Tic-tac escrita por Acácia


Capítulo 8
Tac


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Maitê-tê-tê,

Bundas são legais. E normalmente nunca mentem, nunca, porque uma pessoa velha sempre vai ter uma bunda de pessoa velha, um bebê vai ter bunda de bebê e uma pessoa que faz esportes sempre vai ter uma bunda legal de quem faz esportes. Só os adolescentes não se encaixam nisso, as nossas bundas são aleatórias e maioria são feias. A da Rô é bonita, mas não sei se ela ainda é adolescente, acho que sim. Fico feliz que tenha visto beleza nos olhos de novo, espero que o veja novamente, um rapaz lindo pra uma moça linda.

O médico, ah, sei lá, ele só queria ser bonzinho com todo mundo, é complicado. Maitê, eu te acho especial. E você é uma das duas pessoas especiais no meu mundo inteiro, que mesmo sendo pequeno, é um mundo. No meu mundo você reina, e está ok, e é especial até demais, e o resto das pessoas só são pessoas e não fadas, como você é pra mim.

Sobre o meu coração, não faço a menor ideia. A Rô não me ama mais, acho que não, ela brigou comigo. Parece que eu sou autodestrutiva, foi isso que ela disse, destrutiva.

‘’Acácia, você tem uma alma de vadia, vadia, vadia, vadia. Um coração podre de vadia. Você é uma vadia autodestrutiva. Acácia. Você está me destruindo. Acácia: vadia’’

Ela me pegou com um garoto na escola, garoto bonito que disse que eu era bonita. Éramos bonitos e ele sorriu pra mim, os dentes brancos e os lábios finos. Sorri pra ele. E depois ele alisou o meu cabelo, como a Rô faz (ou fazia), e tocou no meu joelho. A Rô viu. Disse que eu queria, vadia-vadia-vadia.

Maitê, eu não sei o que eu queria.

Acho que só queria ser bonita.

O garoto escutou a briga e depois me abraçou, estava chorando. As minhas palavras saem em forma de lágrimas, Maitê, doí demais. Falou baixinho que ela era só uma lésbica apaixonada por mim, porque eu era bonita e que eu não podia mudar a minha sexualidade. Bati nele, Maitê. Fiquei com raiva e chorei mais ainda. Bati nele mas queria ter gritado e defendido a Rô. Porque eu a amo, pra caramba, vezes trilhão. Ela é tudo que eu gostaria ser. Ela sabe das coisas e se diz que eu queria, deve ser porque é verdade. Maitê, você deve ter lido no seu livro de psicologia: uma vontade inconsciente, então.

Fui à casa da Rô de noite. Ela me deixou entrar. Levou-me para o seu quarto, era tarde e não podíamos fazer barulho. Ela não podia fazer barulho.

Estou na casa da Rô agora.

A abracei (os meus abraços são pedidos de desculpas, as minhas lágrimas são poesia), e fui perdoada. Pediu que eu dormisse aqui, sem intenções e riu. Fiquei. Espero que esse quarto e nós duas fiquemos aqui pra sempre, pra que não doa mais esse amor, amor doí, acho que você sabe. Nós nos beijamos. Foi meu primeiro beijo de verdade. Tenho a impressão que foi rápido demais, curto, a Rô parecia sugar a minha boca inteira, e me amar. Teve gosto de colgate e coca-cola, deveria ter gosto de açúcar. Não sei se foi bom, mas eu a amo.

Maitê, como foi o seu primeiro beijo? E os seus amores?

O meu coração está estático, está com medo de bater devagar ou rápido demais e estragar tudo. Ai, o amor. O meu sangue é só amor doido e doído, e o meu coração só bombardeia. Amor, assim está o meu coração. Queimando.

Acácia.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler