Naquele verão escrita por Cyn


Capítulo 21
Coração




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Coração

Nesse dia passei-o com o meu pai nos estábulos. Ninguém nos incomodou o que agradeci.

– Pai?

– Sim.

– O que achas de eu ter uma banda?

Ele olhou-me por um momento antes de sorrir.

– Uma banda?

– Sim. Sabes o Mikey?

Ele assentiu.

– Bem, eu descobri que ele tem uma voz incrível e as canções dele são um pouco marradas mas são boas. Ele teve a ideia de nos juntar-mos e fazer-mos um dueto. O que achas?

–Ele é assim tão bom?

– É incrível.

– Bom, o que achas tu dessa ideia?

Eu sorri.

– Eu aceitei.

– Então por mim, tudo bem.

Eu sorri ainda mais por ele acreditar em mim.

– Nós vamos cantar no festival.

Ele levantou as sobrancelhas.

– A sério?

– Hmm, hmm. Mas não contes a ninguém, ok?

Ele sorriu e assentiu.

– Podes contar comigo, Samy Sam. A minha boca é um túmulo.

Era bom ter o meu pai de volta. Poder confiar nele.

Enquanto eu escovava dálmata sentiu a olhar-me. Virei-me para ele com a testa franzida.

– O que foi?

– Nada, é que…- Ele suspirou e sentou-se num banco.- Senta aqui.

Sentei-me no banco ao lado dele e esperei.

– Aquela rapariga que veio cá para falar contigo…

– Anne Mary.

– Isso. Ontem á noite quando sais-te a conversa acabou indo para o acidente de carro em que a atropelas-te.

Eu olhei para as minhas mãos.

Havia tanta coisa a dizer.

– Sam, ela disse que não eras tu a conduzir o carro. É verdade?

Mordi o lábio inferior.

Então ela sabia.

Olhei para o meu pai e assenti.

– Era, aquele rapaz, o Alex, certo?

Voltei a assentir.

– Porque ficaste com as culpas por ele? Ele é que tinha que ser responsabilizado, não tu.

– Porque na altura eu estava louca por ele, e ele veio com essa história de que se o apanhassem de novo ia para um orfanato e eu apenas o ajudei.

– Ele aproveitou-se de ti.

Dei de ombros.

– Em parte, mas eu sabia. E fi-lo porque quis.

Ele levantou-me a cara pondo a mão no meio queixo.

– Isso não é certo.

– Eu sei, pai. Mas o que lá vai, lá vai e o que interessa é que Anne Mary saiba a verdade, verdade?

Ele pensou por um tempo e suspirou.

– Verdade.

Minha mãe nos chamou para almoçar e nos entramos.

– O que tanto fazeis, nos estábulos?- Perguntou quando nos sentámos.

– Tarefas que deviam ter sido feitas á muito tempo.- Disse meu pai.

Ele não escondia o sorriso e todos repararam no quão feliz ele está. Eu mesma sorria por dentro.

– Parece que tivestes uma boa manhã.- Disse Jonathan.

– Sim. Foi uma manhã produtiva.- Disse olhando-me.

Eu revirei os olhos e comecei a comer.

Olhei para cima e vi Anne Mary com um pequeno sorriso para mim.

Ela soubera a minha relação com o meu pai e sempre me disse para dar o braço a torcer. Talvez ela estivesse certa. Ela sempre foi uma boa ouvinte, … uma boa amiga.

Acabámos o almoço sem muita conversa e eu e meu pai voltámos para o estábulo.

– Então o que vamos fazer amanhã?- Perguntou meu pai.

Dei de ombros.

– Sei lá.

Ele pôs um braço nos meus ombros.

– Temos que fazer algo especial. É o dia antes do festival e o teu aniversário.

Eu parei e olhei-o.

– Lembraste-te?

Ele olhou-me confuso.

– Claro que sim. Lembro-me todos os anos. Tens as prendas debaixo da minha cama. É só lá ires buscar.

Eu sorri e encostei-me na parede.

– Oito anos de prendas, para abrir em um dia. Acho que consigo.

Meu pai riu e sentou-se no banco.

– Vais conseguir fazer esse esforço?

Levei a mão ao peito.

– Vou tentar.

Nós rimos e peguei na viola dele e sentei-me ao seu lado.

– Então o que vai ser? Podes trazer alguns amigos, mas a tua mãe já deve ter algo em mente.

Balancei a cabeça devagar com um meio sorriso no rosto.

– Ela não vai se lembrar.

– Como não?

Olhei-o e encolhi um pouco os ombros.

– Ela nunca se lembra. Nenhum deles. Acabo sempre por ir passar os meus anos com o gangue. Eu sei o que vais dizer, eles são uma má influência. OK, eu meio que concordo com isso. Mas eles eram os únicos que se lembravam do meu aniversário e eu sentia-me… bem. Divertía-mo-nos, eu até fui presa no ano passado.- Ri com a lembrança.- Eu estava um pouco divertida de mais e acabei dizendo coisas que não devia á minha mãe. Mas nem assim ela se lembrou.

Olhei-o com um sorriso.

– É o ciclo da vida.

Ele abanou a cabeça.

– Não concordo, Samy. É tua mãe, de certo ela se lembra. Zack e Jace pelo menos.

Abanei a cabeça negando.

– Ninguém.

– Amanhã pode ser diferente.

– Vamos fazer uma aposta? Se eles se lembrarem então eu vou tentar portar-me melhor daqui adiante, mas se não eu vou poder ir para uma festa com os meus amigos.

Ele olhou-me e assentiu.

– Combinado.

– Ei, mas nada de dizer. Eles têm de se lembrar sozinhos.

– Temos acordo.

Apertei-lhe a mão e sorri.

Eu sabia que a aposta estava ganha. Eles nunca se lembram, é o ciclo da vida, mas eu estava feliz. Tinha doido ao princípio a minha mãe não se lembrar do meu aniversario, mas habituei-me.

O meu pai lembra-se assim como nos últimos 8 anos, isso deixa-me feliz. Ele estar longe, mas lembrar-se de mim.

– Então, vamos cantar?- Perguntei.

– Força. Tu cantas, eu vejo.

– Tudo certo. Algum pedido?

– Surpreende-me.

Eu sorri e toquei e cantei o que me vinha á cabeça.

Entre as estrelas, descobri.

Que eras tu que me fazia feliz.

Desculpa, se te magoei.

Mas as estrelas sabem,

Que foi por amor.

Disse o que não devia dizer.

Estraguei minha vida, mas aqui estou eu.

Fiz o quis e sempre me apoiastes.

Por isso aqui estou eu.

Quero que me perdoes,

Que comecemos de novo.

Espero que não seja tarde.

Espero que não te tenha perdido, já.

Humilhei, maltratei, desrespeitei,

Mas agora aqui estou eu.

E vou ficar até me perdoares.

Nem que dure a minha vida,

Pois o teu perdão é a única coisa de que eu preciso.

Então perdoa-me e,

Volta pra mim.

– Epá, temos uma artista.- Virei-me para ver Robe e seus filhos entrarem.

O meu olhar cruzou-se com Travis que sorriu orgulhoso. Eu retribuí mesmo que esteja a evitá-lo. Afinal de contas, foi graças a ele eu estar com meu pai.

Louise correu até mim e abraçou-me. Tirei a viola para o lado e sentei-a no meu colo.

– Meu pai deixa-me fazer uma madeixa.- Disse-me.

– A sério?- Olhei para Robe que assentiu.

– Sim, mas apenas uma.

– Bom, e que cor queres?

– Eu não sei. Gosto de cor-de-rosa e de azul e de vermelho e de violeta.

– Então temos muitas cores em que pensar. Quando é que a queres fazer?

Ela deu de ombros.

– Quero-a para o festival.- Avisou.

– Hmm, tudo bem. Deixa-me só ir fazer um telefonema.

Ela levantou-se e sentou-se no banco quando eu me levantei. Fui até lá fora e encostei-me ao Gazebo.

– Cabeleireiro da Kely, pois não?

– Ei, Kely. Sou eu.

– Sam! Á tanto tempo, miúda. Por onde andas?

– Muito longe daí, se queres saber. Eu precisava dos teus serviços.

– Queres mais uma madeixa?

– Não é para mim. É para uma menina que está ansiosa por ela. Quando podes?

– Olha, estou livre amanhã á tarde e depois de manhã no dia seguinte.

–Pode ser no dia seguinte de manhã.

– É para já. Fico á tua espera às 9?

– 9, 9:30 o mais tardar.

– Muito bem. Então até depois de amanhã. Tens de me contar as novidades todas, ouviste?

– Contarei. Dá um beijo ao Freny por mim.

– Darei. Beijos, miúda.

– Beijos Kely.

Desliguei e voltei-me para entrar mas foi surpreendida por dois braços me rodeando.

– Travis!- Ralhei.

Ele sorriu e puxou-me mais perto.

– Porque andas a fugir de mim?

– Não ando.- Disse olhando para baixo.

Ele levantou-me o queixo com a mão.

– Á não?

– Não.

–Pois bem, eu não acredito.

– Azar o teu.

Tentei andar mas ele é mais forte que eu.

– Travis.- Choraminguei.

Ele deu-me um pequeno beijo na testa.

– Olha para mim.- Pediu e eu fiz porque eu sou uma rapariga corajosa. Às vezes. - Não fujas de mim, Sam. Por favor. Eu disse-te que não posso ficar muito tempo longe de ti e ao fugires apenas estás a dar comigo em doido. Não faças isso.

– Eu tenho que fazer, Travis.

– Porquê?

Olhei-o nos olhos.

– Porque eu vou destruir a tua vida. Eu sou um desastre ambulante. Mereces alguém melhor que eu.

Ele afastou-se e passou a mão pelo cabelo. Olhou-me intensamente.

– Já estou farto de ouvir isso. Já estou farto de disseres isso de ti. Sam…- Ele pôs uma mão em cada lado do meu rosto.- …tu és incrível. Tu não tens noção da forma como eu te vejo, da forma como os outros te vêem. Não tens medo de dizeres o que sentes, de expressar os teus sentimentos. Eu admiro isso em ti. Sam… porque achas que a minha irmã te adora tanto? Ela admira-te. Por causa da luz que tens á tua volta.

– Que luz?

Olhei em volta de mim mas não havia nada.

– Andas-te a beber Travis?

Ele riu e abriu a boca mas fechou-a.

– Esta luz. A forma como fazes os outros rir, sem quereres. A forma como sorris. A forma… como és.

– Eu só trago sarilhos.- Disse desanimada.

– Trazes muito mais que isso, Sam. Muito mais.

Olhei-o e suspirei.

– Tu és louco.

Ele sorriu e encostou a testa dele á minha.

– Sou. Sou louco por ti. Sou tão louco, que amo uma menina linda que não posso perder. Se a perder, o que será de mim?

O meu coração batia mil á hora.

Bolas, como gostava de o ter assim.

– Sobreviverás.

Voltei a afastar-me e quase consegui, mas ele prendeu-me a mão.

– Sam…

Suspirando, virei-me para ele.

– Eu não gosto de te ver com mais ninguém que não seja eu.- Ele parou e suspirou.- Eu não posso perder-te. Não depois de minha mãe…

Ele afastou o olhar e eu vi uma lágrima escorrer-lhe pelos olhos.

O meu peito apertou-se para ele. Não queria que ele sofresse, não gostava que ele estivesse assim.

– Travis…

Cheguei-me até ele e abracei-o.

Sou tão estupida.

– Doeu quando a perdi e se te perder a ti, doará ainda mais. Eu sei, eu não te posso perder porque não és minha, mas…- A voz dele suava abafada por causa de a cabeça dele estar enterrada no meu cabelo.

Abracei-o mais apertado e descansei a cabeça no ombro dele.

– Eu apenas não quero destruir a tua vida também, Travis.

Ele afastou-se para me olhar. Uma lágrimas caia-lhe pela bochecha eu não consegui resistir e enxuguei-a.

Ele deu um pequeno sorriso e pôs a sua mão na sobre a minha.

–Eu sei cuidar de mim, Sam. Achas que eu não sei o que é melhor para mim? Eu sei. E és tu.

Eu olhei para baixo e de novo para cima.

O meu coração parecia que ia explodir, mas eu não queria saber. Não me ia importar que morresse no calor dos braços de Travis.

–Eu preciso pensar. Ok?

Ele assentiu e deu-lhe um pequeno beijo nos lábios. Apenas o contacto fez ela arrepiar-se. Travis sentiu e sorriu.

– Eu vou esperar e deixar-te pensar o tempo que precisares. Se quiseres ouvir o teu coração, uma vez na vida, sabes onde me encontrar.

Mordi o lábio e fiquei a vê-lo entrar.

Eu sabia o que queria. Eu amava Travis.

Disso não tinha duvidas.

Era ele que meu coração queria, como nunca quis ninguém.

O único problema, era o medo de destruir a vida de Travis. Ele era trabalhador, trabalhou a vida toda para ter uma vida boa. Eu iria destruir-lhe tudo.

Ele quer-me.

Eu quero-o.

Mas não quero que ele sofra.

Suspirei cansada e encostei-me no Gazebo.

Porque as coisas do coração são tão difíceis?


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Notas finais do capítulo

Deixem-me saber o que pensam, beijos!!!!!!!!!!



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