Naquele verão escrita por Cyn
Encontrei a praia meia hora depois.
Todos olhavam para mim como se fosse louca por andar com tanta presa. Mas azar. Se eles soubessem o que é a minha vida. E eles também ainda nem virão o meu cabelo. Se minha mãe passou-se, imagina o que os mais velhos pensariam. Provavelmente que eu era uma drogada sem remédio. Talvez eu até seja, mesmo nunca ter sequer experimentado.
E para além disso quem são eles para julgar? Estamos no fim do mundo. Devem estar desactualizados das novas tendências.
Ignorando os olhares e tentando não rir por causa do estilo e de alguns “cowboys” cheguei á praia.
Deitei-me numa rocha longe dos surfistas e fechei os olhos.
É a única coisa que eu queria. Tirando este calor insuportável.
Tirei o casaco e deita-me por cima dele.
Como as pessoas podiam viver com um calor destes?
Avril Real começou a cantar do meu telemóvel.
Anne Mary.
Estranho. Pensava que ela me tinha apagado dos contactos. Para ser sincera a mim também não me apeteceu.
Anne Mary: Como estás?
Eu: Bem.
Anne Mary: Eu soube o que aconteceu. Lamento.
Eu: Porquê? Se eu não lamento.
Ela demorou um pouco para me responder.
Anne Mary: A sério?
Eu: Eu merecia. Mas também não o deixei levar a avante.
Anne Mary: Eu sobe.
Eu: Para k é k me estás a falar afinal? Apenas para te gabares e dizer “ eu avisei”. Obrigado mas eu já entendi. Acontece que eu n me arrependo de nada.
Anne Mary: Eu arrependo-me.
Ela deixou-me desprevenida desta vez.
Eu: Não preciso do teu arrependimento. E podes dizer a vaca da tua amiguinha que pode aproveitar o k quiser do A.
Anne Mary: Pára Sam, por favor. Eu apenas queria saber como estavas.
Eu: Estou bem. Mais que bem, estou óptima. Completamente radiante por estar a viver com o doador de esperma.
Anne Mary: Sam…
Eu: Mary eu agora preciso de paz. Importas-te de me falares mais logo, não tou com paciência.
Anne Mary: Claro.
Suspirei de alívio.
Quando ia a fechar os olhos uma sombra tapo o sol.
– Quem quer que seja saia ou parto-lhe o braço – Avisei.
– Um pouco rebelde não?
Olhei para cima e vi um rapaz um pouco mais velho que eu a sorrir.
– Só quando é preciso.
Ele riu e sentou-se ao meu lado.
– O que uma gata faz aqui sozinha? – Perguntou chegando-se mais perto.
O cabelo dele era negro e os seus olhos verdes. Fazia-me pensar em duas pessoas que me destruíram por dentro.
– Aproveitar a tranquilidade. – Disse sensualmente.
Não sei porque, mas eu queria-me divertir com ele.
Ele sorriu de orelha a orelha.
– Lamento intrometer.
Eu sabia que não lamentava era nada.
– Não há problema.
Ele sorriu ainda mais.
– És nova cá. Nunca te tinha visto.
– Sim… vim passar o verão com o doador de esperma. – Disse despreocupada.
Ele riu e deitou-se para trás.
– Gosto do teu estilo. – Ele olhou-me. – Já agora sou o Jaime, mas todos me tratam por Jai.
– Samantha. Mas eu prefiro Sam. É mais aconselhável.
Ele ficou curioso.
– O que acontece a quem te chamar de Samantha? Vai arrancar-lhe o braço?
– Não. Apenas vai ficar um pouco magoado nas partes …íntimas.
Ele gemeu.
– És uma miúda sanguinária.
– Apenas para quem merece.
– E será que mereço uma saída?
Fingi avaliá-lo.
–Não, nem por isso. Sou carga demais para a tua camionete.
Ele suspirou torturado.
– Mas se me provares que há sítios neste fim de mundo na qual uma miúda se pode divertir, eu fico a dever-te uma saída. – Continuei.
Ele sorriu vitorioso.
– Isto aqui não é tão mau quanto parece. Aqui também á diversão. Eu vou mostrar-te as melhores discotecas da zona.
Olhei-o desconfiada.
– E aqui á discotecas?
Ele pensou um pouco.
– Não, nem por isso. Mas a cidade vizinha tem, posso-te levar lá.
Apertei-lhe a mão.
– Combinado.
– Ouviste falar do comité que vão dar no próximo fim-de-semana?
– Não. Acabei de chegar. O que é um comité?
– Nas cidades grandes eles chamam de festa de emproados, aqui as festas são mais mexidas. É feita no parque e temos todo o tipo de vendas assim como comida. É meio que uma festa para adquirir fundos, cada família contribuiu com o que tem.
– Parece uma grande seca.- Bufei.
– E é. Mas se soubermos quais as bebidas que beber, não fica tão seca.
Um sorriso cresceu na minha boca.
– Agora falas como um homem.
– Tinhas dúvidas que fosse um? – Disse aproximando-se.
Ele era um jogador, mas eu também sabia jogar. Não é que ele não fosse bonito, mas não me atrai-a. A única coisa que queria com ele era um pouco de diversão.
– Talvez um dia o possas provar.
Eu meio que blefei. Eu sou virgem de corpo e alma. Ok, talvez de alma não. Mas de corpo sou por inteira.
Sempre disse a Alex que não era a hora. Talvez eu sempre soubesse que ele não era para valer. No fim das contas, eu pretendo transar a primeira vez pelo menos com alguém que eu ame. Sou meio que supersticiosa.
– Podes ter a certeza.
Sorri e fechei os olhos.
Talvez eu até vá-me divertir aqui.
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