coisa, Jane. – Uma pausa. – Eu sei que é tarde para dizer isso. Sei que fui um idiota. Sei que você deve me odiar agora. Mas eu também sei que te amo.

A única coisa que consigo fazer é o olhar incrédula. Depois de tudo isso, de todas as coisas que ouvi, de todas as lagrimas que eu soltei e todas as tristezas que passei. Depois de pensar em todas as soluções, de tentar parar de ama-lo e ter varias noites sem dormir.

– Como pode dizer isso agora? – minha voz sai alta e logo eu me levanto. Andrew faz o mesmo, ficando na minha frente. – Depois de tantas coisas que aconteceram! Depois de saber que somos irmãos!

– Eu não ligo! – ele pega em meus ombros. Nisso, minhas lagrimas já estão correndo pelas bochechas. – Eu quero você! Eu te amo como nunca pensei ter forças para amar alguém! Eu te daria o mundo numa batida do meu coração, eu me jogaria em frente uma bala para ela não te atingir e faria o que fosse necessário para ver um sorriso em seu rosto, Jane Morgan. Eu te amo.

– Para. – peço com a voz fraca. – Para, por favor. Andrew, você sabe que nada que a gente fizer vai resolver isso.

Um silêncio se paira no cômodo. Andy continua com as mãos em meus ombros e em um gesto desesperado me abraça forte. Eu retribuo e choro, choro muito.

– Não quero te perder. – Andrew fala isso durante o abraço, perto do meu ouvido. Ele está chorando. Nunca pensei que veria Andrew Taylor, o cara mais durão que já conheci, chorando.

– Andrew... – me desvencilho de seus braços e o olho em seus olhos molhados. – Preciso que me diga tudo o que sabe sobre Julian.

Ele assente e faz com que eu me sente novamente. Andrew se abaixa em minha frente.

– Na tarde que a gente se conheceu, na praia, foi quando tudo começou. – ele suspira e coloca a mão na testa. – Eu estava com uns amigos jogando vôlei quando recebi uma mensagem do meu pai. Voltei pra casa e ele disse que tinha um acordo para fazer comigo.

– Como assim um acordo?

– O acordo era simples. Eu ganhava o meu Ford Marevick, que era uma coisa que eu sempre quis e, em troca, teria que ficar próximo de você.

– Por que Julian queria isso? – perguntei irritada.

– Eu perguntei isso para ele, mas não tive resposta. Lembro-me até hoje dele me dando a ordem: “Quero ela protegida.”. Deveria ser porque meu pai já sabia que você era filha dele.

– E você aceitou. – conclui desolada.

– Mas eu nunca pensei que você fosse a minha irmã. – ele se explica colocando suas mãos por cima das minhas. – Aceitei porque queria muito meu carro. E aquilo de ficar com você era só um bônus, já que eu sempre te achei linda.

– Então foi tudo um acordo. Você se aproximou de mim por uma droga de acordo?

– Jane... – Andrew coçou a testa e depois me olhou com os olhos marejados. – Lembra quando eu fiz aquela apresentação na aula de Convivência Social? Quando eu disse que não esperava você ser assim? – Eu assinto com a cabeça. – Era verdade. Nunca cogitei a opção de você ser tão... Perfeita.

– Então Julian fez um acordo, pedindo para que você me protegesse e ficasse perto de mim? E você não fazia nem ideia de que eu era a sua irmã? – pergunto mudando de assunto.

– Sim. – ele respondeu um simples “sim”, como se fosse a pergunta mais fácil do mundo. – E agora? O que a gente faz?

– A gente não faz, Andrew. – eu funguei com o nariz e limpei uma lagrima que caia sobre a minha bochecha direita. – Vamos nos amar, mas como irmãos.

– Mas eu não quero... – eu o corto.

– E você realmente acha que eu quero? – ele abaixa a cabeça e eu tiro suas mãos das minhas. – Tenho muitas coisas para resolver agora, Andrew. Preciso falar com o meu pai, com Julian e... Preciso de você do meu lado, mesmo que sendo só assim sem... Você sabe.

Ele agarra a minha mão direita e entrelaça seus dedos nos meus. Andrew não precisava nem responder, sei que contaria com ele para tudo.