Unforgivable escrita por oakenshield


Capítulo 26
This Is Your Mother


Notas iniciais do capítulo

Gostaria muito de saber a opinião de vocês sobre a fic. Estamos entrando em reta final!



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Rebekah caminha com o lençol em volta do corpo. Sorri para Carter e se tranca no banheiro. Escova os dentes e coloca apenas o roupão real vermelho em volta do corpo e larga o lençol no chão. Ao voltar para o quarto, Carter não está mais lá. Ele estava sendo realmente discreto, como haviam combinado. As criadas logo chegaram e a arrumaram para seus compromissos. Depois do café, ela se dirige até a sala de reuniões.

– Boas ou más notícias?

– Más, Majestade - seu Primeiro Conselheiro fala. - Os ataques de Hahle podem ter cessado temporariamente, mas as revoltas internas aumentaram com as medidas repressivas. O irmão de seu avô Caine é quem está os incitando.

Rebekah respira fundo.

– Por que a velha Archiberz tinha que ter um filho aos cinquenta? Pelo amor de Deus... - suspira. - Me falem mais sobre esse rebeldes.

– Pobres, óbvio. Alguns conservadores, outros adoram um quebra-quebra. Poucos são anarquistas.

– Ridículos - ela rosna. - É absurdo viver sem alguém para controlar, fiscalizar...

– De qualquer forma, eles são extremamente religiosos.

Rebekah demonstra interesse repentino.

– Extremamente quanto?

– A grande maioria são católicos, porém há boatos, apenas sussurros, de que há politeístas. Até radicais.

– Que tipo de radicalismo esses politeístas praticam?

– Além da absurda devoção aos deuses, há boatos de sacrifícios humanos.

Rebekah sorri internamente. Sacrifícios humanos. Era uma boa maneira, uma boa oferenda. Queria ser como os seres que essas pessoas endeusavam: queria que fizessem sacrifícios em seu nome.

Por inveja, não seria piedosa. Não podia ser. Tinha que destruir todos esses deuses para que ela fundasse uma nova era, a era onde apenas era a deusa. As pessoas deveriam adorar a ela, se prostrar diante dela. Sim, sendo rainha recebe reverências, mas quer as pessoas curvadas em sua frente quando passasse. Queria reinar inteiramente.

– Impeça a adoração aos deuses. Não quero que matem-nos, apenas que prendam-nos. Quero que quebrem tudo para eles jamais lembrarem a face daqueles que adoravam - ela sorri diabolicamente. - Destruiremos esses traidores de dentro para fora.

+++

Mesmo com a insistência dos guardas, Katerina mandou chamarem Hana. Com os cabelos tingidos de preto, alisados e as lentes de contato, ninguém havia a reconhecido até agora. Hana se recusou a falar com uma desconhecida, afinal a ruiva não podia divulgar sua identidade. Então pegou o comunicador dos seguranças e sussurrou:

– Hana.

Houve silêncio. Não precisava dizer nada.

– Liberem a passagem dela para o Forte da Lua.

Katerina suspira de alívio. Depois do trajeto na montanha, na ponte... seus pés não suportariam. Pelo menos isso ocupou sua cabeça, mas agora que ela estava mais descansada, conseguia lembrar.

Francis.

Ela disse que não teria problema em criar o filho dele se ele não tivesse problema de criar o dela. Francis negou. Disse que para seu filho assumir, ele precisava ser legítimo. Ele precisava estar casado com Britney de acordo com as leis da Inglaterra. Em Altulle já era diferente, mas ele não queria prejudicar o menino.

Katerina se obrigou a partir. Não insistiria.

Hana estava mais pálida e mais magra do que da última vez, se é que isso era possível. Talvez fosse só o tempo que havia passado: quase dois anos. Sua irmã caçula trajava um vestido longo verde bandeira, de mangas e liso. Era lindo. Katerina, por outro lado, usava um longo amarelado de rendas. Algo bem simples, para se passar por uma simples cidadã. Ao vê-la, Hana parecia estar diante de uma assombração.

– Kate...

– Oi - ela se aproxima, porém Hana recua.

– Você... você deveria estar morta.

Katerina sorri, constrangida. Como poderia explicar isso de forma rápida?

– Bom, não estou.

Hana a encara como se ela fosse uma coisa estranha, como um cientista analisando seu novo projeto problemático e complexo. E isso quebrou algo dentro dela.

– Kate, isso só pode ser um sonho... você está morta. Joffrey pediu seu corpo, seu enterro passou na TV. Eu estive lá! Eu vi seu caixão descendo para a terra...

– Não era real - ela balança a cabeça. - Eu morri, sim, mas eu voltei. O resto foi fingimento.

Hana percebe que há coisas muito mais complexas envolvidas, mas decide perguntar depois. Então vai para a pergunta crucial:

– E por que se revelar agora?

– Porque eu preciso da sua ajuda.

+++

Andrew caminha silenciosamente pelos corredores de pedra da fortaleza. Seu pai adotivo havia ganhado de Vincent uma casa no campo nos tempos de glória. Andrew nunca viu utilidade naquelas ruínas do que costumava ser um palácio há muitos séculos atrás, antes mesmo da maior parte do mundo adotar a República. Um belo castelo que só sobrou a ala leste. No meio do nada, destruído. Ninguém jamais desconfiaria.

Andrew desceu as escadas enquanto ouvia as goteiras chocando-se contra as rochas nos cantos. O cheiro de chuva enchia o ar. Ele parou em frente às portas do que era um calabouço e empurrou a madeira.

Uma mulher que costumava ter lindos cabelos loiros, lisos e arrumados e sempre vestia roupas de alta costura agora usava apenas o troço do que era seu último vestido da Corte: azul celeste. Da cor dos seus olhos, que agora eram nada além de um reflexo da jovem aventureira que ela sempre fora, com uma camada de terra por cima, enterrada, morta, suja igual o vestido.

– Vim trazer comida.

– Você tem quem faça isso por você. Não precisava se dar ao trabalho.

– Eu salvei a sua vida. Seu irmão teria a matado.

Você me matou - ela dá ênfase no você. - Não importa se estou viva se estou presa. Estou viva de corpo, mas meu ser está morto. Você me condenou à morte ao me prender aqui.

Ele sabia o quanto ela prezava sua liberdade, por isso percebeu que a prisão seria melhor do que a morte.

– Joffrey a quer morta. Seu irmão a quer morta. Os Le Lëuken a querem morta. Eu, pelo contrário, tive a consideração de mantê-la viva. Eu a salvei.

– Você quer algo em troca, se não não teria o feito. Me diga o que é e me liberte.

A verdade era que ele realmente tinha ido até Hahle para prendê-la para Joffrey. Porém, ao vê-la diante da mira de um revólver, ao ver que seu irmão iria matá-la, porque, sim, Andrew viu nos olhos de Heron que ele não hesitaria, lembrou de si mesmo e de Josh. Não podia permitir isso. Além do mais, ela era sua esposa no papel. Era necessária em seus planos. Porém, no fundo, ele sabia que não foi apenas por interesse que ele a salvou.

– Você já lidou com essas pessoas. Você nasceu na Corte. Eu sou do norte, as coisas lá são resolvidas com mortes. Aqui, porém, há todos esses esquemas... eu quero que me ajude.

– O que você quer?

– Tenho certeza que Joffrey está me usando para derrubar Rebekah. Depois que ela cair, ele colocará outra pessoa no trono, isso se ele não assumir. Eu quero sua ajuda para que isso não aconteça.

– E você confia em mim? - ela ri. - Isso é ridículo.

– Não, não confio. Mas acredito que seu desejo de ser rainha supera qualquer outro. Além do mais, os planos do Joffrey são mantê-la presa o resto da vida. Bem sabemos como ele muda de ideia rápido. Vai que ele decide executá-la... são crimes de guerra. Quem poderá puni-lo por isso?

Ela parece relevar.

– Nós ainda somos casados no papel. Reinaremos em Frömming. Hahle logo será nossa, se você quiser. Podemos deixar para seu irmão. Não me importo. Eu preciso da sua mente manipuladora e você precisa de um marido do seu lado. Como separação de algum membro da Corte é ilegal em Hahle, você precisa de mim tanto quanto eu preciso de você.

Sim. Ela realemente considera, Andrew vê isso em seus olhos. Ele só precisava pressionar um pouco mais.

– Eu irei a libertar. Você terá a sua vida de volta e eu prometo, Fleur, você terá sua vingança.

Ela sorri ao ouvir a palavra vingança. Melodiosa, lhe dava sentido a vida, um motivo para não ter se enforcado ainda.

– O que eu preciso fazer?

+++

Francis olha para a pintura diante de si. Uma mulher passava a mão pelo rosto e de um lado da face o rosto estava se desintegrando de forma esfumada, enquanto a outra face estava borrada pelo movimento da mão.

– Seu pai mandou fazer essa pintura - Henry fala. Francis não havia percebido sua presença até o momento. - Ele teve um sonho com essa mulher. Ele me contou, certa vez. Ela apareceu em seus devaneios mais profundos e disse que toda pessoa possuía duas faces: aquela que mostrava ao mundo e aquela que guardava para si.

– Ela não deveria estar com uma face feliz? - ele pergunta. - A face que mostra ao mundo.

– Bem analisado. Porém, essa mulher disse que a face dos reis era diferente. Sim, tanto um homem da Corte quanto um cidadão comum tem duas faces, ambas diferentes, porém os reis as restringem. Um rei tem que ser corajoso e pulso firme em ambas as faces, se não ele acaba perdendo o controle.

Francis observa a pintura novamente. Pela forma como a mão da mulher estava e a sombra se encaixava, era como se ela estivesse arrancando algo de dentro de si. Francis tocou a mão da mulher na pintura e sentiu a textura da escuridão, a sombra que cobria o seu rosto.

– Além de perder o controle do país, um rei pode poder o controle sobre sua família ou pior: perder a si mesmo.

Francis pensa no assunto. Havia perdido muitas coisas e muitas pessoas no seu caminho até ali. Escolhas o levaram a isso, sejam suas ou de outras pessoas. O que importa é que ele não havia perdido a si mesmo.

Será?, parte da sua consciência murmura.

– Porém, um homem, seja rei ou não, que perde sua identidade, perde todo o resto.

Ele abriu mão de Katerina para que seu filho tivesse um futuro, para que seus irmãos não fossem executados. Jamais se arrependeria de ter salvo sua família, mas perder a mulher que ama era como perder parte de si mesmo.

Às vezes nós ganhamos e às vezes nós perdemos, ele diz a si mesmo.

– Eu perdi minha identidade - afirma em um sussurro.

Claro que seu tio não sabe o que ele quer falar. Ele não sabe que Katerina está viva, que Francis recebeu o perdão dela e que teve uma segunda oportunidade de ser feliz e a jogou fora. De qualquer forma, Henry diz:

– Faça seu próprio destino, sua nova identidade - ele sorri tristemente e Francis percebe que ele sente a perda de Jean-Pierre tanto quanto ele. - Encontre sua âncora ou fique à deriva no mar. A escolha é inteiramente sua.

+++

Joffrey caminha de um lado para o outro, preocupado. Katerina não havia dado notícias há dois dias. Estava preocupado. E agora Francis havia retomado o trono de Altulle juntamente com o casamento com Britney. Katerina estava desaparecida e ele não podia contatar ninguém para procurá-la, afinal ela estava oficialmente morta.

Olha para Ivna, que observa o monitor, incrédula. Rebekah ordenou mais um quebra-quebra dentro de Frömming, dessa vez contra as pessoas pagãs. Estátuas foram destruídas, casas foram queimadas, pessoas foram presas.

– Ela está destruindo tudo que minha família construiu - ele sussurra.

– Ela é nossa filha - Ivna sibila. - O que você fez para ajudá-la?

– Você disse que daria conta. Eu acreditei que você poderia trazer a sanidade dela à tona, mas parece que nem mesmo você tem esse poder. Rebekah está perdida.

Ivna se aproxima, raivosa, apontando o dedo para o rosto dele.

– Eu não vou desistir dela. Rebekah viverá.

– Infelizmente, Ivna, os loucos estão condenados.

A morena balança a cabeça e acerta um tapa no rosto de Joffrey.

– Minha filha vai viver. Tudo o que ela precisa é ficar longe daquele trono maldito.

– E como você pretende depô-la? Estou organizando revoltas há meses e até agora tudo o que aconteceu foi a raiva dela aumentar assim como a lista dos assassinatos.

Ivna olha para o monitor. Rebekah havia acabado de dar a ordem para queimarem as sedes das organizações pagãs.

– Marquei uma reunião com a única pessoa que pode realmente tirá-la do trono: o Papa.

+++

Katerina explica para Hana seu plano. Ela aceita o fato da irmã estar viva e decide fazer perguntas depois que tudo acalmasse.

– Kate... tem algo que você precisa saber.

A ruiva mais velha fica em silêncio.

– A filha de Melanie e Josh está aqui.

Katerina não responde a princípio. Não tem nada contra, mas... filha?

– Melanie tem uma filha?

Ela jamais soube. A convivência delas foi algo rápido e momentâneo, mas sentiu empatia por ela. Viu como ela era guerreira e como lutava pelos rebeldes e por seus direitos, como era livre e decidida. Katerina sabia que Melanie era alguém que ela sempre desejou ser, mas jamais teve a liberdade para isso. Melanie não devia nada para ninguém e ao saber que era sua irmã, por mais que tenha ficado surpresa, Katerina gostou. Mesmo depois de descobrir que não eram irmãs de sangue, continuou a considerar Melanie sua irmã. Kurt sempre seria o seu pai, então Melanie também sempre seria sua irmã. Não mudaria isso.

E agora ela tem mais alguém. Mesmo após ter perdido tantas pessoas... parece que a vida estava restituindo tudo aquilo que foi tirado dela. Mais alguém para sua família.

– Ela é a cara de nosso pai, Kate - Hana sorri. - Quero dizer...

Claro que Harriet havia contado para ela.

– Kurt também é meu pai, Han. Ele sempre será.

As irmãs se olham.

– Vamos deixar os planos para depois? Acho que tem alguém que está ansioso para te ver.

O coração de Katerina dá um salto. Estava adiando esse momento. Ansiava por ele, mas tinha medo. Medo de Erik não a reconhecer, medo de vê-lo chamar Hana de mãe. Havia se passado dois anos, afinal. Ele podia simplesmente...

– Tia Hana - uma voz leve e masculina, apesar de infantil, chama. - Quem é essa?

Então Katerina se vira e o vê. Pequeno, no colo de Don, de cabelos loiros e olhos grandes e azuis. O nariz, a boca fina, o queixo imponente, as covinhas, a forma de falar... era tudo de Erik. Tudo. Katerina sente os olhos marejarem.

Quem é essa?

Hana se aproxima e pega o pequeno Erik do colo. Don olha para Katerina, espantado. Eles se conheciam desde sempre, afinal. É claro que a reconheceria.

– Meu querido, lembra que eu contei que sua mãe viria o visitar em breve?

O pequeno concorda.

– Bom, Erik - Hana sorri. - Essa é a sua mãe e ela veio lhe ver.


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Notas finais do capítulo

Fleur viva, Katerina reencontrando o filho... grandes emoções na nossa reta final.



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