Enfileiramos as cadeiras e usamos como cama. Claro que ficou mais frio durante a madrugada, mas nada insuportável. Cada uma se cobriu com sua blusa. Todas tentaram esquecer o suposto “fantasma”. Depois da segunda aparição, as meninas decidiram dormir, já que não poderíamos fazer nada. E de olhos fechados, quem pode ver fantasmas?

Logo de manhã, com pálpebras inchadas pelo sono, cabelo bagunçado e maquiagem escorrida, ficamos sentadas, a espera da bibliotecária. Quando uma sombra apareceu na porta e a destrancou, voamos naquela direção.

–Muito bem- diz Izzy apontando para a mulher logo quando ela abre a porta. –A senhora cometeu um pequeno equivoco. Mas, somos pessoas boas e não vamos contar para a diretora o que houve se você não contar para ninguém que acabamos dormindo aqui. Entendido?

A mulher assustada faz um movimento rápido com a cabeça, concordando. Então todas correm para os dormitórios o mais rápido possível. Eu começo a avançar, mas vejo uma coisa brilhando no chão que me chama atenção. Agacho-me e pego um colar muito bonito, com um pingente de dragão prata com olhos vermelhos e uma pedra amarelada no topo da cabeça. Pego para mim, pois duvido que isso seja de alguma das meninas. Guardo no bolso e saio correndo para meu dormitório.

Xx

Passei o dia tentando me manter acordada. E finalmente, à hora do almoço. Pego a bandeja e vou servindo o que quero comer. Quando deixo o suco de uva ao lado do prato, me viro e caminho em direção a mesa que Izzy está sentada, rindo com uma garota que não vejo o rosto.

Então tudo ocorre como em câmera lenta. Passo por Camille e Aline, mas ignoro sua presença. Mas pelo jeito Camille não me ignora. Ela estende discretamente sua perna e antes que eu consiga desviar, tropeço e derrubo a bandeja. Caio no chão, rolo e fico virada para cima, com dor de cabeça e provavelmente uma careta. O refeitório inteiro fica em silencio e uma garota que passa me ajuda a levantar.

Então vejo que os olhares não são voltados para mim. Algumas garotas estão com a mão sobre os lábios ou murmurando com outras. Escuto um grito agudo e me viro naquela direção.

Meus olhos quase saem das orbitas ao ver Aline Penhallow coberta de comida e suco de uva.

–Oh, me perdoe... –começo. Mas ela fecha os olhos, como se não quisesse ouvir minhas palavras. Estende uma mão e sorri. Acho que somente eu ali sei o quanto aquele sorriso é maldoso- Não foi...

–Tudo bem- diz ela- Está tudo bem.

Ela se levanta e vem em minha direção. Reprimo a vontade de recuar.

–Querida, sua vida está acaba aqui dentro- sussurra ela em meu ouvido, sorrindo para disfarçar aos outros olhares. –Vai ter volta, não ignore isso. Vai ter volta.

–Mas nem mesmo foi culpa minha...

–Até mais Clary- ela diz agora em tom mais alto. Sorri, mas vejo a raiva em seus olhos- E vamos esquecer esse pequeno acidente. Afinal, os iniciantes sempre caem, não?

Fecho o punho para não acabar mostrando o dedo do meio para Camille quando ela sai.

Xx

Estava bem, eu acordei e as coisas estavam normais. Até que fui até meu armário e vi que todos os outros tinham pedaços de papel na parte de baixo. Abri a porta, mas ainda com os olhos voltados para os armários a minha volta. Algumas garotas abriam o armário, pegavam o papel de cenho franzido e então ficavam surpresas com seja lá o que viram. Viravam o papel e liam algo. Pareciam procurar um rosto pelo corredor, mas não sabiam em quem fixar os olhos. Isso se repetiu várias vezes até eu decidir fechar o armário e sair dali. Porque todas ganhavam o papel e eu não? Claro que não estou chateada, pois não parece algo legal, mas o fato de eu ser a única a não ter o maldito papel enfiado no armário me incomoda.

E claro que tinham que ressurgir, não? Camille e Aline paradas no corredor, com uma cadeira- não sei por que- e um olhar triunfante.

–O que diabos fazem aqui paradas?

–GAROTAS!- grita Aline, encerrando os murmúrios e atraindo a atenção – Eu sei que receberam essas fotos horríveis. Eu também fui vitima, mas não vou lhes mostrar a foto, pois... –ela finge estar triste- É vergonhoso. Mas, eu e Camille achamos isso tão baixo e sujo para fazer a todas nós que decidimos encontrar quem fez isso quando encontramos as fotos em nossos armários. Cam, avise a elas.

Aline desce da cadeira e Camille sobe.

–Estão vendo esse álbum?- ela estende o objeto e meu estomago parece se apertar e um frio percorrer minha barriga. Ela abre o álbum e mostra que está com fotos arrancadas. Sem nada, apenas folhas com algumas marcas de fotos arrancadas. –O encontramos caído no chão quando fomos ao quarto de uma colega chamá-la para jogar tênis. E adivinhem de quem pertence?

–Camille, não... - tento protestar, mas ela vira a primeira folha e mostra meu nome pintado em roxo. Eu fecho os olhos e suspiro.

–Essa garota tirou fotos constrangedoras de nós e espalhou! Você quer o que? Dinheiro?

Escuto a risadinha disfarçada de Aline. Viro-me e vejo todos os olhares voltados a mim, de desaprovação e raiva. Elas conseguiram o que prometeram. Ferraram minha vida aqui dentro.