Unforgivable escrita por oakenshield


Capítulo 12
Revenge


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora. Semana de provas... Fiz um capítulo ENORME pra vocês, para compensar.



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– Hemorragia arterial - a médica fala. - Tentativa de suicídio causada por doença delirante não identificada. Três facadas no estômago.

Valentina está com a Dra. Jocelyn Wain, uma mulher já de meia idade, e dois enfermeiros, que arrastam a maca pelos frios corredores do esconderijo subterrâneo dos rebeldes.

– Possível perda dos movimentos - ela mexe em um computador portátil -, depressão, estresse pós-traumático...

De repente, o aparelho começa a apitar de forma diferente.

– Parada cardiorrespiratória - Jocelyn berra.

Bipe. Bipe. Bipe.

– Estamos perdendo a paciente! Não deixem a rainha morrer.

Os enfermeiros empurram a maca com Katerina em cima para a sala de cirurgia. Eles pegam os aparelhos de choque, rasgam a blusa dela na região dos seios e pressionam o aparelho em seu peito.

O corpo pálido da ruiva dá pulos, mas além disso, nada acontece. Ela não volta a respirar, seus olhos não se abrem, seu coração não bombeia mais o sangue...

– Um, dois, três - Jocelyn conta. Mais um choque. - Um. Dois. Três!

Jocelyn respira fundo. Seus olhos passam pelo relógio no seu pulso. Ela não olha para Valentina quando diz:

– Horário de óbito: 18h47.

+++

Rebekah dispensa as criadas e se olha no espelho. Seu vestido é de mangas compridas feitas em renda e a cor dele vai de vermelho sangue e conforme desce, torna-se bordô. Vermelho, a cor da vingança.

Ela ajeita um fio de cabelo negro que cai no seu rosto para trás da orelha e olha o penteado que fizeram nela, prendendo a parte da frente do seu cabelo para trás e deixando o resto liso e solto.

Suas joias não eram muito extravagantes. Havia apenas o colar de diamantes que seu pai lhe deu no seu aniversário de dezoito anos e a aliança. Rebekah retira a última e a deposita em cima da cômoda. Talvez mandasse desmanchá-la para fazer uma nova corrente.

Ela pergunta aos guardas onde está seu marido e um deles diz que Alek está na Torre Sangrenta.

O local é chamado assim porque a Grande Guerra, também conhecida como Batalha de Saint. Crick, foi decidida ali. Quando o presidente tirano estava encurralado pelos soldados dos Archiberz, ele tinha apenas uma escolha: entregar o poder a Caine.

Porém o idiota pensou que pudesse lutar e atacou. O que aconteceu ali foi uma grande carnificina. Rebekah não sabia porque chamavam de Batalha de Saint. Crick, até porque ninguém nunca quis dizer a ela sobre isso.

Não importa agora. Ela precisa fazer o necessário.

A morena segue sozinha para a Torre Sangrenta e encontra Alek no topo.

– Por favor, não se jogue daí.

Alek dá uma risadinha e caminha até ela, lhe dando um beijo.

– Nunca.

– Eu finalmente achei você - ela sorri. - O anúncio será feito agora.

– Mas recém escureceu.

– Trocaram meu horário - ela informa. - Sabe como é esse pessoal da imprensa...

Ele sorri forçadamente.

– Eu só queria trocar de roupa.

– Tudo bem. Eu te acompanho até o quarto.

Descendo a Torre Sangrenta e segurando a vontade de atirá-lo pelas íngremes escadas, Rebekah assentiu para um dos guardas de confiança ali presente. Estava tudo planejado.

Quando viraram o corredor para subir as escadas, os guardas já aguardavam Alek com metralhadoras e escopetas nas mãos.

– Sr. Alek Richmanoff, o senhor está preso por falsidade ideológica, calúnia, injúria, difamação e traição contra o reino e, principalmente, contra a Sua Majestade, Rebekah Christina Scherminski Archiberz Richmanoff, VI do seu nome, rainha de Frömming, imperatriz das Ilhas Perdidas e princesa herdeira da Rússia.

Eu sou destruidora, Rebekah pensou com orgulho.

– Deve ser engano - Alek diz. - Eu nunca trairia a... - ele a olha, desesperado. - Bekah, por favor, diga a eles... diga que é um engano... diga que eu nunca a trairia...

O sorriso no rosto da rainha se transforma em ira.

– Há o anúncio daqui a poucos momentos, pelo amor de Deus - Alek implora.

– Não há porcaria de anúncio nenhum - ela rosna. - Foi tudo uma mentira, assim como todas as outras que você me contou.

Dessa vez ele realmente parecia surpreso.

– O quê?

– Não se preocupe, porque você não vai apodrecer em Hülle - ela se vira para as escadas. - Sua execução está marcada para daqui três dias.

Ao som dos sons guturais e desesperados que saem dos lábios de Alek, Rebekah sobe as escadas com um sorriso no rosto.

+++

Valentina sai do centro cirúrgico com o jaleco e as luvas ensanguentadas. Francis se levanta e anda rapidamente até ela.

– Deu tudo certo?

Ela trava o maxilar e ele já sabe que algo ruim aconteceu.

– Katerina perdeu os movimentos?

Valentina não responde.

– Ela vai ter alguma sequela? As alucinações não vão parar?

Ela olha para seus pés e depois para Francis. Não há coragem dentro dela.

– Eu posso vê-la?

– Impossível.

– Por quê?

– Porque quando algo assim acontece, testes precisam ser feitos antes de...

Ele trava.

– Antes do quê? - ele já se desespera.

– Antes do enterro.

É como se uma pedra o atingisse em cheio. Bolhas se formam no seu estômago e estouram, a sua garganta e seus olhos queimam e seus joelhos fraquejam diante da revelação. Ele se apoia na parede e seus olhos ardem como nunca, como se ácido tivesse sido jogado neles. A queimação é insuportável. Seu nariz coça e é como se toda a alegria do mundo tivesse sumido.

Francis nunca se sentiu tão infeliz nos últimos meses. Lágrimas escorrem dos seus olhos e ele não se envergonha delas em momento algum. Ele urra de dor em meio ao choro e Valentina o abraça, dizendo algo que tente o reconfortar. Nada adianta. Ela dispensa todos os presentes na sala de espera para que eles possam conversar.

Ele não quer conversar. Quer se enterrar debaixo dos cobertores e nunca mais sair de lá. Quer vestir uma das suas camisas sociais que Katerina sempre usava escondido e nunca mais tirá-la. Quer estar ao lado dela novamente, beijá-la, tocá-la de todas as formas possíveis e impossíveis. Quer trazê-la de volta a vida. Ele apenas a quer ali. Algo inimaginável. Impossível. Ele chorou novamente por isso.

A ruiva sempre fora uma mulher tão forte... ele não conseguia acreditar que isso estava acontecendo.

Tão bonita, tão jovem... tão cheia de vida.

Ele vira-se para Valentina. Não há nada que o faça acreditar no que está prestes a dizer, mas não havia mais esperança. Toda a sua fé estava perdida.

– Katerina está morta.

+++

Alison se levanta da cama e cruza os cabelos em frente a camisola. Las Mees é conhecida pelo seu clima ameno na maior parte do tempo, mas havia algo durante o ano, uma época de transição, que o ar se tornava tão frio que muitas vezes geava. Nunca nevava. Ela estava acostumada com o calor insuportável e escaldante de Altulle, um país litorâneo onde todos eram bronzeados, apesar de que quando tomava sol, sua pele ficava vermelha irritadiça. Ela achava engraçado até começar a arder.

Seus olhos passeiam pelo enorme quarto de Petrus. Achava seu quarto grande, mas aquilo... aquilo era realmente gigante. Maior que a sala de reuniões do rei, que também é bem grande.

Petrus já era rei antes de se casar com ela. Seu pai havia morrido quando ele ainda era pequeno e Branka assumiu como Rainha Regente. Quando seu filho se tornou maior de idade, ela decidiu renunciar para ele assumir. Ela não se sentia confortável no trono, Petrus havia lhe segredado. De qualquer forma, ele se casou com uma mulher de saúde frágil que acabou falecendo no ano passado. Como um rei não pode abrir mão de sua rainha, ele se tornou noivo de Fleur Hallaya, segunda na linha de sucessão de Hahle. Eles romperam pela quarentena que Joffrey impôs a Branka. Sua mãe vinha tentando arranjar uma noiva a ele, até que Alison disse ao seu pai que tinha interesse por Petrus, sem dizer que estava fazendo isso por Valerie. Jean-Pierre procurou Branka e o casamento foi logo acertado.

– Minha mãe realmente nasceu para ser uma rainha - ele lhe contou. - Sempre muito educada, com as palavras certas, porém não para o trono... você consegue me compreender? Como se ela devesse ser uma princesa no final de uma longa linha de sucessão.

Alison entendia. Havia Francis em primeiro lugar, depois seus futuros filhos, os filhos dos seus filhos e assim por diante. Depois vinha Hector e sua descendência. Aí vinha ela. Ela havia sido criada para se casar com um lorde, um duque ou algo do tipo... não com um rei. Era muito mais do que havia imaginado.

Petrus estava sendo bom para ela. Eles conversavam bastante, trocavam ideias sobre questões políticas ou simplesmente sobre o clima frio da capital naquela época. Ele nunca tomava um decisão sem a opinião dela e a loira gostava disso. Em Altulle, nunca era ouvida. Ali, a voz era ela.

Na última noite, ela e Petrus conversaram até tarde. Hoje, haveria a festa de aniversário de Harriet. Alison estava animada. Harriet e Branka haviam se mostrado extremamente atenciosas e pacientes com ela.

Petrus gostava de dormir depois do almoço, por isso ela assumia todas as reuniões. Naquela tarde, ela estava tão cansada que adotou a política do novo marido e simplesmente adorou.

Alison tomou um banho e lavou os cabelos com calma. Ela se vestiu com uma camisa social azul clarinha de Petrus que estava no banheiro e que batia logo abaixo da sua intimidade. Quando saiu do banheiro, Petrus estava acordado, já trabalhando na mesinha no canto do quarto. Ela sorriu para ele diante da visão: seu marido vestia apenas uma bermuda cinza carvão e nada além disso. Seu abdômen definido estava de fora e seus cabelos loiros estavam harmoniosamente despenteados.

– Por favor, escove os dentes - ela diz. - Estou com vontade de te beijar, mas não gosto de beijar pessoas que recém acordaram.

Petrus dá uma risadinha e se encaminha para o banheiro. Alguns rápidos minutos depois, ele volta para o quarto e caminha até ela, a puxando pela cintura e a beijando.

Alison sorri em meio ao beijo. Ela adora o gosto de creme dental de menta de Petrus. As mãos dele a apalpam. Alison deixa. Está realmente afim, porém por um infortúnio do destino, alguém bate na porta. Alguém entra.

Hector.

– Com licença - sua voz é irritada. - Nós temos compromissos, Alis.

– Já estou indo - ela responde com raiva, dando um beijo caloroso em Petrus. Depois pega o sobretudo preto na altura dos joelhos e o coloca acima da camisa do marido.

Hector a guia pelo corredor.

– Então vocês estão se dando bem? - ele pergunta.

– Mais do que você imagina.

– Eu consigo imaginar pelo jeito que se tratam.

– Eu ainda não estou grávida como a sua mulher, não é? Mas em breve estarei.

As notícias corriam, é claro. Assim que partiu, Alison pediu as criadas e aos seguranças de sua confiança que lhe passarem informações.

– Alis, eu sinto sua falta.

– Não diga isso aqui - ela rosna. - Somos vigiados o tempo todo.

– Será que não podemos conversar sozinhos em algum lugar?

Ela ainda está muito magoada com Hector, mas adoraria vê-lo se humilhar para ela. Por outro lado, Alison tinha uma certa tendência a ceder tudo para Hector e sabia que se ele jogasse charme, ela morderia a isca.

De qualquer forma, algo dentro dela ansiava por isso. Então ela o conduz até a sala de reuniões do rei, onde nenhuma câmera e nenhum microfone entra. As paredes também são especiais, proibindo que o som fosse ouvido por alguém de fora.

Alison apenas fecha a porta, mas Hector a tranca e joga a chave para o outro canto da sala.

– O que você está fazendo?

– Alison, eu não aguento mais... juro que tentei, mas não consigo ficar longe de você.

– Você me dispensou, lembra?

Hector respira fundo. Não podia mais esconder isso. Estava o matando.

– Nosso pai descobriu sobre nós, Alis.

Ela não sabe como reagir. Como assim, descobriu? Ela se pergunta. Eles não eram muito discretos, mas não havia como suspeitar, em hipótese alguma...

– E como ele reagiu?

– Eu acho que ele ainda está em negação, porque simplesmente me disse para terminar e seguir em frente.

Ela respira fundo e caminha até a mesa de centro.

– Você acha que ele seria tão frio ao ponto de ignorar isso?

– Eu duvido. Acho que quando ele se tocar da dimensão do problema, irá enlouquecer.

Alison balança a cabeça.

– Nós havíamos nos acertado. Estávamos tão bem - ela olha para Hector. - Eu e ele. Eu jurava que tudo daria certo...

– Alison - Hector toca seu braço -, eu não consigo viver longe de você. Eu não posso mais. Isso está me consumindo - ele a olha no fundo dos olhos. - Eu sei que você havia me escolhido e eu joguei isso fora, mas se você ainda me quiser...

Ela se afasta. Não podia ser daquele jeito.

– Você me magoou muito - ela o olha e o vê assentir - e agora eu estou casada.

– Se você tivesse se casado em Altulle, poderia ser sido anulado.

– Pois é, mas não casei. Me casei em Las Mees. Com o rei. Ele poderia mandar me matar, Hec. Você quer isso?

Ele nega com a cabeça.

– Então vá embora.

Ela olha para a chave jogada no canto da sala. No começo era só sexo, um desejo incontrolável e insaciável pelo proibido. Conhecer o desconhecido. Aquela vontade ardente de ter as mãos daquele que sempre a abraçava e a protegia, daquele cujos lábios beijavam seu rosto quando ela na verdade queria que beijassem seus lábios...

Mas agora...

Tudo parece diferente. Com o passar do tempo, Alison viu um lado carinhoso no irmão que só se mostrava para ela e adorava isso. Enquanto todos falavam que Hector não prestava, ela dizia para si mesma que aquilo não era verdade. Quando começou a sentir ciumes das idas dele até o bordel dos Kionbach, percebeu que estava apaixonada.

O problema é que eles são irmãos. Essa relação não daria certo em lugar algum e isso a destruía a todo momento. Esse é o motivo pelo qual ela procura outros relacionamentos desesperadamente. Homens, mulheres... qualquer coisa que não fosse a relação incestuosa com o irmão. Porém negar não adiantou, porque ela tem uma cabeça, mas também tem um coração. Seu peito arde quando vê Hector se aproximando e seu corpo treme quando ele a puxa pela cintura antes de tomar seus lábios. Seus olhos brilham quando o vê e ela não sbe como agir, por isso deixa ele a conduzir. Não poder estar com ele a quebrava em mil pedaços.

Se isso não é amor, Alison constata, eu realmente não sei o que poderia ser.

Ela sabia que se ele a beijasse nesse exato momento, deixaria as coisas irem a diante. Se Hector insistisse, ela sabia que não teria como deixar para lá.

Vendo isso nos olhos dela, ele balançou a cabeça negativamente.

– Eu não posso desistir. Eu não quero.

Ele a puxa pela cintura e a beija ardentemente, depois tira seu sobretudo preto com rapidez e ao mesmo tempo, as mãos frias e pálidas de Alison trabalham para tirar a camisa social do irmão enquanto ele tira a dela. Hector a joga em cima da grande mesa de mogno da sala de reuniões e beija todo o seu corpo com uma calma que a deixa nervosa, uma forma de tortura.

– Isso é loucura - ela sussurra no ouvido dele, passeando as mãos pelas suas costas.

– O quê? - ele pergunta enquanto deposita vários beijos na região da sua clavícula.

– Eu e você aqui - Alison diz. - Se alguém descobrir...

– Seremos presos por traição e incesto, julgados e mortos - ele sorri. - O perigoso não torna tudo mais excitante?

Alison acha aquilo meio macabro, não queria morrer, mas ninguém descobriria mesmo. A prova estava trancada, não havia câmeras e ninguém podia ouvi-los ali... por que desistiria agora quando Hector não desistiu?

Ela decidiu aceitar o seu destino: estava fadada a ser uma princesa incestuosa.

+++

As palavras ecoam na cabeça de Katerina.

– (...) Não deixem a rainha morrer.

Diante dela, há apenas luz. Então Erik. Ele está com a mão estendida, ao mesmo tempo em que a diz para sobreviver. Uma metáfora, uma escolha.

O pequeno Erik aparece nos braços do seu marido.

– Podemos viver os três juntos para sempre - ele diz. - O lugar é maravilhoso, mas você não está aqui. Podemos esperar por Erik durante alguns anos.

Katerina tem vontade de segui-lo ao mesmo tempo em que quer ficar. Poderia encontrar Erik e seu pai, mas ainda havia tanta coisa na Terra para ela... seu filho, sua mãe, sua irmã... Francis.

Ela se lembra dos beijos trocados com Erik, da noite em que eles dormiram juntos pela primeira fez, logo após o casamento, na consumação... a noite em que geraram seu pequeno filho, das promessas sussurras no calor do amor, juras de paixão eterna, corpos colados, sentimentos à flor da pele e emoções ardentes. Ela o amava com toda a intensidade que seu coração podia sentir, pena que percebeu isso tarde demais.

A ruiva também se lembra que desde pequena seu pai Kurt a ensinava a se portar como uma rainha, dizendo que deveria tomar decisões difíceis e abrir mão de qualquer coisa que fosse necessário para reinar. Lembrava-se das tardes correndo pelos corredores frios do palácio com Michael, Rebekah e Hana. Como as coisas costumavam ser fáceis...

No inverno eles saiam para o jardim onde árvores estavam cobertas de neve e faziam bonecos, castelos e coisas do tipo, além de jogar bolas de neves uns nos outros.

Katerina se lembra do seu casamento e do dia em que assumiu o trono. Ela se sentiu tão grande no dia da sua coroação com Erik a seu lado, a defendendo de Ivna. Sua primeira noite, seu primeiro dado em Michael por causa de um jogo entre eles. Verdade ou desafio. Katerina havia pedido desafio e Rebekah a desafiou a beijar Michael. Ela aceitou o desafio e Michael também. Eles ficaram. Desde aquele dia ela nutriu sentimentos pelo garoto que acreditava ser seu primo, até conhecer Francis.

Francis...

Se lembra das circunstâncias em que o conheceu. Ela praticamente o vê na sua frente naquele momento, remexendo no seu diário. Ela lembra de ter negado tanto a ele que não era virgem que acabou acreditando naquilo.

Ela havia tido um namorado antes de Francis, um caso escondido. Eles haviam começado a ter algo e Katerina iria se entregar a ele, havia até decidido. Estava pronta para ele. Eles começaram, mas nunca terminaram. Ela sabia como fazer, mas nunca havia dito a oportunidade de colocar seus conhecimentos em prática.

Eu sei o que fazer, ela disse a Francis antes de dormir com ele pela primeira vez. Antes de perder a sua virgindade.

Tudo parecia tão fácil...

De repente, um homem alto, pálido e imponente, de cabelos cor de fogo e roupas escuras irrompe da luz.

– Pai.

Seus olhos se enchem de lágrimas. Há anos que não o via, sem contar seus sonhos e lembranças. Parecia tão real que ela pôde tocá-lo, sentir sua mão grande, fria e macia. Ela nunca havia sentido tanto a falta de um pai...

– Reine.

Então ele vai embora tão rapidamente quanto chegou.

– Sinto muito - ela se afasta de Erik, tentando voltar à vida.

Um vento forte sopra, uma dor lacinante a atinge no estômago e ela sente choques no seu peito.

– Um, dois, três - ela ouve a voz berrante da médica. - Um. Dois. Três.

Eles estão tentando reanimá-la. Porém é tarde, porque o vento a conduz para longe.

Morta, ela admite. Estou morta.

+++

Desirée acende um cigarro. Ela não costuma fumar, mas quando está nervosa precisa arranjar um jeito de se acalmar.

Henry, vendo-a daquele jeito, procura se aproximar. Ele se joga na cama ao seu lado e toca seus dedos gelados.

– O que a aflige, meu amor?

– Hector está em Las Mees. Aposto que ele e Alison estão se acertando.

– Alison está casada. Você deveria parar de se preocupar com ele.

Desirée suspira.

– Eu não me preocupo com ela. Eu só quero a minha vingança.

Henry toca o seu rosto e sorri.

– Eu adoro quando você fica assim.

– Assim como?

– Irritada.

Henry é o irmão mais novo de Jean-Pierre Kionbach. Quando Desirée o procurou para ajudá-la em sua vingança, Henry nem pestanejou. Ele disse que o seu preço seria apenas a diversão. A loira compreendeu que tipo de diversão que ele queria não era apenas na cama, mas sim que ele queria ver o circo pegar fogo. Henry Kionbach nunca quis o trono, pelo contrário, ele quer distância do símbolo de poder e problema.

De qualquer forma, parece que Desirée havia o conquistado. Ele não ligou quando ela disse que era ex-namorada da sobrinha incestuosa dele. Ele não ligou quando ela contou que era uma prostituta e nem para outras coisas do tipo. Pela primeira vez em muito tempo, ela não se sentiu julgada e isso era bom demais para ser verdade.

Henry é lindo. Com seus cabelos loiros escuros e um tanto compridos, grandes olhos azuis e um sorriso confiante e brilhante. Sem falar no corpo... ele provavelmente ia a academia todos os dias, porque não era possível... Desirée não costumava sentir vontade de ficar com homens, mas quando sentia era algo bem intenso. Acontece que o que ela sentia por Henry era bem mais do que isso. Era algo ardente, completamente inexplicável. Como se os dois tivessem conectados, destinados um ao outro. Ela sentia que poderia queimar se o tocasse por muito tempo, mas quando estavam juntos, ela não sentia vontade de parar.

– O que nós vamos fazer? - ela pergunta. - Eles pensam que Jean-Pierre sabe de tudo. Vão acabar o questionando...

– Eles não serão tão idiotas de confrontar o pai sobre o caso incestuoso.

– Mas se forem....

– Então é melhor eu avisar, não é mesmo? - ele sorri maliciosamente. - JP não gosta de surpresas e eu adoro atormentar o meu irmão mais velho.

+++

Valentina respira fundo ao apertar o botão de solicitação. Poderia estar fazendo a coisa errada, mas não havia mais o que fazer. Não ligaria para Harriet no dia do seu aniversário para dizer que filha havia morrido.

Alguns segundos depois, a imagem de Joffrey aparece no maior monitor de Cérebro. Seus cabelos pretos estão ajeitados com gel para trás e seus olhos verdes estão grandes e brilhosos. A vida de imperador realmente o fez bem.

– Valentina.

– Czar.

– A que devo a honra?

– Não é com alegria que lhe faço esse comunicado. Só estou ligando porque esse não é o tipo de notícia que Harriet gostaria de saber no dia do aniversário.

– Em que posso ser útil para meus adoráveis rebeldes?

– Eu gostaria de saber para onde eu mando o corpo de uma pessoa muito importante para você.

Joffrey nem se toca no momento o que ela está tentando dizer.

Rebekah está em Frömming com Ivna, Michael está em Ahnmach, e o pequeno Erik está seguro no Forte da Lua, ele pensa. Harriet está em Las Mees.

– Não há ninguém de importância para mim que possa...

Ele se lembra dela.

Não é possível que ela tenha fugido com eles...

– De quem é o corpo?

– Katerina - Valentina diz. - Sua filha.

Joffrey quase cai da cadeira giratória. Não é possivel...

Tão jovem, tão forte...

A minha filha. Ele respira fundo.

– Há quanto tempo que ela está morta?

Valentina olha no relógio.

– Cinco minutos.

– E o Dr. Carrick não tentou nada?

– Se me permite, czar - Carrick aparece em Cérebro sem autorização - a sua filha foi envenenada.

– E quem faria isso?

– Se me permite, matar uma rainha não é algo tão incomum. Mesmo assim, veneno é arma de mulher.

– Como que Katerina morreu?

– Suicídio.

Não, Joffrey nega. Ele se nega a acreditar naquilo. Katerina nunca...

– Diga a verdade, Carrick - Valentina rosna. - Uma das consequência do veneno são os delírios. Katerina teve um com Erik e acabou se matando.

– Então quer dizer que se esse incompetente tivesse curado a minha filha, ela não teria delírio suicida algum?

Valentina assente.

Joffrey olha furioso para Carrick.

– Concerte isso.

– Ele não...

Joffrey não quer saber.

– Concerte isso. Eu sei que você pode. Já fez algo parecido antes.

– É extremamente arriscado.

– O máximo que pode acontecer é ela não reviver. Pelo menos teremos tentado.

Ele olha agora diretamente para Valentina.

– Se Katerina não sobreviver, saiba que em um mês estarei bombardeando seu esconderijo subterrâneo.

A ligação é desfeita e Valentina olha para Carrick, ignorando a ameaça de Joffrey.

– Como assim, já fez algo parecido antes?

Ele olha para ela. Há muito tempo ele não a olhava daquele jeito...

– É tudo uma questão de bioquímica... eu simplesmente...

– Carrick, diga logo.

– Eu tenho algo que pode trazer Katerina de volta à vida.

Valentina caminha até a porta de Cérebro.

– Então devemos tentar imediatamente enquanto o sangue está fresco - ela sorri. - Temos que avisar Francis.

– Pode não dar certo. É melhor não criar falsas expectativas...

Ela entende o que ele quer dizer.

– Vamos conseguir - Valentina garante, o empurrando para fora. - Agora mexa nos seus vidrinhos. Temos que trazer uma rainha de volta à vida.

+++

Fleur coloca um sobretudo vermelho que vai até seu pé. Está extremamente frio em Hahle, tanto que alguns flocos de neve caem levemente na pele exposta do seu rosto. Andrew está ao seu lado, conversando com os militares. Alek disse que estaria vindo para Hahle no fim do dia e já estava escuro.

– Está na hora, minha rainha.

Andrew sorri ao comando do General.

– Tudo pronto.

– O que vocês pensam que estão fazendo?

Não é possível. Fleur reconheceria aquela voz em qualquer lugar...

– Heron...

Ele caminha até a irmã e a abraça. Lágrimas enchem seus olhos.

– Eu pensei que você...

– Sim, eu também pensei que vegetaria para sempre. Estou de volta!

Ela assente. Ama o irmão, mas não poderia deixar que algo estragasse os seus planos.

Os soldados fazem uma reverência demorada e depois batem continência. Heron costumava ser Chefe da Armada Hahleriana, antes de ficar em coma.

– Então, minha irmã? É a rainha agora?

– Apenas a Regente - ela dá de ombros. - Estava a sua espera.

– É mesmo?

Ela aponta para o céu escuro.

– Ao leste, tem Frömming. Aquela gente matou nosso pai e o deixou em coma durante meses... não é justo que não sofram por isso.

– A assassina do nosso pai não está lá.

– Com certeza retornará assim que souber que seu país está sofrendo nas mãos da atual monarca - Fleur dá um sorriso leve. - Sabia que chamam Rebekah de A Rainha Louca?

– Deveríamos pensar em uma estratégia melhor...

Fleur segura o pulso de Heron com força e as lágrimas começam a escorrer involuntariamente dos seus arregalados olhos azuis claros.

– Pelo nosso pai. Pelo nosso país - ela o olha com intensidade. - Por você.

Ele olha para os militares ali à postos e depois para a irmã. Eles querem fazer isso. Ele vê a ansiedade no rosto de cada um.

– Vocês estão dispostos a vingar o meu pai? - ele pergunta. - A mim?

– Sim, Majestade - todos dizem em uníssono.

Heron olha para Fleur e abre um sorriso, concordando. Fleur respira aliviada e caminha para a frente da Torre. Respira fundo, limpa as lágrimas.

Está na hora. Ela sorri e aponta.

– Atacar!

E as bombas somem na escuridão. Todas elas com apenas um destino: Frömming.


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Notas finais do capítulo

Katerina vive ou morre? Adoraria que vocês comentassem sobre. XOXO.



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