A Rua dos Sonhos escrita por Aislyn


Capítulo 3
Kamis




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Sora sabia que se voltasse para a sala de jantar, teria que enfrentar a fúria do irmão e também explicar que não sentia por Daisuke o mesmo que ele sentia por ela. Pelo menos, Miaka era a única que havia gostado da situação, não escondeu o contentamento quando a amiga saiu correndo para o quarto. Como queria encontrar um pouco de paz, Sora pegou a sua bolsa e saiu pela janela, quando notassem a sua ausência, já estaria longe dali. A área do templo era grande demais e ela conhecia tudo como a palma de sua mão, nem mesmo Daisuke ou Miaka encontrariam-na se quisesse se esconder. Após alguns minutos correndo, chegou até a cachoeira que tanto amava, lá, o barulho da água cristalina batendo nas pedras era tranqüilizador. Ela deitou-se sobre uma pedra, estava quente ainda. Agradecia à Natureza por ter um lugar como aquele para refugiar-se, perdera a conta de quantas vezes havia chorando sobre a mesma pedra. Algumas horas depois, quando seu coração finalmente se acalmou, ela ouviu um ruído estranho que vinha do outro lado da margem. Curiosa como sempre, saltou agilmente por um caminho de pedras e chegou aonde queria. Não demorou muito para encontrar o motivo daqueles ruídos, agora podia ouvir claramente o choro de uma criança. Com cautela, Sora aproximou-se, já estava habituada com situações como aquela, principalmente nos arredores do templo.

– Oe... Você ainda não encontrou o seu caminho, pequeno? – Perguntou ela com doçura, fazia sinal com a mão direita para que o garoto não a temesse. – Posso ajudá-lo?

– Um... Um demônio – ele balbuciou por entre o choro. – Ele quer me pegar...

– E como é este demônio?

Sora sentou-se no chão e estendeu a mão para o garoto, ele começava a se acalmar, até que sentou ao lado dela. A sacerdotisa não entendia muito bem o que representava aquelas correntes nas criaturas que via, só chegava à conclusão de que quanto mais curta, maior era o sofrimento deles. Não era bom sinal o estado em que se encontrava a corrente no peito daquela doce criatura, deveria ter cerca de trinta centímetros.

– Ele usa um traje negro... Tem uma katana afiada e tentou me machucar com ela. Corri muito, até que consegui vir pra cá – explicou o menino. – Você é uma Miko?

– Hai! – Ela assentiu sorrindo. – Yukishiro Sora. E você?

– Kinoshita Heizo – o garoto já começava a falar normalmente. Era encantador, tinha os olhos castanhos e os cabelos repicados, num tom de castanho muito claro. – Mais cedo um demônio de máscara tentou me devorar... O outro o matou e como me viu, também tentou fazer o mesmo. Por favor, Miko-chan, não o deixe me pegar.

– Heizo-kun... Vou ajudá-lo a encontrar o seu caminho e prometo que você nunca mais vai ver demônio algum!

Sora abriu a bolsa e retirou um espelho de mão com moldura de prata e ouro, cravejado por pedras semipreciosas. O menino ficou observando-a, estava curioso para saber por qual motivo a sacerdotisa estava há mais de um minuto com os olhos cerrados, proferindo coisas ininteligíveis em voz baixa. Quando ela abriu os olhos, colocou o espelho diante do garoto para que seu rosto fosse refletido.

– Que seu caminho...

Sora parou a sua reza quando ouviu o barulho de alguns arbustos se mexendo próximos dali, não parecia um animal, era algo bem maior. Ela levantou-se prontamente e colocando-se na frente do garoto para que ele não temesse, esperou seja lá o que fosse aparecer. Não demorou muito, diante dela, uma silhueta começou a tomar forma saindo das sombras, sendo iluminado diretamente pela luz da lua. Sora deu alguns passos para trás, era um homem em um traje negro, empunhando uma katana – confirmando a descrição de Heizo. Ela olhou diretamente para o rosto dele, parecia mergulhado em seriedade. O cabelo dele era diferente, algo que ela jamais tinha visto, dividido em duas partes atrás e com uma franja à altura do queixo cobrindo o olho esquerdo. Ele a encarou, estava claro que a mulher à sua frente podia vê-lo. Sora sequer arquitetou um plano, confiava demais em suas rezas e amuletos. Infalível contra demônios, ela sacou da bolsa um ofuda e com uma rapidez incrível, o empurrou contra a testa daquele diante dela.

– Que aquilo que meus olhos vêem possa ser purificado! Desintegre-se, espírito das trevas!

Ele não deu um passo sequer para trás e Sora afastou-se, tinha que proteger aquela pobre alma a todo o custo. A seriedade dele se desfez quando pegou o papel e leu a inscrição, não estava acreditando no que via, era a mesma letra. Ele direcionou o olhar para ela e a fitou por alguns segundos, em seguida, sorriu. Sora sentiu um tremor invadir todo o seu corpo, seu coração passou a palpitar fortemente, suava frio. Não sabia o que falar, mas não tinha duvidas, havia guardado aquele sorriso em sua memória, ninguém possuía a dádiva de sorrir daquela forma tão encantadora.

– Você não pode ser um demônio – falou ela sorrindo, sentia-se nostálgica. – Agora sei que não é um fantasma também...

– E você não é um plus – concluiu ele com bom humor. – O que faz com esta criança?

– Eu estava tentando guiá-la para o outro mundo quando você interrompeu... Agora, tenho que me concentrar de novo.

– Não há necessidade, é meu trabalho fazer isto. – Ele aproximou-se de Sora e voltou o punho de sua arma na direção dela. – Só preciso tocar nesta alma e ela poderá se libertar...

– Não – gritou o garotinho. – Ele quer me machucar, Miko-chan!

– Calma, Heizo... Eu confio nele, apesar de sequer saber o seu nome... Ao menos, sei que é real.

– Kira Izuru – ele falou após uma mesura.

– Seu nome? – Perguntou Sora desconfiada.

– Hai.

– Yukishiro Sora e este é Heizo...

– Sora... – Kira sussurrou, naquele momento, ele foi levado para o passado. O que não daria há alguns anos para saber o paradeiro dela, agora que sabia, não conseguia agir normalmente. Assim que olhou para o garoto, percebeu que deveria cumprir com o seu dever antes de qualquer coisa. – Heizo-kun... Eu vou apenas tocar com o punho de minha zanpakutou em sua testa, não vai doer. Logo, você será livre.

– Iie! – Protestou Heizo. – A Miko-chan já prometeu que irá me ajudar! Você é um demônio...

– Me ajude, Sora.

Kira estava inseguro quanto ao que faria, assim que pediu ajuda, pegou a mão direita da mulher e a colocou sobre o punho de sua arma, para que ambos pudessem segurá-lo. Ele assentiu seriamente e juntos, encostaram a testa de Heizo. Ela não teve tempo de se despedir, diante de seus olhos, o espírito do garoto se desfez. Estava cheia de dúvidas em sua cabeça, queria tanto saber mais sobre ele, já era obvio que Kira não era um humano comum.

– Era você mesmo? – Foi a única coisa que ela conseguiu perguntar. Tímida demais, não conseguia encará-lo.

– Vejo você em todo o lugar
Em cada rosto,
Na Rua dos Sonhos.

Ela não entendeu, aquilo parecia um Haiku. Kira virou de costas e guardou a zanpakutou na bainha, ainda não acreditava que havia recitado aquele poema singelo para ela. A Rua dos Sonhos, foi assim que ele chamou o local onde a vira há anos... Não sabia quantos mil Haikus havia escrito ao lembrar-se daquela noite, mas com certeza este era o que mais o tocava. Triste e introspectivo, não existia muita coisa que lhe trouxesse alegrias a não ser tudo o que ficara guardado em sua memória. Já não era mais a garota que ele vira naquela noite, havia desabrochado como uma bela flor, contudo, seus olhos eram exatamente os mesmos: grandes e expressivos, com um brilho que somente eles possuíam. A braçadeira de fukutaichou de repente tornou-se mais pesada, ainda estava em missão. Ele pela primeira vez ficou em dúvida sobre como proceder, antes, suas obrigações viriam em primeiro lugar, naquela ocasião em especial já não tinha a mesma certeza. O shinigami pensou muito, então, resolveu seguir o seu caminho. Quando estava já a alguns metros adiante, sentiu um toque em seu ombro.

– Anjo da morte...

Ela o chamou docemente, estava emocionada com o reencontro. Kira sentiu uma pontada no peito, ao mesmo tempo em que um arrepio percorreu a sua espinha, não podia deixá-la ali daquela forma. Lentamente ele se virou, seus olhos foram de encontro aos dela.

– É tão irônico... Um Anjo da Morte ser assombrado por um vivo – ele falava como se estivesse declamando um poema, era bom demais com as palavras. Kira começou a caminhar ao redor, quase que num círculo e Sora fez o mesmo, ele para um lado, ela para outro. Quando pararam, ele a olhou novamente. – De qualquer forma, acabo de encontrar uma linda donzela!

– E eu acabo de encontrar um belo jovem! – Sora sorriu, conhecia bem a lenda que continha aquelas palavras, tanto que a contava para os visitantes do templo. Os Kamis Izanagi e Izanami disseram isto um ao outro antes de se unirem em laços matrimoniais, na ilha de Onogoro-Jima. Após isto, Izanami deu à luz, ilhas, mares, rios, plantas e árvores. – Eu sempre pedi aos Kamis para que você não fosse apenas fruto da minha imaginação... Anjo...

– Shinigami – ele corrigiu com a voz aveludada. – Nem de longe sou um anjo, apesar do termo.

– Anjo – insistiu, o olhar que ela dirigiu a ele foi triste desta vez. – Eu preciso de você... Foi para iluminar o meu caminho que o enviaram, tenho fé nisto.

– Na verdade, foi uma coincidência...

– Eu não acredito em coincidência, somente no destino.

Sora fez sinal para que ele a seguisse, caminharam por alguns minutos até chegarem a um jardim. Naquele lugar com ar espiritual, a harmonia reinava. Havia um belo lago de carpas, o qual eles atravessaram por sobre uma pequena ponte, chegando a um ponto em que havia algumas lanternas de pedra e um banco. Ao redor de tudo jaziam árvores e arbustos, como Sakuras, Momijis e Sazankas. A sacerdotisa sentou-se no banco e Kira fez o mesmo, ficando muito próximo dela. Não estava entendendo o motivo da tristeza no semblante da jovem, ela parecia tão feliz antes.

– Sora-chan – ele tomou a liberdade de chamá-la daquele jeito, apesar de ser alguém inseguro, queria passar segurança para ela. – Já que estou aqui, se quiser conversar... O que aconteceu? É tarde, provavelmente a sua família esteja procurando por você.

– Depois do que fiz, eu não sei se a única família que me restou vai abrir as portas de casa para mim novamente.

– Tive uma idéia, espere um momento. – Kira retirou de um compartimento em seu shihakushou um dispositivo e apertou alguns botões, em seguida, colocou no ouvido como se fosse um celular. – Hisagi-kun, está tudo tranqüilo?

“Os sinais desapareceram – respondeu o fukutaichou do Kyubantai do outro lado. – Não há mais problemas por enquanto, o Denreishinki é muito preciso... Onde você está?

– Encontrei algo muito especial... Arrume um lugar para ficar, Hisagi-kun. Mais tarde nos encontramos!

Este algo especial é de comer? Porque se for, traga para mim também!

Kira não quis responder e desligou. Agora estava livre para ouvi-la e mais tranqüilo, já que em seu dispositivo não havia sinal algum de Hollows. Sora notou que o shinigami queria ouvi-la com sinceridade e resolveu abrir o seu coração. Ele nada dizia, estava apenas ouvindo tranqüilamente e prestando atenção aos gestos dela. Ao fim, sabia a respeito da morte dos pais de Sora em um acidente de carro quando ela tinha dois anos e também sobre o ocorrido com seu irmão, Akira. Desde os quinze anos Sora fizera votos para com o templo, assim como fora prometida a Himura Daisuke. Ele como sempre fora apaixonado por ela, resolveu aguardar até o aniversário de vinte e cinco anos de Sora, assim, ela sairia do templo para ter uma vida com aquele que seria o seu marido. Para Kira parecia mais uma história de nobres, em que a jovem era prometida para alguém sem nem mesmo poder escolher aquele que amava. Sora deixou bem claro que nada tivera com Daisuke, então, não entendia como ele podia amá-la tanto. Ao fim, o fukutaichou entendeu porque ela fugiu naquela noite.

– Então... Você tem que trilhar pelo caminho que você acha que é melhor e não por aquele que o seu irmão aponta – ponderou. – De onde eu venho, nós temos que seguir ordens, contudo, eu escolhi o meu caminho.

– Meu irmão sofreu muito... Eu sei que ele quer que alguém confiável cuide de mim, já que ele acha que não pode fazer isto – comentou ela com pesar.

– Pelo que eu reparei, você sabe cuidar muito bem de si mesma!

– Você acha? – Finalmente ele conseguira arrancar um sorriso por parte dela. – Izuru-kun... Eu tenho um pedido a fazer.

– E o que seria? – Perguntou ele curioso.

– Me leve com você para o seu mundo.

Kira tentou rir apesar da situação. Não se sentia à vontade revelando segredos a alguém como ela, entretanto, Sora não era uma garota normal. Ele pensou bem antes de explicar para ela a respeito da Soul Society, achava que após vinte minutos explicando como tudo funcionava lá, ela entenderia por qual motivo não poderia ir para o seu mundo. Sora abaixou a cabeça e então, timidamente tocou na zanpakutou dele.

– Então, existe uma chance.

– Não é bem assim, Sora-chan – ele pegou a mão dela. – Você tem que enfrentar os seus problemas. Naquela noite eu conheci uma garota valente, destemida... Ela me encarava como se qualquer coisa pudesse fazer. Agora há pouco eu reconheci esta garota, após tantos anos, justamente por causa do olhar brilhante, decidido!

– E eu reconheci você pelo seu sorriso... Confesso que era só eu lembrar-me de você para encontrar um pouco de paz. Sempre achei que você fosse um anjo enviado para me alegrar e foi o que você fez naquela noite, apesar de não termos dito quase nada um ao outro.

– Você é especial, Sora-chan... Não existem muitos humanos capazes de nos ver! Espero que você converta este poder todo que existe em seu interior em forças para enfrentar os seus problemas.

– Pelo que percebo em suas palavras, você está indo embora – a mulher deixou escapar uma lágrima. – Arigatou... Você me ajudou muito.

– Eu queria pode fazer mais, porém, tenho que ir! Não tenho permissão para continuar no seu mundo.

– Quando vou encontrá-lo novamente, belo jovem? – Indagou Sora, estava com o rosto virado para o lado oposto ao dele, não queria que a visse chorar.

– Um dia, na Rua dos Sonhos, linda donzela.

O fukutaichou levantou-se, nunca foi tão fácil conversar com uma pessoa que ele sequer conhecia. Ele mesmo havia estranhado o seu comportamento, estava com a sensibilidade aflorada. Não teve coragem de falar para ela tudo o que aconteceu em seu regimento, por mais que quisesse se abrir com alguém, àquela era uma mágoa que carregaria sozinho. Antes de ir, ele a olhou uma última vez, estava com um aperto estranho no peito.

– Shinigami – ela chamou com seriedade. – Espero que vá em paz e que trilhe por um caminho repleto de luz.

Kira não teve como responder, saiu correndo dali antes que não conseguisse. Sora sentiu um peso em seus ombros e um imenso vazio, talvez nunca mais o visse. Lembrando-se do que ele falou, a sacerdotisa criou coragem e resolveu voltar para a sua casa. Como já esperava, Akira estava na frontaria de sua morada, o semblante carregado de raiva. Ela devia muito respeito para ele, todavia, já estava decidida, faria somente o que quisesse dali por diante. Cinco anos de diferença já não davam mais o direito de ele decidir o que era bom para a vida da irmã, agora, ela tinha que fazê-lo entender. Sora aproximou-se e sentou em um degrau, dali poderia conversar com ele. A principio, Akira não quis encará-la e alguns minutos depois, resolveu falar tudo o que lhe incomodava.

– Você não tinha o direito de magoar o Daisuke-kun! Há doze anos ele vive em função da gente... Sempre cuidou de você, desde o dia em que eu me tornei um inútil! E como você agradece? Estou decepcionado, Amaterasu Sora. Você me envergonhou!

– Onii-sama! – Ela não lembrava da última vez em que ele se referiu à ela por seu nome primeiro nome. Era uma benção ter o nome de sua Kami, porém, só o ouvia quando alguém estava magoado com ela, desde criança. – Você também não tem o direito de querer decidir o que é melhor para mim – ela lembrou-se das palavras do seu anjo e continuou. – Eu quero continuar aqui no templo, sou feliz desta forma, será que você não vê? Daisuke é um bom homem, com certeza será um bom marido para aquela que o amar! Eu não o amo, nii-sama. Sinto por ele o mesmo que sinto por você, então, como você deseja que ele se torne meu marido?

– Sora-chan – ele aproximou a cadeira de rodas de Sora, então, passou a afagar os longos cabelos dela. – Você aprenderá a amá-lo, só precisar dar uma chance a ele.

– Não, meu doce irmão... Eu vou casar somente com quem amo. Daisuke não é o homem que o destino me reserva, eu sei disto!

– Sora, não me diga que... – Akira a olhou com dúvida, não acreditava que a irmã havia tido contato com outros homens.

– E se fosse, onii-sama? – Ela irrompeu. – Eu tenho vinte e cinco anos, não sou mais uma criança que depende de você. Hoje eu tenho o direito de ir e vir...

– Que seja, Sora. Só peço que fale com o Daisuke-kun... Ele irá ficar esta noite aqui.

Akira suspirou e saiu dali, deixando-a sozinha. Como temia que Daisuke aparecesse ali, a sacerdotisa foi para o seu quarto.
Sentia-se uma adolescente novamente, correu para a mesa onde passou a vida inteira fazendo desenhos, adicionaria mais um à sua coleção. Logo seus traços sobre um papel branco começaram a tomar formas, ela desenhava Kira Izuru com perfeição, mas daquela vez, ele não estava sorrindo. Sora terminou de pintar o traje de Kira, ficou feliz por ter se lembrado até mesmo daquilo que ele disse ser a sua braçadeira de fukutaichou, desenhando então a Calêndula com detalhes. O shinigami não quis lhe dizer o que significava aquela flor, para ela, significava a comunicação através do coração. Sora estava extasiada com o desenho em mãos, era a mesma sensação que teve aos treze anos, muito mais forte. Mais uma vez ela levou um desenho para o seu leito, queria olhá-lo a noite toda.

“Shinigami... Anjo... Belo jovem! Como eu farei para trazê-lo mais uma vez para a minha vida? Parece que desejar não é o suficiente.”

Sora não tinha o costume de trancar a sua porta, então, enquanto estava perdida em seus pensamentos, não reparou em quem entrou em seu quarto. Ela foi trazida de volta do mundo de seus pensamentos bruscamente, mais uma vez o desenho dele havia sido arrancado de suas mãos, desta vez, por Himura Daisuke. Ele ficou calado enquanto olhava para aquele desenho, em seguida, o comparou com o da moldura, sabia que era importante demais para Sora. Ela o encarou com raiva, ele não tinha o direito de invadir o quarto dela daquela forma.

– Devolva o meu desenho – pediu ela seriamente. – Não ouse, Daisuke-kun!

– Então, é este o motivo de sua recusa? – Perguntou com amargura. – Há quantos anos esconde isto da gente? É o mesmo homem, Sora... Não tente mentir!

– Não tenho motivos para mentir – ela levantou-se e puxou o desenho das mãos de Daisuke, porém, este imprimiu a sua força e o papel acabou rasgando. – Desgraçado! – Ela gritou, não costumava xingar os outros daquela maneira. – É ele mesmo o motivo de eu nunca ter olhado para você... Pronto, era o que queria saber?

– De onde você o conhece, Sora? – O homem diante dela estava com os olhos vermelhos de raiva, respirava com muita força. – Como pôde nos enganar?

– Eu o conheci há muito tempo, na Rua dos Sonhos, Daisuke-kun – ela falou com emoção. – Somente eu posso vê-lo.

– Bem que a minha prima sempre disse que você era louca... Está apaixonada por um fantasma?

– Você olhou bem os desenhos? – Ela quis alfinetar, odiou aquela invasão e jamais o perdoaria por aquela estupidez com seu desenho. – Fantasmas não evoluem desta forma...

– Tem razão. Ao menos, seja sincera e me diga quem é este homem – ele baixou a cabeça.

– Um anjo – Sora sentiu pena de Daisuke. Ele era o homem mais gentil do mundo para ela até então, bonito, inteligente, o que qualquer mulher desejaria ter ao seu lado... Entretanto, Sora acreditava em amor. Daisuke ainda não era o homem designado para ela. – Ele é um anjo, nada mais do que isto.

– Você está louca, Sora... Que droga! – Esbravejou. – Minha amizade por Akira-kun não será destruída por sua causa, já expliquei para ele... Espero que você realmente não se importe se eu continuar morando mais aqui do que em minha casa.

– É claro que não, Daisuke-kun... Eu o vejo como um irmão e como tal, vou querer tê-lo sempre por perto – ela tocou no rosto dele e o abraçou. Daisuke demorou para corresponder, contudo, não resistiu. – Agora, me deixe só... Por favor.

Ele fez a vontade de Sora, antes de fechar a porta, olhou para ela, seu olhar estava cheio de rancor, não havia engolido aquela história toda. Daisuke encontrou a prima no quarto que já pertencia a ele, afinal, há anos ficava por lá. Miaka estava de braços cruzados, tinha que dormir para iniciar as atividades no templo bem cedo, porém, não conseguiria antes de saber como o primo estava. Ela esperou que Daisuke sentasse na cama e então, se colocou atrás dele de pernas cruzadas sobre o colchão, as mãos nos ombros dele, massageando-o. Não acreditava que ele estava triste por causa de Sora, há anos sabia que ela não era merecedora do amor de seu primo... Amor que adoraria que fosse reservado a si mesma.

– Daisuke-kun... Sora não merece o seu amor. Espero sinceramente que você a esqueça...

– Como vou esquecê-la, Miaka-chan? Durante anos reservei todo o meu amor por ela... Esperei que fizesse vinte e cinco anos para que pudéssemos nos casar.

– Você e o Akira-sama quase nunca conversaram com Sora a este respeito, jamais deixaram claro que o compromisso era sério. É óbvio que ela nunca aceitaria que fosse desta forma! Será que vocês não a conhecem?

– Por conhecê-la eu achei que fosse uma mulher resignada, preocupada com a família, mas me enganei – lamentou o jovem homem. – Ela tem um desenho novo, do mesmo rapaz. Só que agora ele está mais velho... Você o conhece, Miaka?

– Se eu conhecesse, já teria dito para você, Daisuke-kun! – Ela passou a mão no pescoço dele e acariciou. – Eu jamais esconderia nada de você.

– Eu vou descobrir quem ele é – os músculos dele ficaram mais tensos do que antes, no mesmo instante, ele cerrou os punhos. – Nada poderá ficar entre nós dois.


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