Laços de Sangue e Fúria escrita por BadWolf


Capítulo 47
Laços de Sangue e Fúria


Notas iniciais do capítulo

Hey, gente! Sentiram minha falta?
Espero que todos estejam vivos dos famosos exames de ano. Sei que todos vocês são alunos aplicados e inteligentes e que já estão de férias... Por isso, estou voltando com a postagem às quartas - nesse caso, será uma espécie de presente de Natal: um cap no dia 24, e outro no dia 25.
Eu estou triste, porque essa história está acabando. Espero que vocês tenham reunido o maior número possível de peças, porque esse cap terá uma revelação daquelas.

E não, eu não estou doida. Realmente esse cap tem o título da fanfic, e vocês vão entender o porquê logo mais.

Um grande bj e boa leitura!



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Londres, Inglaterra. 19 de Fevereiro de 1895.

221-B. Baker Street. 12:15 a.m.


Watson deixava, satisfeito, seu casaco sobre o cabide. Sua ida ao Teatro aquela noite, tal como ele andara prometendo à sua prima desde o início de sua estadia ali, em Baker Street, tinha sido perfeita. Embora balé não fosse sua preferência, ele ficou satisfeito com o olhar impressionado de Diane, com a riqueza e o luxo da apresentação daquela Companha de Balé Russa, uma das melhores do mundo. Ele tinha gasto uma pequena fortuna com os ingressos, mas apenas em ver seu olhar feliz e encantado com cada movimento, ele já se sentia realizado.

–Estou exausta... – disse Diane, enquanto desabotoava os sapatos. – Foi lindo, John.

–Fico feliz que você tenha apreciado, minha cara.

–Uma pena que Mr. Holmes não estava conosco.

Holmes. Há quanto tempo ele não dava notícias... Ninguém sabia de seu paradeiro. Talvez, o único que possuía alguma notícia seria Mycroft – ele sempre sabia – mas ainda assim, Watson ficava preocupado. Seu amigo não fazia coisas assim.

–Eu também fico triste, Diane. Não só pela ausência de meu amigo, mas também de... Sophie. Uma pena que ela tenha estado aqui enquanto fui ver um paciente.

Diane levantou-se do sofá, revoltada.

–Você ainda sente falta dela? Depois de ela ter me estapeado?

Watson deu de ombros. – Não irei meter-me em assuntos femininos, minha prima. E sinceramente, espero que vocês se resolvam. Espere, quem está batendo na porta, a uma hora dessas? Será Holmes?

Watson encheu-se de esperanças, e se dirigiu à porta. Ao abrir, percebeu de imediato a presença de Reid, acompanhado de Holmes, que seu instinto de médico percebeu que estava em um estado visivelmente abatido.

–Holmes! – ele exclamou. – Onde você esteve? E o que há com você? E como vai, inspetor...?

–Reid. Edmund Reid. – disse Reid, retirando o chapéu.

Embora tenha estado feliz em rever seu colega, Holmes trazia um semblante neutro. Especialmente naquele momento, quando estava diante de Diane Watson – ou melhor, Marjorie Eccles e todos os nomes e sobrenomes nos quais se escondia. Reid também estava atento a ela, e quando percebeu que a moça se caminhou rapidamente a Holmes, chegou a tocar em seu revólver, e quase sacá-lo.

Mas para a consternação de todos os presentes, a ação de Diane Watson não era muito ofensiva quanto se esperava.

Ela o beijou.

–Diane! – exclamou Watson, pegando-a pela mão. – Não há educação na América? Desculpem-me, cavalheiros, pela falta de modos de minha prima... Sabem, ela ainda está tentando se ajustar à boa educação inglesa.

Holmes, que tinha se separado dela antes de Watson a toma-la, ficou um tanto enojado. Como ela tinha ainda coragem para isto? Arquitetando uma teia entre si, envolvendo-no em uma sórdida armadilha?

–Oh, Sherlock... Como sentimos sua falta... Como eu senti sua falta.

–Poupe-nos das lágrimas, senhorita. – disse Reid, revoltado. – Seu espetáculo acabou. A plateia se cansou de você.

–Espere, Inspetor... – interviu Watson. – Eu sei que o senhor é um homem da Lei, mas... Isso são maneiras de tratar uma dama?

–Essas são as maneiras que eu trato uma mulher em meu trabalho, doutor.

–O que acaso está insinuando, inspetor?

–Watson... Esta mulher... – começou Holmes. – Ela não é quem você pensa que é.

–O que está dizendo, Sherlock?

A máscara de ingenuidade de Diane chegava a irritar Holmes, que se segurava para não lançar-se contra seu pescoço pelo fato de que, apesar de ser uma criminosa sem escrúpulos, ela ainda era uma mulher.

–Watson, eu tenho aqui em minhas mãos um retrato enviado pelo Xerife do Condado de Santa Fé, que está trabalhando na matança ocorrida no Rancho do seu tio Don Watson. Está comprovado que sua prima, Diane Watson, não sobreviveu. Ela está sepultada ao lado de seu tio, no cemitério da cidade. Há testemunhas.

Watson parecia descrente.

–O que está dizendo, Holmes?

Reid, que não tinha paciência para desentendidos, continuou.

–Seu tio, Don Watson, estava sendo vigiado por um casal de estrangeiros, essa mulher – ele apontou para Diane – e um outro nome que creio ser familiar a ti: Bruce Finnegan.

Watson ficou espantado, mas sua reação não foi das melhores.

–Mas que sandice é essa, Holmes? Esse caso envolvendo sua ex-pretendente está te deixando louco? Agora, está conectando a morte de meu tio ao homem que está te acusando?

–Pode parecer que é prepotência minha, Watson, mas não é. Eu tenho um testemunho importante, de um funcionário do governo que sobreviveu o bastante para narrar os planos dessa mulher e seu amante para me derrubar. – disse Holmes.

Aos poucos, a máscara de Diane começou a ruir, e seu semblante começou a se seriar.

–Essa mulher matou seu tio, sua prima, e os agregados do rancho. Essa mulher matou crianças, Watson.

–Não pode ser... – murmurava o doutor, observando Diane.

–Há uma investigação contra ela correndo nos Estados Unidos, inclusive havendo uma recompensa por sua cabeça, viva ou morta. – disse Reid.

–Aposto que ela soube, de alguma maneira, da história envolvendo a mãe de Bruce Finnegan e decidiu convencê-lo a reabrir o caso.

–Diane... – o semblante de Watson era decepcionado. – Por favor, me diga que não é verdade...

Diane parecia acuada. Mas apenas momentaneamente.

De repente, seu olhar tornou-se frio.

Finalmente sua máscara ruiu por completo.

–Parabéns.

Palmas começaram a ecoar, acompanhadas de uma risada sonora, malévola.

–Confesse, Sherlock. Eu estava prestes a te derrubar.

Holmes pareceu, finalmente satisfeito. Reid observava a tudo estupefato, assim como Watson.

–De fato, Miss Seja-Lá-Qual-For-Seu-Nome.

–Chame-me de Catherine, por favor. – ela disse, sentando-se. Para consternação de Watson e Reid, ela se dirigiu à charuteira de Watson e pegou um cigarro, acendendo-o com destreza de uma expert, sentando de pernas cruzadas.

–Catherine... – Holmes analisava o nome.

–Belo nome esse o meu, não? – ela riu outra vez, dando uma baforada. – Você já está ciente dos fatos, Sherlock, ou quer saber mais? Melhor, eu irei contar como tudo isso começou. Devo dizer, faz muito, muito tempo. Para ser exato, 1891. Reichenbach Falls...

Reid e Watson se entreolharam, sem entender.

–Foi essa a motivação que imaginei. Você deveria amar seu padrinho.

A moça deu um sorriso debochado.

–Moriarty não era apenas meu padrinho, Mr. Holmes. Ele era o meu pai.

Todos os presentes ficaram surpresos, menos Holmes. Afinal, era sabido que Moriarty não era casado e nem tinha filhos.

–Eu te vi pela primeira vez em uma noite de Janeiro daquele ano, se não me engano. Eu estava em Londres, fazendo uma breve visita, finalmente me livrando do ar pesado de Washington, quando eu percebi que meu pai estava... Estranho. Mais irritado que o costume, para dizer a verdade. E o que é pior, ele queria me ver fora da Inglaterra, ou mesmo da Europa. Tive de cancelar minha ida à Paris porque havia um Bebedor de Chá Intrometido em seus negócios. Até que você veio vê-lo pessoalmente. Ele tentou me esconder, mas eu apenas te vi, do topo da escada e te achei muito... Atraente.

Holmes permaneceu neutro.

–Meu pai ficou irritado, você deve imaginar, com minhas perguntas sobre você, e me mandou de volta para a América no primeiro navio. Meses depois, você o derruba daquela Catarata... Só o que me aliviou foi ver que você caiu junto, como o próprio Watson aqui contou. Mas como sempre, ele foi um tonto.

Watson olhou revoltado para aquela mulher, que ele não mais reconhecia.

–Você escapou com vida. Assim que o Coronel Moran foi preso, eu soube da notícia de sua volta na América. Decidi agir. Então, lembrei-me de um caso que meu pai comentou comigo uma vez: que você, sem perceber, quando era um jovem talentoso e meio incompetente, testemunhou contra uma ex-pretendente sua. Meu próprio pai sabia e pretendia usar isso um dia, mas não teve tempo. Você ruiu com seus negócios e não deixou-lhe saída, senão uma resolução de problemas primitiva, como um combate corporal. Procurei pelo rapaz e descobri que, para minha sorte, ele estava na América, em Nova York. Eu o retirei de uma sarjeta imunda de Five Points, repleta de mestiços e irlandeses, e o dei boas roupas, e uma tarefa: destruir você. Contei a ele tudo que acontecera com sua mãe (claro, na minha versão), e ele prontamente aceitou.

Diane levantou-se, caminhando pela sala.

–Mas eu precisava chegar a você, Sherlock. Eu queria ver com meus próprios olhos a sua ruína. Confesso que não tenho tanto assim a frieza de meu pai. Devo ter herdado essa passionalidade de minha mãe... – os olhos de Catherine olharam diretamente nos de Holmes. – Mas de todo modo, graças às cartas que esse bobalhão do seu amigo insistia em mandar para aquele velho do Don Watson, eu soube que ele tinha parentes na América. Um tio casado com uma negra... Uma prima, de idade semelhante a minha. Eu não poderia ter sido mais sortuda. Fui até o Texas, junto com Bruce, e os encontrei. Arquitetei a morte deles, eu e Bruce, sendo que eu mesma matei a desgraçada de sangue ruim.

Reid parecia inconformado com seu testemunho.

–Você matou crianças...

Catherine deu de ombros, friamente. – Faz parte dos negócios. Confesso que havia mais crianças ali do que pensei, mas... Ninguém deveria sobreviver para contar a história. Plano é plano.

O pulso de Reid se fechou. Faltava pouco para ele soca-la.

–Peguei as coisas dela, objetos pessoais, e vim para a Inglaterra. Bruce continuou com seu plano. Falsificou as cartas e as entregou à Scotland Yard. Eu disse a ele que não precisava aparecer aqui, mas ele insistiu, e disse que queria tripudiar. Tive de ajuda-lo a fazer aquela infantilidade do rato morto na sopa... Não posso negar que foi engraçado – ela riu. – Estúpido, mas engraçado. Não posso culpa-lo. Ele estava tão furioso...

–Mas você não contava com Morrison.

Catherine sorriu, um tanto resignada.

–Não. Eu conheci Morrison em um pub. Ele me pareceu muito atraente, charmoso, um homem que sabe conversar e valorizar uma mulher. Bem diferente de Bruce, ciumento, bruto, sem modos... Mas Morrison se apaixonou por mim. Falava em casar, ter filhos... Uma vida que jamais imaginei para mim e confesso, me seduziu em alguns momentos. Mas eu fui longe demais para desistir. E confesso, também não queria deixa-lo. Então, comecei a engana-lo. Até que ele me seguiu, e sabe-se lá como, descobriu o nosso plano. Foi o que ele despejou em mim, no nosso último encontro. Então, eu o matei.

–E também ao Pinkerton?

–Esse foi obra de Bruce. Lugar errado, hora errada. Nem sabíamos que era um Pinkerton. De qualquer modo, nos deu um bom subterfúgio. Dois homens mortos sempre rendem boas teorias. Afinal os mortos não falam.

–Você pensou que tinha silenciado Morrison, mas ele foi esperto o bastante para contar tudo que sabia para mim, por meio de uma carta criptografa, antes de morrer.

–Imprevistos acontecem. Mas ao que me parece, seus conhecimentos sobre este caso terminaram aqui, não é mesmo, Mr. Holmes?

Holmes tinha um ar vitorioso.

–De fato. Embora eu não veja o que mais falta a ser acrescentado.

Catherine soltou uma risada.

–Oh, mas parece que eu realmente consegui superá-lo de alguma forma, não?

Holmes ergueu uma sobrancelha, sentindo-se desafiado.

–Do que está falando?

Ela se levantou, caminhando para perto de Holmes. Reid, que já estava com o revólver sacado, ficou atento a seus movimentos, mas mais uma vez, a moça lhe surpreendera.

Outra vez, ela lhe beijara nos lábios, dessa vez rapidamente, ela mesma separando-se. Holmes tentou virar seu rosto, já esperando que ela faria isso, mas a moça, simplesmente, prendeu-lhe pelo pescoço, firmemente. Ainda surpreso, atônito, ele tentava entende-la, enquanto ela passava suas mãos por seu rosto.

–Você sabe que eu me chamo Catherine, mas porque eu te contei. E também sabe que eu sou filha de Moriarty...

–Certamente, adotiva. – acrescentou Holmes. – Moriarty não tinha filhos.

Ela ainda passava seus dedos por seu rosto, carinhosamente.

–Você sabe melhor do que eu que ele tinha.

Holmes ficou em silêncio. Watson e Reid nada entenderam.

–Mas você não faz idéia há quanto tempo eu não uso esse nome... Acho que, se me chamassem assim na rua, sequer atenderia. – ela riu, levemente, ainda olhando nos olhos de Holmes.

De repente, um estalo veio em Holmes.

–Não pode ser...

Catherine se afastou, rindo de maneira graciosa. Watson e Reid permaneciam alertas, mas ainda descrentes. A cena tornava-se ainda mais incompreensível com a reação de Holmes, que pareceu ter sido acometido por algum tipo de enjôo, levando sua mão à boca, com o semblante enojado.

Catherine contemplava Holmes vitoriosa.

–O que foi, meu irmão? Você está com nojo de mim?

Watson e Reid estavam atônitos. O que tinha acontecido ali, para aquela mulher estranha, de repente, passar a chama-lo de irmão?

Para ainda mais surpresa de todos, Holmes foi a um canto qualquer e acabou por vomitar. Ele realmente estava enojado com a situação.

–Acho que o que acabamos de fazer foi muito forte para sua educação anglicana, não? – ela ria, satisfeita.

–Porquê você fez isto? – ele murmurava, decepcionado.

–Eu precisava te atingir de alguma forma. E além de quê, eu me apaixonei por você. De verdade. Desde aquele dia, em que eu te vi na sala de estar da casa de meu pai, eu não parei de pensar em você. Esse foi o motivo para o meu pai ter me mandado embora. Ele não queria um incesto. Acho que ele é mais apegado à boa educação religiosa do que poderia pensar.

–Moriarty tinha bom senso, algo que falta em você! – vociferou Holmes, indignado. – Por Deus, você é minha irmã!

Tanto Watson e Reid olharam com assombro. Nervoso, Holmes começou a gaguejar, um tanto incrédulo.

–E-E-E-Eu vi você ser enterrada!

–Um caixão vazio, nada mais que isso! Nunca encontraram o corpo. Foi tudo um trato entre meu pai e Mr. Morgan. Meu pai pagou a ele trezentas libras para forjar minha morte aos Holmes. Depois, ele a roubou de Mr. Morgan, em questão de meses.

–Por isso, a ruína repentina dos Morgan. E também, pouco tempo depois, o rompimento com Beatrice...

–Siger Holmes descobriu mais tarde sobre o trato dos Morgan com Moriarty e rompeu todas as relações com aquela família de mercenários. Inclusive seu noivado. Você deveria ser grato a Moriarty por isso.

–Eu jamais serei grato àquele homem! Jamais!

Para surpresa de todos, Catherine sacou uma arma. Reid também apontou sua arma para ela, mas Holmes estava, justamente, perigosamente entre os dois.

–Catherine... Abaixe essa arma... – dizia Holmes, num tom apaziguador.

–Eu te amo, Sherlock. Eu sei que é estranho, mas... Eu te amo.

–Você pode me amar. Como irmão.

–NÃO! – ela gritou. – Eu te amo como homem!

–Holmes, saia da frente... – pediu Reid, com cuidado, ainda com a arma apontada. – Abaixe logo essa arma, senhorita, ou então serei forçado a atirar...

–Não! Não a mate, inspetor! Eu lhe imploro! – Holmes voltou a se virar para Catherine. – Catherine, não faça nada...

Mas Catherine permanecia com sua arma apontada.

–Você... É igual a ele... Idêntico! – ela exclamava, numa clara referência a Moriarty. – Ele me separou de minha família, de meus irmãos, de meu pai... E de minha mãe, de certa forma. Mas ele ao menos dizia que me amava...

A medida que Catherine falava, mais raiva ela exprimia em sua voz, e mais determinação a puxar o gatilho.

–Mr. Holmes! – alertou Reid, ao perceber que Holmes, numa atitude extrema, caminhou para mais próximo de Catherine, ignorando sua aparente ameaça.

–Dê-me a arma, Cathy... Por favor...

Perigosamente, Holmes estendeu sua mão ao revólver de Catherine. Quando próximo, ele agira rapidamente, e segurou-a pelo braço. Dois tiros foram disparados contra o assoalho. Catherine tentava se livrar de Holmes, sacudindo seu corpo como podia, mas seu irmão tinha a vantagem de ter a força de um homem, não poucas vezes mais desproporcional que das mulheres. Reid aproveitou-se do momento e tentou se aproximar, para ajudar Holmes.

A arma de Catherine continuava a efetuar disparos alheios. Um deles quase acertou Watson em uma de suas pernas, pegando com sorte na poltrona preferida de Holmes. Por fim, Catherine já estava perdendo as forças. Holmes exprimiu tanta força contra o braço dela que ele mesmo temia quebra-lo.

Prestes a se render, Catherine acabou tropeçando. Holmes, que estava tentando contê-la, também cedeu ao chão, sob o corpo dela. No momento da queda, entretanto, a arma disparou outra vez. O som, entretanto, era abafado. Um som que Watson conhecia bem, dos seus tempos de guerra.

–Holmes! – gritou Watson, temendo o pior.

Holmes levantou-se do corpo de Catherine, deixando reaparecer a jovem já morta, com seus olhos castanhos paralisados, que pareciam ainda olhar em sua direção. Havia sangue espalhado por seu terno e colete, mas aquele não era seu sangue. O peito de Catherine trazia uma mancha de sangue agora, no local onde a bala entrara. Ao perceber pelo seu pulso paralisado que nada mais havia a ser feito, Holmes desesperou-se.

–Não! Não, por favor, não! – ele gritou, de uma maneira prolongada, que poderia estremecer o mais forte dos homens.

Enquanto ele sacudia o corpo inerte de Catherine, Watson se aproximou para examiná-la. A bala acertara justamente seu coração, num tiro à queima-roupa. O cano do revólver chegara a encostar em seu vestido, deixando uma forte mancha de pólvora, misturada ao sangue. Ele tinha quase certeza de que a morte dela fora instantânea, como costumava ser em casos assim. O tipo de morte preferido de muitos suicidas.

Reid acabou sendo responsável por Holmes. Não à toa, ele parecia em estado de choque. Suas mãos tremiam, e seus olhos cinzentos estavam lacrimejados. A qualquer momento, ele se derrubaria em lágrimas. O inspetor procurou por uísque, até finalmente encontrar em uma garrafa.

–Não havia mais o que se fazer, Mr. Holmes... – ele disse, derrubando uísque em um copo. – Ela estava disposta a te matar, e tentou até os últimos segundos. Era você ou ela...

–Eu não queria...

Reid entregou o brandy a Holmes. – Sabemos que não. E de todo modo, ela não sairia daqui senão presa. Seria enforcada, quer seja nos Estados Unidos, quer seja aqui. Eu sei que ela era sua irmã, mas... Ela já era uma alma perdida, condenada.

Holmes tomou o brandy em um só gole, deixando a bebida forte atravessar sua garganta, tornando a reanima-lo e trazendo-o de volta aos sentidos.

–Watson? – ele perguntou, ao ver seu amigo se aproximar. O médico se aproximou, balançando levemente a cabeça de maneira negativa.

–Acabou, Mr. Holmes. Acabou. – disse o inspetor Reid, batendo levemente no ombro de Holmes.

–Eu sinto muito, meu amigo. – disse Watson, com tristeza. – Sinto por ter colocado essa cascavel em nosso teto. Se ao menos eu.. Se ao menos eu conhecesse melhor o meu tio Don e minha prima, ela jamais teria me enganado e conseguir estar aqui, ao seu lado. Por Deus, e eu desejando casá-los! Eu estava tão disposto a ver você, meu amigo, um homem casado com alguém de meu sangue, que sequer parei para avalia-la. Eu acreditei em uma estranha e não em você, companheiro de anos!

Holmes negativou com a cabeça.

–Nada disso é culpa sua, Watson. Ela apenas se passou por sua prima para assistir minha derrota com seus próprios olhos. A teia já estava enredada há muito tempo. Ela estava unida a mim não só pelo sangue, mas pela fúria. Fúria herdada de...

Repentinamente, Holmes se calou.

–Ela era minha irmã. Moriarty a tirou de mim. Eu pensei que ela estava morta. Ela tinha raiva de mim, de nossa família, por termos aceitado sua morte de maneira tão conveniente, por não termos investigado. Ninguém parou para se questionar como uma menina pode ter desaparecido, e ao invés disso, simplesmente paramos de procura-la e preparamos um enterro sem corpo. Ela escolheu sua vingança contra mim, por eu ser um detetive e também... – Holmes torceu o rosto, em desgosto. – O homem que ela amava.

–Maldição... – balbuciou Reid. – Mas você chegou a... Se sentir atraído pela moça?

–Claro que não. – disse Holmes, simplesmente. – Mas talvez eu tenha alimentado alguma coisa, não sei. Inegavelmente eu me simpatizei com ela. Em poucos aspectos, mas me simpatizei. Tínhamos gostos semelhantes, parecíamos familiares... Em outros tempos, a sua pergunta, Inspetor Reid, poderia ser uma incógnita. Mas não nos dias de hoje.

Reid ponderou. Certamente ele estava se referindo a Esther, querendo dizer que seu coração já se encontrava ocupado.

–Não entendo Holmes... Por quê diz “em outros tempos”?

Percebendo que estava falando demais, Holmes pigarreou.

–Que sentido há agora? Minha irmã está morta. – ele disse, mudando de assunto, ficando de costas para o cadáver.

–Holmes... – Watson tentou argumentar, mas Reid o deteve. Não era momento para isso.

Um lençol foi lançado sobre a moça. Enquanto Watson e Reid conversavam sobre os próximos passos, Holmes acendia um cachimbo, com o olhar dolorido em direção ao céu que escapava das cortinas de Baker Street.

Havia poucas estrelas ali, e algo lhe dizia que nenhuma nova estrela iria surgir.


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Notas finais do capítulo

Eu não disse que era uma grande revelação??

Gostaria de saber: alguém chegou a suspeitar que a Marjorie era a irmã morta do Holmes?
Impressionante como ela manipulou todo mundo. E vocês devem estar se perguntando sobre o Bruce: relaxem que ele aparecerá logo logo.

E se vocês ainda não estão recuperados, relaxem que tem uma bomba a ser lançada no dia 25... Sério, eu devo deixar alguns surpresos. Estou até temendo as reações, rs.

Eu não vou agradecer agora, só no dia 25.
Um grande bj e deixem seus reviews!



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