Naquele verão escrita por Cyn


Capítulo 3
Desculpa




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Vesti uns calções azuis-claros, uma camisola de alças branca, um casaco branco com capuz e umas sapatilhas azuis. Peguei nas malas sem vontade e desci.

– Queres comer? – Perguntou minha mãe da cozinha.

– Quero ir de uma vez. – Resmunguei.

Íamos no carro de Zack para lá. Minha mãe podia aceitar o facto de irmos viver com meu pai, mas vê-lo era outra coisa.

Sentei-me do banco de trás e esperei que eles viessem.

20 Minutos depois apareceram os três. Minha mãe trazia um braço ao redor de Jace e Zack falava alguma coisa.

Minha mãe deu um sorriso fraco e beijou-o.

– Tomem cuidado.

– Não te preocupes mãe. Nós vamos ficar bem. – Garantiu Jace.

Beijou minha mãe e pôs as suas malas no porta-bagagens.

– Adeus Sam. – Desejou minha mãe.

Pus o capuz e os auscultadores.

Não me apetecia falar com ninguém depois do que aconteceu com Alex. Aquele babaca inútil. Pete tinha razão e por mais que me aceitasse admitir, minha mãe também.

Depois de ter admitido a culpa por ele tantas vezes é assim que me agradece, aquele canalha ignorante.

Zack e Jace entraram e disseram alguma coisa mas não me importei com o que fosse. Minha vida acabou quando minha mãe começou com “vais viver com teu pai” e acabou em “adeus, Sam”.

Deixei-me dormir depois de uma hora na estrada e acordei com uma batida no meu vidro e uma dor de pescoço.

Só me faltava esta.

– Torcicologo? – Perguntou-me uma voz.

Desliguei o Mp3 e abri a porta.

– Ai! – Gemeu a voz.

– Desculpa. – Murmurei.

Sai do carro sem olhar para quem atingi.

Uma casa de campo estava á minha frente. Era bem bonita. Mais do que eu esperava.

– Ei Samy Sam. – De repente aquela casa ficou a pior da minha vida.

Havia apenas uma pessoas que me chamava assim.

Olhei para o doador de esperma. Jace estava com o braço ao redor da sua cintura e chorava no seu ombro, Zack estava com radiante mesmo carregando todas as malas.

Bufei qualquer coisa e andei para dentro da casa.

Podia ser a casa dele. A casa que eu comecei a odiar desde que soube que viria para cá. Mas era o melhor sitio que tinha para me esconder agora.

Encontrei uma escadaria com uma curva e subia sem olhar para o resto.

Várias portas eram expostas nas paredes. Escolhi uma á minha direita.

Um piano de cauda castanho estava no meio da sala. Era uma sala um pouco solitária.

Avancei para outra porta que dizia em letras grandes e gordas:

Samy Sam

Com a letra dele.

Não sabia como não tinha notado.

Abri a porta e atirei-me o mais depressa que foi possível na cama assim que a vi.

Esquecer tudo e apenas acordar quando chegar a altura de ir para casa era única coisa quem me apetecia.

Os meus desejos não foram atendidos quando ouvi alguém bater na minha porta.

– Samy Sam? Posso entrar?

Não respondi e limitei-me a deixar a cabeça no travesseiro.

Ouvi o rangido da porta a abrir e apertei com força o travesseiro. A minha cama cedeu um pouco com o peso dele.

– Eu compreendo que estejas magoada. – Disse depois de um tempo.

Ele estava errado. Eu não estava magoada. Eu estava furiosa.

– Sam foi necessário. Eu e tua mãe não podíamos estar mais debaixo do mesmo tecto. Preferias que continuássemos a brigar?

Se preferia?

Claro, porra. Pelo menos estávamos todos juntos.

– Samy Sam, fofinha, desculpa.

Ele não entendia que eu não queria as suas desculpas para nada. Apenas queria que ele me explicasse porque nunca me deixou ir com ele. Porque me tinha abandonado quando lhe pedi para não o fazer.

Ele suspirou cansado como se soubesse que não tinha hipóteses.

– Se quiseres descer para comer é só ires até lá em baixo. – Levantou-se.

Percebi hesitação antes de sair mas se foi.

Soquei o travesseiro e permiti que as lágrimas que segurava me envergonhassem.

Não sei quando adormeci, mas quando acordei tinha o rosto pegajoso. Levantei-me sem forças e procurei por um espelho. Nada.

Lindo, tenho tudo menos o que importa.

Fui até ao corredor e desci para o andar debaixo. Atravessei a sala até ao balcão do outro lado. Peguei um copo e enchi-o de água.

Bebi todo de uma vez. Lavei a cara e suspirei de alívio. Não tinha reparado com o calor que estava. Tirei o casaco e deixei-o em cima da mesa.

Procurei algo para comer no frigorífico e tirei um prato com duas fatias de pizza.

Eram umas 9 da manhã, mas estava com muita fome. Não tinha comido ontem nem jantado no dia anterior.

– Não é muito cedo para pizza em Samy Sam? – Ele foi até a um armário e tirou um pacote de barritas de chocolate. – Isto é melhor.

– Estou bem. – Murmurei.

Como se ele se importasse mesmo. Era só o que me faltava.

– Vais falar assim comigo o verão todo? – Perguntou sentando-se á minha frente.

– Podem-me obrigar a vir para aqui, o que não podem é obrigar-me a falar com a educação que nunca tive.

Levantei-me e sai com o prato de pizza.

Havia uma porta em vidro no corredor que ligava a sala a outras divisões. Fui até á porta e sai para o ar fresco

Um pequeno celeiro e uma cerca á sua volta dá-vão vida ao que alguma vez já foi uma clareira.

Dali podia ver a vizinhança. Também eles possuíam um celeiro, mas cada um de diferentes tamanhos.

Fui até ao celeiro e entrei. Não havia porta o que me facilitava e deixava entrar muita luz.

Apenas um cavalo o habitava.

Reconheci o cavalo sem sequer lhe prestar a tenção.

As manchas pretas e brancas como um dálmata. Eu tinha escolhido aquele porque meus pais não me deixaram ter um dálmata quando tinha 5. Então quando entrei para equitação e vi aquele cavalo, rapidamente o escolhi. O que não fazia ideia era o que ele estava a fazer ali.

Eu tinha desistido da equitação á muitos anos.

– Ei compincha. O que fazes aqui? – Perguntei escovando-lhe a crina.

– Quando tua mãe me disse que tinhas desistido da equitação e resolvi trazê-lo. – Ouvi meu pai atrás de mim. – Talvez mudasses de ideia.

– Isso não vai acontecer. – Disse sem o olhar.

– Porquê? Porque desistes-te? Pensei que gostavas.

– Gostava. Foi antes. Eu cresci… mudei.

Ouviu-o suspirar.

– Eu percebi. Já não és mais uma criança. – Ele pausou antes de continuar. – Mas ainda és a minha bebé.

Forcei-me a não esbarrar a parede.

– Sam… eu sei que sofreste, mas eu quero remediar isso.

Voltei-me furiosa e sai do estábulo sem o olhar.

– É MUITO TARDE PARA ISSO! – Gritei por cima do ombro enquanto andava até á casa.

Zack e Jace estavam na cozinha a falar. Andei até á porta da frente e sai. Precisava de um tempo longe disto tudo. Estava a ser demais para mim.


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