Isso (Não) é Mais um Romance Adolescente escrita por A Garota da Janela de Vidro


Capítulo 6
Logan


Notas iniciais do capítulo

Você nem imaginam a minha surpresa em entrar essa semana com um capítulo pronto para ser postado e descobrir UMA RECOMENDAÇÃO NOVA EM 'ISSO NÃO É MAIS UM ROMANCE ADOLESCENTE'!!!!
Primeiramente, meus sinceros agradecimentos por darem mais uma chance a essa pobre ficwritter. Sério, isso significa muito para mim.
Eu também percebi novos icons no campo de "favoritos", muito obrigada!!
Enfim, obrigada por não me deixar parar, vocês são simplesmente os melhores!



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Amber Kam: LOGAAAAAAAAN 

Amber Kam: HELP!!!!! 

YouHeyAmber 

You: Algum problema? 

Amber Kam: A gente quase não se fala desde a festa do Lucas Martin. Lembra de mim? Nós ficamos perto das caixas de som e depois eu te deixei em casa! A CARONA MAIS RÁPIDA E LOUCA DO MUNDO!!! 

You: SIM, É MESMO! 

You: Nunca te perguntei, você não recebeu nenhuma multa pelos sinais vermelhos ou por ultrapassar o limite de velocidade, né? Eu meio que me senti culpado depois daquilo. Não sabia que tinha passado tanto da hora de chegar em casa  

Amber Kam: Bom, talvez duas multinhas... 

Amber Kam: Mas não é sobre isso que eu queria falar... 

You: Pode dizer (leia-se digitar) 

Amber Kam: O que você diria sobre ser meu par no baile? Eu posso te buscar em casa e te deixar em um horário legal para sua mãe (ela parecia bem brava no nosso primeiro e último encontro). 

You: WOOOW, SERIA INCRÍVEL... 

You: Mas eu não gosto de bailes, desculpe. 

Amber Kam: A estrela do futebol rejeitando convites para o baile? Isso não é uma contradição? 

You: Você não sente que os clichês são terrivelmente maquiavélicos agora??? 

Amber Kam: KKKKKKKK 

Amber Kam: Uma pena não ter um par legal como você no baile  

You: Olhe só para você! Com toda certeza arruma coisa melhor! 

You: Bom baile, Amb!! 

Amber Kam: XOXO. 

 

Bloqueei a tela do celular depois de cinco minutos que Amber Kam não enviou qualquer outra mensagem. Estava sorrindo, não podia negar, porque qualquer cara se sentiria a última esperança da terra quando uma garota inteligente, bonita e um pouco doida como Amber o chamava para sair —mesmo que fosse para um baile de colégio com decoração de isopor, cujas músicas são majoritariamente escolhidas por professores e o diretor (todos com pouco mais de trinta anos e com gosto musical questionável). 

Amber era uma das garotas mais populares e legais do colégio vizinho, sempre envolvida com projetos estudantis legais como olimpíadas e festivais para angariar fundos para qualquer instituição que pareça importante.  

E eu gostaria de sair com aquela garota um dia. Talvez tomar um sorvete, andar no cais, pegar um cinema ou jogar xadrez na praça –o que eu sou muito bom, graças às pouquíssimas atrações da minha cidade.  Mas o baile da escola... Hã, apenas não era uma opção para mim. E eu não sou bom com danças, odeio tirar fotos, não gosto de como gravatas apertam meu pescoço e os sapatos sociais sempre apertam meus dedos.  

Suspirei alto, batucando os dedos nos joelhos. 

Dentro da minha mochila havia uma folha a ser preenchida pelo professor Madsen, responsável pelo clube de teatro, artes e leitura. Até onde eu sabia ele era um cara alta, cabelo ralo penteados para trás castanhos e um olhar sempre furioso com alguma coisa, mas não me lembro de ter cruzado com o indivíduo mais de duas vezes em todo o tempo que passo na escola. Seria fácil pensar que eu não me esforço para conhecer a grade de professores, mas isso não é verdade!  

Liam Henderson, o treinador do time de futebol do nosso colégio, além de meu irmão, é a pessoa mais sociável que já pisou na sala de descanso docente. E como irmão dele, eu tenho meus privilégios, um deles é ser o queridinho da maioria dos meus superiores. 

Minha mãe soma tantos bilhetes aprovativos sobre meu comportamento e minhas notas que eles estavam quase tomando conta da nossa casa. Havia pelo menos dois deles colados na nossa geladeira, entre uma foto do meu irmão na sua época jogando na faculdade e a uma de nós dois ainda crianças tomando banho juntos –a última sofreu até mesmo uma votação para que fosse retirada, mas minha mãe assumiu a pose de ditadora carrasca castigando a nós dois a ter olhar a foto todos os dias das nossas vidas. 

Então, dizer que eu não sabia o que estava esperando quando o senhor Madsen apareceu no corredor com um copo descartável de café fumegante e um donut meio mordido era um completo eufemismo; eu estava apavorado pelo que viria. 

O homem foi desacelerando o passo (já meio devagar) a medida que se aproximava e se dava conta de que, sim!, ele havia ganhado na loteria e seu prêmio era um adolescente encrenqueiro cumprindo horas de castigo e serviço comunitário dentro da escola. Seus olhos escuros iam afunilando conforme suas sobrancelhas grossas franziam de um modo intimidador, os lábios finos se comprimiram depois de um palavrão. 

Ei, estou com tanta vontade de estar aqui quanto você, eu quis lhe dizer. Mas para que terminar de estragar o meu tempo com o senhor Madsen?  

Parecia idiotice demais até para mim. E eu posso ser bem idiota! 

—Senhor, eu...  

No momento em que me preparo para fazer uma apresentação minimamente decente, algo que o deixe mais seguro sobre mim, minha fala é bruscamente interrompida pela voz grave do homem a minha frente. 

—Beleza, eu fumo no estacionamento e vim trabalhar de ressaca semana passada, mas isso é demais! -Ele dizia exasperado, arremessando o donut –que parecia muito bom, com cobertura de chocolate e confeitos de açúcar- na lixeira do outro lado do corredor. —Eu escrevi uma carta de próprio punho me desculpando com aquele imbecil e ele me castiga por, que droga!, beber um pouco para esquecer a péssima administração desse lugar e como o trabalho é desgastante. 

Honestamente, eu não diria que ele estava errado. 

Eu não duvido que metade dos nossos professores bebam um pouco para aliviar o stress de dar aula para adolescentes durante toda a semana. Alguns deles trabalham em mais de uma escola!  

Perdido entre concordar com um gesto de cabeça e secar a mão na perna do jeans, apenas lhe entreguei o papel de frequência ao tempo de detenção. 

—Belo arremesso, senhor. -Digo enquanto os olhos do professor percorrem as letras com ódio genuíno. 

—Eu sei. -Ele diz. —Acredite ou não, joguei por Indiana no colegial. 

—É um ótimo time. -Não é. 

—Não, é uma porcaria de time. Não tente me bajular. 

Madsen amassa o papel em seu bolso. Não lhe digo que preciso entregá-lo na secretária para ser carimbado, mas preciso.  

Com a mão livre, o professor destrava a porta com sua chave, permitindo que eu entrasse primeiro. Reconheço aquele como sendo a sede do clube de artes e o de teatro pelos trabalhos artísticos nas paredes e os roteiros espalhados nas mesas. Provavelmente haviam tido aulas ali no primeiro tempo, pela forma como as cadeiras se encontravam espalhadas sem qualquer especificidade (não era um círculo ou pequenos grupos de cadeiras, era um pequeno caos).  

Olho ao redor.  

Há desenhos de alunos do meu ano, como Travis Black e Rebecca Johnsson. Todos são muito bons, o traçado do lápis muito vivo entre as linhas impostas pelos seus respectivos artistas parecia calorosas mesmo que fossem apenas trabalhos em lápis de carvão e folha sem pauta. 

—São muito bons, não é? -Ouço a voz de Madsen, o que me tira da minha contemplação momentânea. 

Devo ter parecido muito admirado, pois a forma que ele olhava para mim tinha mudado bastante desde que entramos na sala. E eu estava mesmo admirado, não conseguia nem mesmo executar um bom projeto de uma família de bonecos de palitinhos. 

—São sim. O senhor deve ter muito orgulho deles. -Digo, gesticulando para os projetos. 

—Não mais do que os alunos que os fizeram. Cada um deles tem um estilo totalmente próprio, passaram por processos totalmente diferentes até chegar ao resultado definitivo, e é por isso que adoro todos. -Madsen não está sorrindo, não entenda mal, mas posso ver um mínimo curvar de lábios de sua parte. Sinto meus ombros relaxarem a partir disto. —Fico feliz que todos esses alunos deixaram que eu ficasse com esses projetos. Quer dizer, eles vão embora e vão fazer outras coisas, e um dia todo esse esforço pode se apagar.  

—Seria uma pena. 

O professor de artes solta um riso (sim, aparentemente ele pode fazê-lo) nasalado. 

—Tudo bem, você é uma descoberta surpreendente, Logan Henderson. -Sinto meu ego inflando mais do que deveria. —Realmente surpreendente. Mas eu quero que arrume todos esses roteiros para mim e os guarde no armário em ordem alfabética. Também quero que arrume as cadeiras em círculo, pegue os cavaletes e coloque o pedestal no meio do círculo. 

Parte de mim esperava que ele perguntasse se eu conseguia fazer aquelas coisas, sabe, daquele jeito como adultos fazem quando não confiam cem por cento em você, mas Madsen passa longe de perguntar isso. 

Quando termina de listar o que quer que eu faça, ele simplesmente se senta em sua cadeira acolchoada e começa a folhear um livro sobre Mengele. Não consigo evitar torcer o nariz para o conteúdo, mas não julgo totalmente.  

De certa forma, quando Madsen me deixa “sozinho” para fazer minhas tarefas, sinto mais conforto. Ele poderia ser muito bem o tipo que adora puxar conversa sobre banalidades, mas eu nunca sabia como preencher as lacunas de silêncio que esse tipo de pessoa deixava e acabava se tornando uma coisa bem constrangedora. Mas eu não confundia isso com confiança por parte dele, não mesmo, podia sentir que vez ou outra que era vigiado enquanto arrumava as cadeiras em círculo. 

Recolhi os roteiros tomando cuidado de não estragar os quais as folhas já pareciam bem castigadas. Todos haviam sido encapados, mas isso não anulava as páginas amareladas de parecem meio frágeis naquelas circunstâncias. E quem sabe o que Madsen faria se eu estragasse alguma coisa? Algo me diz que apenas me mandar refazer tudo ser o mínimo e que ele tinha coragem o suficiente para qualquer coisa, mesmo que não aprovada pelo diretor –na verdade, principalmente se não fosse aprovada por diretor.  

Haviam nomes de alunos acima do título de Footloose. 

Tentei não rir. Sério, eu precisava convencer Peter a assistir aquela peça comigo, porque seria impagável ver alguém dando vida a McCormak na frente de todo o auditório da escola por mil e um motivos. 

Não era que eu achasse Footloose ruim, poderia até mesmo citar algumas coisas que eu gostava no filme original (porque o remake era quase o primo sem talento, carisma e empolgação do original –como sempre acontece em Hollywood), mas dá para imaginar algum aluno soltando tudo de si em uma dança animada sabendo que provavelmente algum idiota estaria com uma câmera preparada para filmar?  

E ainda que isso não fosse o suficiente, eu poderia dizer também que o elenco do teatro da escola não era bem um antro de atores carismáticos. A maioria deles era bem exagerado na verdade. 

Empilhando os encadernados, os coloquei dentro do armário do professor, junto com outras coisas aleatórias, como uma cobra de tecido que parecia tão caricata quanto um sapinho de barraca de parque. Em outras circunstâncias eu teria fotografado para mostrar a Peter em um outro momento, enquanto ele não estava ocupado com sua nota em cálculos e enquanto falava no telefone com seus colegas do clube de música, mas, novamente, eu queria mesmo correr o risco irritar meu supervisor? Talvez não. 

Quando comecei a organizar os cavaletes de modo que ficassem a uma distância de dois passos mínimos das cadeiras (uma especificação de Madsen, a distância perfeita para não cansar um artista mais que o necessário), os primeiros alunos começaram a chegar.  

Não eram muitos, a maioria eu nem mesmo sabia o nome. Mas eles sabiam o meu. 

Mais de uma vez o professor teve que pedir silêncio acima do burburinho generalizado. Não que muitos deles tenham se importado, pois jurei ver três garotas revirando os olhos de forma que seus olhos poderiam muito bem ficar virados por tempo indeterminado se uma brisa muito forte se chocasse contra seus rostos. 

Seria maldade dizer que desejei que isso acontecesse, mas seria mentira dizer que não desejei. 

Perdido entre meus devaneios sobre ventanias e meninas com olhos virados, nem mesmo reparei quando Ronnie Stwart passou por mim. E eu poderia dizer que ela também não me percebeu, pela forma como dispensou qualquer vômito falso ou suspiro pesado. Ela parecia bem sorridente, para falar a verdade. 

Uma parte de mim se sentiu levemente ressentida porque, poxa!, eu era seu Caveira Vermelha* desde que me entendo por gente. Já era um acordo silencioso entre nós as irritações pelo corredor ou qualquer outro lugar. 

Continuei meu trabalho até a última cadeira. 

Madsen se levantou, indo pegar algo em seu armário. Acabou deixando um vaso de flores meio apáticas no pedestal, as folhas pareciam de plástico duro e um pouco empoeirado, e eu poderia jurar que sua cor original não era aquela coisa desgastada e deprimente. Os alunos pegaram seu material para começar (ou continuar) seu trabalho. E foi então que a amiga de Ronnie me viu, seus olhos totalmente abertos de surpresa, e ela cutucou a garota ao seu lado, que ainda não havia deixado do sorrir como a bobona que era.  

Demorou cinco segundos e uma olhada mais atenta para que Stwart percebesse que era eu.  

Seu rosto se contorceu em uma careta enquanto seus lábios se moveram sem reproduzir som algum o que você está fazendo aqui?, ao que eu respondi com o clube é público. 

—Depois do que observei sobre a dificuldade de alguns de pontuar sombra, luz e profundidade, vocês vão continuar treinando com a reprodução do real e concreto sobre o papel. –Madsen ajeitou algumas folhas amassadas em seu arranjo. —Mas não se esqueçam que cada artista tem um modo próprio de trabalhar, então respeitem seu ritmo. 

Ronnie continuava olhando para mim como se eu fosse um E.T usado como decoração em um cenário vitoriano. Seus olhos pareciam levemente mais escuros, mesmo com a luz do sol batendo diretamente contra seu rosto.  

Todos já haviam começado a trabalhar, menos ela. Então não hesitei em lhe mostrar minha língua, ao que a garota respondeu com uma reação exagerada de mostrar o dedo médio. 

—Ronnie Stwart, não é assim que recebemos as pessoas no clube de arte. –Madsen a repreendeu. 

Sua feição pareceu totalmente surpresa –ainda mais do que antes. Parecia uma criança que acabava de ser pega roubando um pirulito ou um biscoitinho a mais, suas bochechas redondinhas ficando vermelhas instantaneamente. Mordi o interior das minhas para esconder que queria muito rir, mas senti um formigamento nos meus olhos. 

—Sinto muito, senhor Madsen. –Ela diz, com sua voz tranquila que viaja pela sala como uma pena no vento. Sério, a voz dela é sempre incrível, era uma coisa que até mesmo eu precisava admitir. 

—Não para mim, Ronnie. –O professor gesticula em minha direção. 

Dessa vez, até mesmo eu fico envergonhado. 

Até porque isso é apenas uma provocação nossa, eu não esperava nem mesmo ser pego fazendo algo assim. Então não podia esperar um pedido de desculpas dela. 

E quase quis dizer em voz alta que não precisava, até mesmo abri minha boca para começar a falar, mas fui interrompido pela voz de Ronnie tomando todo o ambiente daquela forma graciosa que era extremamente irritante, como se ela sempre estivesse falando com criancinhas jovens demais para compreender com exatidão todas as suas palavras. 

—Sinto muito pelo que eu fiz, Logan. Te peço perdão. –Parecia que as palavras eram cobertas de fel enquanto saiam de sua boca. Deu até mesmo para ver em seus olhos o quanto era doloroso/vergonhoso dizê-las. 

—Sinto muito também.  

Os olhos da garota vieram a mim novamente, encarando meu rosto com curiosidade. 

Eu não havia sido obrigado a lhe pedir desculpas, nem mesmo pensei em fazê-lo, mas era o que deveria fazer. Era mais como um desculpa por nós fazer ser pegos.  

Aos poucos, todos foram voltando ao que estavam fazendo antes e a aula foi voltando a sua normalidade. Era seguro dizer que Ronnie não olhou para mim nenhuma outra vez, mesmo que eu estivesse sempre por perto por estar muito curioso sobre o que ela faria em seu projeto. Ao contrário dos outros, era como se suas flores fossem de fato vivas e tivessem algo de especial.  

Nem mesmo percebi quando Madsen pediu para que todos reconhecem seu material pois o tempo havia acabado.  

Acabei ficando surpreso ao olhar para o relógio e perceber que as horas haviam voado. 

—Todos fizeram um ótimo trabalho, principalmente nosso novo convidado, Logan Henderson. –Ele aplaudiu e outras pessoas se juntaram a ele. Quando dei conta, todos estavam aplaudindo e até mesmo pareciam um pouco orgulhosos, menos Ronnie—Ele foi quem arrumou tudo para nossa aula de hoje. Muito obrigado, Logan. 

Madsen dispensou a todos e me entregou a folha assinada. 

Mais que correndo, fui até a secretária para que a folha fosse carimbada, morrendo de medo que não houvesse mais ninguém lá e eu perdesse aquele dia de atividade extra. Para minha surpresa as coisas se resolviam bem rápido pela tarde, já que não havia outros alunos com documentação para resolver. 

E quando finalmente estava livre da escola, era como se estivesse realmente sendo solto do lado de fora depois de muito tempo. Minhas costas pareciam mais leves e meu rosto estranhou a lufada de ar frio da tarde. Parecia que o tempo iria mudar muito naquela semana, pela forma que os dias iam esfriando quando se aproximavam do fim.  

Decidi ir andando para casa, já que pegar o ônibus para casa era sinônimo de gastar um grana sem necessidade. Minha mãe havia colocado algumas notas no bolso da minha mochila, mas eu sabia que ela tinha mais com o que gastar aquele dinheiro.  

Nossa cidade era como um labirinto de comércios pequenos, franquias conhecidas e casas muito parecidas se espalhando pelas ruas. Era fácil encontrar pequenos quartos para alugar no centro, assim como havia pelo menos três cafeterias por rua e pelo menos um McDonald’s. Era impossível não cumprimentar uma outra pessoa no caminho, porque a maioria morava naquele lugar antes mesmo de eu pensar em nascer, alguns até me pegaram no colo –embora eu nunca saiba quem exatamente e isso seja muito constrangedor. Decidi por colocar meus fones de ouvido na metade do caminho, puxando o celular da mochila. 

Haviam mais quatro mensagens sobre o baile de primavera. Uma delas era de Cody Byron, um dos membros do clube de teatro da escola, e, como eu sabia que ele provavelmente etária em destaque na peça de Footloose, eu quase quis aceitar para que ele mostrasse alguns passos. Mas eu não ia aos bailes de escola. Então apenas recusei todos os pedidos educadamente, mesmo quando Emma Duncan insistiu umas três vezes.  

Minha casa era uma das poucas no conjunto habitacional Oliver Garden.  

Pode parecer uma coisa muito chique de classe média quando se ouve falar, mas permita-me dizer que minha mãe trabalha como enfermeira, e uma enfermeira solteira não teria dinheiro para tanto. Claro que Liam também contribui muita nas despesas da casa, mas mesmo assim não era como se fôssemos aquele tipo de gente. Então o conjunto habitacional Oliver Garden era mais como um condomínio de casas pequenas com um sistema de segurança muito questionável na zona oeste da cidade.  

Passei correndo pelo portão de Lester Carrow, meu vizinho com jeito de velho louco que solta seu cão ainda mais louco em cima de qualquer um. Quando estava de frente para o pequeno portão que limitava nosso espaço, fiquei surpreso por ver as janelas abertas e sentir cheiro de comida dentro de casa. Realmente comida, não algo enlatado que havia sido colocado do microondas para uma refeição rápida. Não podia ser Liam porque: A) ele não sabia cozinhar nada que não envolvesse latas e microondas; B) ele havia avisado que tinha um compromisso do outro lado da cidade e dormiria fora. 

Entrei em casa vendo minha mãe na cozinha cantando algo de Dolly Parton. 

Meu coração se aqueceu um pouco ao vê-la em casa, preparando a mesa. Não porque eu não pudesse fazê-lo sozinho (porque era eu quem cuidava dessas coisas quando ela não estava), mas porque vê-la em casa era bom. 

Quando percebeu minha presença, ela sorriu para mim daquele jeito solar que só mamãe conseguia. 

—Então meu encrenqueiro chegou em casa. –Ela diz com um sorriso.  

—Mãe, eu já pedi desculpas.  

Todos dizem sempre o quanto somos parecidos com nossa mãe e é difícil ignorar isso mesmo que se esforce muito.  

Embora nossa mãe seja mais baixa (bem mais baixa) que nós dois, dá para ver de onde tiramos os cabelos loiros médio e os olhos claros. Mas é claro que nela tudo parece ter sido esculpido para parecer luminoso, principalmente em seu rosto pequeno e redondinho. Em Liam e em mim parecem apenas características fáceis de esquecer. 

Consigo reconhecer minha camisa dos Scorpions mesmo que já estivesse muito desbotada e o preto já tivesse virado cinza. De qualquer forma, não me importo que esteja com ela. 

—O que está cheirando tão bem? –Perguntei, deixando minha mochila perto do sofá. —Acho que deu para sentir o cheiro de fora do condomínio. 

Ela ri. 

—Exagerado! –Mamãe tira uma travessa fumegante de dentro do forno. —Advinha só, o seu favorito. 

—Lasanha! 

Sim, porque é quase seguro dizer que eu poderia ser a versão humanizada do Garfield. Amo lasanhas e odeio segundas-feiras. 

—Ah, e nosso compromisso ainda está de pé? –Lhe pergunto quando ela coloca um pedaço generoso no meu prato. —Porque eu estive pensando em comprar até mesmo uma camisa nova. 

—É difícil pensar que um rapaz como você não tenha nada de melhor para fazer. —Posso ver um certo desafio em seu olhar, algo do tipo minta para mim, mocinho, e tente ser convincente ou você perde. —Nenhum convite para o baile da escola? 

—Eu não sou muito popular na escola. –Dou de ombros, colocando uma boa garfada na boca, nem mesmo me importando com ardor extremo na língua. —Vai me chutar também? 

 

—Como eu poderia chutar o rapaz mais bonito que vem a minha porta? 


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Notas finais do capítulo

Eu quase consigo ver pontos de interrogação na mente de vocês agora.
Pois é, Logan é um cara legal -às vezes.



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