Instinto de mãe

Alexia

As gotas de água escorriam pelas janelas da escola. Eu estava flutuando. Eu me senti aliviada por aqueles que considero como amigos, não terem me abandonado.

Você se corta. Por atenção, presumo.

O que a Liz disse não saía da minha cabeça. Eu não me corto por atenção, corto? Será que todos pensam assim? Observei a Liz que sentava do outro lado da sala. Ela rabiscava alguma coisa no caderno. Ela levantou o braço e alguns olharam para ela.

–Posso ir ao banheiro? –O professor Guillian assentiu e voltou a explicar algo sobre Nietzsche. Olhei para porta onde a Liz tinha passado. Levantei o braço e senti vários olhares direcionados para mim. Senti-me desconfortável.

–Posso ir ao banheiro também?

–Espera a Liz voltar.

–Estou enjoada. –Ele suspirou e assentiu. Não arrisquei olhar para sala e passei pela porta e corredores. Ouvi o barulho de descarga. Ela fingiu que não me viu e lavou as mãos. –Desculpa. –Ela revirou os olhos e fechou a torneira. E pegando papel-toalha para enxugar as mãos. E finalmente, se virou para mim e cruzou os braços. –Você me odeia?

–Eu te odeio desde que éramos crianças. –Sua revelação me chocou. Por que ela conversava comigo então? –Eu sempre fui apaixonada por Zac. Nós dois éramos amigos, Alexia. Um dia, você caiu e ralou os joelhos, e você abriu maior chororô. E ao mesmo tempo, que você se machucou e eu tinha contado para ele que eu gostava dele. Sabe o que ele fez? Deixou-me ali e foi atrás de você. Foi ali que eu percebi que ele te amava. Mas você nunca percebeu, só percebeu há três anos, quando começou a gostar dele. Ele te ama há quase 9 anos. Nove anos não é pouco. Há nove anos que eu tenho chamar sua atenção, mas ele só tinha olhos para você. Eu te odeio sabia? –Ela chorava e eu me senti mal por ela. –Depois de vocês dois terem completado 6 meses de namoro, eu fui atrás dele. E eu o beijei. Ele me empurrou e me chamou de vadia. De vadia, Alexia. Eu te odeio muito. Eu te ODEIO COM TODAS AS MINHAS FORÇAS. –Ela gritou chorando e agachou colocando as mãos nos seus cabelos e puxando.

A culpa é minha, não é? Ela está assim por minha culpa é certo? Dei alguns passos para trás.

–Não fuja! –Ela gritou, ficando em pé e puxando meu braço. –Sua vida está uma merda, porque não some? –Por que eu não chorava? Por que eu não falava nada ou eu a empurrava? –Eles vão te abandonar. Seu pai te odeia não é? Seu pai bebe porque não queria que você tivesse nascido. Sua mãe é a mesma coisa, ela só guarda para si. Eu acredito... Que você sumindo, você fará alegria para sua mãe. Vá embora. –Ela sussurrou a última frase. –Deixa o Zac para mim, ele me fará feliz. Eu voltarei ao normal, e eu vou ser sua amiga. E eu te ajudarei Alexia. Você se corta né? Provavelmente, você tem remédios. Estou certa? –Eu não conseguia responder. Eu só queria ouvir o que ela tinha a dizer. –Eu te arranjo mais. Vou ficar ao seu lado querida. Seu pai vai melhorar rapidinho. Ah! O seu irmão.

–Seth?

–Isso, Seth. Você reparou que no dia da festa, ele estava triste? Ele me disse que não gostou da festa. –Seth? Ele tinha falado para ela? Comecei a soluçar, e ela me abraçou. –Não fica assim, tudo vai terminar O.k? –Eu assenti. –Agora pare de chorar. Joga água no seu rosto. Vamos fingir que brigamos e de noite, você vai lá para casa. Não conte para ninguém.

Eu balancei a cabeça. Não contar para ninguém, certo.

***

Yasmim

–Que história é essa, de seu pai é o Ronald? Ele é seu tio, Yasmim. –Papai explodiu passando as mãos no cabelo furiosamente. Ele andava de um lado para o outro enquanto minha mãe observava cada passo seu. –Você está de castigo!

–Por que é verdade? Aaron é meu irmão não é? Ele escondeu de mim. Vocês dois esconderam de mim.

–Você está lo...

–Será mesmo? Não foi isso quando ouvi aquele dia.

–Que dia, Yasmim?

–Quando a mamãe e Ronald tiveram amor de verão e quando ficou grávida de mim.

–Que história é essa, mulher? –Meu pai virou se para minha mãe. Ela me encarava séria.

–Yasmim, me diga o que você ouviu exatamente? –Minha mãe desencostou da parede e sentou no sofá em frente a mim.

Eu tinha acordado de tarde, já que não tinha curso. Era umas 3 horas, e eu fui até a cozinha, quando ouvi vocês dois conversando.

–Você lembra quando roubei você de Ronald?

–Por favor, não tínhamos completado nem seis meses de namoro. –Minha mãe resmungou. –Posso dizer que foi amor de verão.

–Mas vocês transaram muito que eu sei. Podia ter até engravidado.

–Tem certeza que quer falar sobre isso mesmo? –Minha mãe estava furiosa.

–Desculpa, mas são lembranças que eu acho engraçadas porque depois de um ano, sua irmã apresentou seu noivo e demos de cara com ele, não foi tenso?

–Não, não foi, porque ele gostava da minha irmã. Nós não se gostávamos mais. Aliás, o que você está insinuando?

–Nada. –Ele respondeu sem graça. Minha mãe saiu furiosa e bateu a porta com força. E meu pai suspirou pesado e levantou indo atrás dela.

–Entendi, e você supôs que você era filha do Ronald? Pelo amor de Deus, aconteceu bem antes de você nascer. Aconteceu há 15 anos. 15 anos, Yasmim. Vai pro seu quarto.

–Mas mãe...

–Vai para o seu quarto! E só saia depois que eu mandar. –Ela gritou e eu saí correndo batendo a porta do meu quarto. E descontando minha raiva no meu eterno amigo travesseiro.

***

Aaron

Depois de descobrir que Yasmim foi embora, minhas tardes foram vazias. Pensei em visitar a Alexia, ou Coxinha, mas meu pai estava chateado com alguma coisa, tentei tirar algo dele, mas ele não me dizia nada. Conhecendo meu velho, ele deve está relembrando algo, ou ele levou fora de alguma mulher.

De noite, fui ao hospital prestar solidariedade para mãe de Alexia. Fiquei surpreso por Alexia não está lá. Mas, fiquei mais surpreso quando vi a mãe de Alexia me abraçar e começar a chorar.

–Salva minha filha, Aaron. Estou com pressentimento ruim sobre ela. Algo vai acontecer com ela. Meu peito está doendo. Se algo acontecer minha filha. Procure ela, por favor, não posso deixar o Higor.

– Procurarei por ela agora. –Disse. E peguei meu celular já discando seu número. Uma coisa que minha mãe disse é sempre acreditar em instinto de mães. Caixa postal. Tentei mais duas vezes e fui para casa dela encontrando o Seth com a vizinha. Ela também não estava lá. Não tinha nada de estranho acontecendo com Alexia, eu tinha certeza. Liguei para o Coxinha e combinamos de encontrar lá na pracinha.

Chegando lá, encontrei o Zac, Lauren, Vicent e um bocado de gente. Caralho, pra que tanta gente?

Olhei para o Coxinha sem entender nada e ele sibilou ‘mulheres’. Claro, mulheres. Elas têm o dom de exagerar em qualquer coisa.

Cada um foi procurar em lugar que ela vai frequentemente. Eu não a conhecia muito bem, então fiquei de ficar em frente da sua casa, caso ela aparecesse.

–Mano... Vem comigo. –Coxinha deu um soco de leve no meu braço e pegamos um ônibus que passa direto na avenida.

–Onde estamos indo?

–Pra casa da Liz. Preciso te confessar uma coisa.

–O que?

–Sou observador demais. Eu reparo em qualquer coisa. Por isso que me chamam de esperto.

–Tá, isso é a confissão? Você é observador? -Ele revirou os olhos e deu tapa na sua própria testa. Ele agachou um pouco olhando algo para janela, e puxou a cordinha. Descemos em uma rua enorme e limpa, e paramos em frente de um prédio enorme.

–Sabe quando a Alexia pediu para ir ao banheiro? Lógico que sabe, só ficou encarando-a. Você percebeu que foi logo, depois que a Liz foi ao banheiro? –Eu neguei. –Isso não quer dizer nada, mas precisamos conferir.

Não entendi nada, ele é observador e aí? Entramos no prédio, e entramos no elevador e ele apertou um número lá. A porta se abriu. Ele saiu e bateu em uma porta que estava pichada.

–Péssima hora, mas eu sou - A porta se abriu e a Liz arregalou os olhos para nós. Coxinha sorriu entrando na sala. Ele olhou para todos os lados.

–Que isso? Invasão de privacidade? Chamarei a polí...

–Me poupe, cadê a Alexia? –Coxinha a empurrou e ela deu de ombros e sentou no sofá.

–Liz, estou tonta!

***

Coxinha