Peter Parker

— Parker!

— Parker!

— Parker!

Grunhi mais uma vez, me guiando pelos gritos de Jameson. Eu juro, esse cara ainda me faz ter um treco! Se bem que, com essa festa no planetário da NASA até que o humor dele havia suavizado.

Depois de Tony Stark fazer questão de convocar uma coletiva de impressa para apresentar o Homem Aranha como novo Vingador, mantendo a identidade um segredo é claro, o mundo da mídia estava de pernas pro ar. Tentei não pirar junto, quer dizer... Tony Stark!?! O quão legal é ter o Homem de Ferro como parceiro? Para meu chefe, péssimo. Jameson odiava Tony Stark e a mim ainda mais. Durante uma semana, todas as matérias do jornal se resumiam a como os heróis estavam enlouquecendo e que acabaríamos causando uma guerra civil.

Eu sei, que exagero!

— Sr. Jameson, sr., me desculpe, mas-

— Está desculpado meu filho, agora tire uma foto minha comendo esse canapé. E de um bom ângulo, não quero parecer gordo!

Rolei os olhos e fiz como ele tinha falado.

— Sr. Jameson-

— Já cansado, Parker? Você me envergonha.

— Com todo respeito, sr., – engoli em seco, a frustração me encorajando. — Mas já que seu filho vai ser homenageado hoje, eu acho que... bom, eu deveria pegar o melhor ângulo dele também não é? Quer, dizer, ele vai descer pelas escadas e... é...

Ele apertou os olhos e ergueu a mão, fazendo-me calar. Pareceu pensar por um momento e assentiu.

— Certo, vá. Mas fique perto.

Respirei aliviado praticamente correndo dali, a minha sorte era que o salão de festas era enorme.

Ao passar por executivos da Oscorp, foi impossível não me lembrar de Harry.

Harry... meu amigo, o que aconteceu conosco? Sentia algo ruim se formar em minha garganta só de pensar na possibilidade de ser tudo uma atuação da parte dele. Ele não poderia ser tão cruel, certo? Eu sabia que o veneno das aranhas havia mexido com sua cabeça, mas por quanto tempo?

Gwen se preocupava... e se ela se preocupava, eu me preocupava.

Cocei os olhos, suspirando. Já não me bastava isso, eu ainda tinha que me manter desperto com as ruas, caso Gata Negra resolva aparecer.

— Fugindo de Jameson, Parker?

Ah, mais essa agora!

— Brock.

— É divertido ver o seu fracasso. Arranjou esse terno aonde? No lixão?

— Não, no seu apartamento na verdade. Não vai se importar né? –  Respondi perdendo o resto de minha paciência. — 'Tava tudo caindo aos pedaços mesmo, vive lá de graça? Acho que embaixo da ponte é bem mais em conta, hein.

— Há há. Muito engraçado.

— Pois é.

— Tem visto a Mary Jane? — ele perguntou e eu franzi o cenho.

— Por que? Ela finalmente te deu um fora?

— Não é da sua conta. Só estou preocupado com os neurônios dela tendo você como vizinho. — ele sorriu cínico. Eu já tinha minha resposta na ponta da língua, quando ele continuou: — Já que não pude impedir uma, vou tentar impedir a outra de fazer uma burrada.

— A outra? De quem você está falando?

— Você voltou com a Gwen, não foi?

Apertei os olhos, indignação crescendo no meu peito.

— Isso não é da sua conta, mas sim.

— Eu só vou te falar isso uma vez, Parker-

— Não, eu que vou falar! Para de se meter na nossa vida. Fica longe da gente e fica longe da Mary Jane.

— Você se acha muito esperto, não é garoto. — Eddie fechou os punhos. — É mesmo uma pena que a Gwen seja tão boba a ponto de cair no seu papinho de...

Ele desatou a falar coisas que eu rapidamente deletava da minha mente. Aquela discussão ficava cada vez mais tensa, e apesar de sentir muita vontade, cair numa briga com Brock era a última coisa que eu queria.

— Eu não vou ouvir isso, me dá licença. — falei, tentando me afastar, mas ele me parou.

— Ela é boa demais pra você, você vai decepciona-la.

Assenti, mesmo que as palavras dele não tivessem peso nenhum pra mim.

— Tem razão, mas isso não muda o fato de que ela me escolheu.

Sai antes que ele voltasse a argumentar.

Apesar das preocupações, minha vida parecia estar seguindo um rumo certo e eu não deixaria a babaquice de Eddie Brock arruinar tudo.

Folguei um pouco a gravata e respirei fundo, me encostando numa pilastra. E foi então que eu a vi.

Gwen Stacy.

O vestido verde de alças estava firme em sua cintura e descia soltinho até um pouco abaixo dos joelhos, acompanhado de um cachecol vermelho de tecido fino e um salto preto. Os cabelos presos em um coque e a franja sobre sua testa. Tudo nela era tão simples, tão natural, tão...

Eu a amava. Eu a amava tanto.

Eddie estava certo. Ela era boa demais pra mim.

— 'Tô com a impressão de que você me viu assim que eu coloquei os pés aqui. — ela comentou sorrindo.

— Quando eu não te vejo?

— Tem uma multidão aqui, Peter.

— Eu sou capaz de te achar no meio das ruas mais movimentadas de Nova York, o que é um salãozinho em comparação?

Ela riu, dando de ombros.

— Você está lindo. — levando as mãos ao meu pescoço, ela concertou a gravata que eu havia folgado.

— Tia May passou a semana toda ajustando esse terno pra mim, era do tio Ben...

— Ele ia ficar orgulhoso de você. — Gwen diz, me fazendo relaxar.

— Obrigado, Gwendy. Mas sabe, com o salário que estou recebendo da... você sabe, S.H.I.E.L.D., — sussurrei. — Talvez eu consiga um próprio logo. Do jeito que Jameson está, vai querer me arrastar para todos os eventos existentes.

— Hum, quem diria! De freelancer para fotógrafo profissional de eventos chiques.

— O que eu posso fazer? Essa história de Vingador tá subindo minha cabeça.

Rimos e conversamos mais um pouco. Logo, o ponto alto da noite chegou e eu me separei de Gwen por um instante para tirar uma boa foto. 

 — Senhoras e Senhores, sejam bem vindos. - um homem bem vestido e jovem subiu as escadas. — Estamos aqui hoje celebrando não apenas vitória de um astronauta, não apenas o sucesso de uma missão, mas a bondade de um homem. Deem uma salva de palmas para o verdadeiro herói desse país, John Jameson.

A banda composta por violoncelistas começou a tocar uma melodia mais agitada enquanto John e a amiga de minha namorada desciam juntos. O pai do homenageado só faltava quebrar as mãos de tamanha força que batia palmas. Era engraçado o quão orgulhoso meu chefe estava.

Após fazer o meu trabalho, voltei a procurar minha loirinha e a encontrei no primeiro andar do salão. Subi as escadas rapidamente e a abracei.

 Ela riu, beijando minha bochecha.

— Pensando no que?

— Eu estava aqui observando a Allison com o John... o modo que ela olha pra ele. Apaixonada. — ela suspirou, descansando a cabeça em meu peito. — Me lembrei da gente.

— Oh?

— Qual foi o momento que você se apaixonou por mim?

— Eu sempre fui apaixonado por você, Gwen.

Ela riu. — Não, seu bobo. Não estou falando de crush obsessivo, estou falando...

— Obsessivo?

— ...de momento, o momento eu te amo. — ela concluiu. 

— Só falo se você falar primeiro.

— Okay.

— Ai meu Deus, você vai mesmo falar? Não 'tô acreditando.

Rimos e ela coçou o nariz daquela maneira adorável que fazia meu coração derreter.

— Quando você me revelou o seu segredo. 

— Own. — eu sorri.

— É sério, foi só ali que percebi o quão ferrada eu estava. De todos os garotos, eu fui me interessar logo por você.

— Uau, isso é muito fofo. — fechei a cara, falando em ironia.

— É verdade.

— Infelizmente, é. — nós rimos novamente e eu voltei a dizer: — Mas você também não ajuda.

— O que?! Sou eu que sigo as regras-

— Você é tão teimosa-

— ...se não fosse por mim, você não estaria aqui!

— ...e convencida, meu Deus...

— Aprendi com você.

— Vem cá, vem.

A puxei pelo braço e grudei nossos lábios. Gwen suspirou me abraçando e quando tudo parecia perfeito, eu senti a familiar sensação subir pela minha espinha, um som agudo em meus ouvidos.

— O que foi? — ela perguntou quando a soltei subitamente.

— Alguma coisa vai acontecer.

Assim que eu falei, o alarme do prédio soou e todos no salão se agitaram. Meu sentido aranha voltou com mais intensidade e eu olhei ao redor, buscando o invisível.

Havia algo grudado no chão, sob o carpete vermelho, e piscava.

Sem pensar, abracei Gwen nos jogando pro lado. Uma, duas, três... cinco explosões foram ouvidas e eu tenho certeza que metade delas vieram de dentro do salão. O caos tomou conta do local enquanto concreto e um pouco de chamas se espalhavam.

— Peter! — Gwen gemeu, se erguendo do chão. A havia protegido com meu corpo e graças a isso, ela não tinha nenhum arranhão.

— Você está bem? — ainda assim, perguntei.

— O que aconteceu?!

As luzes se apagaram e a correria se silenciou por um instante, acima de nós, o telhado de vidro explodiu, cacos de vidro machucando a todos que estavam no meio do salão.

Uma silhueta descia com o auxílio de um cabo.

— E é isso que acontece quando não me convidam pra uma festa! — a mulher sorriu, a luz do luar iluminando seus cabelos platinados.

Gwen segurou minha mão, e eu a apresentei:

— Gata Negra aconteceu.