Peter Parker

Essa com todas as certezas é a coisa mais difícil que eu já fiz. E estou fazendo. Eu menti.

Não, não menti. Eu disse a verdade, mas omiti enormes fatos de Gwen. Céus, o jeito que ela me olhou... jurava que ela sabia de tudo, nada entre nós tinha mudado, mesmo com ela não se lembrando.

E nem lembraria, pensei com um sufoco no peito. Como deve ser.

Eu tenho que manter minha promessa, não posso mais vê-la.

A acompanhei até a Oscorp, onde ela tinha que rever algumas coisas que havia deixado lá e voltei para minha ronda como Homem Aranha. Consegui impedir dois assaltos. Esses caras não aprendem?!

Cheguei em casa no horário certo, entrando pela porta dos fundos e dando de cara com tia May e uma amiga dela conversando na cozinha.

— Hey. — Eu falei chamando a atenção delas.

— Peter, querido, ainda bem que chegou... Esta é Anna. —  Minha tia me puxou e apontou pra mulher. — Ela trabalha comigo lá no hospital.

— Oi, prazer.

— Minha sobrinha está na sala, acho que já a conhece. - Anna disse pra mim. — A trouxe para conversarem.

— É, Peter. Ela é uma boa moça.

— Ahmm.. certo. — assenti, confuso com os olhares que elas estavam me mandando. Fui direto para a sala curioso. — Mary Jane?!

— Eu não tenho nada a ver com isso, só pra você saber. — minha vizinha ruiva e sexy informou, cruzando os braços. — Faço tudo pela tia Anna.

— E eu faço tudo pela tia May. — sorri, me sentando ao seu lado.

Estava passando um noticiário na TV sobre mim. Ou melhor, o Homem-Aranha. Percebi que Mary Jane ficou mais atenta a TV, sorri comigo mesmo.

— É fã dele? — Perguntei como quem não quer nada.

— Todos são fãs dele. O cara é demais! Sempre usa a cabeça para enfrentar os vilões e com bom humor, quem faz isso hoje em dia?

— Pelo visto sabe um monte de coisas dele não é MJ?

— MJ?

— Um apelido pra você. Mary Jane é muito longo.

— Preguiçoso. — Ela jogou uma almofada em mim. Nós rimos. — Mas sim, ele salva as pessoas. Hey! Você tira fotos dele não é?

— Tiro.

— Já chegou a falar com ele?

— Sim. Não sei. Talvez. Por que? — Mudei o tom de voz várias vezes, fazendo ela rir, aos poucos mais confortável na minha presença.

— É que... A maioria das pessoas vê ele como um herói, e sim ele é, mas ele também é uma pessoa embaixo daquela máscara. Deve ter uma vida normal. Por que desperdiçar isso?

— Isso é bem profundo. — Ela riu e eu continuei: — Acho que não é sobre desperdiçar e sim sobre dar. Ele dá esperança as pessoas.

— E depois fala que eu sou a profunda! — a ruiva brincou e eu dei de ombros.

— Eu sei, eu sei. Mas é verdade.

— E eu concordo. Só queria que... ele soubesse o quão gratos nós somos, o quão grata eu sou, sabe.

— Ele sabe. — disse, fingindo pensar. Era estranho falar com uma fã sobre mim enquanto eu era apenas Peter Parker. — De alguma maneira todos nós fazemos parte da história dele. Mesmo apenas como telespectadores que nem você ajudam a espalhar essa esperança.

— Heeey, você também espalha. — ela diz, me cutucando.

— Naaah. — sorri presunçoso enquanto levantava do sofá. — Eu não 'tô na história. Muito ocupado tirando fotos.

Gwen Stacy

Meu supervisor ficou surpreso ao me ver de volta, mas por sorte minha vaga ainda não tinha sido preenchida. Aceitei o novo protocolo sorrindo, sem mencionar o acidente. Com sorte, conseguiria descobrir mais sobre mim mesma sem ter que lidar com o olhar de pena dos meus colegas.

Era fácil o suficiente. A batida que sofri havia afetado apenas as memórias, não meu QI. Era estranho o número de coisas que eu sabia mesmo sem me lembrar.

Ainda assim, foi difícil me concentrar no trabalho depois da minha conversa com Peter. Eu não era tonta,só de olhá-lo eu podia sentir meu coração acelerar.

Como pude terminar com ele?

Bom... era Oxford. Devia ser mesmo importante pra mim.

Saí da Oscorp ás 18:30hrs, amanhã meu trabalho começaria de verdade. Respondi as mensagens de minha mãe enquanto esperava por um táxi do lado de fora da empresa.

— Nossa! O tempo esfria cada vez mais né? — Uma voz disse ao meu lado. Virei-me um pouco assustada, escondendo o celular.— Opa, foi mal. Só puxando assunto.

— Não, tudo bem. — assenti, hesitante. — Tá frio mesmo, mas logo o verão vai vir com tudo né, então...

— É mesmo, tem razão. Se bem que pra um campeão em patinação no gelo, o frio nem me incomoda.

— Campeão? Wow, legal.

O observei melhor, o homem era obviamente grande e tinha um cabelo loiro queimado, mas também era muito bonito, acompanhado por um sorriso charmoso que faria as bochechas de qualquer uma ficarem vermelhas como tomate.

Desviei o olhar sem graça quando notei que ele também me olhava e esperei pelo táxi, que apareceu alguns segundos depois.

O motorista olhou pra nós.

— Quem vem? Só pra avisar, tem um enorme congestionamento lá atrás. Um de vocês vai ficar ai esperando um tempão.

— Vai você. — O homem ao meu lado disse.

— Não, você pode ir.

— Não, você é uma dama.

— Ou podíamos ir juntos.— Antes que percebesse, já tinha dito aquilo. — Afinal, você está indo pra onde?

Ele pareceu hesitante.

— Brooklyn.

— Eu vou ficar antes disso, vamos lá. — Eu falei puxando ele pra dentro. O motorista começou a dirigir. — Meu nome é Gwen Stacy, e você?

— Edward. Edward Brock Jr. — Ele sorriu.— Mas todos me chamam de Eddie.

Narrador

Base da S.H.I.E.L.D

A mulher caminhava com uma postura séria pelo corredor.

Os olhos verdes centrados carregavam bolsas profundas, fruto de noites mal dormidas; não costumava fazer aquele tipo de trabalho, mas foi um pedido de Fury. E ela era boa em tudo que fazia.

— Agente Romanoff. — O homem cumprimentou antes mesmo dela abrir a porta. — Você nunca vem de mãos vazias.

— Acho que tenho uma resposta pro seu enigma. — Ela jogou as pastas na mesa do homem. — Foi até divertido... me fez ter algo pra fazer durante a madrugada.

— O que descobriu?

— Em todos os jornais de Nova York, o Clarim Diário é o que mais tem imagens do Homem Aranha em puro HD, um pouco estranho não é? Como conseguem? Um detalhe que costuma passar despercebido... Não por mim.

Enquanto Fury analisa os papéis, a ruiva continua:

— Eles tem dois fotógrafos no caso. Um que parece ter mais ligações com o mundo dos heróis do que dá pra acreditar. Mas não podemos esnobar o outro.

— Temos agentes na cola deles?

Natasha sorriu, assentindo. — Mas sabe, na velocidade que ele se move, vai ser difícil um agente conseguir chegar perto... e eu me incluo nesse círculo.

Fury suspirou, pensativo. Humm.

'Peter Benjamin Parker' e 'Edward Brock Jr.'

—  Droga. — Ele frustrou-se, sabia perfeitamente quem colocar na cola dos garotos. — Não acredito que vou envolver o Stark nisso.