Diário de uma Paixão escrita por garotadeontem


Capítulo 5
Capítulo 04




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Os dias que se passaram foram no mínimo estranhos, me afastei de Paloma e ela ficou magoada comigo, como deveria ser. Não conseguia me focar tanto nos estudos, saia a noite pelo Campus procurando uma diversão que com o tempo foi me cansando.

Félix não me procurou mais e também tinha sumido dos eventos sociais da faculdade. Eu tinha acabado de sair da aula e passava pelo jardim aberto no meio do Campus quando ouvi uma gritaria, um amontoado de pessoas se formava e quando me aproximei acabei vendo ele e sua irmã discutindo para quem quisesse ouvir.

_ Eu quero o seu bem, Félix! O seu bem! – ela gritava.

Félix estava com o rosto vermelho, apertando as mãos com força, dava pra sentir a raiva que emanava dele. O terno estava desalinhado e sua gravata frouxa no colarinho da camisa.

_ O meu bem? Você acha que meu bem é esse casamento, Paloma? Hein?

_ Mas você não a ama? Devia casar com ela de uma vez. – ela disse, exasperada.

_ VAI CUIDAR DA SUA VIDA, QUE DA MINHA CUIDO EU! Você não tem que se meter nisso, nem encher a cabeça do César com essas maluquices. – ele apontava para o rosto dela, e eu podia ver as lágrimas em seus olhos. – Você é uma intrometida, sempre foi! Nunca mais se meta!

Alguns rapazes se aproximaram de Félix e o afastaram dela, ele se debateu contra eles e saiu pisando forte, sem olhar pra trás. As moças da minha sala se aproximaram de Paloma e ela começou a chorar, eu poderia muito bem ir confortá-la, mas não fui. Fui atrás dele.

Ele não poderia ter ido muito longe e depois de alguns minutos andando, o encontrei. Ele estava sentado na frente do lago que circundava o lado direito do terreno, encostado em um carvalho. Parecia um lugar escondido, mas eu mesmo já tinha ido lá algumas vezes para ler. Me aproximei e sentei ao seu lado, ele não me olhou ou disse qualquer palavra. O sol se punha e ficamos observando a paisagem, a respiração dele estava pesada e eu podia ver algumas lágrimas caindo pelo o seu rosto.

_ Obrigado por ter vindo até aqui, Niko. – ele disse, com a voz falha. Eu apenas assenti e esperei que ele se acalmasse para perguntar o que estava acontecendo.

_ O que aconteceu? Por que aquela briga?

_ O noivado agora é oficial, carneirinho. Minha venenosa noiva fez a cabeça da minha irmã burra, e ela acabou convencendo o todo poderoso César a arranjar o nosso casamento.

_ Mas o que ela disse pra ele? – perguntei.

_ Ela ficou sabendo das minhas aventuras. A Edith já desconfiava de muita coisa e acabou envenenando a Paloma também. Ela alega que ficou preocupada comigo e contou tudo para ele. Das coisas que o povo diz por aí. – ele deu de ombros.

_ Mas essas coisas não são verdade?

Félix deu um sorriso torto, pegou a caixinha de prata onde guardava os cigarros e o isqueiro, acendeu um e ficou observando as nuvens escurecerem.

_ Claro que são. Os meus desejos mais profundos são mais complexos do que eu. Eu não consigo entender, mas também não consigo me arrepender deles. Eu sempre me senti diferente, não me sentia como outros. Quando eu beijo uma mulher, não sinto nada. É como um vazio. Eu tento gostar da Edith por mera convivência, tento fazer isso porque é o certo, não é? O certo para a sociedade, para a minha família, pra mim. Meu pai já me odeia, imagina se ele soubesse dessas coisas.

Fiquei em silêncio, eu conseguia entender o que ele sentia, porque nos últimos dias eu tinha sentido esse buraco, esse vazio, toda vez que estava nos braços de alguma moça da faculdade.

_ Eu me sinto em uma prisão. – ele tragou o cigarro. – E eu não consigo me sentir livre.

_ Félix, como você descobriu que... gostava de rapazes?

A luz da lua começava a sair de trás das nuvens e iluminava todo o lago.

_ Foi um pouco depois que entrei na faculdade, fui em uma das festas do Campus e conheci um rapaz como eu. Naquela mesma noite, eu tinha conhecido a Edith, fiquei com ela, mas acabei bebendo demais e os meus trejeitos me denunciam. – ele riu irônico. – Ele percebeu e me levou para darmos uma volta, eu tinha bebido demais e quando fui ver estava nos braços de um homem. Foi muito confuso, foi como se eu tivesse tomado uma pancada forte. E depois daquilo, eu só fui reprimindo esses desejos. Mas, pelas contas do Rosário, é tão difícil! – ele suspirou pesado.

Eu conseguia entender como ele se sentia, eu estava com medo porque eu entendia cada palavra, cada sensação, mas era um medo bom. Porque eu sabia que eu não estava sozinho no meio dessa confusão.

_ Acho que eu consigo entender como se sente... – falei olhando para a grama prateada, iluminada pela lua.

Existiam faíscas no ar, parecia que nada mais iria ser dito. Eu senti sua mão em meu rosto.

_ Olha pra mim, Niko. – eu o olhei em seus olhos escuros, ele tinha soltado o cigarro.

Seus olhos percorreram o meu rosto e sua outra mão segurou em meu rosto também. Ele se aproximou devagar, com um certo receio e o medo em seus olhos só refletiam nos meus. Eu tinha tanto medo do que eu sentia quanto ele. Seu nariz encostou no meu e acabei suspirando, e fechando os olhos. Seus lábios roçaram lentamente os meus e o meu coração que martelava no peito não aguentou a espera. Acabei o beijando e o beijo foi ficando mais intenso e mais desesperado a cada segundo, minhas mãos procuraram sua nuca e os dedos de suas mãos estavam no meu cabelo.

Tudo que parecia muito errado e incerto estava correto naquele momento. E nos agarramos aquele beijo como se fosse o último, porque sabíamos no fundo que não ia durar por muito tempo. Passamos boa parte da noite ali, rindo, nos beijando, namorando, como um casal. E ambos receosos sempre olhávamos tudo ao redor para ver se ninguém tinha se aproximado.

Confesso a você que os dias seguintes foram os mais empolgantes da minha vida, foram dias de adrenalina e paixão. Onde nós dois esquecíamos de tudo ao redor. Durante o dia, estudávamos e no fim da tarde nos encontrávamos em lugares distintos. Agíamos como amigos perante os outros, tomávamos um sorvete, compartilhávamos uma bebida, sem despertar o olhar curioso da sociedade. Chegamos a irmos ao cinema juntos.

Nos fins de semana andávamos pelo parque da cidade, um dia andamos de bicicleta. E a noite nós estávamos nos braços um do outro, mas não passava de beijos e caricias. Houve dias que me sentia péssimo, mas era só ver o seu sorriso e ouvir suas piadas que eu me esquecia dos problemas. Mas, é como eu digo, nada dura pra sempre. E a felicidade daqueles dias perdurou até o dia fatídico, onde tudo mudou.


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