Quando eu cheguei na escola no dia seguinte, todos me olhavam com mais nojo e mais medo. Alguns estavam cochichando, apesar do meu cano estar bem visível. Eu cheguei na sala e fui falar com o Smile.

“Smile, da a lição?”. Sem resposta. “Smile”. Sem resposta. Eu fui encostar nele pra chamar sua atenção. Talvez ele estivesse ouvindo musica. Mas uma menina da nossa gangue agarrou meu pulso com uma luva de borracha e disse “Não percebe, sua doente? Ele não quer se infectar!” eu empurrei ela e disse coisas não muito agradáveis. Bom, eu nunca gostei dela mesmo.

“Smile, fale comigo”. Sem resposta. Eu sussurrei um “Não faça eu me desesperar”. Sem resposta. Eu desisti. Não queria chorar na frente de todo mundo. Eu sentei no meu lugar, e um garoto da gangue foi falar comigo. Se não me engano o nome dele é Gabe e ele meio que ficava dando em cima de mim.

–Você precisa parar de falar com o Smile. Ele não te quer mais.

–Sai fora Gabe. Eu não vou ficar com você.

–E eu quero ficar com o maior vexame dessa cidade?

–Você quer um soco bem no meio da fuça então?

–Olha, só fica longe da gente. Você não tem mais futuro aqui. Vai viver sua vida em outra cidade, ninguém vai te conhecer.

–Eu sou um erro. Não importa o lugar eu nunca vou estar bem.

–Se você acha mesmo que você é um erro, porque não se mata?

Eu fiquei chocada. Só fiquei olhando pra ele. O Gabe com a expressão mais normal de mundo. Como se o que ele acabou de dizer fosse normal.

Eu acho que dormi em todas as aulas. O sinal me acordou. Eu demorei pra arrumar minhas coisas, pensando pra onde eu iria. Eu não podia encarar a Maid agora. Eu fui até o terraço da escola pra pensar. Ninguém nunca ia lá mesmo. Mas eu ouvi alguém chorando. Espiei pela janelinha da porta e era o Smile. Os pulsos dele estavam cortados. Ele estava jogado, com as costas contra as grades, num estado lamentável. Eu queria abraça-lo e cuidar dele, mas isso ia ferir seu orgulho. Então eu decidi ir pra praia. O dia não podia ficar pior. Talvez a Oreko pudesse me ajudar...