Projeto Mutante escrita por Bianca Vivas


Capítulo 6
Confiar?


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores o/ Como estão? Como foi de véspera de Natal? E como está indo esse final de ano?
Bem, antes de mais nada eu quero dar as boas vindas a Matt Wagner 27 (sim, eu sei que estou atrada hihi), Aymee-chan e Giih Blackheart. Gostaria de agradecer aos três pelos comentários e por estarem acompanhando a fic. Gostaria de agradecer a Aymee pelas dicas, ao Matt pelos elogios e a Giih por ler mais uma de minhas histórias



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Diana limpou a garganta quando Viktor saiu da sala, para anunciar a sua presença. Nogueira a olhou surpreso, sem saber se ela estava ali durante sua conversa com o detetive, e com medo de que estivesse estado. Mas logo se recompôs e sorriu animado.

— Vamos disparar alguns tiros — ele disse, pegando o alvo da mão da garota e o apoiando numa das paredes da sala. — Então, o que você sabe sobre atirar?

Diana olhou-o envergonhada.

— Er... Serve se eu disser que você faz isso com armas? — Ela tentou sorrir, mas não foi bem-sucedida. Nogueira suspirou. Era pior do que ele imaginava. A menina não sabia nem manusear uma arma. Onde Viktor a encontrara?

— Olha, se for pra me olhar com essa cara, eu prefiro esperar o Viktor chegar e peço para ele me ensinar — ela disse irritada, tentando girar a Glock de Viktor na mão, sem conseguir.

— Tudo bem, vamos logo com isso.

Nogueira pegou a Glock da mão de Diana e mostrou como fazia para atirar. Depois pediu para a garota fazer o mesmo. Ela não conseguiu nem destravar a arma. Então ele a abraçou por trás, ajeitando os braços da garota. A instruiu a segurar a pistola com a duas mãos, para que o recuou da arma não a afetasse tanto. Ele estava prestes a ensiná-la como atirar com a Glock, quando alguém chegou.

— Mas o que é isso aqui? — Viktor perguntou, olhando de Diana para Nogueira.

O Delegado se afastou rapidamente da jovem. Diana, por sua vez, sorriu satisfeita. O detetive parecia não gostar da cena que via. Para confirmar suas suspeitas, tentou entrar na mente dele. Mas algo a bloqueava. Ela não podia ir mais fundo que a superfície de seus pensamentos aleatórios, não poderia ver o que ele sentia ou visitar suas memórias. Ele ainda oferecia resistência. Ela não sabia como, nem porque, mas imaginava que deveria ser por conta das habilidades que Nogueira lhe atribuíra.

Diana ficou irritada com isso, já que odiava não ser capaz de fazer o que queria. Mesmo assim, se obrigou a dar de ombros. Teria de ser pelo jeito antigo.

— Está com ciúmes, Viktor?

— Até parece — ele resmungou, depois alteou a voz. — Você vai ter que aprender isso mais tarde, temos que sair. Agora!

O tom dele era urgente. Diana podia jurar que seriam perseguidos novamente. Mas, ao ler os pensamentos superficiais de Viktor, não achou nada nesse sentido. Ele só estava com muita pressa. Se bem que aquela era a parte mais rasa do cérebro. Não dava para ter certeza. Não absoluta. Mais uma vez, Diana detestou o fato de Viktor não ser como todas as outras pessoas do mundo, com suas mentes fracas e manipuláveis; subordinadas a qualquer um que fosse superior.

Os três saíram do apartamento andando muito rápido. Pegaram apenas o essencial: armas, os documentos que estavam no cofre do Viktor e energéticos. Diana e Nogueira seguiram o detetive pelas ruas do bairro. Não faziam ideia de para onde iam, mas ele caminhava tão determinado que não ousaram questionar.

Algum tempo depois chegaram num beco sem saída. Uma Hillux estava estacionada ali. Era nova. Parecia ter acabado de sair da loja. Diana só podia imaginar o que ela estaria fazendo naquele beco sujo. Por sorte, não havia mendigos por ali, ou o coitado do carro já estaria todo arranhado.

— De quem é esse possante? — Perguntou Nogueira, impressionado com a descoberta.

— Meu — respondeu Viktor.

O delegado ficou surpreso com a resposta, mas Viktor lhe lançou um olhar silenciador e ele não perguntou nada. Pelo visto, o detetive era um homem cheio de mistérios e segredos. Diana não via a hora de desvendar todos eles. Mistérios a atraiam de uma maneira inacreditável. Era inevitável não se envolver com eles. E, naquele momento, ela já planejava como descobria todos os segredos que o homem escondia.

— Você dirige — disse Viktor, jogando a chave do carro para Diana e abrindo a porta do carona.

Eles entraram no carro. E Diana foi direto para a própria casa. A chuva recomeçou. Primeiro uma garoa leve, depois ficou mais forte. Então, apesar da ausência de trânsito as quatro e tanta da manhã, ela dirigia bastante devagar. Não conhecia aquele carro e tinha medo de sofrer um acidente com o asfalto molhado e a névoa que cobria a cidade. Chegou em casa quando o dia estava quase raiando.

Ela abriu a porta com a chave sobressalente que ficava embaixo do tapete, como nos filmes norte-americanos. Havia deixado a sua com Samuel. Fez sinal para os homens fazerem silêncio e entrou devagar. Encontrou Samuel esparramado na sua cama.

— O que esse garoto está fazendo aqui? — Perguntou Viktor assim que Diana ligou as luzes. — Como vocês se conhecem? — Ele gritou, puxando o menino de cima da cama e olhando acusadoramente para Diana.

Samuel acordou desnorteado e tomou um susto quando viu Viktor. A surpresa dele só não foi maior que a de Diana ao entender que seu melhor amigo e aquele detetive bonitão se conheciam fazia tempo. Ela sentou na beirada da cama enquanto Viktor exigia explicações.

— Eu não sabia que você conhecia o Samuel! — Ela gritou por fim.

— Não? — Viktor gritou de volta. — O cara está dormindo na sua cama e você não sabe nem que a prima dele era minha noiva! Muito estranho isso! — Ironizou.

Diana franziu o cenho. Não entendia aonde ele queria chegar. Se estivesse insinuando que ela armara toda aquela caçada por um motivo secreto e egoísta.... Ah! Viktor iria conhecer a verdadeira Diana! Ela não era manipuladora. Pelo menos, não desse jeito.

— Vamos lá! Responda! — Ele berrou, pegando Samuel pela gola da camisa e o jogando contra a parede. — Como vocês se conhecem? O que você falou de mim para ela? Responda!

Samuel tremia. Mal estava conseguindo respirar com Viktor o segurando daquele jeito. Tentava explicar a situação, mas o detetive só fazia gritar e exigir respostas. Ele estava louco. Falando de uma perseguição planejada e esculhambando Diana.

— Uou... E-ela é a... Ruby! — Conseguiu falar, por cima dos gritos de Viktor e quase perdendo o ar por causa disso.

— Ruby? — Diana e Viktor perguntaram em uníssono.

Ambos estavam surpresos com o nome. Mas Viktor, obviamente, já o ouvira antes.

— A garota de lábios vermelhos? — Viktor perguntou, olhando para Diana. Samuel assentiu.

Viktor então soltou Samuel.

Merda, pensou. Ele tinha beijado a garota por quem o primo de sua ex era apaixonado. Desde moleque. Merda. O garoto ia odiá-lo quando descobrisse.

— Me desculpe — ele disse, saindo do quarto. — Estou cansado e estressado. Preciso tomar um ar — então falou para Diana: — Conte a ele toda a história. Ele pode nos ajudar.

Ela assentiu. Samuel com certeza rastrearia os dois vigaristas no espaço cibernético. Viktor então saiu do quarto e bateu a porta. Foi até o terraço do prédio.

O sol já estava no céu, completo, apesar do brilho fraco. A chuva tinha parado, mas o chão do terraço ainda estava molhado. Olhou as horas: passava das cinco. As oito ele tinha que estar na delegacia. Era bom o garoto se apressar. Ele não ia deixar o trabalho esperando. Por mais tentador que fosse.

Inalou o ar de início de manhã bem profundamente. Em poucos meses ele estaria gelado. Mas agora até que estava agradável. Olhou para o horizonte. Pensava em Catarina.

Pensava em Diana. Pensava em tudo que acontecera no dia que passou. Tinha a ligeira impressão de que aqueles acontecimentos acabariam deixando a sua vida mais bagunçada do que já estava.

Daqui em diante, o que seria dele? Se voltasse atrás na sua decisão, treinamento avançado numa base secreta do governo. Se a mantivesse, a delegacia seria o lugar mais fácil para encontra-lo. E o quê mais? Não tinha mais noiva, provavelmente perdera também o melhor amigo — sua relação com Nogueira nunca mais seria a mesma depois de tudo o que descobrira — e ainda tinha a Diana. A corajosa, decidida e envolvente Diana. A menina dos lábios vermelhos. A Ruby do garoto Samuel. Dividira muitas coisas com aquela menina nas últimas vinte e quatro horas para transformá-la em menos que um fantasma.

— Achei que essa seria uma boa hora para conversarmos. — Nogueira se aproximou de Viktor e lhe estendeu duas garrafas com um líquido claro. — É ice — explicou.

— Achei que já tínhamos conversado tudo o que tínhamos para conversar. — Viktor aceitou a bebida.

— Eu tenho que te explicar algumas coisas... E entender outras — Nogueira se escorou na amurada e Viktor o imitou. — Eu queria que você soubesse que nem tudo é como Catarina deve ter contado. Ela exagera, algumas vezes.

Viktor franziu o cenho, mas deixou o delegado continuar a falar. Queria salvar a amizade. Por mais que fosse contra seus instintos, queria salvar sua amizade. Nunca o relacionamento. Catarina se mostrara uma verdadeira vadia, não merecia seu perdão. Mas Nogueira sempre fora um irmão de coração. Exceto nessa situação.

— Nós dormimos juntos algumas vezes. A primeira foi após uma festa que fomos, nós três. Vocês dois brigaram e ela ficou bastante chateada. Bebemos demais. Não sei como consegui dirigir até a minha casa e...

— Eu não preciso dos detalhes — Viktor o cortou e Nogueira assentiu.

— O que eu quero que você saiba é que não era nada marcado. Simplesmente acontecia. Era quando ela brigava com você e ia lá pra casa, bebíamos muito, e acontecia. Não podíamos evitar. Existia uma... uma atração muito forte entre a gente. E toda vez que acontecia... Meu Deus, toda vez que acontecia nós jurávamos que íamos parar. Mas sempre havia uma outra vez.

Viktor riu amargamente e bebeu mais um pouquinho da ice. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Nogueira estava se provando um verdadeiro covarde. Poderia dizer que pegou a sua noiva, sim. Falasse que até se arrependia, mas ela era muito gostosa para ele recusar. E também muito vadia para dar um fora nele. Seria mais verdadeiro e mais corajoso.

— Você não espera que eu te perdoe e diga que te entendo depois disso — olhou para o horizonte. — Puta merda, Nogueira! Dizer que era impossível de se controlar? Isso é papo de criança. Não temos mais quinze anos, não.

— Eu não quero que me perdoe. O que eu fiz... O que nós fizemos... não tem perdão. Mas, na última vez, estávamos decididos de verdade a parar. Eu juro para você. Por isso não entendo o motivo dela...

— Ah, faça-me o favor! Vocês não iam parar. Ela é uma vagabunda. Daquelas que você pega e joga fora. Eu que fui um burro por ter achado o contrário. E ela só me contou tudo isso porque, pelo menos, é corajosa. Ela tem fibra. Diferente de você, que é um covarde babaca.

Viktor entornou a ice na boca e colocou a garrafa na amurada. Saiu dali sem dirigir o olhar para Nogueira. Ele foi um bom amigo. Mas agora era apenas um parceiro nessa loucura que já estava acabando.

Voltou ao apartamento de Diana e encontrou a menina e Samuel sentados no chão da sala. Estavam observando o notebook. Samuel estava muito concentrado. Já ia perguntar quais eram as notícias quando Diana olhou para ele, com medo nos olhos azuis:

— Samuel descobriu quem eles são. E ela tem um projeto.

— Um projeto?

— Sim — Samuel respondeu, sem tirar os olhos da tela, digitava freneticamente. — Chama-se Projeto Mutante.

Viktor franziu o cenho. Mutante? Ou eles estavam falando de evolução ou aquela médica maluca achava que vivia num livro de ficção científica.

— Viktor... — Diana chamou com uma voz fraca e infantil. — Estou com medo.

Ele olhou para a garota. Ela se mostrara bastante corajosa naquela noite. Ela tinha uma bravura e uma ferocidade que poucos tinham. Era um pouco louca também, mas isso só a tornava mais forte. Viktor poderia jurar, mesmo sem conhecê-la, que poucas coisas seriam capazes de assustar Diana. E quando isso acontecia... bem, deveria ser algo realmente perigoso.

Naquele momento, os olhos azuis dela imploravam por algum conforto. Ele poderia ouvi-la pedindo para que lhe dissessem que não estava vivendo aquilo. Mas não poderia ser carinhoso com ela ou confortá-la, ou a atração que sentira naquele bar poderia vir à tona. Isso não poderia acontecer mais — não agora que ele sabia quem ela era. Achou melhor desviar as vistas.

Focou seu olhar em Samuel. O menino estava digitando freneticamente ainda. O maxilar estava rígido e, vez ou outra, franzia os lábios e estreitava os olhos. Clicava em vários links, e Viktor pôde ver que havia uma aba para o Facebook e outra para o Google abertas. Aproximou-se dele. Precisava de mais detalhes.

— Como descobriu isso, garoto? — Perguntou. — E o que está fazendo no Facebook?

— Você parece a minha mãe, olhando por cima do meu ombro. — Samuel respondeu depois de um tempo. Então, parou um pouco de digitar e olhou para Viktor. — A história completa e detalhada, no estilo Tolkien, ou um resumo como nos filmes?

Viktor soltou um muxoxo.

— Não tenho tempo para trocadilhos. Faz logo a porcaria do resumo.

— Ok, ok. — Samuel levantou as mãos em sinal de rendição e Diana deu um leve sorriso. — Seguinte: eu comecei a pesquisar sobre essa doutora Aya e esse inspetor aí. Ela é realmente uma médica. Geneticista, na verdade. Tem até pós-doutorado. É uma gênia. O inglês é tão inspetor quanto você é um detetive cumpridor das leis. Na verdade, ele é cientista e foi responsável por uma exposição da Wellcome Collection em que estava exposto o cérebro de Einstein. Aquela mesma que eu fui com a Diana, dois anos atrás.

— Sim, e o que isso tudo tem a ver com eles estarem atrás de mim?

— Bem, digamos que eu tenha contatos com hackers e tudo o mais. E também com um pessoal fissionado em teorias da conspiração. Um deles me passou o link que leva diretamente a um blog, na deep web. Era tudo meio obscuro e eu não daria créditos a nada disso, se a situação não fosse tão bizarra. Mas o fato é que rola um burburinho por aí de que os dois se juntaram e estão fazendo uma pesquisa com o DNA humano. Querem descobrir mutantes ou transformar toda a humanidade em uma raça de super-heróis, a mando dos nossos companheiros da América do Norte ou de alienígenas. Ninguém sabe.

— O quê? — Viktor perguntou, sem entender nada.

Diana suspirou e então começou a explicar:

— O que ele quer dizer é que, não importa como sejam essas teorias da conspiração sobre os dois: todas elas concordam que a médica louca e o inspetor falso estão com esse projeto mutante aí. — A garota olhou para o detetive, estava assustada, apesar de esconder isso muito bem com um tom de voz firme. — Viktor, se tiver algo que você não esteja nos contando, é melhor falar logo. Você não pode nos esconder informações novamente. Principalmente agora que sabemos que esses dois são verdadeiros malucos.

Viktor não soube o que dizer. Não poderia contar seus segredos para uma completa estranha. Mas algo na voz de Diana... uma certa urgência, misturada com aquele tom firme e seguro... Ele não sabia. Ela estava assustada, podia ver em seus olhos. Mas encontrava forças para vencer o próprio medo. Ele deveria dizer tudo sobre suas habilidades. Contudo, ele não podia revelar um segredo que apenas duas pessoas no mundo inteiro sabiam. As duas pessoas que o haviam traído da pior maneira possível. No fim, Viktor não sabia mais se poderia confiar em alguém novamente. Ficou calado.

Diana, por sua vez, tentava novamente entrar na mente de Viktor. Queria fazê-lo contar, ou arrancar o segredo a força. Mas sempre havia uma barreira. Ela sabia que ele tinha habilidades especiais, mas não sabia quais eram. E era disso que precisava. Não podia jogar um jogo sem saber as regras. Assim, estaria fadada a derrota. Diana nunca era derrotada. Ela iria apelar para seu último recurso.

— Viktor, você não é o único com segredos aqui. Se você não contar o que está acontecendo, eu estarei em perigo também.

Viktor franziu o cenho. Depois riu. Mas quando percebeu que Diana estava séria, ele ficou calado. Olhou-a, então, com curiosidade quando ela colocou uma das mãos nas têmporas de Samuel e disse:

— Ele não vai mais ter lembranças de sua visita aqui.

Quando ela puxou a mão de volta, Samuel fechou os olhos. Abriu-o poucos segundos depois, apenas para olhar confuso para Viktor e perguntar:

— O que está fazendo aqui? — Então olhou para Diana — Desde quando você conhece ele?

Viktor olhou espantado para Diana. Não podia acreditar naquilo. Os dois deveriam estar brincando com ele. Aquilo não podia ser real. Mas, por outro lado, ele também não poderia ser real. Nada do que ele fazia deveria existir. Diana poderia estar blefando. Ele ainda não sabia o motivo, mas tinha que ser isso. Os dois estavam fingindo. Deveriam ter combinado aquela manobra quando ele estava no terraço, conversando com Nogueira. Talvez os três tivessem combinado de pregar-lhe uma peça...

Isso! Aquilo tudo era uma grande brincadeira de mal gosto. Só podia ser. Não fazia sentido. Mesmo que ele próprio e suas habilidades não fizessem muito sentido também. Mesmo que todos os poros de seu corpo insistissem que Diana falava a verdade. Mesmo que o impossível tivesse se provado possível ao longo da sua vida. Ele ainda assim não queria acreditar.

— Não vai falar nada? — Ela perguntou, calando mais uma das perguntas de Samuel sobre a amizade dela com Viktor.

— O que você é? — Viktor sussurrou rendido, porque não podia negar o que seus olhos e seus instintos diziam.

Diana sorriu e tocou a têmpora de Samuel novamente. Ele teve a mesma reação de antes e então deu de ombros e voltou a fazer o que estava fazendo antes de Diana fazê-lo esquecer da visita de Viktor.

— Eu realmente não sei — ela disse sorrindo daquele jeito dela. — Então, vai me contar o seu grande segredo?

O detetive estava prestes a dizer que sim, quando ouviu um barulho. Tiros. Depois alguém sendo empurrado. Ele se lembrou que Nogueira ainda estava no terraço. Sentiu um temor tão grande pelo amigo que perdera, pelo colega que tinha. Levantou rapidamente e saiu correndo.

— Guardem tudo e vão para o carro. Me esperem lá. — Ele gritou para Diana e Samuel.

Samuel fechou o notebook assustado. Sabia que os tiros significavam que Aya e Frederico estavam ali. Não queria conhecer os dois. Tratou de sair correndo da sala. Mas parou no meio do caminho ao perceber que Diana não o acompanhava. Ela estava mexendo no estofado do sofá.

— O que está fazendo? — Perguntou apressado — Vamos logo. Não podemos ficar aqui! — Estou procurando por minha arma. Tenho certeza de que a deixei aqui — Diana respondeu, revirando almofadas e gavetas, até que achou a Glock no chão, perto de onde ela estivera sentada.

— Desde quando tem uma arma?

— Desde hoje — ela responde e já estava indo para o terraço quando Samuel a gritou.

— Por que você está indo pra lá? Ele mandou a gente fugir!

— Eu sei. Mas eu não vou deixar Viktor sozinho!

Ela disse e saiu correndo com a arma em punho. Se tudo desse certo, não precisaria atirar. Caso contrário, era bom ela conseguir destravar aquela coisa.

— Você nem sabe atirar!

Samuel ainda gritou para ela, numa tentativa de fazê-la desistir daquele ato de suicídio. Contudo, sua Diana não voltaria atrás. Ele sabia disso. Por isso, mesmo contra sua vontade e seu instinto de sobrevivência, ele correu atrás dela, abraçando o computador como se disso dependesse a sua vida.

Quando chegou ao terraço, encontrou uma Diana paralisada. Uma mulher apontava uma arma para ela. Diana segurava a Glock e também a apontava para a mulher, mas suas mãos tremiam. Samuel duvidava que ela conseguisse acertar daquele jeito. Duvidava até que ela conseguisse atirar. Enquanto isso, Nogueira e Viktor lutavam com um homem alto e loiro. Um revolver estava jogado no chão, e Viktor tentava chegar até ele. Ninguém parecia ter notado que Samuel havia chegado, até que a mulher falou:

— Que bom que chegou, querido — ela tirou os olhos de Diana e mirou-os em Samuel — Poderia ajudar a sua amiga a decidir: nos contar o que fazia com Viktor ou morrer.

— Eu já te disse que eu não vou escolher entre nenhum dos dois! — Diana gritou, então Aya disparou um tiro para o alto, fazendo a garota pular para trás.

Viktor, que estava atracado com Frederico, parou de socá-lo ao ouvir aquilo. Ele ainda não tinha percebido a chegada de Diana e muito menos a de Samuel. Quando ele viu Aya mirando a cabeça de Diana, sentiu raiva. Ele tinha dito para aqueles dois idiotas irem pro carro e eles estavam aqui! Deveria deixá-los morrer para aprenderem a ser menos teimosos.

Deu um último soco em Frederico e quando viu os olhos do inglês se fecharem, nem se importou em verificar se estava morto ou apenas desacordado. Passou pelo corpo desmaiado de Nogueira, pegou seu revolver e apontou para Aya.

— Deixe a garota e o garoto irem – ele disse — ou eu atiro!

— Me poupe, Viktor — Aya respondeu. — Você fugiu demais esta noite. Você e ela — Aya indicou Diana com o queixo. — Está na hora de se entregarem.

Viktor estava prestes a atirar na médica,  só não o fez porque percebeu que ela desviou o olhar do alvo. Acompanhou o rosto da médica e percebeu que ela olhava para algo atrás dele. Viktor virou-se de costas e deparou-se com Frederico. Estava bastante destruído, mas ainda assim de pé. Frederico se jogou contra Viktor e os dois começaram a lutar novamente.

Aya observava a luta pacientemente, esperando que seu aliado a vencesse logo. Diana aproveitava a distração dela para tentar destravar a Glock que tinha em mãos, enquanto Samuel correu para Nogueira.

O delegado, enquanto lutava com Frederico, levou uma coronhada na cabeça. O desmaio foi instantâneo. Mas ninguém se lembrou de pegar a arma dele. Então Samuel pôde achá-la. Ele não sabia como atirar — era tão leigo nesse assunto quanto Diana — mas achava o cano da arma bem duro. Com o ângulo e a velocidade necessários, talvez pudesse fazer Aya desmaiar também.

Frederico e Viktor ainda se atracavam. O inglês tinha cortes e arranhões feios, que sangravam. Viktor, entretanto, não tinha nem ao menos hematomas. Todos já haviam cicatrizado. Mas sua blusa estava empapada de um sangue que, com certeza, era dele. O sorriso de Aya diante daquela visão ia se desvanecendo. Se Frederico não desse logo um basta naquilo, perderiam a luta e Viktor escaparia novamente.

A médica estava tão concentrada na luta que não percebeu Samuel se esgueirando por trás dela. O garoto já ia acertar a cabeça de Aya quando Diana gritou, desesperada:

— Viktor!

Samuel se virou a tempo de ver o detetive caindo pela amurada. Então o caos começou.


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Notas finais do capítulo

Antes de perguntar o que vocês acharam: feliz Natal para todos vocês e para a família também. Que possa deus sempre iluminar o caminho de cada um de vocês e que o novo ano que está chegando traga muita paz, felicidade e amor. Tudo de bom para casa um de vocês



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