– Rápido! - apresso Savannah que está com dificuldade de carregar a sua mochila.

– Por que precisamos ir embora? - pergunta ela confusa.

– Eu não posso te explicar agora, mas precisamos ir! - respondo, olhando pela janela para verificar se alguém se aproximava.

Eu estou sendo procurada. Sou acusada pelo mesmo motivo que meus pais. Traição á capital. A capital acha que sou uma rebelde. Que maravilha. Suspiro e passo a mão pelo meu cabelo, para alisar alguns fios rebeldes que insistem em se destacar.

– Para onde vamos? - pergunta Savannah, enquanto pego sua mão e a guio para fora de casa.

– Vamos ficar na casa da senhora Mikaels - respondo me aproximando da porta da casa dela - Por enquanto.

Bato na porta e olho ao redor. Podem vir a qualquer momento. A porta se abre e a senhora Mikaels me encara assustada.

– Finch - ela me examina da cabeça aos pés - Oque faz aqui?

– Preciso me esconder - confesso - Podemos ficar aqui? Só por alguns dias?

Ela parece hesitar, algo que me decepciona bastante já que eu a conhecia há bastante tempo. Por fim ela cede e acena com a cabeça permitindo a nossa passagem.

Savannah larga a mochila no piso e corre até o sofá. A senhora Mikaels vira-se em minha direção e me encara com um olhar sério e preocupado.

– Você não pode ficar aqui por muito tempo. - avisa ela e sinto um calafrio com aqueles olhos frios e intimidadores.

– Eu sei, só preciso... - sou interrompida por ela.

– Escute bem, Finch. Não me importa oque você precisa. - ela ergue um dedo e o aponta de maneira acusatória em meu rosto - Só não quero acabar morta como a mãe de Tomas. Nós duas sabemos a causa de sua morte.

Engulo em seco e sinto o suor acumular-se nas palmas das minhas mãos. Não consigo responder. Não reconheço a pessoa fria e amarga que se encontra na minha frente. É estranho quando uma pessoa que costumava ser carinhosa e bondosa, se tornar outra pessoa da noite para o dia.

Decido por fim, acenar a cabeça e adentro a casa com passos cautelosos.

– Savannah - digo ao me sentar ao lado dela no sofá - É muito perigoso sair por agora, ok? Por favor não conte a ninguém sobre isso. Isso vai passar.

– Eles querem nos matar, Finch? - assim que essas palavras deixam a sua boca, parece que meu coração quer saltar para fora.

– Claro que não! - digo, mesmo sabendo que estou mentindo. De certa forma não menti tanto. Eles não sabem que ela é minha irmã. Tecnicamente eles só querem me matar. Não ela. Não posso ficar aqui e representar tamanho risco para ela.

Levanto do sofá e caminho em direção á porta da cozinha, onde a senhorita Mikaels prepara algo no fogão.

– Eu só quero que a deixe segura. - murmuro.

– Eu deixarei - ela vira-se para mim demonstrando frieza - Mas para isso você não pode ficar aqui.

Sinto um ardor em meus olhos e pisco para afastar as lágrimas. A mulher dos sorrisos largos está me expulsando de sua casa, agora que sou alvo da capital. Saio da casa e corro pelas ruas mal iluminadas do distrito 5. Eu preciso me acalmar.

Enquanto caminho pelas ruas em conflito escuto passos. Pacificadores.

Eles correm em minha direção e tento correr. Preciso correr.

Eles vão me matar. Eles vão me matar.

Corro para dentro da floresta e me apoio contra a árvore. Respirando ofegantemente.

Estou ferrada. Estou sendo procurada pela capital, não represento segurança para a minha irmã e amanhã é colheita.

Como sou sortuda.