Stay With Me escrita por Lady Liv


Capítulo 31
Capítulo 31 - Voltando ao chão




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Gwen Stacy

 

— Ué, você foi transferido? – perguntei sem entender o que Eddie Brock estava me dizendo. — Achei que os seguranças do Ha- digo, do sr. Osborn fossem particulares, que não pertenciam a empresa.

— Não pertencem.

Franzi o cenho.

Então com o simbionte nas mãos da NASA, é direito da Oscorp ir atrás das pesquisa que eles financiaram. Ouvi boatos que houveram problemas nas negociações depois que a viagem espacial chegou ao fim.

Algo em meu instinto dizia que o ataque de Gata Negra no planetário semanas atrás tinha algo a ver com isso... nada que eu podia provar, infelizmente.

— Cobrei um favor a um amigo meu, ele conseguiu me encaixar na segurança. Vou acompanhar o chefe na visita, mas pra você eu posso contar, – Eddie me confidenciou, se aproximando. — Essa é a minha última chance de provar o envolvimento do Homem Aranha nisso tudo.

— Homem Aranha. – repeti, cética.

— Não me olhe assim, é por causa dele que eu perdi meu emprego... bom, dele e do Parker, mas... – ele disse e eu desviei o olhar. — Desculpa, não queria te lembrar dele, é só que...

— Eu entendo.

— Preciso do máximo de empregos possíveis Gwen, eu estou me esforçando bastante pra mudar de vida. Já cometi muitos erros.

— Eu sei, admiro isso em você.

— Sério?

— É, te faz até parecer maduro. — brinquei e ele bufou uma risada. — Mas eu também sei que não está fazendo isso só por você. — o sorriso dele sumiu e ele abaixou a cabeça. Continuei, firme: — Homem Aranha, Ed? Há tantas outras celebridades pra perseguir e com menos risco de ser preso! Porque é isso que vai acontecer se te pegarem rodando os laboratórios da NASA sem autorização, ou pior-

— Tá, tá, chega! Chega, tá bom? Já ouvi.

— Eddie.

— Eu sou um bom jornalista, 'tá? É só entrar e eu me viro, converso com as pessoas, dou um jeito de ver as câmeras de segurança-

— Isso é loucura! – o interrompi, meus olhos arregalados. Eddie rolou os olhos.

— Um pouco mais de fé em mim, pode ser?

— Estou tentando, mas é difícil. Se dinheiro for problema, eu poss-

— Nem pense em terminar essa frase! – ele avisou, erguendo o dedo. — Agradeço, mas nunca precisei da ajuda de ninguém pra nada. Eu me viro.

— Desculpe.

Houve um momento de silêncio, e Eddie suspirou:

— Se eu ao menos ainda tivesse minha câmera podia tentar ganhar mais alguns trocados... mas essa é a minha única opção agora.

Dessa vez quem abaixou a cabeça fui eu. Eu sabia muito bem quem tinha quebrado a câmera.

— Câmera essa que eu ainda estou pagando. – ele riu, sem humor algum. — Pagando por algo que eu nem tenho mais porque era só o que me faltava um nome sujo no currículo né?! Essa pode ser uma ótima chance pra me vingar do Homem Aranha pelo o que ele fez. Ele estragou tudo.

— Não o culpe, talvez ele não soubesse da sua situação. - no momento que eu falei, me arrependi. Minha mente gritava hipócrita! pois é claro que Peter sabia! Eu mesma havia contado.

Eddie tinha razão em se irritar.

Não o defenda! Você de todas as pessoas deveria odiá-lo.

— Eu?!

Ai meu Deus, o que ele sabia? Será que ele-

— Seu pai, Gwen. – ele continuou e eu respirei aliviada.

— Ah.

Ufa. Ele estava se referindo ao ataque do Lagarto, não ao que Peter havia feito. Ai como eu sou boba, é claro que ele não sabia disso.

Um dos monitores estava ligado ao vivo na TV, imagens do Homem Aranha salvando um casal de um prédio incendiado. As pessoas aplaudiam o herói e meu coração se aqueceu ao vê-lo de novo com o uniforme vermelho e azul.

— Quero ver quanto tempo isso vai durar. – Eddie murmurou rancoroso, também assistindo as imagens. – Herói de Nova York. Humpth. Um egoísta com complexo de deus isso sim.

Mordi os lábios, tentando amenizar:

— Egoísmo é uma emoção humana, Eddie. As vezes cometemos erros, acho que ele também.

Eddie me encarou, os olhos dele quase perfurando meu rosto.

Você não. Você é perfeita.

Me virei sem jeito, de volta ao trabalho. Era difícil saber o que se passava pela mente de Eddie, primeiro ele me trata como um troféu e depois... Achei que pudéssemos ser amigos, mas ao que parecia, ainda havia alguma espécie de crush que ele insistia em nutrir por mim.

Terminando de digitar as mudanças na genética dos ratos usados aquela semana, enviei o relatório para meu superior.

Só então notei que Eddie ainda estava ali.

— O que foi? – perguntei sem tirar os olhos do computador.

— Nada, é só que... Gwen, as vezes você fala as coisas de um jeito que...

— Que o que?

— Eu tenho a impressão de que você sabe mais do que parece dizer.

O fitei, cautelosa.

— O que quer dizer?

— Está escondendo algo de mim? – ele me respondeu com outra pergunta. — Ou de alguém? Sabe que eu posso te ajudar né? Você é minha amiga.

Certo, estou calma. Não há nada de diferente aqui. É só uma simples pergunta. E eu não vou ficar nervosa.

— Eu... não sei do que está falando, sério. Eu não estou escondendo nada de ninguém. Talvez seja só o meu jeito mesmo, minha vida é... simples e normal e entediante.

— Aham. – Eddie disse, ainda me encarando. Por fim, deu de ombros. — Foi mal, deve ser bobeira minha. Ando muito estressado.

— É, com certeza. – Concordei, fechando o computador. — Bom, tá na minha hora.

— Eu até te acompanharia, mas ainda tenho muitas coisas pra fazer. Você sabe.

— É, infelizmente. – Respondi com uma carranca, o fazendo rir. — Vê se toma cuidado Eddie. E vê se toma juízo antes de ir nessa missão suicida.

E assim nos despedimos, ele foi para direita e eu para esquerda.

Cheguei em casa no fim da tarde, tomando um banho e vestindo um pijama. Minha mãe ligou para dar notícias de minha tia doente, e me fez marcar de ligar para escola e saber como meus irmãos estavam. Sorri, preparando um filme para assistir e pegando um pote de sorvete. Era exatamente assim que eu queria passar minha noite-

Até que recebi a visita de minhas amigas eufóricas, tentando me convencer a ir para a festa que Liz Allan ia dar.

— Aaaah não, não mesmo. Sem ânimo.

— Gwen! – Allison exclamou.

— Cansada.

— Gwen! – Jennie exclamou.

— Na foça.

Elas riram, me puxando do sofá.

— Ai, meu sorvete! – eu ri, segurando o pote firme contra meu corpo. – Isso é sequestro, não podem fazer isso!

— Pelo seu próprio bem!

— Meu bem é ficar aqui, quentinha com meu sorvete-

— Gwen, isso não faz sentido. – Jennie revirou os olhos, abrindo a porta do quarto. Allison correu para o meu guarda roupa. – Algo bem sexy, Ally!

— Sexy? No armário da Gwen? Vou ganhar o prêmio nobel se eu encontrar.

— Heeey! Dá pra parar de arremessar minhas roupas? São muitas e eu tenho muito trabalho de arruma-las depois.

— Foi mal. — Allison deu de ombros, mas continuou. Rolei os olhos.

— Anime-se Gwen! Até quando vai ficar na foça?

— Eu estava brincando! Não estou na foça!

— Então vamos pra festa da Liz! Ser feliz um pouquinho! – Jennie disse, buscando minhas maquiagens.

— Mas eu estou feliz aonde eu estou.

— Me engana que eu gosto. – Allison murmurou.

— É, não seja chata.

— Vocês é que são, estão exagerando! – falei, sem irritação realmente.

— Gwen, isso é tudo por causa do Peter? Ele não merece tudo isso.

— E você nos contou que vocês vivem no "chove não molha" há séculos, então uma hora ou outra isso iria acabar. – Allison fez uma careta. — Não imaginava que você fosse ficar assim.

— Além disso tem muitos outros caras que amariam te conhecer. – Jennie completou, erguendo a sobrancelha. Não precisava pensar muito para saber em quem ela estava pensando.

— Não é tão fácil como pensam.

— Sabemos disso, ele foi seu primeiro amor e etc, – Jennie disse. — mas uma hora... você tem que crescer.

Suspirei.

Dava pra ver que elas estavam tentando me ajudar mas elas não sabiam. O que Peter e eu temos... tivemos... ainda temos? Oh, complicado demais e especial. Não dava pra esquecer o que nós vivemos de uma hora pra outra. (mesmo com ele demonstrando o contrário, ugh, idiota!)

— Sabe, sua vida parece uma novela mexicana as vezes. – Allison falou depois que eu fiquei em silêncio. — Só não consigo ver onde está o alívio cômico.

— Você é o alívio cômico da minha vida, Ally. – Sorri pra ela. — Vocês duas, na verdade. Me trazem de volta pro chão. Me lembram como é ser normal.

Tiram a minha mente do perigo do mundo dos heróis e me enchem com as futilidades do dia a dia... era uma divina ignorância as vezes, apenas ser uma jovem normal com problemas normais. Nada de simbionte ou monstros.

Olhamos uma pra cara da outra e sem razão, começamos a rir.

— Então, vamos? – Perguntei me sentindo animada.

— Ué, pra onde?

— Pra festa oras!

Elas arregalaram os olhos antes de gritarem eufóricas e voltarem a remexer no meu guarda roupa.

— É assim que se fala, garota!

— Mas deixa que eu escolho a roupa!

— Aaaah não!

 

Felícia Hardy

 

Acordei fisgadas em minha testa, a dor de cabeça forte como resultado da pequena fuga minha e de Harry da empresa. Havíamos bebido demais para esquecer os problemas que os acionistas criaram. Nunca ia imaginar que meu trabalho como Gata Negra seria menos estressante do que meu trabalho como Felícia Hardy, assistente pessoal do herdeiro da Oscorp. Me levantei da cama devagar, o chão estava frio nos meus pés, minhas pernas tremendo a cada passo. Ah, que sensação horrível! Eu realmente não devia ter bebido tanto.

Peguei uma das camisas sociais de Harry e caminhei enquanto abotoava os botões. Ao passar pela janela do apartamento, vi que já estava anoitecendo. Espera ai, quanto tempo eu fiquei dormindo?! O pensamento me fez despertar ainda mais. Eu não podia ter dormido o dia inteiro, podia?

Cheguei na sala, encontrando Harry em pé em frente a TV.

— É, acabei de descobri porque Fisk anda tão ocupado. — ele contou, desligando o jornal e sem se virar pra mim, estendeu um copo d'água e um comprimido. Aceitei, franzindo o cenho. — Esse justiceiro de Hells Kitchen 'tá deixando ele tão maluco quanto eu. Mas pra ele é bem pior, os negócios dele estão em jogo.

— Eu não poderia me importar menos. — reclamei em um sussurro, sentando no sofá.

— É, eu também não. — Harry me ouviu e concordou, e pelo seu tom, parecia estar sorrindo. Eu não saberia dizer, estava mantendo meus olhos quase fechados por uma razão e esta era, minha terrível ressaca. — Menos um problema pra nós! Podemos focar nas pesquisas com o simbionte sem ele na nossa cola.

— Engraçado alguém como o Fisk se interessa na cura do câncer. — continuei a sussurrar, minha voz ainda rouca de ressaca. — Mas é bom que ele nos deixe em paz, já nos basta a NASA querendo salvar a humanidade.

— Salvar. — Harry repetiu em ironia. — É tudo questão de dinheiro e poder.

Assenti, suspirando. Após alguns minutos quieta no sofá, consegui abrir os olhos completamente. Me surpreendi com a expressão pensativa de Harry, sentado na poltrona a minha frente.

— O que foi? — perguntei, ele me olhou. — O que te preocupa?

— Poder.

Franzi o cenho.

— A pesquisa com o simbionte não apenas nos dá poder, ele em si é poder. Vimos o que ele fez com o Homem Aranha.

— O deixou violento.

— O deixou poderoso. — ele corrigiu. — Peter me provou mais uma vez que o Homem Aranha não é símbolo de esperança, ele tem um lado sombrio bem guardado. Rancor. Ego. E se o simbionte encontrasse alguém com tanta sede de vingança quanto eu?

Pisquei, demorando alguns segundos para captar o que ele estava tentando dizer.

— Espera, você não está-

— Não, não eu.

— Quem?

— Não sei.

— Quem?!

— Não sei! — ele repetiu, insistente. — Ninguém da laia do Fisk com certeza. Alguém mais low profile, sem dinheiro ou recursos.

— Mas e a pesquisa?!

— Já temos material o suficiente.

— Não, não temos! Ainda estamos em testes!

— Felícia-

— Estamos falando de uma doença mundial que-

— Quer salvar a humanidade também, Felícia?! Não sabia que você tinha esse lado!

— Não tenho, seu babaca. — eu falei, e senti um amargor em minha boca com a potencia de minhas palavras. — Como você mesmo disse é tudo questão de poder e dinheiro. E é o que a Oscorp precisa agora. Boa visibilidade.

— Está soando como os acionistas!

— Você sabe muito bem que eu sou diferente deles.

— Sei mesmo?!

Assim que ele perguntou, abaixou a cabeça, quase envergonhado em ter explodido com desconfianças. Me levantei, engolindo a mágoa a seco.

— Não faz assim, eu entendo você. — eu murmurei, passando a mão em sua cabeça como um carinho. 

— Não, não entende. — ele murmura.

— Entendo sim. Todos que se aproximam de você querem algo, esperam pelo momento certo para atacar, para trair... Mas não eu, Harry. Eu te prometo.

Ele não respondeu, tenso. Continuei mais uma vez, tentando:

— Eu sei bem onde a minha lealdade está, e você? Você sabe?

— Sinceramente? Não, — ele retrucou, espantando minha mão como se fazia com uma mosca. — O que esperar de uma ladra, não é mesmo?

Me calei, ignorando a sensação ruim que crescia em meu peito ao ouvi-lo dizer aquilo.

— Ora, não me olhe assim. Sabe que estou certo. — Harry se levanta, suspirando. — Você se aproveitou das missões que dei a você. Juntou recursos. Eu notei.

— Harry-

— O que me garante que não vai escapar no próximo avião?

— Eu garanto!

— Oh? Você? A filha de... um pai que está na prisão?

— Não o envolva nisso!

— Um ladrão, Felícia. — Harry quase cuspiu. — Acho que a maça não cai muito longe da árvore, afinal de contas.

Oh, eu já havia sacado o que ele estava tentando fazer. Ele estava tentando me afastar.

Mas Deus, por que ele precisava ser tão cruel?

— Concordo... a genética ruim do seu pai continua viva mesmo com ele morto.

Talvez porque ele sabia que eu também era. 

Desviei o olhar, sentindo os olhos queimarem em um arrependimento nada bem vindo. Odiava ser fraca. Odiava que ele tinha a capacidade de me machucar. Odiava que eu mesma tinha dado a ele essa capacidade.

 Bem sabia que não precisávamos de simbionte algum, o próprio stress pegava o pior de nós, nos jogando um contra o outro. Por dias acreditei que com o tempo Harry esqueceria da vingança contra o Homem Aranha, mas não. A sede e a desconfiança dele só aumentaram. Nada era mais importante do que isso para ele. Nem mesmo eu.

Huh. Eu não me importo.

Virou mentirosa também?

— A cabeça ainda dói? — a voz suave dele me surpreende. Esperava que explodisse, que fosse embora, porém ele continuava ali. Esperando. Encarando. — Você bebeu demais ontem.

— Sério gênio? Deve ser por isso que eu não me lembro de nada. — rebati, ainda massageando a testa. Geralmente os comprimidos de Harry eram eficientes.

— Foi o Balkan¹ com certeza.

— Quanto tempo eu dormi, hein?

— Muito tempo.

— Não acredito que me deixou tomar aquilo. — reclamei, erguendo os olhos e me surpreendendo de novo ao ver um sorriso de lado em seus lábios. — E ainda possível está sobriamente feliz em me ver desse jeito, parabéns babaca.

— Eu também estava bêbado ontem.

— Aham, é claro que estava, isso explica conseguir se lembrar de que eu bebi.

— Ora, tenho facilidade em lembrar de meus momentos com você.

Parei, o sentimento quente em meu peito se transformando em algo diferente da raiva ou reclamação... algo até mais assustador. Harry me encarava de maneira tão intensa que era quase impossível não sentir aquele embrulho no estômago. Seus olhos, azuis como um céu incendiado. Como era possível? Desde o começo, como se pudesse enxergar através de mim. 

Ele brincava comigo das piores maneiras possíveis, e ainda assim tudo nele era magnético. Hipnótico. Atraía a mim e meus esquecidos sonhos de menina; um futuro sem desconfiança, uma possibilidade quase perfeita.

E Harry Osborn não é esse tipo de homem. Ele não mima. Por alguns momentos, queria que ele me mimasse só um pouco.

Oh, eu sabia muito bem onde isso ia parar.

Ele iria quebrar o meu coração.

Ou eu o dele.

— Já eu, mesmo me esforçando, não consigo lembrar de nada que valha a pena.

E naquele momento egoísta, preferia que fosse eu.

Vi seu semblante mudar, seu maxilar se fechando com força, um desviar de olhos rápido demais para que não significasse nada. Ele murmurou algo e saiu, me deixando sozinha.

De volta ao chão, eu acho. Bem vinda a vida real. 

 


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Notas finais do capítulo

Balkan¹: É um tipo de vodca com valor muito alto em álcool. Ela está entre as 10 bebidas mais fortes do mundo.