Stay With Me escrita por Lady Liv


Capítulo 30
Capítulo 30 - It's not you, it's me.


Notas iniciais do capítulo

Música: https://www.youtube.com/watch?v=zE-otKElskk&ab_channel=SuperpopCoMusic



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"Eu sabia que queria você,

mas a felicidade nunca foi minha,

para mantê-la por tanto tempo."

 

Peter Parker

 

— Eu sou uma pessoa horrível, tia May.

Sentada no sofá, a mulher que me criou apenas me encarava pacientemente enquanto eu chorava.

— E acho que... estraguei tudo. De novo.

— Oh querido...

— Me desculpe, – limpei o rosto com a manga da camisa, era quase patético o meu estado, mas podia ser pior. Oh, muito pior. – Não deveria ter falado daquele jeito com a senhora, não deveria falar daquele jeito com ninguém... Perdão mesmo, tia.

Ela simplesmente veio até mim, como sempre viria, não importava o que acontecesse... e me abraçou.

As emoções reprimidas me preenchiam com toda a força, um soco doeria menos. Todo aquele tempo com o simbionte foi como um sonho lúcido (pesadelo, na verdade), eu sendo apenas um mero observador dos meus atos e sem me importar com as consequências. Céus, se eu tivesse alcançado a simbiose com aquela coisa... o que poderia ter acontecido?

O que aconteceu é que deveria me preocupar, pensei arrependido.

Eu havia iludido Mary Jane, minha melhor amiga. Eu havia magoado Gwen, de tantas maneiras que seria impossível que ela ainda me amasse (por favor, por favor...). Eu fui ingrato com tia May, a mulher que me criou, a minha... a minha mãe. Até mesmo minhas ações contra Eddie Brock e JJ Jameson... desnecessárias e totalmente não minhas, me pesavam na consciência. A violência enquanto eu estava com o simbionte era como uma droga pra mim. Eu queria mais. Eu precisava demais.

Tudo só piorou quando eu vi o aquele homem, o suposto homem que matou meu tio.

Eu havia passado em frente a uma loja de TV's quando estava voltando pra casa. O jornal estava ligado e a reportagem dizia sobre o homem que eu quase matei.

Não era ele.

A polícia havia checado e eu até mesmo liguei de uma cabine telefônica para saber. Aparentemente, ele fazia parte de uma gangue que tinham como reconhecimento uma tatuagem de estrela no pulso.

— Sinto muito, filho. – o detetive me respondeu na hora.

— É, eu também.

Eu havia quase o matado.

Se não fosse por Gwen... meu Deus, Gwen! Sinto muito querida...

— Não chore meu amor, não chore. É claro que eu lhe perdoou. – tia May dizia me ninando em seus braços como uma criança. Não me importei. Eu precisava de seu carinho, precisava saber que eu ainda era humano. — Mas por que está chorando? O que houve?

Não respondi. Apenas chorei.

— Não quer contar? – neguei com a cabeça. — Okay, só... Vai ficar tudo bem, eu estou aqui, vai ficar tudo bem...

Assenti. Mesmo sabendo que não ficaria, mas torcendo para que ficasse.

E assim os dias se passaram. Fora uma semana completa de exaustão. Havia passado algumas matérias sobre a estranha volta do simbionte para NASA. Algumas pessoas falam que foi um "ato caridoso", outras especulam que tenha sido eu, digo, o Homem Aranha. A pesquisa deles havia recomeçado e pelo o que disseram, estão procurando naquele ser algum tipo de cura para o câncer. Sinceramente? Não consigo enxergar nada de bom vindo daquilo. Mas tomara que consigam. Ajudaria muitas pessoas.

Eu também já havia, é claro, voltado com meu antigo uniforme. O vermelho e azul nunca me fizeram tão bem. Jameson no entanto, estava indignado. O jornal aquela manhã quase me fez rir.

DE VOLTA AO VERMELHO: HOMEM ARANHA ATACA DE NOVO

Era bom voltar a normalidade.

— Peteeeeer! – Mary Jane cantarolou se jogando no banco do parquinho ao meu lado. Não foi difícil saber o que ela queria dessa vez, estava me importunando há três dias com aquela história: acompanhá-la em uma festa amanhã.

— Oi! O que você-

— Shhh! – ela me calou, sorrindo. — Tenho uma proposta.

— Não.

— Hey!

— Não.

Ela riu.

— Mas você nem ouviu o que eu tinha pra dizer.

— E nem preciso.

— Peter! – eu ri de sua cara e ela continuou. — Vamos lá! Você prometeu.

— Eu? Quando?

— Você disse semana passada que você viria "curtir a night" comigo algum dia. Tem que cumprir o que disse.

É, mas semana passada eu não estava muito ciente do que estava fazendo. Pensei em dizer, mas achei melhor não. Não queria envolve-la nisso.

— Deixa de ser chato, por favor. – ela fez um biquinho insistindo. — Eu não quero ter que ir sozinha.

— É só você estalar os dedos que todos os caras já caem em cima de você MJ, por que eu?

— Você é diferente.

— Obrigado por me chamar de estranho.

— Não. – ela deu um leve soco em meu ombro. — Ás vezes ser diferente é bom.

— Certo, certo...

— Certo?

— Certo. – concordei, e mal acabei de falar, a ruiva já tinha pulado e se agarrado em meu pescoço. — Estou morrendo! – dramatizei, sufocado.

— Deixa de ser nerd, seu chato!

Passamos algum tempo jogando conversa fora quando eu escutei uma sirene. Me levantei rapidamente me preparando pra correr quando percebei que Mary Jane ainda estava ali sentada me encarando.

Sorri nervosamente.

— Ah, eu preciso... - balancei as mãos fazendo sinal de câmera e ela sorriu.

— Vai lá meu herói! Tira as fotos dele! - assenti e sai de lá.

Quando tive certeza que estava longe o suficiente de Mary Jane, entrei num beco e coloquei meu uniforme o mais rápido possível. Da última vez, havia chegado um tanto atrasado e um policial levou um tiro de raspão. Não deixarei isso acontecer de novo.

Era um incêndio. Um homem e uma mulher se abraçavam gritando por ajuda enquanto o resto do prédio ardia em chamas. Algumas pessoas olhavam horrorizadas enquanto os bombeiros tentavam apagar o fogo.

— Socorro! — gritavam. — Por favor!

A escada de incêndio não era alta o suficiente para eles. Me apressei e voei para a janela em que eles estavam. Grudei-me na parede ao lado e disse:

— E aí, pessoal! Que calor hein.

— Homem Aranha!

— Vamos, me dê a sua mão, eu te ajudo a sair daí. – pedi, mas os dois se entreolharam hesitantes.

— Vai você. – o homem disse.

— Não. – ela retrucou. — Eu não vou te deixar.

— Candence, você tem que ir. Eu já estou indo.

A mulher olhou dele pra mim.

— Voltarei para busca-lo. – garanti e ela assentiu.

Segurei-a pelo braço a ajudando a passar pela grade. Ela parecia fraca, o cabelos loiros estavam cobertos de fuligem assim como todo o corpo. A segurei e joguei uma teia num prédio do outro lado, em seguida, soltei o peso e descemos em queda livre. Assim que a deixei no chão, corri em direção ao homem que me esperava ainda lá. O fogo estava quase o pegando.

— Venha! Segure meu braço. – chamei erguendo minha mão. Assim que ele segurou meu braço, eu nos soltei e fomos em direção do chão. Joguei outra teia e impedi o impacto.

Senti meu braço doer, mas ao menos me importei. O homem parecia desesperado varrendo o local com os olhos procurando a mulher. Policiais e médicos vieram em sua direção, mas ele desviava das perguntas até que a tal Candence surgiu em meio a eles, e ambos se chocaram num abraço, chorando e se beijando desesperadamente, apaixonados. As pessoas aplaudiram e tentaram chegar mais perto.

As mãos daquele casal se uniram enquanto eram tratados pelos paramédicos, e não se soltaram.

Ambos estavam de costas pra mim agora, e enquanto os observava, percebi o quanto os cabelos da moça me lembravam os de Gwen.

Quantas vezes nessa semana eu não quis ligar? Ouvir sua voz? Ver seu sorriso? Isso nunca mais aconteceria... Gwen deveria me odiar agora. E com razão.

Mas eu queria vê-la.

Precisava vê-la.

E foi o que eu fiz.

Depois de me distanciar daquela multidão, me lancei entre os prédios, ruas e avenidas de Nova York. Meu olhos varriam os locais tão desesperadamente quanto o homem a pouco, desesperado em busca do amor da minha vida. Voei por todos os lugares que ela poderia estar, céus, que dia da semana era hoje? Onde ela poderia estar? Na Oscorp, Peter! Minha mente gritou. É claro!

Assim que cheguei na avenida da Oscorp, me posicionei no parapeito de um prédio, olhando para pessoas andando pela calçada. Ainda era cedo, será que Gwen já havia entrado?

E então eu a vi.

Caminhando sem pressa, olhando para o chão. Os cabelos já ultrapassavam os ombros, e ela usava uma tiara preta como nos dias de escola, tão linda. Meu coração se acalmou. Olhei ao seu redor procurando algum indício de ameaça, e assim que concluí que não havia, assenti pra mim mesmo.

Ela estava bem. E isso bastava.

Talvez não emocionalmente, mas isso iria passar.

— Ah, me desculpe. – pedi, e como se ela pudesse me ouvir, no instante seguinte parou de andar, e eu vi sua cabeça se erguer e-

Foi como um choque.

Me afastei do parapeito rapidamente me escondendo atrás do concreto. Fechei os olhos fortemente, como eu era idiota. Eu não a mereço.

Voltei a tempo de vê-la voltar a andar normalmente e entrar dentro da Oscorp.

E ela parecia andar mais devagar do que antes.

 

"Desculpe que eu te amo,

desculpe por aquilo que faço.

Por tudo que eu nunca vou ser e tudo que eu sou."

 

Gwen Stacy

 

Trombei mais uma vez com outra pessoa. A sexta pessoa no dia. Mas tudo bem, era Nova York, isso acontece sempre.

Uma semana.

Uma longa semana de calmaria pra mim. Poderia ser bom, em outros momentos, o silêncio me seria maravilhoso... mas não naquele. Não agora.

Meu celular vibrou na bolsa e eu quase pulei assustada. Menos, Gwendolyn. Mensagem de... Liz Allen? Me chamando pra uma festa.

Rolei os olhos.

Não, não estava afim de festejar nada.

No começo da semana, recebi a notícia de que minha tia estava doente. Ela foi transferida de um hospital da Inglaterra para um em Chicago para ficar mais próxima da família, essa confusão toda fez com que minha mãe pedisse licença do trabalho nas Indústrias Stark e levando Josh, os dois foram para Chicago. Seria essa mais uma morte na família? Por favor, não, eu pensava.

Pra piorar, Simon e Howard saíram em um Acampamento de Férias na escola. E isso deixava a casa só pra mim. Nunca iria conseguir me acostumar com aquela espera. Tudo que eu podia fazer era me dedicar nos estudos.

O trabalho na Oscorp estava indo bem. Harry não me mandava mais aqueles olhares, e na verdade, eu mal o via.

Respirei fundo sem pressa continuando a andar quando-

— Harry. – murmurei assustada, caramba, seria por que eu havia pensado nele? Não, com certeza não. Um calafrio me subiu a espinha. Olhei pra trás enquanto andava. Franzi o cenho. Voltei a andar. Uma sensação. Sentia algum olhar queimar em mim. Essa coisa de vilões e heróis estivesse mexendo com a minha cabeça mesmo.

Parei e olhei para cima.

Por um instante, tive o vislumbre de ter visto algo vermelho se escondendo no topo do prédio. Um suspiro escapou de minha boca e eu senti meu coração acelerar.

O momento passou e minhas pernas voltaram a se mover de modo pesado, um turbilhão de pensamentos na minha cabeça.

— Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus...

Peter.

É claro que era ele, sempre foi ele, e pelo visto, continuava a me vigiar. Por que? Pra quê? Depois de tudo, depois de... ah caramba, por que ele simplesmente não vinha conversar? Ele deveria, certo? Porque... porque...

Porque ele me magoou. Ele quase atirou em mim.

Engoli o choro que queimava em minha garganta. Os problemas na família tinham me afastado daquelas emoções, mas elas ainda estavam lá. Peter havia me mostrado seu pior lado, a violência e o sangue em suas mãos estavam marcadas em minha mente como uma ferida. Era algo horrível.

 

"Desculpe pelo silêncio,

desculpe pela violência."

 

Não sabia se íamos nos recuperar daquilo nunca. Alcançamos nosso pior momento, a nossa crise mais forte. Céus, e eu achava que ele tentando cumprir uma promessa idiota era ruim!

E ainda assim, uma pequena parte de mim, uma pequena parte idiota de mim, se agarrava a esperança do talvez.

Talvez agora dê certo. Talvez agora, sem o simbionte em sua cabeça...

Talvez se ele viesse falar comigo. Colocar tudo em pratos limpos.

Ou talvez eu devesse. É, ele com certeza não viria. Ele nunca vem. As vezes parece que só eu que estou lutando pelo nosso amor.

Ainda existe amor?

Confuso, tudo muito confuso. Nós podemos consertar isso, juntos, há muito tempo, eu havia dito. Mas até quando haveria conserto? Seria aqui que iria acabar? Sem adeus? Sem beijo de despedida? Sem nenhum final?

Argh! Como Peter Parker é idiota!

E eu ainda mais,

pois ainda o amava.

 

"E então vem as palavras,

que fazem corações partidos nunca se reconstruírem,

'não é você, sou eu'"


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Notas finais do capítulo

Alguém consegue ver o que tem de diferente nesse capítulo? Um pequeno ester-eeg tem nele mostrando uma pista do que vai acontecer!