– Ju... – A garota morena chamou em meio ao escuro do quarto, um pouco tímida – Tá dormindo?

– Estava... – E bocejou, sentando-se na cama para ver a outra garota mais velha – O que foi Su?

– Não estou conseguindo dormir.

Julia foi até a cama da amiga, sentando-se numa metade do colchão e deixando a outra parte para Suze. Encostaram-se a cabeceira junto com os travesseiros.

– Pesadelos? – A loira indagou.

– Nada disso. Só não estou com sono.

Julia suspirou, ela pelo menos estava com vontade de cair debaixo das cobertas e dormir.

– Então quer fazer algo até pegar no sono? – Sugeriu a mais nova, recebendo um aceno afirmativo como resposta – Certo... Porque você não me conta como veio parar aqui?

– Okay – Ela suspirou – Eu fazia de tudo para parecer uma garota normal e chegava a acreditar que eu era. Tive meus amigos e inimigos, assim como qualquer um. Acontece que eu tinha um problema que guardei como segredo até mesmo de meus pais. Nunca deixei ninguém entrar em meu quarto, pois eu meio que matava animais e os deixava presos e abertos na parede. Um dia, quando eu estava fora de casa, os infelizes dos meus pais entraram lá e viram meu trabalho. Até ai tudo bem. Talvez eles me compreendessem e tal. Mas eles começaram a falar um monte de coisa sobre aquilo e então tirei uma faca de baixo da minha saia e os esfaqueei até a morte. Fugi para uma floresta naqueles arredores e comecei a cometer mais assassinatos.

– Wow, é uma história meio diferente da minha. Então você sempre teve esse negócio de assassina? – Indagou curiosa. De repente o sono parecia ter ido embora e a conversa se tornou bem interessante.

– Sim. Mas... E você? – Sorriu interessada – Como veio parar aqui?

– Bom... Tive uma vida normal por um tempo assim como você junto com minha irmã mais velha Liberty. Porém cometi cerca de 130 assassinatos quando tive um surto de sanidade...

– Nossa. 130 pessoas. Tem certeza que não deu uma de terrorista – Riram um pouco.

– É, mas fui pega por tráfico de drogas e armas e tive de conviver dois anos no reformatório. Lá conheci o Will que gostava de escrever Creepypastas, viramos amigos e deixei que ele escrevesse uma sobre mim. Acabou por ficar muito famosa e a pressão da mídia me fez perder a cabeça de novo. Com o surto fui mandada para um manicômio. Ainda guardo meus segredos.

– Hmm... Entendo. E esse Will? Era bonitinho? – Sorriu maliciosa. Riram juntas.

– Tinha cara de drogado, mas era um dos menos piores daquele lugar. Tipo... Tinha profundas olheiras escuras, pele pálida e cabelo desgrenhado.

– Quero comparar... – Suze colocou um dedo no queixo, pensativa – Era mais bonito ou mais feio que o Marionetista?

– Hum... Pergunta difícil.

Riram mais ainda.

– Não sei se fico com dó ou não.

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– Dick; tenho algo para te contar...

O filho de Slender parou de se esforçar para encontrar as lembranças e prestou atenção em Alexandre. Estava preocupado. O loiro havia mudado de postura, de tom. Até mesmo as cores de seus olhos esvaneceram.

– O que foi Alex? – Incentivou depois de aguentar alguns segundos de silêncio angustiante.

O menino olhou para os lados, para o chão e até mesmo para o milharal. Não sabia conde enfiar as mãos e estava se perguntado se ele estava realmente fazendo o que era certo. Esfregou a nuca, querendo ganhar tempo.

– O que foi Alex? – Reforçou, Dick não estava gostando daquela atmosfera.

– Eu... – Procurou as palavras certas. Estava mais corado do que sempre e cerrava os punhos, fazendo com que sua pele quase rasgasse com as unhas.

– Você...? – Ergueu as sobrancelhas, exigindo que ele continuasse.

Alex respirou mais fundo ainda. Como queria que não tivesse de fazer isso...

– Fiz um contrato com Daemon – Soltou de uma vez.

Dick arregalou os olhos, incrédulo. Demorou um tempo para que processasse o que ouvira.

– Você o quê?! – Indagou perplexo.

– Por favor, fale baixo! – Pediu Alex. O mais velho tentou se controlar.

– Okay – Respirou fundo – Te dou alguns minutos para poder se explicar.

– Aquele dia da festa; não sei como ainda, fui parar no palácio de Daemon. Em troca de minha vingança contra a The Caos Insurgency, a empresa rival da SPC onde meus pais viviam sendo consequentemente mortos pelo grupo rival, ele me fez assinar um contrato onde eu me tornaria seu Proxy e teria a missão de te matar caso Slender não o fizesse.

Dick se segurava firme no lugar, porém abismado e incrédulo.

– Meu pai não me matou – Falou o maior, pensando alto e se referindo à Slenderman – Quer dizer então que... Todo esse tempo em que você tentou se enturmar, queres se aproximar de mim... Era uma mentira para que conseguisse me matar?!

– Sei que parece uma coisa terrível...

– É uma coisa terrível! Poxa cara, eu confiei em você!

– Eu sei disso – Mantéu a voz baixa, mas sua expressão mostrava arrependimento – Mas durante tudo isso eu sabia que não seria capaz de te matar. Você é bom, Dick. Tão bom que nem deveria estar em Creepypasta. Então comecei a gostar de você, comecei a querer de verdade ter sua amizade. Por isso estou te contando tudo.

O filho de Slender ficou em silêncio, encarando a face do loiro e seus olhos. Alex perdeu a calma de sempre e começou a se desesperar por uma resposta.

– Espero que você entenda – Disse ele com os olhos marejados – Esta conversa é um exemplo de como me arrependo. Mano, nem sei o que dizer mais. Estou me sentindo tão confuso... Só queria que... Você ainda me aceitasse como amigo e ent-...

Alexandre mal viu o que acontecera. De repente Dick havia o abraçado. A resposta que ele tanto queria não veio em palavras, mas sim naquele ato. O loiro poderia ser o mais inteligente, ou até mesmo o mais frio do Casarão Creepypasta. Porém, não passava de uma criança. Querendo ou não. Alex só tinha 12 anos.

– Olha só... – Dick falou, ainda sem soltá-lo – Não quero que pense que não estou chateado ou que estou 100%. Mas entendo você. Entendo perfeitamente – Riu um pouco com o seu próprio pensamento, Alexandre não soube bem o porquê – Todo mundo está querendo me matar ultimamente. Como se eu fosse uma praga se alastrando por uma plantação. Você está perdoado, Alex.

E finalmente o soltou. Fora a vez do loiro de lábios trêmulos fitar os olhos castanhos do maior. Dick parecia abalado emocionalmente assim como ele, porém ainda sim sorriu:

– Afinal, ainda quero te ver de ressaca depois de uma boa festa no casarão.

Alexandre sorriu de volta com a frase anterior e abaixou a cabeça com rapidez para que Dick não visse as lágrimas escorrendo. Não era de ferro, todavia o choro era de alegria. Nunca chorou de alegria em toda a sua vida.

O que estava acontecendo? O que, por que, como?

Logo seu choro se intensificou, e Alex parecia uma verdadeira criança ali. Soluçando e quase que gritando bem alto com aquilo. Queria parar, pois achava ridículo toda àquela cena. Mas quanto mais tentava, mais queria chorar e despejar todas aquelas lágrimas que guardara por anos.

Dick deixou o amigo se descarregar um pouco...

Não demorou até que as Creepys de dentro da casa começarem a sair desesperadas para saber o que houvera.

– O que aconteceu? – Kyara foi a primeira a indagar.

Ninguém respondeu já que tudo era uma confusão em só. Todavia explicações não eram necessárias. Nada era para ser preocupante naquele instante. E Dick voltou a abraçar o menor, querendo que Alexandre se acalmasse. E com sucesso.

Splendor se sentiu inspirado neste capítulo u.ü heuheuheu