Magnésio 12 escrita por Evelyn Waldrich


Capítulo 16
Era melhor assim


Notas iniciais do capítulo

Perdoem-me pela demora.
Dividi a leitura com espaços entre os parágrafos.
Boa leitura!



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Já fazia três semanas desde a chegada dos novos mutantes, e tudo ia bem. O treinamento de Ellen ia maravilhosamente bem, Celiny disse que logo ela faria parte da equipe de defesa da Resistencia ou até da equipe de resgate de mutantes. Ellen gostava muito de seus amigos, tinha feito amizade com Thayr, um novo mutante. Ele era divertido, a fazia rir como ninguém. Tudo ia bem.
       Marly, Annemarie e Ellen andavam frente a sala de treinamento quando Floyd saiu de lá arfando. Seus olhos se cruzaram por um breve momento. Ele suava, esgotado. Seus olhos mostravam desolação. Ellen retesou a mandibula e se afastou. Não gostava de Floyd. Não depois da tortura psicológica pela qual a fez passar. Ela sentia pena dele. Era só um garoto odioso, treinado para fazer coisas odiosas. Só ele havia se transformado num monstro. Ellen conheceu Thayr e havia visto Luke, o outro garotinho. Nenhum parecia tampouco havia se mostrado tão repugnante. Ellen sabia que parte de seu ódio era irracional. O problema é que havia demorado dias para que se recuperasse. Ela havia evitado demonstrar para os amigos seu desequilibrio mental e emocional, porém foi difícil. O efeito telepático havia sido uma tremenda queda para Ellen. Uma queda de suas esperanças e conquistas. E era por isso que ela o odiava tanto. Se pensasse bem, veria que o garoto não tinha nem metade da culpa atribuido a ele, mas seu ódio era tanto, que ela não se preocupou em pensar mais.

 

 



      Floyd tinha acabado de said do treinamento. Já fazia quase um mês que ele estava na "Resistência" e ainda se sentia excluído. Não entendia. Via todos aqueles mutantes vivendo em harmonia... como podia? E todos os dias a menina... Qual o nome dela mesmo? Ah, Emily. O torturava e o forçava a treinar sua mutação. Ela tinha uma habilidade que ele jamais havia visto. Ela era tremendamente poderosa. Ele sentia ela controlar sua mente e impor sua realidade perfeita nele. Parte de si aceitava essa nova realidade harmoniosa com prazer, mas ainda sim não se conformava. Era perfeito demais para ser verdade e um dia.... Um dia.... Toda essa realidade, essa "Resistência" ia cair.
      Ele saiu do treinamento e encontrou com a menina das veias azuis. Ela se chamava Ellen, como ele havia descoberto quando trouxe a tona as piores lembranças dela. Deus, por que havia feito isso?? Porque havia sido treinado para isso. Porque era a coisa certa a fazer. E ainda assim, se sentia horrível! Ele sentiu o ódio que ela sentia por ele quando a olhou. A mente dela berrava de raiva. E não havia nada que ele pudesse fazer.

 

 

Dias passaram e cada vez mais Floyd se convencia que aquele paraíso era possível. Ainda não tinha amigos, mas se sentia bem na Resistência. E Emily era bem simpática. Havia mostrado lugares e pessoas a ele. Havia lhe ensinado como as coisas eram. Floyd sentia seus poderes melhorando. Ele estava aperfeiçoando seu controle todos os dias. As mentes dos outros não mais invadiam a sua e o enlouqueciam, e ele conseguia ter conversas telepáticas. Esse era um truque simples, pois só necessitava um pensamento claro. Pensamentos abstratos eram mais complexos de entender. No entanto, ele não conseguia impor sentimentos ou pensamentos aos outros, como Emily fazia. Também não sabia se conseguia trazer memórias a tona, como fez com Ellen, mas sabia como esconde-las. E... Tinha medo de ser verdade, e se fosse, de admitir, que podia controlar a mente de outros. Felizmente, Celiny havia dito a Floyd que ainda faltava muito para isso.



        - Muito bem, Floyd. Hoje faremos algo diferente. Quero que mostre a Emily uma imagem de um filme que viu quando criança. - Disse Celiny, ao entrar na sala de treinamento de mutações.

        - Como? Não sei fazer isso.

— Tem uma primeira vez pra tudo! Agora, é como ter uma conversa telepática, mas com uma imagem. Mande uma imagem para ela, Floyd.

Celiny saiu por uma porta. Ela estaria atrás do vidro, junto com Andrew e Pandora, monitorando as ondas celebrais dos dois telepatas. O poder de Emily era muito específico, porém poderoso. O poder de Floyd era ilimitado. Tudo que haviam testado até agora, Floyd havia realizado com maestria. Apesar de todas as ideias que impuseram a ele no Governo, nada havia trancado sua mutação, como havia ocorrido com Ellen. Ele só precisava de orientação, e logo se tornaria extremamente poderoso.

 


      Emily se preparou. Apesar de que no início, ele se mostrou rebelde, irritadiço e idiota, logo demonstrou que essas caracterísicas não eram de sua natureza. Foi tirado da família aos 9 anos e seus medos eram vários e bem variados, porém pouco intensos. Muitos ficariam surpresos ao saber quanto é possível conhecer de uma pessoa pelos seus medos e tormentos. Ela tinha pena dele, ele era principalmente uma criança solitária. Recentemente ela havia notado um tormento que ele escondia dela. Era como um segredo numa caixa. E Emily duvidava que Floyd sequer sabia disso. Ela duvidava que ele tinha conhecimento sobre a magnitude de sua mutação. Uma técnica de defesa assim era algo muito avançado. E ele fazia inconscientemente. Era impressionante. No entanto, por ter sido tirado da família quando pequeno, ela não sabia se ele se lembraria de um filme, e se lembrasse, qual.
        Emily fechou os olhos. Logo passou a ouvir sons e abriu os olhos. Emily tomou um susto. Ela não via apenas uma cena de um filme. Via uma sala meio borrada, e um menininho de cabelos castanhos bagunçados na frente da TV vendo "Vida de Inseto". Estava na cena que uma folha cai na fila de formigas e a formiga surta. O menininho ri e a memória acaba. Emily abre os olhos e se vê novamente na sala de treinamento. Tudo fica em silêncio por uns minutos.

— E então? - Se escuta a voz de Celiny pelo transmissor.

— Acho que está bom por hoje. - Diz Emily. - Já está bom, Celiny. Muito bom Floyd, para béns.

Emily segue em direção a porta, todos estupefatos demais para dizer qualquer coisa. Celiny, Pandora e Andrew, que monitoraram tudo, estavam confusos. As sinapses e ondas celebrais eram bem maiores do que eles esperavam, mas o que poderia ter ocorrido para fazer a Emily cancelar um treinamento inteiro?

— Caham, éééé... Está liberado Floyd. - Disse Celiny, pelo transmissor, confusa.

Emily chegou a sala de monitoramento:

— Estamos fazendo tudo errado! - Disse para os três cientistas, subitamente exasperada. - Ele não me deu uma imagem, deu uma lembrança completa! Com direito a cores, sons, sensações, sentimentos! Ele já manobra técnicas avançadas inconscientemente! Isso foi baba com açúcar pra ele! Precisamos de um treinamento muito mais avançado que isso!

— Mais avançado que isso? Seria agressivo demais! É loucura! Já estamos avançando muito rápido! Ele pode não aguentar! - Argumentou Andrew.

— Ele vai aguentar! Ele é muito poderoso! Algo que nunca vi! - Disse Emily.

— Não! Se ele não suportar, os danos podem ser horríveis! Ele pode se ferir permanentemente!

— No entanto, se Emily estiver certa, um treinamento mais veloz irá acelerar nosso plano! Será um sucesso! - Disse Celiny.

— E se não for?? Celiny! Não podemos arriscar a vida do garoto! Um simples erro e os danos psicológicos serão enormes! Não podemos fazer isso!

— Mas e... - Começou Celiny, mas foi interrompida por Pandora:

— Você poderia nos dar licença, Emily?

A discussão foi interrompida e Emily se retirou. A sala ficou em silêncio até Pandora dizer:

— A saúde do menino não é nossa maior preocupação. Se fosse para ele ficar com traumas e poderes descontrolados isso já teria acontecido. A maior preocupação é: quando ele chegar ao ápice de seus poderes, quem poderá impedi-lo?

 

 

 

 

 

Floyd se retirou da sala confuso e preocupado. Não tinha feito tudo certo? Bem, agora ele tinha uma hora e meia de tempo livre. Decidiu andar até a biblioteca. Enquanto andava colocava os pensamentos e obrigações em ordem. Não tinha mais por que se preocupar com o Governo, provavelmente o consideravam morto. Agora tinha que focar nas matérias que a Resistência ensinava pra ele. Diziam que desde que tinha sido tirado dos pais ele tinha perdido muitos anos escolares e precisava aprender coisas como matemática e... Foi quando ele viu passar Ellen, segurando vários livros de estudo.

— Ellen! - Ele chamou. Ela se virou, séria. - Eu só... queria pedir desculpas pelo outro dia, pelo ataque psíquico e...

Ela revirou os olhos:

— Não peça.

— Mas...

— Olha, já passou. Não precisa ficar perdindo perdão.

E seguiu em frente. Ellen sentiu pena. Só pena. Era triste de se ver. E ainda assim, sentia raiva. Raiva por ter de se resolver tudo com um simples perdão. Mas era melhor assim. Não valia a pena começar uma briga. Porém, ao mesmo tempo, não queria que seu sofrimento se resolvesse num simples "desculpa". Decidiu tirar isso da mente e focar na próxima aula. Era melhor assim.


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Notas finais do capítulo

Senti que deveria ter divido a história em diferentes capítulos. E também que deveria ter separado os pontos de vista melhor, mas já havia demorado demais. E vocês, leitores, mereciam mais do que meus pequenos capítulos. Então, "por que não?"
Por favor, comentem!
E novamente, desculpem a demora, agradeço a paciência!



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