Magnésio 12 escrita por Evelyn Waldrich


Capítulo 9
O Jogo




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Era tarde e Ellen havia terminado de sair da enfermaria. Estava caminhando acompanhada de Marly pelos corredores vazios e iluminado pelo pôr do sol. A maioria dos mutantes estavam em suas atividades.

– Ainda bem que você saiu. Estávamos preocupados. Nós tentamos te fazer uma visita mas não nos deixaram. Disseram que você precisava de repouso.

Ellen se surpreendeu com aquele “nós”. Tinha tantos amigos assim?

– “Nós” quem?

– Eu, a Anne e o Felipe. A Emily também quis ir, mas tinha que ajudar Celiny com o Treinamento de Mutações dos mais jovens.

– Ah. – Ellen concordou. Estava contente em ter amigos que se preocupavam com ela.

– Ficamos bem preocupados. A coisa foi séria. Nunca havia ocorrido algo assim! Metade dos mutantes estão sabendo!

Ellen torceu o nariz e resmungou. A última coisa que queria era chamar atenção. Principalmente com algo assim.

– Que ótimo.

Marly percebeu seu incomodo.

– Não se preocupe. Só foi uma grande surpresa, logo todos esquecerão.

Ellen suspirou.

– Espero. – Disse, entrando no quarto. Marly tentava não aparentar, mas estava preocupada por Ellen. Parecia que seu controle sobre sua mutação não estava melhorando, e Ellen parecia cada vez mais cansada. Ela pensou em algo para descontrair Ellen:

– Ei! Sábado temos um horário livre à tarde! Podemos ir visitar Claire!

– Quem é Claire? – Ellen franziu as sobrancelhas.

– É minha irmãzinha! Fomos resgatadas juntas, logo depois que meus pais...

Sua voz falhou. Ellen não queria pressioná-la, mas a curiosidade a traía:

– Sim?

– Eu nunca contei pra ninguém... Um dia alguém invadiu minha casa, eu fugi com minha irmã e quando voltei, meus pais haviam sumido. Estávamos sozinhas quando a Resistência nos resgatou. Foi um milagre. Claire ainda não apresenta mutação, mas tem aula e faz os esportes, brinca com os amigos. É bom pra ela, sabe, descontrair.

Lembrar de tudo aquilo trouxe uma profunda tristeza a Marly, era doloroso em silêncio, sim. Mas por em palavras era bem pior. Ellen viu tristeza nos profundos olhos azuis de Marly, e ela não sabia como agir. Nunca teve ninguém para consolar.

– Eu... sinto muito.

Marly fungou e seu sorriso voltou ao seu rosto.

– Tudo bem. Muitas crianças aqui também sofreram muito, é bom quando não se está sozinho. Então? Gostaria de conhecer a Claire?

Ellen sorriu.

– Eu adoraria.

De manhã elas foram para seus afazeres e Ellen foi para o Treinamento de Mutações. De novo. Ainda sentia um pingo de raiva da Celiny por submete-la em tal perigo.

– Bom dia. – Disse com uma carranca, abrindo a porta.

– Olá, Ellen. – Disse Celiny, se aproximando. - Primeiro gostaria de desculpá-la pelo desafio. Mas saiba que isso foi muito importante para seu progresso. A área de influência de sua mutação aumentou consideravelmente.

Ellen bufou. Começava a odiar esse papo científico.

– Hoje faremos algo muito mais divertido. Tenho certeza que vai gostar. – Disse Celiny, se dirigindo a uma espécie de boneco de metal com um tipo de indicador em seu peito. – Veja bem, aqui na Resistência temos várias atividades que requer sua mutação, muitas vezes atividades que requerem ataque e por isso não podemos sair eletrocutando qualquer um. Aqui tem um robô projetado para resistir a choques de alta voltagem e tem um indicador da potência do choque, em miliampères. Você precisa atingir a voltagem certa para não matar colegas, que é de 9 a 20 miliampères. Causa dor e paralisia muscular. Você incapacita o oponente sem matá-lo. Hoje a aula será mais longa pois você terá uma atividade importante após o treino.

– Mas eu não sei direcionar meu poder assim.

– Sabe sim, o seu último desafio possibilitou esse grande avanço. Você vai conseguir.

Assim, Celiny se retirou pela mesma porta de seu último desafio. Ellen suspirou forte e se concentrou em eletrocutar o boneco a frente. No começo não ocorreu nada mas logo ela sentiu a familiar sensação, ela viu seus próprios braços se iluminarem e os direcionou ao robô. Uma forte descarga elétrica soltou de seus braços, e raios atingiram o boneco. Ellen colocou um pé atrás para se equilibrar do impacto. Celiny chegou batendo palmas.

– Muito, muito bom, mesmo! Foi incrível. Sua mutação é realmente fascinante. Vamos ver quantos miliampères foi esse choque. – Celiny parou ao ver o número. – Oh, puxa! 950 miliampères. Foi bem acima do que queríamos, mas indica grande poder. Novamente.

– O que??! – Ellen já estava meio cansada, teria que fazer de novo? E de novo, e de novo.

Quando Ellen conseguiu alcançar 15 miliampères, Celiny comemorou:

– Parabéns! Você está indo muito bem!

Ellen estava sentada no chão, secando a testa suada com suas novas luvas tipo ciclista, sem dedos. Desejou ter um elástico. Estava sendo exaustivo.

– Agora, treine mais, para ter controle sobre essa voltagem.

– Mas já está na metade do almoço!

– Quando você conseguir fazer cinco vezes seguidas deixo você sair.

Ellen torceu o nariz e se levantou com dificuldade. Iria acabar logo com essa merda toda.

– Muito bom, agora você pode ir.

– Agora? – Sussurrou ela, irônica.

– Como disse?

– Nada. – E saiu. Encontrou Marly e Anne numa mesa do refeitório.

– Nossa! Você está horrível! – Comentou Marly.

– Obrigada. – Ellen pegou sua comida e se sentou.

– O que houve?

– Celiny me obrigou a fazer umas mil descargas elétricas até chegar a perfeição.

– Ah, é assim mesmo. Anne também fica acabada após fazer mil explosões, não é Anne?

Anne concordou com a cabeça. Apesar de ser calada, estava sempre atenta as coisas e as conversas. Ellen mordeu um brócolis com sabor de alho. Emily se aproximou da mesa.

– Olá, pessoal! Como estão as coisas? Ellen! Oque aconteceu com você?

– Celiny a fez treinar pra caramba.

– Pois é, esses treinamentos acabam com qualquer um. Acabei de sair de um treinamento com um garotinho do segundo ano que perdeu os pais, um coitado. Está tão mal quanto Ellen, quando chegou aqui! – Disse Emily, sentando na mesa. Felipe estava saindo do refeitório quando passou por elas e parou.

– Ei, ouviram a novidade? Parece que vai haver jogo hoje!

– Jogo? – Disse Emily. – E quais serão os times?

– Não sabemos. Os convocados serão chamados logo após o almoço. Fiquem ligados.

Então Ayuna o chamou e ele se despediu e saiu do refeitório.

– Puxa! Quem serão os escolhidos? – Perguntou Marly. Até Anne parecia mais atenta.

– O que é o Jogo?

– O Jogo é uma atividade na floresta. Ocorre todo mês em uma sexta feira. Nenhum dos alunos sabem quando exatamente, as vezes se escutam boatos, mas normalmente as pessoas são pegas de surpresa e escolhidas. A partir dos 12 anos se pode jogar. É como um caça a bandeira. Normalmente eles modificam uma ou outra regra, mas no geral é sempre o mesmo jogo. Quem vencer ganha direito a sobremesa e horário livre extra por um mês e quem perder tem que lavar os pratos.

–Parece legal.

– É muito legal! Agora termine logo isso, antes que alguém seja chamado!

Ellen se lembrou do que Celiny disse “você tem uma atividade importante após o treino”, talvez fosse ao Jogo que ela estava se referindo. Ellen estava ansiosa e empolgada para o Jogo. Ela estava terminando seu último brócolis com frango quando se ouviu do alto falante e todos pararam: Para o vigésimo terceiro Jogo, os escolhidos são: Addam Deckster, AnneMarie James, Ayuna Blauth, Ellen Henrich, Emily Campbell, Felipe Valutto, Liang Cheng, Maria Murdock, Marlene Culler, Natalie Delacroix, Pietro Murdock, Keane Dieter, Yu Cheng...

E a lista seguia.

Todos devem se reunir no pátio central onde Rhuan Warwolf e Flair Spawood estarão os esperando. Boa sorte.

Elas se olharam por um segundo. A animação estava no ar. Elas seguiram para o pátio entre os prédios, onde esperavam outros adolescentes. Ayuna conversava animadamente com um grupo de jovens que Ellen não conhecia, junto com Felipe, que a cumprimentou quando a viu. Liang estava com sua irmã gêmea, Yu, em outro grupo de pessoas. E solitário estava o garoto que Ellen havia visto na biblioteca. Ele tinha olhos afiados, como se avaliasse os outros. Ao todo eram vinte quatro pessoas. Quando todos se reuniram Rhuan começou a falar:

– As regras de hoje serão diferentes das de sempre. Hoje quem escolherá os grupos será eu e Flair

O comentário causou um monte de vaias.

– É, é. As equipes serão azul e verde e cada um receberá uma jaqueta para identificar. A equipe verde ficará no ataque. Tudo que terá de fazer é ou pegar os três medalhões que estão em pedestais na área da equipe azul, próximos com dez metros de distância OU pegar o grande medalhão que estará em um lugar muito mais remoto na área do azul e que lhe dará pontos extras. O exato lugar destes objetos somente o azul saberá. Está claro? Bom. A equipe azul ficará na defesa. Sua missão é defender os medalhões e não deixar que os levem a área verde.

Ellen ouviu uma menina ao seu lado, chamada Natalie, loira de olhos verdes comentar, rindo: “Vai ser baba”

– Mas tem um porém! – Disse Flair - O time verde só poderá vencer se tiver cinco ou mais integrantes ativos e seguros em sua área, junto com os medalhões.

O último aviso causou ainda mais vaias.

– Pois bem. Vou separar os times: Equipe azul: Pietro Murdock, Natalie Delacroix, Ellen Henrich, Marlene Culler, Yu Cheng, Emily Campbell, Addam Deckster... - E a lista seguia. – Equipe Verde: Keane Dieter, Liang Cheng, Maria Murdock, Felipe Valutto, AnneMarie James, Ayuna Blauth...Agora! A área da equipe verde será do riacho a grande pedra, e a equipe azul será da grande pedra a árvore velha.

Os integrantes foram pegando suas jaquetas. Pareciam casacos militares.

– Equipe azul! Reúna-se próxima a mim! – Gritou Flair. As pessoas a seguiram. – Os medalhões menores estão enfileirados entre a pedra cinza e as flores silvestres, a leste de sua área. O maior medalhão está a Nordeste de sua área, nos rochedos. Prestem atenção! Pensem bem onde posicionarão suas defesas, vocês não sabem quais medalhões a equipe verde vai ir atrás.

Então ela se afastou da equipe e falou alto:

– Equipe azul comigo! Equipe verde com Rhuan! Iremos mostrar por onde vocês onde entrar e seu território! E lembrem-se: NADA de matar ou ferir gravemente! Sigam-me, azuis!

Nós seguimos Flair para o Norte, enquanto os verdes iam para o Sul. Caminhamos bastante até chegar a uma grande árvore velha.

Este – começou Flair – É o limite do território de vocês. As fronteiras estão marcadas com tinta no chão. O medalhão grande está para esquerda, como vocês sabem. Os pequenos medalhões estão logo à frente. O jogo começará a o soar do alarme. Vocês têm quinze minutos. Boa sorte.

Então ela se virou e saiu andando. Ninguém falou nada. Dava para sentir a tensão, a ansiedade no ar. Então isso quebrou quando a menina loira, Natalie, aquela que riu anteriormente, falou com autoridade:

– Faremos o seguinte: Eu, Yu, Addam... – A menina chamou mais nomes dos mais velhos, que Ellen não conhecia. – Iremos proteger o Medalhão maior.

Natalie olhava para a equipe, como se procurasse algo.

– Espera! Só temos seis? Ei, você, menina! Você é aquela que coloca o medo das pessoas contra elas mesmas? Ótimo! Você vem! O resto fica cuidando dos medalhões menores.

Natalie puxou Emily para o lado dela. Ellen olhou a equipe levemente indignada, os mais velhos e mais experientes estariam protegendo o medalhão maior. Somente quatro estariam cuidando os medalhões menores. Era um enorme descuido. Se a equipe verde decidisse ir atrás dos medalhões menores eles estariam perdidos, além de que era uma enorme injustiça.

– É brincadeira né? Juntar os melhores para cuidar do medalhão maior é muito arriscado! Se estiver errada, perderemos tudo!

– E você quem é? Ah, a menina nova, né? Soube que você não tem controle sobre sua mutação, um desastre! - O sangue de Ellen subiu para as orelhas. – Deixa comigo, querida, eu sei o que estou fazendo.

– Nat, ela tem um pouco de razão, sabe? – Comentou Pietro Murdock.

– Ainda por cima é metida e arrogante. – Disse Ellen furiosa, ignorando o comentário de Pietro.

– Presta atenção, garota. Você está aqui a menos de uma semana, mal sabe como as coisas funcionam. Então cala a boca e deixa os mais experientes trabalharem.

– Isso é uma injustiça! Você sequer quer dar uma chance para os outros!

– Você quer ganhar? Então cale a boca! Não precisamos dos outros! Eu sei o que estou fazendo então não se intrometa!

– Gente, Nat, Ellen, daqui a pouco o sinal vai tocar não temos tempo para ficar discutindo isso. Temos que nos posicionar!

Natalie se compôs e se afastou:

– Tem razão Pietro. Precisamos entrar em nossas posições. E será do meu jeito.

Disse Natalie, fuzilando Ellen com o olhar uma última vez. Ellen retribuiu. As pessoas, que até agora estavam caladas em frente ao clima realmente pesado, começaram a seguir Natalie. Pietro permaneceu parado.

– Pietro? Você não vem?

– Desculpe, Nat, mas concordo com Ellen. Vou ficar protegendo os medalhões menores.

Deu para sentir a raiva de Natalie borbulhando, as bochechas ficando vermelhas.

– Tá! Fique! Mas depois, não venha pedir reconhecimento pela vitória!

Eles seguiram em frente. Ellen, junto com Pietro, Marly, e mais alguns garotos mais novos.

– Foi bem corajosa. Ninguém havia enfrentado Natalie assim. Bem, normalmente seus planos funcionam mas nunca são justos. – Disse Pietro se aproximando.

– É. Parabéns, Ellen! – Disse Marly, sorrindo.

Eles chegaram no pedestal do centro.

– Então? Como nos separaremos? – Perguntou um garoto de treze anos, mais ou menos.

– Dois ficam nos pedestais das pontas. Um fica no do centro. Se virem qualquer membro do verde, o incapacitem imediatamente!

As pessoas se separam. Ellen ficou ao lado de Marly, em posição de ataque.

– Preparada? – Perguntou Marly.

– Sempre. – Então o sinal soou.


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Notas finais do capítulo

Eu estava planejando colocar o jogo neste capítulo mesmo, porém estava ficando muito gigante então decidi parar aí. Mesmo assim, ficou muito bom o final. Ah! Toda a informação científica é verdadeira, de acordo com a superinteressante:
http://super.abril.com.br/ciencia/voltagem-maxima-ser-humano-suporta-486022.shtml
Espero que tenham gostado! Comentem!



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